A NÉVOA AINDA ABRAÇAVA AS COLINAS DE LA MANCHA QUANDO CARMEN APERTOU AS MÃOS CONTRA O PEITO, TENTANDO SE PROTEGER DO FRIO QUE SOPRAVA DAS PLANÍCIES. O SOL SURGIA TÍMIDO NO HORIZONTE, PINTANDO DE OURO AS TORRES DE PEDRA DA CIDADE.

NO CENTRO DA PRAÇA, O MURMÚRIO DA MULTIDÃO CRESCIA A CADA INSTANTE. ERA O DIA DO TORNEIO — O EVENTO MAIS ESPERADO DO ANO, ONDE CAVALEIROS E SOLDADOS DE TODA A REGIÃO SE REUNIAM PARA DISPUTAR HONRA E GLÓRIA.

CARMEN, FILHA DO FERREIRO, ESTAVA ALI NÃO PARA ASSISTIR, MAS PARA PROVAR A SI MESMA QUE PODERIA SER MAIS DO QUE APENAS UMA MENINA DA VILA. SEU PAI A PROIBIRA DE PARTICIPAR — “ISSO É COISA PARA HOMENS”, ELE DIZIA — MAS SEU ESPÍRITO INQUIETO NÃO ACEITAVA LIMITES.

DO OUTRO LADO DA PRAÇA, UM JOVEM CAVALEIRO DESCIA DE SEU CAVALO NEGRO. ALEJANDRO TINHA O OLHAR FIRME E A POSTURA DECIDIDA. FILHO DE UM SENHOR MENOR, ELE NÃO BUSCAVA RIQUEZAS OU TÍTULOS, APENAS QUERIA MOSTRAR QUE SUA CORAGEM VALIA MAIS DO QUE SEU NOME.

SEUS OLHOS SE ENCONTRARAM POR UM INSTANTE. CARMEN SENTIU UMA FAÍSCA, UM RECONHECIMENTO QUE NÃO PODIA EXPLICAR.

NA ARENA, O MESTRE DE CERIMÔNIAS LEVANTOU A VOZ:

— CAVALEIROS, PREPAREM-SE! QUE A BATALHA PELA HONRA COMECE!

O CLANGOR DAS ESPADAS E O CHOQUE DOS ESCUDOS ECOARAM PELA PRAÇA, ENQUANTO O CORAÇÃO DE CARMEN ACELERAVA. A AVENTURA HAVIA COMEÇADO, EMBORA AINDA NÃO SOUBESSEM QUE AQUELE TORNEIO SERIA APENAS O PRIMEIRO PASSO PARA ALGO MUITO MAIOR.

A NOITE CAIU SOBRE LA MANCHA, E AS LUZES DAS TAVERNAS COMEÇAVAM A PISCAR. CARMEN CAMINHAVA PELAS RUAS ESTREITAS, SEUS PENSAMENTOS RODOPIANDO EM BUSCA DE SIGNIFICADO PARA O QUE SENTIRA NAQUELE DIA.

NO CAMINHO PARA CASA, UM HOMEM IDOSO SURGIU DAS SOMBRAS. VESTIA UM MANTO GASTO E CARREGAVA UM SACO CHEIO DE PERGAMINHOS.

— VOCÊS, JOVENS — DISSE ELE, ENCARANDO CARMEN E ALEJANDRO, QUE INESPERADAMENTE HAVIA SEGUIDO ATRÁS DELA — SÃO OS ÚNICOS QUE PODEM DECIFRAR ISTO.

ELE MOSTROU-LHES UM PERGAMINHO ANTIGO, COM INSCRIÇÕES E MAPAS QUE INDICAVAM UMA TRILHA ESQUECIDA, RUMO A UMA TORRE MISTERIOSA QUE GUARDAVA UM SEGREDO ANTIGO.

— A TORRE DAS SOMBRAS — EXPLICOU O VELHO — ESCONDE UM PODER CAPAZ DE MUDAR O DESTINO DE LA MANCHA.

CARMEN E ALEJANDRO TROCARAM OLHARES, UMA MISTURA DE MEDO E EXCITAÇÃO.

— DEVEMOS IR — DISSE ALEJANDRO COM FIRMEZA.

— ENTÃO A VERDADEIRA AVENTURA COMEÇA AGORA — RESPONDEU CARMEN.

COM O CAIR DA NOITE, OS DOIS PARTIRAM EM SILÊNCIO, OCULTOS POR MANTOS ESCUROS E ARMADOS COM UMA ESPADA E UMA FACA AFIADA.

O CAMINHO PELOS CAMPOS E FLORESTAS ERA TRAIÇOEIRO. O VENTO UIVAVA, CARREGANDO SONS QUE PARECIAM MAIS DO QUE O SIMPLES FARFALHAR DAS FOLHAS.

