NUMA RUA DE PARALELEPÍPEDOS QUE SERPENTEAVA COMO UM RIO LENTO, FICAVA UMA CASA ANTIGA. NÃO ERA UMA CASA QUALQUER. SUAS PAREDES ERAM COBERTAS POR HERA, E AS JANELAS, COM VENEZIANAS SEMPRE FECHADAS, DAVAM UM AR MISTERIOSO. ALI MORAVA A SENHORA MIRTES.

A SENHORA MIRTES NÃO ERA UMA BRUXA, COMO ALGUNS SUSSURRAVAM, NEM UMA FADA, COMO OUTROS SONHAVAM. ERA UMA MULHER BAIXINHA, COM CABELOS BRANCOS ENROLADOS EM UM COQUE PERFEITO E ÓCULOS REDONDOS QUE ESCORREGAVAM NO NARIZ. ELA USAVA SEMPRE UM AVENTAL FLORIDO E PARECIA TER UM CHEIRO DE BISCOITOS RECÉM-ASSADOS E ALFAZEMA. O QUE A TORNAVA ESPECIAL, E UM TANTO ENIGMÁTICA, ERA SEU JARDIM.

AH, O JARDIM DA SENHORA MIRTES! ERA UM LUGAR DE MARAVILHAS. FLORES DE TODAS AS CORES E TAMANHOS BROTAVAM EM CANTEIROS CUIDADOSAMENTE CULTIVADOS. ROSAS VERMELHAS E AMARELAS, MARGARIDAS BRANCAS, TULIPAS ROXAS E ATÉ MESMO ALGUMAS ORQUÍDEAS RARAS DESABROCHAVAM EM PERFEITA HARMONIA. BORBOLETAS DANÇAVAM NO AR, ABELHAS ZUMBIAM ALEGREMENTE E PEQUENOS PÁSSAROS CANTAVAM MELODIAS DOCES. MAS O MAIS CURIOSO ERA QUE, NÃO IMPORTA A ESTAÇÃO, O JARDIM DA SENHORA MIRTES ESTAVA SEMPRE FLORIDO E VERDEJANTE. MESMO NO INVERNO MAIS RIGOROSO, QUANDO AS ÁRVORES VIZINHAS ESTAVAM DESPIDAS E O CHÃO COBERTO DE GEADA, O JARDIM DA SENHORA MIRTES ERA UM OÁSIS DE VIDA.

AS CRIANÇAS DA VIZINHANÇA, CLARO, ERAM FASCINADAS. ELAS PASSAVAM AS TARDES ESPIANDO O JARDIM PELA CERCA, IMAGINANDO OS SEGREDOS QUE ELE GUARDAVA. GABRIEL, COM SEUS OITO ANOS E UMA CURIOSIDADE QUE NÃO CABIA NELE, ERA O MAIS AUDACIOSO. ELE VIVIA CRIANDO TEORIAS MIRABOLANTES SOBRE O JARDIM E SUA DONA.

"ELA DEVE TER UMA FÓRMULA MÁGICA!", GABRIEL COCHICHAVA PARA SUA AMIGA SOFIA, UMA MENINA DE NOVE ANOS COM TRANÇAS E UM OLHAR OBSERVADOR. "OU TALVEZ ELA FALE COM AS PLANTAS, E ELAS A OBEDECEM!"

SOFIA BALANÇAVA A CABEÇA, RINDO. "BOBAGEM, GABRIEL. DEVE SER ALGUM TIPO DE ADUBO ESPECIAL, OU TALVEZ ELA SÓ CUIDE MUITO BEM DELAS."

MAS MESMO SOFIA, EM SEU ÍNTIMO, SENTIA UM ARREPIO DE MISTÉRIO QUANDO VIA A SENHORA MIRTES REGANDO AS FLORES AO PÔR DO SOL, SEUS MOVIMENTOS SUAVES E CUIDADOSOS, COMO SE ESTIVESSE ACARICIANDO CADA PÉTALA.

