ERA UMA VEZ, NO CORAÇÃO DE UMA FLORESTA ENCANTADA CHAMADA VALE DAS SOMBRAS, UMA PEQUENA ARANHA CHAMADA LILI. ELA NÃO ERA UMA ARANHA COMUM. EM VEZ DE TECER TEIAS PARA CAPTURAR PRESAS COMO AS OUTRAS ARANHAS, LILI USAVA A CABEÇA. SEU MAIOR TALENTO ERA SUA INTELIGÊNCIA E SUA HABILIDADE DE PENSAR RÁPIDO EM SITUAÇÕES PERIGOSAS.

LILI VIVIA SOB UMA GRANDE FOLHA DE BANANEIRA, ONDE MANTINHA UM MAPA DESENHADO COM GOTINHAS DE ORVALHO E PEDACINHOS DE FOLHA. ALI, ELA REGISTRAVA TUDO O QUE APRENDIA: QUEM ERA AMIGO DE QUEM, ONDE MORAVAM OS ANIMAIS, QUAIS FRUTAS CAÍAM DE QUAIS ÁRVORES E ATÉ O CAMINHO QUE OS FORMIGUEIROS SEGUIAM. SEU SONHO ERA UM SÓ: MOSTRAR PARA TODOS QUE, MESMO SENDO PEQUENA, PODERIA SER A MAIS CORAJOSA E RESPEITADA DO VALE.

UM DIA, ENQUANTO OBSERVAVA A CLAREIRA CENTRAL DO VALE, LILI OUVIU UM ALVOROÇO. UM GRUPO DE ANIMAIS CORRIA EM PÂNICO.

— SOCORRO! O JAVALI BARTOLO ESTÁ VINDO! — GRITOU UM COELHO BRANCO.

— ELE VAI TOMAR O LAGO SÓ PARA ELE! — DISSE UMA TARTARUGA APRESSADA.

BARTOLO ERA UM JAVALI ENORME, DE OLHOS VERMELHOS E FOCINHO SEMPRE SUJO DE LAMA. ELE ERA O VALENTÃO DO VALE, USAVA SUA FORÇA PARA CONSEGUIR O QUE QUERIA E NINGUÉM OUSAVA ENFRENTÁ-LO. LILI, CURIOSA, SE ESCONDEU NUMA FLOR E FICOU OBSERVANDO.

BARTOLO CHEGOU, EMPINANDO O PEITO, E GRITOU:

— A PARTIR DE HOJE, O LAGO DAS NUVENS É SÓ MEU! QUEM CHEGAR PERTO VAI VOAR LONGE COM UMA CABEÇADA!

OS ANIMAIS, ASSUSTADOS, SE ESCONDERAM. LILI, PORÉM, FICOU PENSATIVA. "SE EU CONSEGUIR ENGANAR BARTOLO, TODOS VERÃO QUE A INTELIGÊNCIA VENCE A FORÇA."

ELA TRAÇOU UM PLANO.

NA MANHÃ SEGUINTE, LILI FOI ATÉ A MARGEM DO LAGO. LEVAVA CONSIGO UMA CESTINHA FEITA DE TEIA COM PEQUENAS FRUTAS VERMELHAS QUE BRILHAVAM AO SOL. COM MUITO CUIDADO, ELA COLOCOU UMA AO LADO DA OUTRA FORMANDO UMA TRILHA.

QUANDO BARTOLO APARECEU, FAREJANDO, VIU A TRILHA DE FRUTAS E, GULOSO, COMEÇOU A SEGUIR.

A TRILHA O LEVOU ATÉ UMA CAVERNA ESCURA. DENTRO DA CAVERNA, LILI HAVIA COLOCADO PEQUENOS ESPELHOS QUE ROUBARA DE UM VELHO BAÚ ABANDONADO POR HUMANOS. QUANDO BARTOLO ENTROU, VIU DEZENAS DE JAVALIS ENORMES OLHANDO PARA ELE. NA VERDADE, ERAM APENAS SEUS REFLEXOS.

ASSUSTADO, GRITOU:

— QUEM SÃO VOCÊS? O LAGO É MEU!

O ECO RESPONDEU:

— É MEU... MEU... MEU...

PENSANDO QUE ERAM JAVALIS FANTASMAS QUE QUERIAM DISPUTAR O LAGO, BARTOLO SAIU CORRENDO, TROPEÇANDO NA PRÓPRIA SOMBRA.

LILI, ESCONDIDA, RIU BAIXINHO.

A HISTÓRIA CORREU RÁPIDO. TODOS OS ANIMAIS SE REUNIRAM PARA SABER QUEM HAVIA VENCIDO BARTOLO. LILI APARECEU EM CIMA DE UMA PEDRA E DISSE:

— NÃO USEI FORÇA. USEI O PENSAMENTO.

DESDE ENTÃO, LILI PASSOU A SER CONHECIDA COMO A GUARDIÃ DO VALE. NÃO PORQUE ERA A MAIOR, MAS PORQUE ERA A MAIS ESPERTA.

