HÁ MUITO TEMPO, EM UM REINO ALÉM DAS NUVENS, CHAMADO LUMINÁRIA, AS TREVAS AMEAÇAVAM ENGOLIR A LUZ. CRIATURAS SOMBRIAS, LIDERADAS PELO TERRÍVEL DRAGÃO UMBRAX, HAVIAM ROUBADO O CORAÇÃO DE FOGO, UMA JOIA MÁGICA QUE MANTINHA O EQUILÍBRIO ENTRE A CORAGEM E A ESPERANÇA NO MUNDO.

SEM O CORAÇÃO DE FOGO, OS CAMPOS MURCHAVAM, OS RIOS SECAVAM, E AS PESSOAS COMEÇAVAM A ESQUECER COMO ERA SORRIR.

MAS HAVIA UMA PROFECIA ANTIGA: "QUANDO O CORAÇÃO SE APAGAR, DOIS CORAÇÕES VALENTES SE UNIRÃO PARA REACENDÊ-LO."

E FOI ASSIM QUE, NUM INSTANTE MÁGICO, JOANA D’ARC, UMA JOVEM GUERREIRA DE ARMADURA PRATEADA, SURGIU DAS BRUMAS DO TEMPO, SEGURANDO SUA ESPADA FLAMEJANTE. EM OUTRA PARTE DO CÉU, JORGE DA CAPADÓCIA, MONTADO EM SEU CAVALO BRANCO E EMPUNHANDO SUA LANÇA SAGRADA, FOI CHAMADO PELA LUZ DA ESPERANÇA.

AMBOS FORAM TRANSPORTADOS PARA O CENTRO DE LUMINÁRIA, ONDE A GUARDIÃ DOS VENTOS EXPLICOU A MISSÃO:

— O CORAÇÃO DE FOGO FOI LEVADO ATÉ O PICO SOMBRIO. SÓ JUNTOS VOCÊS PODEM ENFRENTAR UMBRAX. MAS LEMBREM-SE: CORAGEM SEM COMPAIXÃO VIRA FÚRIA, E FORÇA SEM FÉ VIRA ESCURIDÃO.

JOANA, COM SUA VOZ FIRME E OLHOS CHEIOS DE DETERMINAÇÃO, RESPONDEU:

— LUTAREI COM O CORAÇÃO PURO. NÃO TEMO AS SOMBRAS.

JORGE, SERENO E CONFIANTE, ASSENTIU:

— E EU LUTAREI AO LADO DELA. A LUZ JAMAIS SERÁ VENCIDA.

A JORNADA ATÉ O PICO SOMBRIO FOI REPLETA DE DESAFIOS: PASSARAM POR FLORESTAS QUE SUSSURRAVAM MENTIRAS, ATRAVESSARAM PONTES FEITAS DE NÉVOA E ENFRENTARAM MONSTROS CRIADOS COM OS MEDOS MAIS PROFUNDOS DE CADA UM.

EM UMA DAS BATALHAS, JOANA QUASE CAIU DIANTE DE UM CAVALEIRO SOMBRIO QUE TINHA O ROSTO DE SEU IRMÃO DESAPARECIDO. MAS JORGE A LEMBROU:

— LEMBRE-SE, JOANA. O QUE VOCÊ SENTE NÃO É FRAQUEZA. É O QUE NOS TORNA HUMANOS.

E QUANDO JORGE HESITOU DIANTE DE UM DRAGÃO MENOR QUE CUSPIA DÚVIDAS, FOI JOANA QUEM GRITOU:

— SUA FÉ É MAIS FORTE QUE QUALQUER CHAMA NEGRA!

FINALMENTE, NO CUME DA MONTANHA, UMBRAX OS ESPERAVA. ELE ERA ENORME, COM OLHOS COMO BURACOS NO CÉU E ASAS QUE TAMPAVAM O SOL. O DRAGÃO RUGIU:

— VOCÊS NÃO SÃO NADA! APENAS ECOS DO PASSADO!