ENQUANTO CAMINHAVAM, TROCARAM HISTÓRIAS DE SUAS VIDAS, MEDOS E SONHOS. ALEJANDRO FALAVA DA PRESSÃO DE PROVAR SEU VALOR DIANTE DO PAI E DA SOCIEDADE. CARMEN REVELAVA SUA VONTADE DE SER MAIS DO QUE UMA SIMPLES FILHA DO FERREIRO.

O VÍNCULO ENTRE ELES SE FORTALECEU, ASSIM COMO A DETERMINAÇÃO.

AO ADENTRAR A FLORESTA QUE MARCAVA O COMEÇO DO TERRITÓRIO DA TORRE, PERCEBERAM QUE ALGO OS OBSERVAVA. AS ÁRVORES PARECIAM SUSSURRAR, E SOMBRAS SE MOVIAM ENTRE OS TRONCOS.

EM MEIO AO CAMINHO, ENCONTRARAM SÍMBOLOS ENTALHADOS NAS ÁRVORES — PISTAS DEIXADAS POR ANTIGOS GUARDIÕES PARA ORIENTAR OS QUE BUSCAVAM A TORRE.

MAS TAMBÉM HAVIA ARMADILHAS — BURACOS CAMUFLADOS, GALHOS AFIADOS, E UM GRUPO DE HOMENS ENCAPUZADOS QUE TENTOU EMBOSCÁ-LOS.

A LUTA FOI RÁPIDA E FEROZ. CARMEN, COM SUA AGILIDADE E INTELIGÊNCIA, EVITAVA OS GOLPES, ENQUANTO ALEJANDRO DESARMAVA OS INIMIGOS COM A ESPADA.

AO FINAL, SEGUIRAM EM FRENTE, CIENTES DE QUE NÃO SERIAM OS ÚNICOS INTERESSADOS NO SEGREDO DA TORRE.

NO CORAÇÃO DO VALE ESCONDIDO, FINALMENTE AVISTARAM A TORRE DAS SOMBRAS. SUA SILHUETA ALTA E ESCURA CONTRASTAVA COM O CÉU ESTRELADO.

NA PORTA, UM HOMEM EM ARMADURA NEGRA BLOQUEAVA A PASSAGEM.

— QUEM OUSA PERTURBAR O SEGREDO DA TORRE? — PERGUNTOU ELE COM VOZ FIRME.

ALEJANDRO ADIANTOU-SE:

— VIEMOS BUSCAR A VERDADE QUE A TORRE ESCONDE.

O GUARDIÃO SORRIU, UM SORRISO FRIO.

— MUITOS BUSCAM PODER, MAS POUCOS MERECEM. PROVAR SEU VALOR É A ÚNICA PASSAGEM.

UM DUELO COMEÇOU. A LUTA FOI INTENSA, CADA GOLPE PARECIA CARREGAR O PESO DE SEUS DESTINOS.

COM CORAGEM E TRABALHO EM EQUIPE, CARMEN E ALEJANDRO CONSEGUIRAM DESARMAR O GUARDIÃO, QUE, SURPRESO, ABRIU A PORTA.

DENTRO DA TORRE, PAREDES COBERTAS POR INSCRIÇÕES E TAPEÇARIAS CONTAVAM HISTÓRIAS ESQUECIDAS.

NO CENTRO, UM PEDESTAL SEGURAVA UM LIVRO ANTIGO. CARMEN O ABRIU COM CUIDADO.

O LIVRO FALAVA DE UMA ORDEM SECRETA DE GUARDIÕES DE LA MANCHA, DE UM ARTEFATO CAPAZ DE CONTROLAR A LUZ E A ESCURIDÃO — UMA ARMA QUE PODIA SALVAR OU DESTRUIR.

ALEJANDRO LEU EM VOZ ALTA AS PASSAGENS QUE FALAVAM SOBRE O EQUILÍBRIO DO MUNDO.

AMBOS ENTENDERAM QUE A MISSÃO DELES ERA MUITO MAIOR DO QUE IMAGINARAM.

AO DEIXAR A TORRE, O SILÊNCIO ENTRE ELES ERA PESADO.

A CIDADE PARECIA DIFERENTE AGORA, COMO SE UM VÉU TIVESSE SIDO LEVANTADO.

CARMEN OLHOU PARA ALEJANDRO.

— ISSO MUDA TUDO.

— SIM — RESPONDEU ELE. — MAS TEMOS QUE PROTEGER ISSO.

ELES SABIAM QUE FORÇAS PODEROSAS BUSCARIAM O ARTEFATO, E PRECISAVAM ESTAR PREPARADOS.

