ERA UMA VEZ, EM UM REINO ONDE A MAGIA E A TECNOLOGIA CONVIVIAM EM HARMONIA, UMA JOVEM AVENTUREIRA CHAMADA SOFIA. ELA NÃO ERA UMA PRINCESA COMUM; PREFERIA MAPAS E BÚSSOLAS A COROAS E VESTIDOS. SEU SONHO ERA DESCOBRIR O QUE HAVIA ALÉM DAS MONTANHAS SIBILANTES, UM LUGAR SOBRE O QUAL NINGUÉM JAMAIS HAVIA RETORNADO PARA CONTAR. UM DIA, ENQUANTO EXPLORAVA A VASTA BIBLIOTECA REAL, SOFIA ENCONTROU UM LIVRO EMPOEIRADO. NÃO ERA UM LIVRO QUALQUER, MAS UM DIÁRIO DE SUA TIA-AVÓ, UMA EXPLORADORA LENDÁRIA QUE HAVIA DESAPARECIDO HÁ ANOS. AS PÁGINAS DO DIÁRIO FALAVAM DE UM "CORAÇÃO CRISTALINO" ESCONDIDO NAS MONTANHAS SIBILANTES, UM ARTEFATO QUE, SEGUNDO A LENDA, PODIA TRAZER EQUILÍBRIO E HARMONIA A QUALQUER REINO. SOFIA SABIA QUE ESSA ERA SUA CHANCE. PREPAROU SUA MOCHILA COM SUPRIMENTOS, SUA BÚSSOLA MÁGICA QUE SEMPRE APONTAVA PARA O NORTE VERDADEIRO, E UM PEQUENO ROBÔ DE BOLSO CHAMADO FAÍSCA, SEU FIEL COMPANHEIRO. FAÍSCA, APESAR DE PEQUENO, ERA UM GÊNIO DA TECNOLOGIA E UM MESTRE EM DECIFRAR ENIGMAS. A JORNADA COMEÇOU COM A TRAVESSIA DA FLORESTA CINTILANTE, ONDE AS ÁRVORES TINHAM FOLHAS QUE BRILHAVAM EM DIFERENTES CORES. LÁ, SOFIA E FAÍSCA CONHECERAM UM GRUPO DE DUENDES BRINCALHÕES QUE, EM TROCA DE ALGUMAS HISTÓRIAS ENGRAÇADAS, LHES DERAM UM MAPA SECRETO QUE MOSTRAVA ATALHOS PELA FLORESTA. AO CHEGAREM ÀS MONTANHAS SIBILANTES, O VENTO UIVAVA COMO CANÇÕES MISTERIOSAS. AS ROCHAS PARECIAM SUSSURRAR SEGREDOS ANTIGOS. LÁ, ELES ENCONTRARAM UM TROLL DAS MONTANHAS QUE ESTAVA MUITO TRISTE PORQUE HAVIA PERDIDO SEU INSTRUMENTO MUSICAL FAVORITO, UM ALAÚDE FEITO DE CRISTAL DE ROCHA. SOFIA, COM A AJUDA DE FAÍSCA, CONSEGUIU CONSERTAR O ALAÚDE DO TROLL USANDO UM PEDAÇO DE FIO ENCANTADO E UM PEQUENO AJUSTE MECÂNICO. O TROLL, GRATO, MOSTROU A ELES UMA CAVERNA ESCONDIDA QUE LEVAVA DIRETO AO PICO MAIS ALTO. DENTRO DA CAVERNA, A ESCURIDÃO ERA QUASE TOTAL, MAS O DIÁRIO DE SUA TIA-AVÓ MENCIONAVA QUE A LUZ VERDADEIRA VIRIA DA HARMONIA. SOFIA COMEÇOU A ASSOBIAR UMA MELODIA SUAVE QUE SUA AVÓ COSTUMAVA CANTAR, E FAÍSCA, COM SEUS SENSORES DE LUZ, AJUSTOU-SE À FREQUÊNCIA. PEQUENOS CRISTAIS NAS PAREDES DA CAVERNA COMEÇARAM A BRILHAR, ILUMINANDO O CAMINHO. NO TOPO DA MONTANHA, EM MEIO A UMA CRATERA CINTILANTE, ESTAVA ELE: O CORAÇÃO CRISTALINO. ELE PULSAVA COM UMA LUZ SUAVE E COLORIDA, IRRADIANDO UMA ENERGIA CALOROSA. AO SE APROXIMAR, SOFIA SENTIU UMA CONEXÃO PROFUNDA, COMO SE A SABEDORIA DE SUA TIA-AVÓ E DE TODAS AS GERAÇÕES DE EXPLORADORES ESTIVESSE ALI. NO ENTANTO, O CORAÇÃO CRISTALINO ESTAVA CERCADO POR UMA BARREIRA MÁGICA QUE SÓ PODIA SER DESFEITA POR UM ATO DE PURA CORAGEM E UM TOQUE DE ALEGRIA. FAÍSCA, LEMBRANDO-SE DAS HISTÓRIAS ENGRAÇADAS QUE CONTARAM AOS DUENDES, COMEÇOU A PROJETAR HOLOGRAMAS HILÁRIOS. SOFIA, RINDO JUNTO, TOCOU A BARREIRA COM A MÃO. COM UM BRILHO INTENSO, A BARREIRA SE DESFEZ. QUANDO SOFIA TOCOU O CORAÇÃO CRISTALINO, UMA ONDA DE ENERGIA SE ESPALHOU PELO REINO, TRAZENDO CORES MAIS VIBRANTES ÀS FLORES, DEIXANDO OS RIOS MAIS LÍMPIDOS E ATÉ MESMO FAZENDO OS ROBÔS MAIS ANTIGOS SORRIREM. SOFIA E FAÍSCA VOLTARAM PARA CASA COMO HERÓIS, MAS O MAIS IMPORTANTE, SOFIA HAVIA ENCONTRADO NÃO APENAS UM TESOURO, MAS A CORAGEM DENTRO DE SI PARA SEGUIR SEUS SONHOS.