MAS JOANA E JORGE UNIRAM SUAS ARMAS. A ESPADA DA CORAGEM DE JOANA BRILHOU COM O FOGO DO ESPÍRITO. A LANÇA DA FÉ DE JORGE SE ACENDEU COM A LUZ DA JUSTIÇA.

COM UM SALTO COORDENADO, OS DOIS ATACARAM JUNTOS, MIRANDO O PEITO DO DRAGÃO ONDE O CORAÇÃO DE FOGO PULSAVA, APAGADO. AO TOCAREM O CORAÇÃO COM SUAS ARMAS, UMA LUZ DOURADA EXPLODIU.

UMBRAX GRITOU E SE DESFEZ EM PÓ DE ESTRELAS. O CORAÇÃO VOLTOU A BRILHAR INTENSAMENTE, ESPALHANDO CALOR, RISOS E ESPERANÇA POR TODO O REINO DE LUMINÁRIA.

A GUARDIÃ DOS VENTOS REAPARECEU E DISSE:

— VOCÊS REACENDERAM O QUE HAVIA SIDO ESQUECIDO: QUE CORAGEM E FÉ, QUANDO ANDAM JUNTAS, VENCEM QUALQUER ESCURIDÃO.

JOANA E JORGE SORRIRAM, E, COMO CHEGARAM, DESAPARECERAM NUMA BRISA DOURADA, VOLTANDO AO TEMPO DE ONDE VIERAM, MAS DEIXANDO UM LEGADO: A HISTÓRIA DOS GUARDIÕES DO CORAÇÃO DE FOGO.

DESDE ENTÃO, EM NOITES DE ESTRELAS CADENTES, MUITOS JURAM VER UMA JOVEM DE ARMADURA PRATEADA CAVALGANDO AO LADO DE UM GUERREIRO DE LANÇA BRILHANTE NO CÉU.

E QUEM TEM OLHOS ESPERANÇOSOS, PODE ATÉ OUVIR O SUSSURRO DO VENTO:

— A LUZ SEMPRE RETORNA.

APÓS RESTAURAREM O CORAÇÃO DE FOGO, JOANA E JORGE PENSARAM QUE A PAZ HAVIA SIDO RESTAURADA EM LUMINÁRIA. MAS O QUE ELES NÃO SABIAM ERA QUE A QUEDA DE UMBRAX HAVIA LIBERTADO ALGO AINDA MAIS ANTIGO E PERIGOSO: MORGAR, O SENHOR DOS ESPELHOS, UM FEITICEIRO APRISIONADO NAS PROFUNDEZAS DO TEMPO, QUE SE ALIMENTAVA DE ILUSÕES E VERDADES DISTORCIDAS.

A GUARDIÃ DOS VENTOS, PREOCUPADA, CONVOCOU OS DOIS HERÓIS MAIS UMA VEZ.

— O EQUILÍBRIO ESTÁ SE DESFAZENDO NOVAMENTE. ALGUÉM ESTÁ MANIPULANDO OS SONHOS DAS CRIANÇAS DO MUNDO REAL, FAZENDO-AS ESQUECER QUEM SÃO. MORGAR QUER APAGAR A IMAGINAÇÃO — E, COM ELA, DESTRUIR LUMINÁRIA DE DENTRO PARA FORA.

JOANA E JORGE SEGUIRAM PARA A TORRE DOS ECOS, ONDE VOZES DO PASSADO GANHAVAM VIDA. LÁ, FORAM ATACADOS POR CÓPIAS DISTORCIDAS DE SI MESMOS: UMA JOANA RAIVOSA E SEM FÉ, UM JORGE FRIO E ARROGANTE.

PARA VENCER, NÃO BASTAVA LUTAR. ELES PRECISARAM ENFRENTAR SUAS DÚVIDAS INTERNAS.

— VOCÊ FALHOU COM SUA FAMÍLIA — DISSE A FALSA JOANA.