UM DIA, UMA GRANDE TEMPESTADE ATINGIU A CIDADE. RAIOS CORTARAM O CÉU, TROVÕES ESTRONDARAM E A CHUVA CAIU COM UMA FÚRIA NUNCA VISTA. AS CRIANÇAS SE ENCOLHERAM EM SUAS CASAS, OUVINDO O VENTO UIVAR. NA MANHÃ SEGUINTE, A RUA ESTAVA CHEIA DE GALHOS QUEBRADOS E FOLHAS MOLHADAS. E O JARDIM DA SENHORA MIRTES? BEM, ELE ESTAVA UM POUCO BAGUNÇADO, MAS, PARA A SURPRESA DE TODOS, AS FLORES PERMANECIAM INTACTAS, VIBRANTES COMO SEMPRE. ALGUMAS FOLHAS HAVIAM CAÍDO, MAS NENHUMA FLOR ESTAVA AMASSADA OU DESTRUÍDA.

GABRIEL E SOFIA DECIDIRAM INVESTIGAR. COM A DESCULPA DE AJUDAR A VARRER OS DETRITOS DA RUA, ELES SE APROXIMARAM DA CERCA DA SENHORA MIRTES. A PORTA DO JARDIM ESTAVA ENTREABERTA. ERA A PRIMEIRA VEZ QUE A VIAM ASSIM. COM O CORAÇÃO BATENDO FORTE, GABRIEL CUTUCOU SOFIA.

"VAMOS DAR UMA OLHADA!", ELE SUSSURROU.

SOFIA HESITOU POR UM MOMENTO, MAS A CURIOSIDADE FOI MAIS FORTE. ELES ESCORREGARAM PARA DENTRO DO JARDIM, SENTINDO O CHEIRO ÚMIDO DA TERRA E O PERFUME DOCE DAS FLORES. ERA AINDA MAIS BONITO POR DENTRO. CAMINHOS DE PEDRINHAS SERPENTEAVAM ENTRE OS CANTEIROS, LEVANDO A UM PEQUENO BANCO DE MADEIRA SOB UMA PÉRGOLA COBERTA DE TREPADEIRAS.

DE REPENTE, ELES OUVIRAM UMA TOSSE SUAVE. A SENHORA MIRTES ESTAVA SENTADA NO BANCO, OBSERVANDO AS FLORES. ELA PARECIA NÃO TÊ-LOS NOTADO. EM SUAS MÃOS, ELA SEGURAVA UM PEQUENO REGADOR DE METAL E, COM A OUTRA, ACARICIAVA AS PÉTALAS DE UMA ROSA. MAS NÃO ERA ISSO QUE CHAMOU A ATENÇÃO DAS CRIANÇAS.

PRÓXIMO À SENHORA MIRTES, NO CHÃO, HAVIA UM PEQUENO DIÁRIO DE CAPA DE COURO DESBOTADA. E SOBRE O DIÁRIO, UMA LUPA. A SENHORA MIRTES ESTAVA LENDO ALGO E, OCASIONALMENTE, APONTAVA PARA AS FLORES COM UM SORRISO TERNO.

GABRIEL E SOFIA SE ESCONDERAM ATRÁS DE UM ARBUSTO DE JASMIM, OBSERVANDO. A SENHORA MIRTES SUSPIROU. "AH, MINHA QUERIDA MARGARIDA...", ELA MURMUROU, E GABRIEL JUROU TER VISTO A FLOR SE INCLINAR LIGEIRAMENTE EM SUA DIREÇÃO.

ELA ENTÃO PEGOU O DIÁRIO E COMEÇOU A ESCREVER. "HOJE, O SOL BRILHOU MAIS FORTE, E AS BORBOLETAS TROUXERAM NOTÍCIAS DO VERÃO. AS BEGÔNIAS ESTÃO UM POUCO TRISTES, PRECISAM DE MAIS ATENÇÃO. OS LÍRIOS, PORÉM, PARECEM FELIZES COM A CHUVA DE ONTEM."

