NA IMENSIDÃO MISTERIOSA DA FLORESTA NEGRA, ONDE AS ÁRVORES CENTENÁRIAS ESTENDIAM SEUS GALHOS COMO BRAÇOS NODOSOS E O MUSGO COBRIA AS PEDRAS COM UM TAPETE VERDE AVELUDADO, VIVIA UMA FAMÍLIA EM UMA PEQUENA CABANA DE MADEIRA. ALI, ENTRE O FARFALHAR DAS FOLHAS E O CANTO DOS PÁSSAROS, MORAVAM MANUEL MARIA E MARIA JOSÉ, DOIS IRMÃOS QUE, APESAR DE TODO O AMOR QUE OS CERCAVA, PARECIAM TER NASCIDO PARA A DISCÓRDIA. MANUEL MARIA, COM SEUS CABELOS PRETOS CURTOS E SEMPRE ARREPIADOS, ERA IMPETUOSO E TEIMOSO. MARIA JOSÉ, POR OUTRO LADO, OSTENTAVA LONGOS CABELOS AVERMELHADOS, ERA MAIS CALMA, MAS IGUALMENTE OBSTINADA.

DESDE O AMANHECER ATÉ O CAIR DA NOITE, A CABANA ECOAVA COM SUAS BRIGAS. "MINHA VEZ DE PEGAR ÁGUA!", GRITAVA MANUEL. "DE JEITO NENHUM, EU PEGUEI ONTEM!", RETRUCAVA MARIA. SE UM QUERIA BRINCAR DE ESCONDE-ESCONDE, O OUTRO PREFERIA CONSTRUIR CASTELOS DE GRAVETOS. SE UM DESEJAVA MAÇÃS, O OUTRO CLAMAVA POR AMORAS. SEUS PAIS, CANSADOS DAS CONSTANTES DISCUSSÕES, TENTAVAM DE TUDO PARA ACALMAR OS ÂNIMOS, MAS ERA COMO TENTAR DETER UMA TEMPESTADE COM UM GUARDA-CHUVA FURADO.

NÃO MUITO LONGE DA CABANA, EM UMA TOCA ESCONDIDA SOB AS RAÍZES DE UM CARVALHO GIGANTE, MORAVA UMA VELHA BRUXA. SEU NOME ERA GRIMÓRIA, E ELA NÃO ERA UMA BRUXA MÁ, APENAS UMA BRUXA QUE APRECIAVA O SILÊNCIO E A CONCENTRAÇÃO. GRIMÓRIA PASSAVA SEUS DIAS PREPARANDO POÇÕES COMPLEXAS, RECITANDO ENCANTAMENTOS MILENARES E LENDO GRIMÓRIOS ANTIGOS, ATIVIDADES QUE EXIGIAM A MAIS COMPLETA TRANQUILIDADE. NO ENTANTO, OS GRITOS E AS RECLAMAÇÕES DE MANUEL MARIA E MARIA JOSÉ INVADIAM SUA PAZ DIÁRIA, ATRAVESSANDO A DENSA FLORESTA E RESSOANDO EM SEUS OUVIDOS SENSÍVEIS.

"ORA ESSA!", RESMUNGAVA A BRUXA, APERTANDO OS OLHOS POR TRÁS DE SEUS ÓCULOS GROSSOS E EMPOEIRADOS. "COMO POSSO TRANSFORMAR SAPOS EM PRÍNCIPES COM ESSA BARULHEIRA INFERNAL? MEUS FEITIÇOS ESTÃO SAINDO TORTOS, E MINHAS POÇÕES, AZEDAS COMO VINAGRE! ONTEM MESMO, TENTEI FAZER UMA POÇÃO DO SONO PARA O VELHO URSO RONCADOR, E POR CAUSA DESSES PIVETES, ACABEI CRIANDO UMA POÇÃO QUE O FEZ DANÇAR A NOITE TODA! RIDÍCULO!"