AO RETORNAR AO REINO, ELA FOI RECEBIDA COM FESTAS, APLAUSOS E MÚSICAS — MAS ALGO EM SEU CORAÇÃO DIZIA QUE AQUELA JORNADA ERA APENAS O COMEÇO. NA BIBLIOTECA REAL, O CORAÇÃO CRISTALINO FOI COLOCADO EM UM PEDESTAL, CERCADO DE ENCANTAMENTOS DE PROTEÇÃO, PARA QUE TODOS PUDESSEM SENTIR SUA ENERGIA. E, SURPREENDENTEMENTE, ELE COMEÇOU A EMITIR PADRÕES DE LUZ — SÍMBOLOS QUE NEM MESMO OS MAIS SÁBIOS DO REINO CONSEGUIAM DECIFRAR.

INTRIGADA, SOFIA VOLTOU AO DIÁRIO DA TIA-AVÓ. NAS ÚLTIMAS PÁGINAS, QUASE APAGADAS PELO TEMPO, HAVIA UMA ANOTAÇÃO ENIGMÁTICA: “O CORAÇÃO É A CHAVE. MAS PARA QUAL PORTA?”

FAÍSCA, SEMPRE ATENTO, ANALISOU OS PADRÕES DE LUZ DO CORAÇÃO E DESCOBRIU QUE ELES SE REPETIAM A CADA SETE DIAS, EXATAMENTE AO PÔR DO SOL. QUANDO O SÉTIMO DIA CHEGOU, ELES OBSERVARAM O CORAÇÃO E VIRAM QUE SUA LUZ FORMAVA UM MAPA ESTELAR — NÃO DA TERRA, MAS DE OUTRO MUNDO.

“SERÁ QUE A TIA-AVÓ DESCOBRIU UM CAMINHO PARA OUTROS REINOS ALÉM DESTE?” — SOFIA SE PERGUNTOU.

DETERMINADA A DESCOBRIR MAIS, ELA COMEÇOU A REUNIR UMA NOVA EQUIPE DE AVENTUREIROS — UM MAGO APRENDIZ COM TALENTO PARA CÓDIGOS ANTIGOS, UMA PILOTO DE NAVES PLANADORAS FEITAS DE CRISTAL E UMA BIÓLOGA QUE PODIA CONVERSAR COM CRIATURAS MÁGICAS.

E ASSIM, COM FAÍSCA EM SEU OMBRO E O DIÁRIO EM MÃOS, SOFIA SE PREPAROU PARA A PRÓXIMA JORNADA. DESTA VEZ, O DESTINO NÃO ERA APENAS UMA MONTANHA MISTERIOSA, MAS TALVEZ... OUTRA DIMENSÃO.