DE VOLTA A LA MANCHA, DESCOBRIRAM QUE NEM TODOS ERAM CONFIÁVEIS.

UM AMIGO DE ALEJANDRO, MOTIVADO POR GANÂNCIA, TENTOU ROUBAR O MAPA E O LIVRO.

A TRAIÇÃO QUASE CUSTOU A VIDA DE CARMEN, QUE LUTOU PARA DEFENDER O SEGREDO.

A DESCONFIANÇA CRESCEU, E ELES PERCEBERAM QUE O PERIGO NÃO ESTAVA SÓ FORA DA CIDADE, MAS DENTRO DELA.

SEM MUITAS OPÇÕES, CARMEN E ALEJANDRO BUSCARAM ALIADOS IMPROVÁVEIS — UM GRUPO DE MULHERES ARQUEIRAS QUE VIVIAM NOS ARREDORES DA VILA.

JUNTOS, FORMARAM UMA RESISTÊNCIA CONTRA OS QUE BUSCAVAM O PODER PARA O MAL.

A UNIÃO DOS DIFERENTES TROUXE ESPERANÇA E FORÇA.

CHEGOU O DIA EM QUE AS SOMBRAS VIERAM PARA TOMAR O ARTEFATO.

NA PLANÍCIE DE LA MANCHA, SOB UM CÉU CARREGADO DE NUVENS, A BATALHA FINAL ACONTECEU.

CARMEN E ALEJANDRO LUTARAM LADO A LADO, USANDO TUDO QUE APRENDERAM — CORAGEM, ESTRATÉGIA E CONFIANÇA.

A LUTA FOI FEROZ, MAS A LUZ DA AMIZADE E DETERMINAÇÃO BRILHOU MAIS FORTE.

AO FIM, O SEGREDO DAS SOMBRAS PERMANECEU PROTEGIDO, PELO MENOS POR ENQUANTO.

O CÉU SOBRE LA MANCHA ESTAVA CARREGADO, COBERTO POR NUVENS ESCURAS QUE AMEAÇAVAM DESABAR A QUALQUER MOMENTO. O VENTO CORTANTE UIVAVA ENTRE AS ÁRVORES, COMO SE ANUNCIASSE O QUE ESTAVA POR VIR. NA VASTA PLANÍCIE, A POUCOS PASSOS DA VILA, CARMEN E ALEJANDRO SE PREPARAVAM PARA A LUTA DECISIVA.

À SUA FRENTE, UMA FORÇA SOMBRIA AVANÇAVA — CAVALEIROS ENCAPUZADOS, ARMADOS COM LANÇAS E ESPADAS NEGRAS, SUAS ARMADURAS REFLETINDO O POUCO DE LUZ QUE AINDA HAVIA. ERAM OS SEGUIDORES DO TRAIDOR, HOMENS SEDENTOS PELO PODER GUARDADO NA TORRE DAS SOMBRAS.

CARMEN AJUSTOU A EMPUNHADURA DA FACA QUE HERDARA DO PAI, SEU OLHAR FIXO E CHEIO DE DETERMINAÇÃO. ALEJANDRO EMPUNHAVA SUA ESPADA, BRILHANDO MESMO SOB O CÉU CINZENTO.

— NÃO VAMOS DEIXAR QUE ELES LEVEM O QUE PROTEGEMOS — DISSE ELA, A VOZ FIRME.

— JUNTOS, ATÉ O FIM — RESPONDEU ELE, COM UM ACENO.

AO SEU LADO, AS ARQUEIRAS DA VILA FORMAVAM UM ARCO DE PROTEÇÃO, COM AS FLECHAS JÁ PREPARADAS PARA DISPARAR. A TENSÃO PAIRAVA NO AR, COMO UMA CORDA PRESTES A ROMPER.

ENTÃO, COM UM BRADO ESTRONDOSO, O INIMIGO LANÇOU O PRIMEIRO ATAQUE.

AS LANÇAS VOARAM CORTANDO O AR, BUSCANDO OS CORPOS DOS DEFENSORES. ALEJANDRO ERGUEU SEU ESCUDO, BLOQUEANDO O PRIMEIRO GOLPE QUE VINHA COM FORÇA BRUTAL. CARMEN DESVIOU AGILMENTE, GIRANDO E CRAVANDO SUA FACA NA LATERAL DE UM INIMIGO QUE SE APROXIMAVA RÁPIDO DEMAIS.

O CHÃO TREMEU COM O ESTRONDO DOS CAVALOS GALOPANDO. A BATALHA SE ABRIU EM UM CAOS CONTROLADO — GRITOS, CHOQUE DE METAL, O ZUMBIDO DAS FLECHAS CORTANDO O AR.