— VOCÊ LUTA SÓ PARA SE SENTIR HERÓI — ZOMBOU O FALSO JORGE.

MAS, UNINDO-SE DE MÃOS DADAS E ENCARANDO SEUS REFLEXOS, ELES RESPONDERAM JUNTOS:

— NOSSOS ERROS NÃO NOS DEFINEM. NOSSAS ESCOLHAS, SIM.

COM ISSO, OS ECOS SE DESFIZERAM EM POEIRA PRATEADA.

MORGAR LANÇOU UM FEITIÇO QUE OS SEPAROU DENTRO DO LABIRINTO DA MEMÓRIA, ONDE CADA CORREDOR OS LEVAVA A UMA LEMBRANÇA DOLOROSA.

JOANA VIU O MOMENTO EM QUE FOI CHAMADA DE LOUCA POR OUVIR VOZES.

JORGE VIU QUANDO FOI FORÇADO A LUTAR, MESMO QUERENDO APENAS AJUDAR AS PESSOAS.

AMBOS QUASE DESISTIRAM. MAS, EM UM MOMENTO MÁGICO, OUVIRAM AS VOZES UM DO OUTRO ECOANDO:

— ESTOU COM VOCÊ, MESMO QUE VOCÊ NÃO ME VEJA.

GUIADOS PELA AMIZADE, ENCONTRARAM-SE NO CENTRO DO LABIRINTO E REACENDERAM A LUZ DA CONFIANÇA, DESFAZENDO O FEITIÇO.

NO TOPO DO CASTELO DE VIDRO, ONDE MORGAR HABITAVA, OS HERÓIS FINALMENTE O ENFRENTARAM. ELE ERA UMA FIGURA ENVOLTA EM MANTOS FEITOS DE REFLEXOS, COM OLHOS QUE MUDAVAM CONFORME QUEM O OLHAVA.

— VOCÊS SÃO APENAS LENDAS QUE ESQUECERAM QUE TAMBÉM PODEM ERRAR. EU MOSTRO A VERDADE QUE VOCÊS ESCONDEM — ZOMBOU ELE, ERGUENDO UM ESPELHO NEGRO.

NELE, JORGE VIU-SE DERROTADO, CAÍDO E SOZINHO. JOANA VIU-SE SENDO ESQUECIDA POR TODOS.

MAS ENTÃO, JOANA PEGOU A MÃO DE JORGE E DISSE:

— NÃO IMPORTA O QUE ELE NOS MOSTRE. A VERDADE NÃO ESTÁ NOS ESPELHOS. ESTÁ NO QUE SOMOS QUANDO NINGUÉM ESTÁ OLHANDO.

COM CORAGEM, JOANA CRAVOU SUA ESPADA NO CHÃO, QUEBRANDO OS ESPELHOS AO REDOR. JORGE LANÇOU SUA LANÇA, AGORA FEITA DE LUZ, DIRETAMENTE NO PEITO DE MORGAR.

O FEITICEIRO EXPLODIU EM MILHARES DE FRAGMENTOS DE VIDRO — CADA UM VIRANDO UMA PEQUENA ESTRELA NO CÉU DE LUMINÁRIA.

COM MORGAR DERROTADO, OS SONHOS DAS CRIANÇAS VOLTARAM A SER COLORIDOS, CHEIOS DE AVENTURAS, DRAGÕES, FADAS E FLORESTAS MÁGICAS. A IMAGINAÇÃO VOLTOU A FLORESCER NO MUNDO REAL — E COM ELA, A CORAGEM, A FÉ E A CRIATIVIDADE.

A GUARDIÃ DOS VENTOS SORRIU:

— AGORA, VOCÊS NÃO SÃO SÓ GUARDIÕES DO CORAÇÃO DE FOGO. SÃO DEFENSORES DA IMAGINAÇÃO.

