NUMA PEQUENA E PACATA CIDADEZINHA CHAMADA SINFONIA DO VALE, ANINHADA ENTRE COLINAS VERDEJANTES E UM RIO DE ÁGUAS CRISTALINAS, HAVIA UMA TORRE DE RELÓGIO ANTIGA E MAJESTOSA. ELA FICAVA BEM NO CENTRO DA PRAÇA PRINCIPAL, E SEUS SINOS, QUE TOCAVAM DE HORA EM HORA, MARCAVAM O RITMO DA VIDA DE TODOS. DONA AURORA, A PADEIRA, SABIA A HORA DE TIRAR O PÃO DO FORNO PELO BADALAR DOS SINOS. OS IRMÃOS LUCAS E BIA, AS CRIANÇAS MAIS AVENTUREIRAS DA CIDADE, USAVAM OS SINOS PARA SABER A HORA DE VOLTAR PARA CASA DEPOIS DE SUAS EXPLORAÇÕES NAS MARGENS DO RIO.

MAS NOS ÚLTIMOS TEMPOS, ALGO ESTRANHO ESTAVA ACONTECENDO. OS SINOS DA TORRE, ANTES TÃO PONTUAIS E MELÓDICOS, COMEÇARAM A TOCAR EM HORAS ERRADAS, COM TOQUES DESAFINADOS E ATÉ MESMO PARAVAM DE TOCAR SEM MOTIVO. A PRINCÍPIO, NINGUÉM DEU MUITA IMPORTÂNCIA. "DEVE SER O VENTO", DIZIA O SR. BARNABÉ, O ZELADOR DA TORRE, UM SENHOR BAIXINHO E RESMUNGÃO COM UMA BARBA BRANCA QUE PARECIA UMA NUVEM. MAS O PROBLEMA PERSISTIU. OS PÃES DE DONA AURORA COMEÇARAM A QUEIMAR, LUCAS E BIA SE ATRASAVAM PARA O JANTAR E O BURBURINHO DE PREOCUPAÇÃO COMEÇOU A TOMAR CONTA DA CIDADE.

"TEM UM FANTASMA NA TORRE!", COCHICHAVAM AS CRIANÇAS NA ESCOLA. "UM FANTASMA DOS SINOS!"

LUCAS E BIA, SEMPRE CURIOSOS E DESTEMIDOS, DECIDIRAM INVESTIGAR. ELES ERAM OS MELHORES AMIGOS E UMA DUPLA E TANTO: LUCAS, COM SEUS CABELOS REBELDES E OLHOS CURIOSOS QUE NÃO PERDIAM UM DETALHE, E BIA, COM SUA TRANÇA SEMPRE IMPECÁVEL E UMA MENTE AFIADA PARA RESOLVER MISTÉRIOS.

"É BOBAGEM, BIA," DISSE LUCAS, REVIRANDO OS OLHOS. "FANTASMA NÃO EXISTE."

"MAS OS SINOS ESTÃO UMA BAGUNÇA, LUCAS!" RETRUCOU BIA. "E O SR. BARNABÉ ESTÁ MAIS MAL-HUMORADO QUE O NORMAL."

CERTA TARDE, QUANDO O SOL COMEÇAVA A SE PÔR E AS SOMBRAS SE ALONGAVAM, OS DOIS AMIGOS SE ESGUEIRARAM ATÉ A BASE DA TORRE DO RELÓGIO. A VELHA PORTA DE MADEIRA RANGEU QUANDO LUCAS A ABRIU, REVELANDO UMA ESCADARIA ESCURA E EMPOEIRADA QUE SUBIA EM ESPIRAL.

"PRONTA PARA ENCONTRAR O FANTASMA?", SUSSURROU BIA, COM UM SORRISO MAROTO.

COM O CORAÇÃO BATENDO FORTE, ELES COMEÇARAM A SUBIR. CADA DEGRAU DE MADEIRA VELHA GEMIA SOB SEUS PÉS, E O SILÊNCIO ERA TÃO DENSO QUE ELES PODIAM OUVIR A PRÓPRIA RESPIRAÇÃO. SUBIRAM E SUBIRAM, PASSANDO POR JANELAS ESTREITAS QUE REVELAVAM A CIDADE LÁ EMBAIXO, ATÉ QUE FINALMENTE CHEGARAM AO TOPO, ONDE OS ENORMES SINOS PENDIAM.

A LUZ DO ENTARDECER FILTRAVA-SE PELAS FRESTAS, ILUMINANDO A POEIRA QUE DANÇAVA NO AR. OS SINOS ERAM IMENSOS, DE BRONZE POLIDO, CADA UM MAIOR QUE OS DOIS JUNTOS. E ALI, NO MEIO DE TODO AQUELE MAQUINÁRIO DE ENGRENAGENS E CORDAS, ESTAVA... NÃO UM FANTASMA, MAS UM PEQUENO E PELUDO OURIÇO!

ELE ESTAVA PRESO EM UMA DAS ENGRENAGENS, O QUE IMPEDIA O MOVIMENTO PERFEITO DO RELÓGIO. SEUS ESPINHOS ESTAVAM LIGEIRAMENTE EMARANHADOS E ELE PARECIA ASSUSTADO, MAS ILESO.