GABRIEL E SOFIA SE ENTREOLHARAM, CONFUSOS. ELA ESTAVA FALANDO COM AS FLORES? OU ESCREVENDO SOBRE ELAS COMO SE FOSSEM PESSOAS?

A SENHORA MIRTES FECHOU O DIÁRIO E, COM UM SUSPIRO SATISFEITO, LEVANTOU-SE. ELA SE VIROU E SEUS OLHOS ENCONTRARAM OS DE GABRIEL E SOFIA. AS CRIANÇAS CONGELARAM, ESPERANDO UMA BRONCA.

MAS A SENHORA MIRTES APENAS SORRIU. UM SORRISO CALOROSO, QUE FEZ SEUS OLHOS BRILHAREM. "ORA, ORA, TEMOS VISITAS NO JARDIM", DISSE ELA, SUA VOZ SUAVE COMO O CANTO DOS PÁSSAROS. "NÃO SE PREOCUPEM, MEUS PEQUENOS CURIOSOS. SABIA QUE VIRIAM."

AS CRIANÇAS SAÍRAM DE TRÁS DO ARBUSTO, UM POUCO ENVERGONHADAS.

"DESCULPE, SENHORA MIRTES", DISSE SOFIA. "O JARDIM É TÃO LINDO, E A PORTA ESTAVA ABERTA..."

"NÃO HÁ PROBLEMA, QUERIDA", RESPONDEU ELA. "VENHAM, SENTEM-SE. QUEREM UMA XÍCARA DE CHÁ E ALGUNS BISCOITOS?"

AS CRIANÇAS ACEITARAM PRONTAMENTE. ENQUANTO SABOREAVAM OS BISCOITOS DE AVEIA E MEL, A SENHORA MIRTES EXPLICOU SEU SEGREDO.

"VOCÊS VEEM", COMEÇOU ELA, PEGANDO O DIÁRIO DE COURO, "O SEGREDO DO MEU JARDIM NÃO É MAGIA, NEM ADUBO ESPECIAL, EMBORA EU USE O MELHOR ADUBO QUE EXISTE. O SEGREDO É..." ELA FEZ UMA PAUSA DRAMÁTICA. "...AMOR E ESCUTA."

GABRIEL E SOFIA INCLINARAM A CABEÇA, INTRIGADOS.

"EU OUÇO AS MINHAS FLORES", CONTINUOU A SENHORA MIRTES. "NÃO COM OS OUVIDOS, MAS COM O CORAÇÃO. EU PRESTO ATENÇÃO. QUANDO UMA FOLHA MURCHA, EU TENTO ENTENDER O PORQUÊ. SERÁ QUE ELA PRECISA DE MAIS ÁGUA? MENOS SOL? UMA CONVERSA TALVEZ?" ELA DEU UMA RISADINHA.

"ESTE DIÁRIO", DISSE ELA, BATENDO NA CAPA, "É O MEU 'DIÁRIO DAS FLORES'. NELE, EU ANOTO TUDO O QUE PERCEBO SOBRE CADA UMA DELAS. SUAS NECESSIDADES, SUAS 'CONVERSAS' COMIGO, SEUS PEQUENOS CAPRICHOS."

ELA FOLHEOU ALGUMAS PÁGINAS. "AQUI, POR EXEMPLO, EU ANOTEI QUE A MINHA ORQUÍDEA-BORBOLETA FICOU MAIS FELIZ QUANDO EU COLOQUEI UM POUCO DE MÚSICA CLÁSSICA PARA ELA. E A MINHA DAMA-DA-NOITE? ELA ADORA QUANDO EU CANTO UMA CANÇÃO DE NINAR ANTES DE DORMIR."