JOANA E JORGE VOLTARAM PARA ONDE PERTENCIAM, MAS LUMINÁRIA SABIA: SEMPRE QUE O MUNDO ESQUECESSE O PODER DA IMAGINAÇÃO E DA CORAGEM VERDADEIRA, ELES RETORNARIAM.

E ASSIM, O VENTO SUSSURRA MAIS UMA VEZ:

— QUANDO A SOMBRA SE ALONGA, A LUZ SE FORTALECE.

A VITÓRIA SOBRE MORGAR PARECIA DEFINITIVA. O CÉU DE LUMINÁRIA VOLTOU A SER AZUL, E OS VENTOS SOPRAVAM LIVRES SOBRE AS MONTANHAS PRATEADAS. MAS A VERDADEIRA PAZ NÃO DUROU. DO CENTRO DA TERRA MÁGICA, SOB O SOLO ONDE NEM LUZ NEM SOMBRA ALCANÇAVAM, ALGO DESPERTAVA.

JOANA PERCEBEU PRIMEIRO. EM SEUS SONHOS, SENTIA UMA PRESENÇA ANTIGA, SEM FORMA, MAS CHEIA DE INTENÇÕES. JORGE, POR SUA VEZ, NOTAVA AS MUDANÇAS NAS ESTRELAS. ELAS PISCAVAM EM PADRÕES QUE NÃO SEGUIAM MAIS AS LEIS DO CÉU. ERA COMO SE O PRÓPRIO TECIDO DO MUNDO ESTIVESSE... SE DESFAZENDO.

CERTA MANHÃ, A GUARDIÃ DOS VENTOS OS CHAMOU COM UM ROSTO QUE JAMAIS HAVIAM VISTO NELA: O DA DÚVIDA.

— LUMINÁRIA ESTÁ RUINDO POR DENTRO. AS RAÍZES DO MUNDO ESTÃO CONTAMINADAS. NÃO É UM INIMIGO COMUM. É A AUSÊNCIA, O VAZIO ORIGINAL. O QUE EXISTIA ANTES DE TUDO. ELE TEM UM NOME ESQUECIDO, MAS SE AUTODENOMINA NIIL, O SILÊNCIO INFINITO.

JOANA APERTOU A ESPADA CONTRA O PEITO.

— SE FOR ALGO QUE DESTRÓI TUDO, ENTÃO NOSSA MISSÃO NÃO É VENCER, MAS IMPEDIR QUE ELE AVANCE.

JORGE INCLINOU A CABEÇA, OLHANDO O HORIZONTE JÁ TINGIDO DE UM CINZA SEM BRILHO.

— UM INIMIGO QUE NÃO TEM FORMA... SÓ PODE SER ENFRENTADO COM AQUILO QUE DÁ FORMA ÀS COISAS.

COM ISSO, OS DOIS DESCERAM EM DIREÇÃO AO CENTRO DO MUNDO, ONDE NINGUÉM JAMAIS PISARA. O CÉU DESAPARECEU. A LUZ FOI TROCADA POR UMA ESCURIDÃO QUE NÃO OPRIMIA — APENAS... APAGAVA.

DURANTE A TRAVESSIA, PERDERAM O RASTRO DO TEMPO. NÃO HAVIA ONTEM OU AMANHÃ. A FÉ DE JORGE SE TORNAVA INSTÁVEL, E JOANA COMEÇOU A DUVIDAR DE SUA PRÓPRIA VOZ INTERIOR. A ESCURIDÃO DE NIIL NÃO ATACAVA COM GARRAS OU FOGO — MAS COM O ESQUECIMENTO.

CHEGARAM ENTÃO AO TRONO DO SILÊNCIO, ONDE O VAZIO REINAVA. NÃO HAVIA CRIATURA, NEM REI, NEM SOMBRA. MAS A PRESENÇA ERA ESMAGADORA. VOZ NENHUMA ERA OUVIDA. NENHUMA EMOÇÃO FLORESCIA ALI.