UM DIA, A PACIÊNCIA DA BRUXA GRIMÓRIA SE ESGOTARAM COMPLETAMENTE. ELA ESTAVA NO MEIO DE UM COMPLEXO ENCANTAMENTO PARA INVOCAR UMA CHUVA DE ESTRELAS CADENTES, UM RITUAL QUE SÓ PODIA SER FEITO UMA VEZ A CADA CEM ANOS, E OS GRITOS DE "É MEU!", "NÃO, É MEU!" VINDOS DA CABANA VIZINHA FIZERAM COM QUE ELA DERRUBASSE UM POTE DE PÓ DE FADA CINTILANTE E MISTURASSE OS INGREDIENTES ERRADOS. O RESULTADO FOI UMA PEQUENA EXPLOSÃO QUE DEIXOU SUAS SOBRANCELHAS NÃO APENAS CHAMUSCADAS, MAS TAMBÉM LEVEMENTE ESVERDEADAS.

COM OS OLHOS FAISCANDO EM FÚRIA CONTROLADA E UM BICO DE IRRITAÇÃO NOS LÁBIOS FINOS, GRIMÓRIA PEGOU SEU CALDEIRÃO MAIS RELUZENTE, FEITO DE COBRE PURO, ACENDEU O FOGO COM UM ESTALAR DE DEDOS E COMEÇOU A PREPARAR UM FEITIÇO ESPECIAL. ELA ADICIONOU UMA PITADA DE TEIMOSIA DE MULA, UM PUNHADO DE GRITOS DE GANSO, A RAIZ DE UMA PLANTA-COLA QUE GRUDAVA TUDO, A PENA DE UMA PEGA CONHECIDA POR SUA NATUREZA APEGADA E, PARA DAR UM TOQUE FINAL, UM FIO DE CABELO DE DOIS IRMÃOS QUE VIVIAM EM ETERNA DISCÓRDIA, COLHIDOS SORRATEIRAMENTE DE SUAS ALMOFADAS. ENQUANTO MEXIA A POÇÃO COM SUA COLHER DE MADEIRA RETORCIDA, QUE PARECIA UMA GARRA, ELA MURMURAVA PALAVRAS ANTIGAS EM UMA LÍNGUA ESQUECIDA, E UMA FUMAÇA ROXA E ESPESSA, COM CHEIRO DE ORVALHO E TERRA MOLHADA, SUBIA DO CALDEIRÃO.

NAQUELA MESMA TARDE, MANUEL MARIA E MARIA JOSÉ ESTAVAM BRIGANDO POR UM PEDAÇO DE PÃO RECÉM-ASSADO. "EU VI PRIMEIRO, SEU GULOSO!", DISSE MANUEL, TENTANDO ARRANCAR O PÃO DAS MÃOS DA IRMÃ COM SUA MÃOZINHA FORTE. "VOCÊ SEMPRE COME MAIS, SEU ESFOMEADO!", RETRUCOU MARIA, PUXANDO O PÃO DE VOLTA COM TEIMOSIA.

DE REPENTE, UMA NÉVOA ROXA, DENSA E PERFUMADA, ENVOLVEU A CABANA, ENTRANDO POR CADA FRESTA DA MADEIRA. OS IRMÃOS PARARAM DE BRIGAR, ASSUSTADOS, O PEDAÇO DE PÃO ESQUECIDO ENTRE ELES. A NÉVOA SE DISSIPOU TÃO RAPIDAMENTE QUANTO SURGIU, MAS ALGO ESTAVA TERRIVELMENTE DIFERENTE. MANUEL MARIA SENTIU UM PUXÃO ESTRANHO E DOLOROSO NO SEU LADO ESQUERDO, COMO SE SEU CORPO ESTIVESSE SENDO COSTURADO. MARIA JOSÉ SENTIU UMA PRESSÃO INCOMUM E ASSUSTADORA NO SEU LADO DIREITO, UMA SENSAÇÃO DE ESTAR SENDO FUNDIDA. QUANDO TENTARAM SE MOVER, PERCEBERAM QUE ESTAVAM... UNIDOS.