GABRIEL E SOFIA ARREGALARAM OS OLHOS. AQUILO ERA MUITO MAIS INTERESSANTE DO QUE ADUBO MÁGICO.

"É COMO TER AMIGOS", EXPLICOU A SENHORA MIRTES. "SE VOCÊ PRESTA ATENÇÃO AOS SEUS AMIGOS, SE VOCÊ OS OUVE, OS ENTENDE, E OS TRATA COM CARINHO, ELES CRESCEM E FLORESCEM. E AS FLORES NÃO SÃO DIFERENTES. ELAS SENTEM O CARINHO, A ATENÇÃO. E RESPONDEM A ISSO."

ELA APONTOU PARA UMA PEQUENA SEMENTEIRA NO CANTO. "QUANDO A TEMPESTADE VEIO, EU NÃO TIVE MEDO. EU CONVERSEI COM CADA UMA DELAS, SUSSURREI QUE FICARIA TUDO BEM, QUE EU ESTARIA ALI PARA CUIDAR DELAS. E ELAS ACREDITARAM."

GABRIEL OLHOU PARA SOFIA, E SOFIA OLHOU PARA GABRIEL. O SEGREDO DA SENHORA MIRTES NÃO ERA ALGO QUE SE PUDESSE COMPRAR EM UMA LOJA OU APRENDER EM UM LIVRO. ERA ALGO QUE VINHA DE DENTRO.

A PARTIR DAQUELE DIA, GABRIEL E SOFIA SE TORNARAM VISITANTES FREQUENTES NO JARDIM DA SENHORA MIRTES. ELES APRENDERAM A RECONHECER AS DIFERENTES FLORES, A ENTENDER SUAS "NECESSIDADES" E ATÉ A "CONVERSAR" COM ELAS. ELES DESCOBRIRAM QUE A BEGÔNIA REALMENTE PARECIA MAIS ANIMADA DEPOIS DE UMA BOA REGA, E QUE OS GIRASSÓIS SEGUIAM O SOL COM UMA ALEGRIA CONTAGIANTE.

OS DIAS SE TRANSFORMARAM EM SEMANAS, AS SEMANAS EM MESES. GABRIEL E SOFIA CRESCERAM UM POUCO, SEUS JOELHOS ARRANHADOS E SUAS MENTES CHEIAS DE NOVAS DESCOBERTAS. O JARDIM DA SENHORA MIRTES CONTINUAVA SENDO SEU REFÚGIO, UM LUGAR ONDE A NATUREZA E A GENTILEZA SE ENTRELAÇAVAM. ELES NÃO APENAS AJUDAVAM A SENHORA MIRTES A CUIDAR DAS FLORES, MAS TAMBÉM OUVIAM SUAS HISTÓRIAS. HISTÓRIAS SOBRE BORBOLETAS QUE VIAJAVAM POR CONTINENTES, SOBRE SEMENTES QUE ESPERAVAM PACIENTEMENTE A PRIMAVERA E SOBRE A SABEDORIA SILENCIOSA DAS ÁRVORES ANTIGAS.

A SENHORA MIRTES, POR SUA VEZ, OBSERVAVA O CRESCIMENTO DAS CRIANÇAS COM UM CARINHO ESPECIAL. VIA EM SEUS OLHOS A MESMA CURIOSIDADE QUE ELA MESMA SENTIA PELA VIDA E POR SUAS NUANCES. ELA ENSINOU A GABRIEL COMO PODAR AS ROSEIRAS COM DELICADEZA E A SOFIA COMO IDENTIFICAR OS PRIMEIROS BROTOS DE NOVAS PLANTAS. O DIÁRIO DE COURO, ANTES UM MISTÉRIO, TORNOU-SE UM LIVRO ABERTO, E A SENHORA MIRTES ATÉ PERMITIA QUE ELES ESCREVESSEM ALGUMAS DE SUAS PRÓPRIAS OBSERVAÇÕES SOBRE AS FLORES.