ENQUANTO O CORAÇÃO CRISTALINO PULSAVA COM UM BRILHO SUAVE ATRÁS DELA, SOFIA SORRIU. O MUNDO ERA MUITO MAIOR DO QUE ELA JAMAIS IMAGINARA.

E COMO TODA BOA EXPLORADORA SABE:
TODA RESPOSTA LEVA A UMA NOVA PERGUNTA.

NA PRIMEIRA NOITE DA NOVA EXPEDIÇÃO, O CÉU ESTAVA MAIS CLARO DO QUE NUNCA. AS ESTRELAS PARECIAM SUSSURRAR SEGREDOS ENTRE SI, FORMANDO CAMINHOS NO CÉU QUE SE ALINHAVAM COM O MAPA ESTELAR PROJETADO PELO CORAÇÃO CRISTALINO. SOFIA, FAÍSCA E SUA NOVA EQUIPE — O MAGO APRENDIZ ELIAN, A PILOTO DE PLANADORAS LYRA E A BIÓLOGA DE CRIATURAS MÁGICAS CHAMADA NIRA — ACAMPARAM ÀS MARGENS DO LAGO ESPECULAR, CONHECIDO POR REFLETIR O QUE AINDA ESTÁ POR VIR.

NA SUPERFÍCIE TRANQUILA DO LAGO, SURGIU UMA IMAGEM: UM PORTAL FLUTUANTE EM MEIO A RUÍNAS ESQUECIDAS, ENVOLTO POR RAÍZES DOURADAS E LÍNGUAS DE NÉVOA AZULADA. FAÍSCA CONFIRMOU: O LUGAR EXISTIA, E FICAVA NOS CONFINS DA TERRA INVISÍVEL, UMA REGIÃO PROTEGIDA POR ILUSÕES MÁGICAS QUE CONFUNDIAM MAPAS E BÚSSOLAS NORMAIS.

NO DIA SEGUINTE, COM A PLANADORA DE LYRA CORTANDO OS CÉUS COMO UMA FLECHA DE LUZ, O GRUPO SEGUIU EM DIREÇÃO À TERRA INVISÍVEL. DURANTE O VOO, ENFRENTARAM UMA TEMPESTADE FEITA DE PALAVRAS — LITERALMENTE. VENTOS LEVAVAM FRASES EM LÍNGUAS ANTIGAS QUE TENTAVAM DISTRAIR E DESORIENTAR OS VIAJANTES. ELIAN CONSEGUIU SELAR A TEMPESTADE COM UM ENCANTAMENTO DE SILÊNCIO ANCESTRAL, APRENDENDO AO MESMO TEMPO UMA NOVA PALAVRA DE PODER: “NAELUN”, QUE SIGNIFICAVA "VER COM O CORAÇÃO".

AO ATRAVESSAREM A CORTINA DE ILUSÃO, FINALMENTE CHEGARAM ÀS RUÍNAS. LÁ, O TEMPO PARECIA SUSPENSO. ESTÁTUAS DE CRIATURAS QUE NÃO PERTENCIAM A NENHUM BESTIÁRIO CONHECIDO GUARDAVAM UM GRANDE ARCO DE PEDRA. NO CENTRO DO ARCO, UMA CONCAVIDADE COM O FORMATO EXATO DO CORAÇÃO CRISTALINO.

SOFIA HESITOU POR UM INSTANTE, O CORAÇÃO EM MÃOS. SENTIA QUE, AO COLOCÁ-LO ALI, ABRIRIA UMA PORTA SEM VOLTA. MAS ELA TAMBÉM SABIA QUE AVENTURAS VERDADEIRAS EXIGEM PASSOS OUSADOS.

COM UM OLHAR FIRME PARA SUA EQUIPE, ELA ENCAIXOU O CORAÇÃO NA PEDRA.

O PORTAL SE ABRIU EM SILÊNCIO — UM VÓRTICE DE LUZES LÍQUIDAS, CHEIAS DE MEMÓRIAS E POSSIBILIDADES. NO INSTANTE SEGUINTE, FORAM PUXADOS PARA DENTRO, COMO SE O PRÓPRIO UNIVERSO ESTIVESSE RESPIRANDO FUNDO.