ALEJANDRO AVANÇAVA COM GOLPES PRECISOS, DEFENDENDO CARMEN QUANDO NECESSÁRIO. ELA ERA RÁPIDA, QUASE UM ESPECTRO, ATACANDO ONDE O INIMIGO MENOS ESPERAVA, E DESAPARECENDO ANTES QUE PUDESSEM REAGIR.

CARMEN VIU UM CAVALEIRO NEGRO AVANÇAR CONTRA ALEJANDRO COM UMA ESPADA PESADA, SEU ROSTO OCULTO SOB UM ELMO SEM VISOR. O CHOQUE DAS ARMAS PRODUZIU FAÍSCAS QUE PARECIAM ILUMINAR A ESCURIDÃO AO REDOR.

SEM HESITAR, CARMEN CORREU PARA O LADO, GRITANDO:

— ALEJANDRO, CUIDADO!

O CAVALEIRO SORRIU POR TRÁS DA MÁSCARA METÁLICA, COMO SE ANTECIPASSE A VITÓRIA.

MAS ALEJANDRO NÃO RECUOU. SEUS MOVIMENTOS ERAM UMA MISTURA DE FORÇA E ESTRATÉGIA, DESVIANDO E CONTRA-ATACANDO COM VELOCIDADE SURPREENDENTE.

ENQUANTO ISSO, CARMEN ENFRENTAVA TRÊS INIMIGOS SIMULTANEAMENTE. UM DELES TENTOU GOLPEÁ-LA PELAS COSTAS, MAS ELA GIROU E, COM UM MOVIMENTO FLUIDO, ACERTOU UM GOLPE NO BRAÇO DO ATACANTE, FAZENDO-O SOLTAR A ESPADA.

AS FLECHAS DAS ARQUEIRAS RISCAVAM O CÉU, ALGUMAS ACERTANDO SEUS ALVOS, OUTRAS PERDIDAS NO VENTO TURBULENTO.

A LUTA SE ESTENDEU POR HORAS, O CANSAÇO JÁ COMEÇAVA A PESAR NOS CORPOS E NOS BRAÇOS. O SUOR MISTURAVA-SE COM A TERRA DA PLANÍCIE, E AS ROUPAS ESTAVAM RASGADAS E MANCHADAS DE SANGUE.

ALEJANDRO CAIU DE JOELHOS, FERIDO NO OMBRO, MAS CARMEN ESTAVA ALI PARA SEGURÁ-LO.

— NÃO PODE DESISTIR — DISSE ELA, APERTANDO SUA MÃO.

ELE SORRIU, APESAR DA DOR.

— NUNCA ENQUANTO VOCÊ ESTIVER AO MEU LADO.

JUNTOS, LEVANTARAM-SE PARA O ÚLTIMO CONFRONTO.

O LÍDER DOS INVASORES, O TRAIDOR QUE ANTES FORA AMIGO, SURGIU ENTRE AS SOMBRAS, SEGURANDO O LIVRO ANTIGO QUE CONTINHA O SEGREDO DAS SOMBRAS.

— VOCÊS PERDERAM — DECLAROU ELE, COM VOZ CRUEL. — ESTE PODER SERÁ MEU!

CARMEN E ALEJANDRO AVANÇARAM AO MESMO TEMPO. A LÂMINA DELE PARECIA SEDENTA POR DESTRUIÇÃO.

ALEJANDRO ENFRENTOU-O COM TODA SUA FORÇA, BLOQUEANDO GOLPES PESADOS. CARMEN, ÁGIL, TENTOU DESARMÁ-LO, BUSCANDO O MOMENTO CERTO PARA AGIR.

QUANDO O TRAIDOR RECUOU, ELA AGARROU O LIVRO COM FIRMEZA, RASGANDO O MANTO NEGRO QUE O PROTEGIA E SURPREENDENDO-O.

NUM ÚLTIMO ESFORÇO, ALEJANDRO GOLPEOU O INIMIGO, DERRUBANDO-O AO CHÃO.

O CAMPO DE BATALHA SILENCIOU LENTAMENTE. OS INIMIGOS RESTANTES FUGIRAM OU SE RENDERAM. CARMEN E ALEJANDRO, EXAUSTOS E FERIDOS, OLHARAM PARA O CÉU QUE COMEÇAVA A CLAREAR.

ELES HAVIAM VENCIDO, MAS SABIAM QUE AQUELA PAZ SERIA TEMPORÁRIA.

O SEGREDO DAS SOMBRAS PERMANECIA SEGURO, GUARDADO PELA CORAGEM DE DOIS JOVENS QUE SE RECUSAVAM A DEIXAR A ESCURIDÃO VENCER.

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