MANUEL MARIA TENTOU DAR UM PASSO À FRENTE, MAS MARIA JOSÉ SE INCLINOU PARA TRÁS, DESEQUILIBRANDO-O. MARIA JOSÉ TENTOU LEVANTAR O BRAÇO DIREITO PARA COÇAR O NARIZ, MAS O BRAÇO ESQUERDO DE MANUEL MARIA TAMBÉM SE ERGUEU, DESAJEITADO E BATENDO EM SUA PRÓPRIA CABEÇA. ELES SE OLHARAM, CHOCADOS, SEUS OLHOS ARREGALADOS DE HORROR. O LADO ESQUERDO DO CORPO DE MANUEL MARIA E O LADO DIREITO DO CORPO DE MARIA JOSÉ HAVIAM SE FUNDIDO, TRANSFORMANDO-OS EM UMA ÚNICA ENTIDADE, MAS COM DUAS CABEÇAS, DOIS CORAÇÕES BATENDO DESCOMPASSADOS E PERSONALIDADES COMPLETAMENTE DIFERENTES, AINDA EM CONFLITO. MANUEL MARIA ESTAVA DO LADO ESQUERDO, COM SEUS CABELOS PRETOS ARREPIADOS, E MARIA JOSÉ DO LADO DIREITO, COM SEUS LONGOS CABELOS AVERMELHADOS, QUASE ALCANÇANDO A CINTURA.

OS PAIS DOS MENINOS, QUE ESTAVAM NA COZINHA, QUASE CAÍRAM PARA TRÁS AO VEREM A CENA GROTESCA. "O QUE ACONTECEU AQUI, PELO AMOR DE DEUS?", EXCLAMOU A MÃE, COBRINDO A BOCA COM AS MÃOS TRÊMULAS. "ESTAMOS GRUDADOS! É UM PESADELO!", GRITOU MANUEL MARIA, TENTANDO PUXAR SEU LADO PARA LONGE DE MARIA JOSÉ, MAS SEM SUCESSO, APENAS SENTINDO UMA DOR LANCINANTE. "É CULPA SUA, MANUEL! SE VOCÊ NÃO TIVESSE PEGADO MEU PÃO...", CHORAMINGOU MARIA JOSÉ, AS LÁGRIMAS ESCORRENDO PELO SEU ROSTO, MOLHANDO AS BOCHECHAS PÁLIDAS.

A BRUXA GRIMÓRIA APARECEU À PORTA DA CABANA, UMA LEVE FUMAÇA ROXA AINDA PAIRANDO AO REDOR DELA, E UM SORRISO SATISFEITO DESENHADO NOS LÁBIOS. "ESTÁ VENDO O QUE ACONTECE QUANDO A PAZ É PERTURBADA E A DISCÓRDIA REINA?", DISSE ELA COM UMA VOZ ROUCA E UM TOM DE ADVERTÊNCIA. "ESTE É O FEITIÇO DA UNIÃO FORÇADA! VOCÊS DOIS VIVERÃO ASSIM, COMPARTILHANDO CADA MOVIMENTO, CADA SENSAÇÃO, ATÉ QUE APRENDAM O VERDADEIRO SIGNIFICADO DE UNIÃO, DE FRATERNIDADE E DE RESPEITO MÚTUO. ATÉ LÁ, CADA PASSO QUE UM DER, O OUTRO TERÁ QUE SEGUIR. CADA PENSAMENTO EGOÍSTA DE UM, AFETARÁ O OUTRO. QUE COMECE A LIÇÃO!"

O DESESPERO TOMOU CONTA DOS IRMÃOS, QUE AGORA ERAM UM SÓ. COMO ELES FARIAM PARA BRINCAR, COMER OU ATÉ MESMO ANDAR? COMO DORMIRIAM? O PRIMEIRO DESAFIO VEIO NA HORA DO JANTAR. O PAI COLOCOU UM PRATO DE ENSOPADO FUMEGANTE NA MESA. MANUEL MARIA, ACOSTUMADO A COMER COM PRESSA, ESTENDEU SEU BRAÇO PARA PEGAR A COLHER, MAS MARIA JOSÉ, MAIS DELICADA E COMENDO DEVAGAR, PUXOU SEU LADO, FAZENDO COM QUE A COLHER BATESSE NO PRATO E O ENSOPADO VOASSE PARA TODOS OS LADOS. FOI UMA CONFUSÃO. COMERAM DE FORMA DESAJEITADA, COM UM EMPURRANDO O OUTRO, DERRAMANDO MAIS COMIDA DO QUE INGERINDO, E OS POUCOS BOCADOS QUE CONSEGUIAM LEVAR À BOCA ERAM ACOMPANHADOS DE RESMUNGOS E CARAS FEIAS.