QUANDO ABRIRAM OS OLHOS, ESTAVAM EM UM MUNDO FLUTUANTE, ONDE ILHAS LEVITAVAM NO CÉU, CONECTADAS POR PONTES DE ENERGIA VIVA. PLANTAS CANTAVAM, CRIATURAS TRANSLÚCIDAS DANÇAVAM NO AR E TORRES CRISTALINAS LANÇAVAM FEIXES DE LUZ ATÉ O INFINITO.

MAS ALGO ESTAVA ERRADO.

O MUNDO PARECIA... ESQUECIDO. FRAGMENTOS PAIRAVAM COMO PEÇAS DESCONECTADAS DE UMA MEMÓRIA ANTIGA. UMA SOMBRA SUAVE, QUASE IMPERCEPTÍVEL, PAIRAVA SOBRETUDO — COMO SE ALGO ALI ESTIVESSE ESPERANDO PARA SER LEMBRADO... OU LIBERTADO.

FAÍSCA ANALISOU OS DADOS AO REDOR E DISSE COM UMA VOZ MAIS SÉRIA QUE O NORMAL:

— SOFIA... ESTE LUGAR É FEITO DE PENSAMENTOS ESQUECIDOS. ALGUÉM — OU ALGO — TENTOU APAGAR ESTE MUNDO DA REALIDADE. E NÓS ACABAMOS DE ACENDER A VELA DE VOLTA.

SOFIA RESPIROU FUNDO, OLHANDO PARA O HORIZONTE.

— ENTÃO VAMOS RESTAURÁ-LO. MEMÓRIA POR MEMÓRIA, ILHA POR ILHA.

E ASSIM COMEÇOU A JORNADA DOS FRAGMENTOS PERDIDOS — UMA NOVA MISSÃO, ONDE O MAIOR DESAFIO NÃO ERA VENCER MONSTROS OU ATRAVESSAR MONTANHAS..., MAS RESGATAR HISTÓRIAS, RECONSTRUIR SENTIDOS E, TALVEZ, ENTENDER POR QUE SUA TIA-AVÓ NUNCA QUIS VOLTAR.

A AVENTURA CONTINUAVA. E O CORAÇÃO DE SOFIA, ASSIM COMO O CRISTAL, NUNCA BRILHOU TÃO FORTE.

A PRIMEIRA ILHA FLUTUANTE ONDE SOFIA E SUA EQUIPE POUSARAM ERA CHAMADA, SEGUNDO UMA INSCRIÇÃO SEMIAPAGADA, DE ILHA DOS ECOS. PARECIA DESABITADA, MAS O CHÃO ERA FEITO DE CRISTAL ÂMBAR E EMITIA SONS SUAVES A CADA PASSO — COMO SE A PRÓPRIA TERRA ESTIVESSE TENTANDO CONVERSAR.

ELIAN COLOCOU A MÃO SOBRE UMA PEDRA E MURMUROU “NAELUN”. DE REPENTE, VOZES DO PASSADO COMEÇARAM A ECOAR AO REDOR DELES — NÃO PALAVRAS COMUNS, MAS MEMÓRIAS.

“MAMÃE, OLHA O QUE EU DESENHEI!”
“PROMETO QUE VOLTAREI PARA CASA.”
“SE NOS ESQUECERMOS DE QUEM SOMOS, O QUE SOBRA?”

SOFIA SENTIU UM ARREPIO. AQUELA ILHA GUARDAVA LEMBRANÇAS..., MAS DE QUEM?

FAÍSCA, ESCANEANDO O AMBIENTE, IDENTIFICOU UM PADRÃO: NO CENTRO DA ILHA HAVIA UMA ÁRVORE SEM FOLHAS, FEITA INTEIRAMENTE DE VIDRO COLORIDO. SEUS GALHOS SE ESTENDIAM PARA O CÉU, E EM CADA GALHO HAVIA UM PEQUENO FRAGMENTO FLUTUANDO — COMO FOLHAS QUE NÃO SABIAM ONDE POUSAR.

— SÃO MEMÓRIAS ÓRFÃS — DISSE NIRA, SE APROXIMANDO COM CUIDADO. — ELAS PRECISAM DE UM VÍNCULO PARA FLORESCER DE NOVO.