UM DIA, UMA MENINA NOVA SE MUDOU PARA A RUA. SEU NOME ERA LUNA, E ELA TINHA CABELOS COR DE FOGO E UM OLHAR UM TANTO DESCONFIADO. LUNA PASSAVA AS TARDES SENTADA NA JANELA DE SUA NOVA CASA, OBSERVANDO O MOVIMENTO DA RUA COM UM AR DE TÉDIO. ELA NÃO SE JUNTAVA ÀS OUTRAS CRIANÇAS PARA BRINCAR DE PEGA-PEGA OU PARA ANDAR DE BICICLETA. PARECIA SEMPRE UM POUCO ISOLADA.

GABRIEL E SOFIA TENTARAM SE APROXIMAR. "OI, LUNA! QUER VIR BRINCAR COM A GENTE?", CHAMOU GABRIEL UM DIA.

LUNA APENAS BALANÇOU A CABEÇA. "NÃO, OBRIGADA."

SOFIA, COM SUA PERSPICÁCIA, PERCEBEU A TRISTEZA NOS OLHOS DE LUNA. A SENHORA MIRTES TAMBÉM NOTOU. DE SUA JANELA, ENQUANTO REGAVA SUAS VIOLETAS, ELA VIA A MENINA RUIVA E SOLITÁRIA.

"AQUELA MENINA PRECISA DE UM POUCO DE SOL EM SUA VIDA", DISSE A SENHORA MIRTES PARA SI MESMA.

NO DIA SEGUINTE, A SENHORA MIRTES PREPAROU UMA PEQUENA CESTA COM OS BISCOITOS FAVORITOS DE GABRIEL E SOFIA, E ADICIONOU ALGUMAS FLORES RECÉM-COLHIDAS DO JARDIM. "LEVEM ISTO PARA A LUNA, MEUS QUERIDOS", PEDIU ELA. "DIGAM A ELA QUE A SENHORA MIRTES ENVIA AS BOAS-VINDAS."

GABRIEL E SOFIA, UM TANTO NERVOSOS, FORAM ATÉ A CASA DE LUNA. BATERAM NA PORTA, E A MÃE DE LUNA ABRIU, SORRINDO. "QUE SURPRESA AGRADÁVEL! ENTREM, CRIANÇAS."

LUNA ESTAVA SENTADA NO SOFÁ, LENDO UM LIVRO. SEUS OLHOS SE ARREGALARAM AO VER A CESTA E AS FLORES.

"A SENHORA MIRTES MANDOU PARA VOCÊ", DISSE GABRIEL, ESTENDENDO A CESTA.

SOFIA COMPLETOU: "ELA DISSE QUE ERAM AS 'BOAS-VINDAS'."

LUNA PEGOU A CESTA COM CUIDADO. O CHEIRO DOS BISCOITOS E O PERFUME DAS FLORES ENCHERAM A SALA. ELA NUNCA HAVIA RECEBIDO UM PRESENTE ASSIM. UM PEQUENO SORRISO COMEÇOU A SE FORMAR EM SEUS LÁBIOS.

"OBRIGADA", ELA MURMUROU.

NOS DIAS QUE SE SEGUIRAM, GABRIEL E SOFIA CONTINUARAM A VISITAR LUNA, COMPARTILHANDO HISTÓRIAS SOBRE O JARDIM DA SENHORA MIRTES. ELES FALARAM SOBRE A ROSA VERMELHA QUE "CONVERSAVA" COM A SENHORA MIRTES E SOBRE O GIRASSOL QUE "DANÇAVA" COM O SOL. NO COMEÇO, LUNA PARECIA CÉTICA, MAS A CURIOSIDADE COMEÇOU A BROTAR EM SEU CORAÇÃO, ASSIM COMO UMA SEMENTE EM SOLO FÉRTIL.