NO DIA SEGUINTE, A TAREFA DE BUSCAR ÁGUA NO POÇO FOI UM DESASTRE COMPLETO. CAMINHAR ERA UMA PROEZA DIGNA DE UM CIRCO. MANUEL MARIA QUERIA IR RÁPIDO, COM PASSADAS LARGAS, QUASE CORRENDO. MARIA JOSÉ PREFERIA IR DEVAGAR, OBSERVANDO AS FLORES E AS BORBOLETAS PELO CAMINHO, PARANDO A CADA INSTANTE PARA ADMIRAR. O RESULTADO FOI UMA SÉRIE DE TROPEÇOS E TOMBOS, QUE OS DEIXARAM SUJOS DE LAMA E COM ALGUNS ARRANHÕES, ATÉ QUE, EXAUSTOS E MOLHADOS PELO ORVALHO DA MANHÃ, CHEGARAM AO POÇO. PEGAR O BALDE FOI OUTRO DESAFIO. MANUEL MARIA QUERIA PUXAR COM FORÇA E RAPIDEZ, MARIA JOSÉ QUERIA LEVANTAR-SE COM CUIDADO PARA NÃO DERRAMAR UMA GOTA. A ÁGUA VOOU PARA TODO LADO, E ELES VOLTARAM PARA CASA ENCHARCADOS, MAL-HUMORADOS E COM OS CABELOS PINGANDO.

OS DIAS SE TRANSFORMARAM EM SEMANAS, E A VIDA DOS IRMÃOS ERA UM CONSTANTE EXERCÍCIO DE PACIÊNCIA E NEGOCIAÇÃO, UMA VERDADEIRA ESCOLA FORÇADA. SE MANUEL MARIA ESTAVA IMPACIENTE PARA IR PARA A FLORESTA CAÇAR BORBOLETAS, MARIA JOSÉ, DO SEU LADO, INSISTIA EM FICAR EM CASA LENDO SEUS LIVROS DE CONTOS DE FADAS. SE MARIA JOSÉ QUERIA PINTAR AS PAISAGENS DA FLORESTA, MANUEL MARIA RECLAMAVA QUE AS CORES O ENTEDIAVAM E QUE ELE PREFERIA UMA BOA AVENTURA. MAS, AOS POUCOS, DE FORMA QUASE IMPERCEPTÍVEL, ALGO COMEÇOU A MUDAR.

EM UMA TARDE ENSOLARADA, MANUEL MARIA ESTAVA IMPETUOSO PARA JOGAR BOLA NO CAMPO ABERTO, ENQUANTO MARIA JOSÉ QUERIA COLHER MORANGOS SILVESTRES PARA FAZER UMA TORTA. DEPOIS DE UMA DISCUSSÃO ACALORADA QUE DUROU QUASE MEIA HORA, MANUEL MARIA, FRUSTRADO, SENTOU-SE BRUSCAMENTE, PUXANDO MARIA JOSÉ JUNTO. MARIA JOSÉ, VENDO A TRISTEZA E A RESIGNAÇÃO NO ROSTO DO IRMÃO, TEVE UMA IDEIA. "MANUEL", DISSE ELA, SUA VOZ SUAVE, "E SE A GENTE COLHER OS MORANGOS BEM RAPIDINHO, PROMETO QUE SEREI VELOZ, E DEPOIS VOCÊ JOGA A BOLA POR UM BOM TEMPO, E EU FICO TE OBSERVANDO, TORCENDO POR VOCÊ?" MANUEL MARIA HESITOU, SURPRESO PELA PROPOSTA, MAS CONCORDOU. PARA A SURPRESA DE AMBOS, A TARDE FOI AGRADÁVEL. MANUEL MARIA CORREU COM OS MORANGOS NO CESTO, E MARIA JOSÉ RIU ENQUANTO ELE CHUTAVA A BOLA, SENTINDO A BRISA SUAVE EM SEUS CABELOS.