SOFIA TEVE UMA IDEIA. TIROU O DIÁRIO DA TIA-AVÓ E COMEÇOU A LER UMA DAS HISTÓRIAS ANTIGAS EM VOZ ALTA — SOBRE UMA NOITE EM QUE ELA SE PERDEU NO DESERTO ENCANTADO E APRENDEU A OUVIR AS ESTRELAS.

ENQUANTO ELA LIA, UM DOS FRAGMENTOS DESCEU LENTAMENTE DO GALHO DA ÁRVORE E BRILHOU, REVELANDO A IMAGEM DE SUA TIA-AVÓ JOVEM, RINDO AO LADO DE UM CAMELO COM ASAS DOURADAS. A ÁRVORE REAGIU, SUAS RAÍZES SE ACENDERAM E, PELA PRIMEIRA VEZ EM ANOS — TALVEZ SÉCULOS — UMA FOLHA DE LUZ BROTOU.

ERA ISSO. CADA FRAGMENTO PRECISAVA DE UMA MEMÓRIA CORRESPONDENTE PARA RENASCER.

NAS HORAS SEGUINTES, A EQUIPE REVIVEU MAIS E MAIS HISTÓRIAS — USANDO MÚSICAS, DESENHOS, GESTOS E PALAVRAS ESQUECIDAS. COM CADA LEMBRANÇA RESTAURADA, A ILHA SE TORNAVA MAIS VIVA: PÁSSAROS SURGIAM DO AR, FLORES CANTAVAM ANTIGAS MELODIAS E O CÉU GANHAVA NOVAS CORES.

MAS, AO RESTAURAR O ÚLTIMO FRAGMENTO, ALGO MUDOU.

O CHÃO TREMEU. DO HORIZONTE DA NÉVOA SURGIU UMA FIGURA ENCAPUZADA, FLUTUANDO, ENVOLTA EM UMA NÉVOA PRATEADA. SEUS OLHOS NÃO TINHAM PUPILAS — APENAS REFLEXOS DE LEMBRANÇAS APAGADAS.

— VOCÊS DESPERTARAM O QUE ESTAVA ADORMECIDO — DISSE A FIGURA, COM UMA VOZ QUE SOAVA COMO VÁRIAS VOZES AO MESMO TEMPO. — ESTE MUNDO FOI ESQUECIDO POR ESCOLHA. VOCÊS NÃO DEVIAM TÊ-LO TRAZIDO DE VOLTA.

SOFIA FICOU FIRME. — MAS ESQUECER NÃO É O MESMO QUE CURAR. E MEMÓRIAS NÃO MERECEM PRISÃO.

A FIGURA PAIROU POR UM MOMENTO, INDECISA, COMO SE ESTIVESSE LUTANDO COM SUA PRÓPRIA EXISTÊNCIA. ENTÃO, SEM DIZER MAIS NADA, DESAPARECEU NA NEBLINA, ABANDONANDO UMA PENA DE LUZ NEGRA — UMA PISTA, OU TALVEZ, UM AVISO.

FAÍSCA ANALISOU A PENA. — ESSA ENERGIA... É DE ALGO MUITO ANTIGO. TALVEZ... ANTERIOR ATÉ MESMO AO NOSSO MUNDO.

SOFIA APERTOU O DIÁRIO CONTRA O PEITO.

— ENTÃO É ISSO QUE TEMOS QUE FAZER. DESCOBRIR QUEM QUIS ESQUECER. E POR QUÊ.

E COM ISSO, A EQUIPE SE PREPAROU PARA PARTIR RUMO À PRÓXIMA ILHA — ONDE, SEGUNDO O MAPA DE LUZ DO CORAÇÃO CRISTALINO, OS GUARDADORES DO TEMPO PERDIDO ESPERAVAM.

A SEGUNDA ILHA ERA ENVOLTA POR UMA AURA DE NÉVOA DOURADA. ENQUANTO A PLANADORA DESCIA, FAÍSCA REGISTROU DISTORÇÕES TEMPORAIS: CADA SEGUNDO PARECIA SE REPETIR E DOBRAR SOBRE SI MESMO. ERA A ILHA DOS GUARDADORES DO TEMPO PERDIDO.

NO CENTRO DA ILHA, HAVIA UMA TORRE SEM PORTAS NEM JANELAS — FEITA DE ENGRENAGENS FLUTUANTES E ESPELHOS QUEBRADOS. EM TORNO DELA, ESTÁTUAS DE ANCIÃOS COM AMPULHETAS VAZIAS NAS MÃOS.