UM DIA, SOFIA CONVIDOU: "QUER VIR CONOSCO AO JARDIM DA SENHORA MIRTES? É UM LUGAR ESPECIAL."

LUNA HESITOU, MAS A IMAGEM DAS FLORES VIBRANTES E A VOZ SUAVE DA SENHORA MIRTES A ATRAÍRAM. QUANDO ELA PISOU NO JARDIM, FOI COMO SE UM FEITIÇO FOSSE LANÇADO. AS CORES, OS CHEIROS, O ZUMBIDO DAS ABELHAS – TUDO ERA DIFERENTE DE TUDO QUE ELA JÁ HAVIA EXPERIMENTADO. A SENHORA MIRTES ESTAVA LÁ, CUIDANDO DE SUAS PETÚNIAS, COM O DIÁRIO DE COURO AO SEU LADO.

"ORA, ORA, MAIS UMA VISITA ILUSTRE!", DISSE A SENHORA MIRTES, COM SEU SORRISO ACOLHEDOR. "SEJA BEM-VINDA, LUNA. FICO FELIZ QUE TENHA VINDO."

LUNA SE SENTOU NO PEQUENO BANCO DE MADEIRA, SENTINDO-SE ESTRANHAMENTE À VONTADE. A SENHORA MIRTES COMEÇOU A FALAR SOBRE AS FLORES, SOBRE COMO CADA UMA TINHA SUA PRÓPRIA PERSONALIDADE, SUAS ALEGRIAS E TRISTEZAS. ELA EXPLICOU COMO AS PLANTAS, ASSIM COMO AS PESSOAS, PRECISAM DE ESPAÇO PARA CRESCER, DE LUZ PARA BRILHAR E DE UM POUCO DE ÁGUA E MUITO CARINHO.

LUNA OUVIA, FASCINADA. PELA PRIMEIRA VEZ EM MUITO TEMPO, ELA NÃO SENTIA TÉDIO. SENTIA-SE PARTE DE ALGO, CONECTADA A UM LUGAR E A PESSOAS QUE PARECIAM ENTENDER A BELEZA DAS COISAS SIMPLES. A SENHORA MIRTES NÃO LHE FEZ PERGUNTAS DIFÍCEIS NEM ESPEROU QUE ELA FALASSE MUITO. APENAS LHE OFERECEU UM ESPAÇO SEGURO, CHEIO DE VIDA E COR.

COM O PASSAR DO TEMPO, LUNA TAMBÉM COMEÇOU A AJUDAR NO JARDIM. ELA DESCOBRIU QUE TINHA UM TALENTO ESPECIAL PARA CUIDAR DAS MUDAS MAIS DELICADAS, E SUAS MÃOS, ANTES HESITANTES, TORNARAM-SE FIRMES E GENTIS. O JARDIM DA SENHORA MIRTES NÃO ERA APENAS UM LUGAR DE FLORES; ERA UM LUGAR DE AMIZADE, DE CRESCIMENTO E DE CURA.

O SEGREDO DA SENHORA MIRTES, QUE ERA SOBRE AMOR E ESCUTA, SE MULTIPLICAVA. NÃO ERA APENAS SOBRE FLORES, MAS SOBRE AS PESSOAS. SOBRE OUVIR COM O CORAÇÃO, OFERECER UM ESPAÇO SEGURO PARA O CRESCIMENTO E VER A BELEZA EM CADA SER, ASSIM COMO ELA VIA EM CADA PÉTALA. E ASSIM, O JARDIM DA SENHORA MIRTES CONTINUOU A FLORESCER, ESPALHANDO NÃO APENAS CORES E PERFUMES, MAS TAMBÉM LIÇÕES VALIOSAS SOBRE A IMPORTÂNCIA DA CONEXÃO E DO CARINHO EM UM MUNDO QUE MUITAS VEZES ESQUECE DE OLHAR PARA AS COISAS SIMPLES.