A PARTIR DESSE DIA, ELES COMEÇARAM A ENCONTRAR SOLUÇÕES PARA SEUS DILEMAS. PARA COMER, APRENDERAM A SINCRONIZAR OS MOVIMENTOS DE SUAS MÃOS, UM SEGURANDO O PÃO E O OUTRO PEGANDO A COLHER, TRABALHANDO COMO UMA EQUIPE. PARA ANDAR, CRIARAM UM RITMO, UM PASSO PARA MANUEL MARIA, UM PASSO PARA MARIA JOSÉ, COMO UMA DANÇA DESAJEITADA, MAS PERFEITAMENTE FUNCIONAL. ELES DESCOBRIRAM QUE, SE UM CEDESSE UM POUCO, O OUTRO TAMBÉM O FAZIA, E QUE A VIDA SE TORNAVA MUITO MAIS FÁCIL. MANUEL MARIA PERCEBEU QUE A CALMA DE MARIA JOSÉ O AJUDAVA A PENSAR MELHOR ANTES DE AGIR, E MARIA JOSÉ PERCEBEU QUE A ENERGIA E A OUSADIA DE MANUEL MARIA A IMPULSIONAVAM A EXPERIMENTAR COISAS NOVAS E EMOCIONANTES.

CERTA MANHÃ, ENQUANTO TENTAVAM PEGAR UMA FRUTA SUCULENTA NO ALTO DE UMA ÁRVORE, MANUEL MARIA TEVE A IDEIA DE SUBIR NO OMBRO DE MARIA JOSÉ, MAS ELA ACHOU QUE SERIA MUITO PESADO E QUE ELES CAIRIAM. ELES DISCUTIRAM POR UM MOMENTO, QUASE DESISTINDO, MAS ENTÃO, MANUEL MARIA OLHOU PARA AS MÃOS DE MARIA JOSÉ, QUE ERAM PEQUENAS E DELICADAS, PERFEITAS PARA ALCANÇAR OS GALHOS FINOS. "MARIA JOSÉ", ELE DISSE, SUA VOZ MENOS IMPACIENTE DO QUE DE COSTUME, "E SE EU TE LEVANTAR, E VOCÊ ESTICA O BRAÇO PARA PEGAR A FRUTA? EU TE DAREI TODO O EQUILÍBRIO QUE PUDER." ELA CONCORDOU, E JUNTOS, COM UM ESFORÇO COORDENADO E UMA CONCENTRAÇÃO QUE JAMAIS TERIAM TIDO ANTES, CONSEGUIRAM ALCANÇAR A FRUTA. PELA PRIMEIRA VEZ EM MUITO TEMPO, ELES SORRIRAM UM PARA O OUTRO SEM QUALQUER RESSENTIMENTO, UM SORRISO DE PURA CONQUISTA COMPARTILHADA.

A BRUXA GRIMÓRIA, OBSERVANDO DE SUA TOCA, NOTOU A PROFUNDA MUDANÇA. OS GRITOS HAVIAM DIMINUÍDO DRASTICAMENTE, SUBSTITUÍDOS POR CONVERSAS BAIXAS, SUSSURROS DE PLANOS E, ÀS VEZES, ATÉ RISADAS CONTAGIANTES. ELA VIU OS IRMÃOS AJUDANDO UM AO OUTRO DE FORMA ESPONTÂNEA, OFERECENDO APOIO, PACIÊNCIA E COMPREENSÃO. ELES ESTAVAM APRENDENDO A LIÇÃO DE FORMA EXEMPLAR. O CORAÇÃO DA BRUXA, QUE ANTES ERA IRRITADIÇO, SE AQUECEU COM A CENA, E ELA SENTIU QUE ERA A HORA DE DESFAZER O FEITIÇO.

UMA NOITE ESTRELADA, COM A LUA CHEIA ILUMINANDO O CAMINHO ATRAVÉS DAS ÁRVORES, A BRUXA GRIMÓRIA APARECEU NOVAMENTE À PORTA DA CABANA. MANUEL MARIA E MARIA JOSÉ ESTAVAM SENTADOS À LAREIRA, LENDO UM LIVRO DE AVENTURAS JUNTOS, COM UM BRAÇO DE CADA UM VIRANDO AS PÁGINAS EM PERFEITA SINTONIA. QUANDO VIRAM A BRUXA, UM FRIO PERCORREU SUAS ESPINHAS, MAS NÃO ERA MAIS O MEDO DE ANTES, E SIM A EXPECTATIVA.