— O TEMPO PAROU AQUI — MURMUROU ELIAN. — OU PIOR... FOI APRISIONADO.

SOFIA SE APROXIMOU DA TORRE. O CORAÇÃO CRISTALINO COMEÇOU A BRILHAR EM TONS PRATEADOS E DOURADOS. COMO SE RECONHECESSE O LUGAR.

SUBITAMENTE, UMA VOZ SURGIU DO NADA, PROFUNDA E MELANCÓLICA:

"O TEMPO QUE ESQUECEMOS NÃO DESAPARECE... ELE AGUARDA, ESPERANDO SER LEMBRADO COM CORAGEM."

A ESTRUTURA SE ABRIU LENTAMENTE, REVELANDO UM SALÃO INFINITO. NO CENTRO, UMA FIGURA QUE SOFIA RECONHECEU — SUA TIA-AVÓ, MUITO MAIS VELHA DO QUE NAS MEMÓRIAS.

— VOCÊ CHEGOU, MINHA QUERIDA. — DISSE ELA, COM UM SORRISO DOCE E TRISTE. — MAS EU NÃO VOLTEI PORQUE NÃO QUIS... EU FIQUEI, PARA GUARDAR O TEMPO.

ELA EXPLICOU QUE AO ENCONTRAR O CORAÇÃO CRISTALINO, DESCOBRIU QUE ELE NÃO APENAS RESTAURAVA EQUILÍBRIO — ELE CONECTAVA TODOS OS MUNDOS ONDE A MEMÓRIA, O TEMPO E A IMAGINAÇÃO CRIAVAM A REALIDADE. MAS UMA ENTIDADE ANTIGA, FEITA DE MEDO E ESQUECIMENTO, TENTAVA DEVORAR ESSES MUNDOS LENTAMENTE, APAGANDO TUDO QUE TORNAVA CADA UM ÚNICO.

— ESQUECER PODE SER CONFORTO..., MAS TAMBÉM PODE SER FUGA. O MUNDO COMEÇOU A DESAPARECER QUANDO DEIXAMOS DE CONTAR NOSSAS HISTÓRIAS, DE PASSAR ADIANTE NOSSAS CANÇÕES, DE LEMBRAR QUEM FOMOS.

SOFIA ENTENDEU. SUA MISSÃO NÃO ERA APENAS RESTAURAR PEDAÇOS DO MUNDO — ERA REACENDER A CENTELHA DA MEMÓRIA VIVA, DA TRADIÇÃO, DA IMAGINAÇÃO QUE SUSTENTA CADA CANTO DA EXISTÊNCIA.

COM A BÊNÇÃO DA TIA-AVÓ, ELA INSERIU O CORAÇÃO CRISTALINO NO PEDESTAL CENTRAL DA TORRE. UMA ONDA DE ENERGIA PURA SE ESPALHOU POR TODAS AS ILHAS FLUTUANTES. OS FRAGMENTOS SE UNIRAM. OS GUARDADORES DESPERTARAM, O TEMPO COMEÇOU A FLUIR NOVAMENTE — E A ENTIDADE SOMBRIA, PRIVADA DE ESQUECIMENTO, SE DISSOLVEU SILENCIOSAMENTE, COMO UM SONHO QUE PERDE SENTIDO AO AMANHECER.

NO MUNDO REAL, O REINO FLORESCEU COMO NUNCA. AS PESSOAS PASSARAM A CONTAR MAIS HISTÓRIAS, A VALORIZAR SUAS RAÍZES E CELEBRAR SUAS DIFERENÇAS. ROBÔS CANTAVAM COM BARDOS, MAGOS FAZIAM FEIRAS DE INVENÇÕES E AS CRIANÇAS BRINCAVAM EM ILHAS RECRIADAS DA MEMÓRIA.

SOFIA VOLTOU PARA CASA, NÃO COMO HEROÍNA — MAS COMO GUARDADORA DE HISTÓRIAS.

ELA CRIOU UM SALÃO NA BIBLIOTECA: O SALÃO DAS MEMÓRIAS VIVAS, ONDE QUALQUER PESSOA PODIA DEIXAR UMA LEMBRANÇA, UM CONTO, UMA INVENÇÃO OU ATÉ UM SONHO. E LÁ, O CORAÇÃO CRISTALINO PULSAVA, MAIS FORTE DO QUE NUNCA.