JOANA CAIU DE JOELHOS. SENTIU-SE PEQUENA, INÚTIL, UMA CENTELHA DIANTE DO INFINITO. JORGE A SEGUROU, MAS ELE MESMO TREMIA. SENTIA QUE TUDO QUE HAVIAM FEITO, TODO SACRIFÍCIO, ERA APENAS UMA GOTA DIANTE DE UM MAR SEM NOME.

FOI QUANDO JOANA SUSSURROU, NÃO PARA JORGE, MAS PARA DENTRO DE SI MESMA:

— EU NÃO LUTEI POR VITÓRIAS. LUTEI POR AQUILO QUE NÃO SE MEDE: POR UMA CRIANÇA QUE SORRI, POR UM VELHO QUE REZA, POR UM CORAÇÃO QUE ACREDITA MESMO SEM PROVAS.

A ESPADA DELA BRILHOU. UM PEQUENO BRILHO. MAS SUFICIENTE PARA CLAREAR O ROSTO DE JORGE.

ELE SORRIU.

— E EU LUTEI POR VOCÊ. PORQUE VOCÊ ME LEMBROU DE MIM.

JUNTOS, JOANA FINCOU SUA ESPADA NO CHÃO E JORGE CRAVOU SUA LANÇA AO LADO. A UNIÃO DAS DUAS ARMAS CRIOU UM CÍRCULO DE MEMÓRIA — DE TUDO O QUE HAVIAM SIDO, SENTIDO, LEMBRADO. E ALI, NAQUELE CENTRO DE ESQUECIMENTO, NASCEU UMA FAGULHA DE REALIDADE. PEQUENA, MAS REAL.

NIIL RECUOU.

NÃO FOI VENCIDO COM VIOLÊNCIA. FOI DESFEITO PELA LEMBRANÇA DO QUE EXISTIA ANTES DO MEDO: O SENTIDO.

A TERRA TREMEU. O TRONO DE SILÊNCIO RACHOU. O VAZIO NÃO GRITOU — POIS NÃO TINHA VOZ — MAS ESVAIU-SE COMO NÉVOA QUE JAMAIS DEVERIA TER EXISTIDO.

QUANDO JOANA E JORGE RETORNARAM À SUPERFÍCIE, LUMINÁRIA ESTAVA MUDADA. NÃO MAIS PERFEITA, MAS MAIS VIVA. AS CORES ERAM MAIS INTENSAS, OS SONS MAIS CLAROS. O MUNDO HAVIA ENFRENTADO O ESQUECIMENTO — E AGORA LEMBRAVA MELHOR DE SI.

A GUARDIÃ DOS VENTOS OLHOU PARA ELES, COM UM SORRISO SERENO.

— VOCÊS NÃO DERROTARAM NIIL. VOCÊS O CONTIVERAM COM O QUE NENHUM PODER PODE FABRICAR: SENTIDO VERDADEIRO.

JOANA APENAS FECHOU OS OLHOS E RESPIROU O VENTO NOVO. JORGE OLHOU O CÉU E MURMUROU:

— A LUZ NEM SEMPRE PRECISA SER FORTE. ÀS VEZES, SÓ PRECISA... PERSISTIR.

DESDE ENTÃO, LUMINÁRIA NUNCA MAIS FOI APENAS UM LUGAR MÁGICO. TORNOU-SE UM SÍMBOLO. NÃO DA VITÓRIA SOBRE O MAL, MAS DA RESISTÊNCIA AO VAZIO.

JOANA E JORGE CAMINHARAM ATÉ O PONTO MAIS ALTO DA MONTANHA DA AURORA, ONDE OS VENTOS TOCAVAM O VÉU ENTRE MUNDOS. LÁ, AS ESTRELAS SUSSURRAVAM, E O CÉU PARECIA DOBRAR-SE COMO UM ESPELHO LÍQUIDO.

— AINDA NÃO ACABOU, NÃO É? — PERGUNTOU JOANA, OLHANDO A ABÓBADA CELESTE QUE AGORA PULSAVA COM UMA ESTRANHA LUZ PRATEADA.