"VOCÊS APRENDERAM, FINALMENTE?", PERGUNTOU GRIMÓRIA COM SUA VOZ ROUCA, MAS AGORA COM UM BRILHO DE APROVAÇÃO NOS OLHOS.

MANUEL MARIA OLHOU PARA MARIA JOSÉ, E MARIA JOSÉ OLHOU PARA MANUEL MARIA. UM ACENO SILENCIOSO DE COMPREENSÃO PASSOU ENTRE ELES. "SIM, GRIMÓRIA", DISSERAM EM UNÍSSONO, COM VOZES QUE PELA PRIMEIRA VEZ SOAVAM EM PERFEITA HARMONIA, SEM DESAFINAR. "APRENDEMOS QUE É MUITO MAIS FÁCIL E DIVERTIDO QUANDO TRABALHAMOS JUNTOS. E QUE, MESMO SENDO DIFERENTES, PODEMOS NOS COMPLETAR E NOS TORNAR MAIS FORTES UNIDOS. NOSSAS DIFERENÇAS NOS TORNAM MAIS INTERESSANTES."

A BRUXA GRIMÓRIA SORRIU, UM SORRISO GENUÍNO QUE RARAMENTE APARECIA EM SEU ROSTO. ELA ESTENDEU A MÃO, QUE PARECIA MAIS LEVE E MENOS ENRUGADA, E PROFERIU ALGUMAS PALAVRAS MÁGICAS ANTIGAS, PALAVRAS DE DESFAZIMENTO. UMA LUZ DOURADA E SUAVE ENVOLVEU OS IRMÃOS, E ELES SENTIRAM UMA LEVE TONTURA, COMO UM BREVE BALANÇO DE UM BARCO. QUANDO A LUZ SE DISSIPOU, ELES ESTAVAM SEPARADOS NOVAMENTE, CADA UM EM SEU PRÓPRIO CORPO, INTEIROS E LIVRES. MANUEL MARIA PODIA MEXER SEU BRAÇO ESQUERDO LIVREMENTE, E MARIA JOSÉ PODIA MOVER SEU BRAÇO DIREITO SEM RESTRIÇÕES, SEM SENTIR O PUXÃO DO OUTRO.

ELES SE OLHARAM, DEPOIS OLHARAM PARA SEUS PRÓPRIOS CORPOS, E ENTÃO, SEM PENSAR DUAS VEZES, SE ABRAÇARAM FORTE, UM ABRAÇO DE ALÍVIO, DE ALEGRIA E DE UM NOVO LAÇO. FOI O PRIMEIRO ABRAÇO SINCERO QUE DERAM UM NO OUTRO EM ANOS, E FOI O MAIS APERTADO DE TODOS.

MANUEL MARIA CORREU PARA UM LADO DA CABANA, MARIA JOSÉ PARA O OUTRO, AMBOS EXPERIMENTANDO A LIBERDADE DE SEUS PRÓPRIOS MOVIMENTOS. MAS LOGO SE ENCONTRARAM NO CENTRO, SORRINDO. A PARTIR DAQUELE DIA, MANUEL MARIA E MARIA JOSÉ CONTINUARAM SENDO DIFERENTES, COM SUAS PRÓPRIAS PERSONALIDADES E DESEJOS, MAS NUNCA MAIS BRIGARAM DA MESMA FORMA. APRENDERAM A DIALOGAR, A CEDER, A APOIAR UM AO OUTRO, E A ENCONTRAR A BELEZA NAS DIFERENÇAS. A CABANA NA FLORESTA NEGRA, ANTES ECOANDO COM A DISCÓRDIA E OS GRITOS, AGORA RESSOAVA COM RISADAS, COM CONVERSAS ANIMADAS, COM A PARTILHA DE IDEIAS E, ACIMA DE TUDO, COM A DOCE MELODIA DA UNIÃO E DA FRATERNIDADE. A BRUXA GRIMÓRIA, EM SUA TOCA, PODIA FINALMENTE SE CONCENTRAR EM SEUS FEITIÇOS, E O CHEIRO DE POÇÕES BEM-SUCEDIDAS FLUTUAVA NO AR, MISTURANDO-SE AO CHEIRO DOCE DA HARMONIA QUE FLORESCIA NA CASA DOS IRMÃOS.