"UM OURIÇO?", EXCLAMOU LUCAS, SURPRESO.

"NÃO É UM FANTASMA, MAS UM ENCRENQUEIRO!", DISSE BIA, RINDO ALIVIADA.

COM MUITO CUIDADO, OS DOIS SE APROXIMARAM. O OURIÇO SIBILOU, MOSTRANDO SEUS ESPINHOS, MAS BIA, QUE TINHA UM JEITINHO ESPECIAL COM ANIMAIS, COMEÇOU A FALAR EM UM TOM SUAVE.

"CALMA, AMIGUINHO. NÃO VAMOS TE MACHUCAR. SÓ QUEREMOS TE AJUDAR."

DEVAGAR, LUCAS ESTENDEU A MÃO E CONSEGUIU LIBERAR A PEQUENA PATA DO OURIÇO DA ENGRENAGEM. O ANIMALZINHO, ASSUSTADO, MAS LIVRE, CORREU PARA UM CANTO E SE ANINHOU, OBSERVANDO-OS COM SEUS OLHINHOS BRILHANTES.

ENQUANTO LUCAS VERIFICAVA SE O OURIÇO ESTAVA REALMENTE BEM, BIA NOTOU ALGO MAIS. HAVIA UM NINHO DE PÁSSAROS ABANDONADO NO ALTO DE UMA VIGA, E ALGUNS GALHINHOS E PENAS HAVIAM CAÍDO NAS ENGRENAGENS, ATRAPALHANDO O MECANISMO DO RELÓGIO. O OURIÇO PROVAVELMENTE HAVIA SUBIDO ATÉ ALI PROCURANDO UM LUGAR PARA SE ABRIGAR OU TALVEZ ALGO PARA COMER, E ACABOU SE ENROSCANDO.

"OLHA, LUCAS!", DISSE BIA, APONTANDO. "NÃO ERA UM FANTASMA, NEM SÓ O OURIÇO. ERAM OS GALHINHOS TAMBÉM!"

ELES LIMPARAM CUIDADOSAMENTE AS ENGRENAGENS, REMOVENDO TODOS OS GALHOS E PENAS. DEPOIS, COM A AJUDA DE UM PEQUENO PEDAÇO DE BARBANTE QUE BIA SEMPRE CARREGAVA EM SEU BOLSO PARA EMERGÊNCIAS, ELES FIZERAM UMA PEQUENA RAMPA PARA O OURIÇO DESCER EM SEGURANÇA.

QUANDO O OURIÇO FINALMENTE ESTAVA NO CHÃO DA TORRE, A SALVO, O SOL JÁ HAVIA SE POSTO COMPLETAMENTE. OS DOIS AMIGOS DESCERAM A ESCADARIA COM UM MISTO DE ALÍVIO E ORGULHO.

NO DIA SEGUINTE, A CIDADE DE SINFONIA DO VALE ACORDOU COM O SOM DOS SINOS. MAS DESTA VEZ, ELES TOCARAM DE FORMA CLARA E MELÓDICA, EXATAMENTE NA HORA CERTA. DONA AURORA SORRIU AO VER SEUS PÃES SAÍREM DOURADOS DO FORNO. O SR. BARNABÉ, COM UM BRILHO NOS OLHOS, SUBIU A TORRE E, AO DESCER, SOLTOU UM RARO SORRISO PARA LUCAS E BIA QUE PASSAVAM PELA PRAÇA. ELE ESTAVA INTRIGADO COM O QUE PODERIA TER ACONTECIDO, MAS ALIVIADO POR SEU RELÓGIO ESTAR FUNCIONANDO PERFEITAMENTE DE NOVO.

LUCAS E BIA GUARDARAM O SEGREDO DO OURIÇO E DOS GALHOS SÓ PARA ELES. AFINAL, ERA O MISTÉRIO DELES. MAS A AVENTURA NA TORRE ACENDEU UMA NOVA PAIXÃO NOS DOIS. ELES COMEÇARAM A PRESTAR MAIS ATENÇÃO AOS DETALHES DA CIDADE, AOS PEQUENOS RUÍDOS E ÀS COISAS QUE AS OUTRAS PESSOAS NÃO NOTAVAM. A PARTIR DAQUELE DIA, A TORRE DO RELÓGIO SE TORNOU O PONTO DE PARTIDA PARA MUITAS OUTRAS INVESTIGAÇÕES E DESCOBERTAS. ELES APRENDERAM QUE NEM TODO PROBLEMA PRECISAVA DE UM "FANTASMA" PARA SER EXPLICADO, E QUE MUITAS VEZES, AS SOLUÇÕES ESTAVAM NAS COISAS MAIS SIMPLES E NAS AMIZADES MAIS INESPERADAS. A CIDADE DE SINFONIA DO VALE CONTINUOU A SER UM LUGAR TRANQUILO, MAS PARA LUCAS E BIA, ELA SE TORNOU UM MAPA CHEIO DE MISTÉRIOS À ESPERA DE SEREM DESVENDADOS, E A TORRE DOS SINOS, UM LEMBRETE CONSTANTE DE SUA PRIMEIRA GRANDE AVENTURA.