JORGE ASSENTIU.

— A LUA NOS CHAMA. SEMPRE NOS CHAMOU. ELA VIU O INÍCIO DE TUDO. TALVEZ LÁ ESTEJA O FIM — OU ALGO ALÉM DO FIM.

SEM MAIS PALAVRAS, MONTARAM NO MESMO CAVALO BRANCO QUE OUTRORA OS GUIARA NAS BATALHAS ANTIGAS. MAS AGORA, ELE NÃO TROTAVA PELA TERRA — SUBIA PELAS TRILHAS DA NOITE, CORRENDO ENTRE COMETAS E FAÍSCAS ESTELARES. CADA PASSO ABRIA FENDAS NA REALIDADE, ATÉ QUE A TERRA FICOU PARA TRÁS E A LUA SURGIU, NÃO COMO UM ASTRO, MAS COMO UM REINO ADORMECIDO.

A SUPERFÍCIE DA LUA NÃO ERA ÁRIDA. ERA VIVA, PULSANTE, PRATEADA COMO NÉVOA SÓLIDA. E LÁ, EM SILÊNCIO ABSOLUTO, UMBRAX ESPERAVA OS GUERREIROS JOANA E JORGE.

O DRAGÃO QUE HAVIAM DERROTADO NO PASSADO.

MAS ELE NÃO ERA O MESMO. NÃO TINHA MAIS OLHOS DE ÓDIO, NEM ASAS DE FOGO. SUA FORMA ERA TRANSLÚCIDA, MAIOR DO QUE ANTES, E SUAS ESCAMAS REFLETIAM MEMÓRIAS — ROSTOS, BATALHAS, RISOS, PERDAS.

JOANA LEVOU A MÃO À ESPADA, MAS JORGE A DETEVE.

— NÃO... ELE NÃO VEIO PARA LUTAR.

UMBRAX ABAIXOU A CABEÇA DIANTE DELES. QUANDO SUA BOCA SE ABRIU, NÃO SAIU FOGO — SAIU UMA VOZ ANTIGA, COMO ROCHA ARRANHANDO O TEMPO:

— QUANDO FUI VENCIDO, FUI LIBERTADO DA RAIVA..., MAS TAMBÉM FUI DESTERRADO DA EXISTÊNCIA. AQUI, NA LUA, TORNEI-ME GUARDIÃO DAQUILO QUE VOCÊS QUASE ESQUECERAM: O QUE SOBRA QUANDO A GUERRA TERMINA. VOCÊS VENCERAM TUDO — MAS SABEM O QUE FAZER COM A PAZ?

JOANA FICOU EM SILÊNCIO. JORGE TAMBÉM. NÃO HAVIA RESPOSTA CERTA.

O DRAGÃO ENTÃO ABRIU SUAS ASAS E MOSTROU UMA CRATERA CHEIA DE LUZ. NELA, DORMIA UMA ESFERA PULSANTE — NEM O CORAÇÃO DE FOGO, NEM A LANÇA OU ESPADA. ERA ALGO NOVO.

— ISTO É O QUE CRESCE QUANDO CORAGEM E FÉ SE ENCONTRAM SEM INIMIGOS — DISSE UMBRAX. — MAS PARA NASCER, PRECISA DE UM GESTO QUE NÃO SEJA LUTA. PRECISA DE ESCOLHA.

JOANA ENTÃO TIROU A ARMADURA. JORGE LARGOU A LANÇA.

AMBOS CAMINHARAM ATÉ A ESFERA SIDERAL E A TOCARAM COM AS MÃOS NUAS. A LUZ OS ENVOLVEU E BRILHOU MAIS FORTE NO CÉU APÓS A VITÓRIA. JOANA E JORGE NÃO SE SEPARARAM. SEUS DESTINOS, AGORA ESTAVAM ENTRELAÇADOS. ELES SE TORNARAM GUARDIÕES ETERNOS DO UNIVERSO,