MAS ESSA FOI APENAS A PRIMEIRA AVENTURA...

COM O PASSAR DAS SEMANAS, LILI FICOU FAMOSA. SEMPRE QUE HAVIA UM PROBLEMA, OS ANIMAIS IAM ATÉ A SUA FOLHA DE BANANEIRA. UM DIA, UMA FAMÍLIA DE ESQUILOS CHEGARAM CHORANDO:

— LILI, O CORVO TAGARELA LEVOU TODAS AS NOSSAS NOZES! ELE VIVE DIZENDO QUE TUDO QUE É BRILHANTE OU GOSTOSO PERTENCE A ELE!

LILI COÇOU SUAS PATINHAS FINAS, PENSATIVA.

— EU JÁ OUVI SOBRE O CORVO. ELE SE GABA DE SABER TUDO, MAS PARECE NÃO CONHECER A PRÓPRIA FRAQUEZA.

ELA SUBIU EM UMA ÁRVORE ALTA, ONDE O CORVO MORAVA, E ESPEROU ATÉ VÊ-LO SAIR PARA MAIS UMA DE SUAS ANDANÇAS. ENTÃO, COLOCOU EM SEU NINHO UM PEQUENO BILHETE: "CORVO, OUVI DIZER QUE EXISTE UM BAÚ CHEIO DE JOIAS NO FUNDO DO RIO. SÓ OS PÁSSAROS VERDADEIRAMENTE ESPERTOS CONSEGUEM ENCONTRÁ-LO."

AO RETORNAR, O CORVO LEU O BILHETE E SEUS OLHOS BRILHARAM DE AMBIÇÃO.

— UM BAÚ? NO FUNDO DO RIO? EU SOU ESPERTO! CONSIGO ISSO!

O QUE ELE NÃO SABIA ERA QUE LILI TINHA ESPALHADO SEMENTES PEGAJOSAS NAS MARGENS DO RIO E PEDIDO A AJUDA DOS SAPOS PARA PREPARAR UM BANHO DE LAMA.

O CORVO DESCEU, TENTANDO ACHAR O BAÚ IMAGINÁRIO. ESCORREGOU, CAIU NO BANHO DE LAMA E FICOU TODO SUJO.

— MAS..., MAS CADÊ O BAÚ? — GRASNOU, CONFUSO.

ENTÃO, DO ALTO DA ÁRVORE, LILI APARECEU:

— O TESOURO VERDADEIRO É A HONESTIDADE, CORVO. E QUEM ROUBA, ACABA CAINDO NA PRÓPRIA ARMADILHA.

OS ANIMAIS RIRAM E APLAUDIRAM. O CORVO, ENVERGONHADO, PROMETEU DEVOLVER AS NOZES DOS ESQUILOS E NUNCA MAIS ROUBAR.

CERTA NOITE, LILI NOTOU ALGO ESTRANHO: UM ZUMBIDO DESESPERADO E LUZES PISCANDO NA COLMEIA CENTRAL. AS ABELHAS ESTAVAM AGITADAS.

— NOSSA RAINHA DESAPARECEU! — GRITOU UMA OPERÁRIA.

SEM A RAINHA, A COLMEIA PERDERIA SEU RUMO. LILI SUBIU ATÉ O TOPO DA ÁRVORE E EXAMINOU O LOCAL COM UMA LUPA FEITA DE GOTA D’ÁGUA E TEIA.

LOGO PERCEBEU PEGADAS MINÚSCULAS LEVANDO PARA O LESTE. ERAM DE BESOURO.

ELA SEGUIU O RASTRO ATÉ UMA CAVERNA PEQUENA ONDE ENCONTROU O BESOURO-DE-COURO, UM VELHO RANZINZA QUE COLECIONAVA INSETOS RAROS EM POTES DE VIDRO.

A RAINHA ABELHA ESTAVA DENTRO DE UM DELES, ZUMBINDO FRACA.

— ELA TEM ASAS DOURADAS! É PERFEITA PARA MINHA COLEÇÃO!

LILI RESPONDEU:

— MAS UMA RAINHA PRESA VALE MENOS DO QUE UM CORAÇÃO AGRADECIDO.

E FEZ UMA PROPOSTA:

— SE VOCÊ LIBERTAR A RAINHA, EU LHE MOSTRO ALGO AINDA MAIS RARO: A DANÇA DAS BORBOLETAS NOTURNAS.

CURIOSO, O BESOURO ACEITOU. LILI CONDUZIU O INSETO ATÉ UMA CLAREIRA ONDE DEZENAS DE VAGALUMES E BORBOLETAS DANÇAVAM NO AR, EM UMA COREOGRAFIA BRILHANTE QUE SÓ ACONTECIA UMA VEZ POR ESTAÇÃO.

ENCANTADO, O BESOURO LIBERTOU A RAINHA E PEDIU DESCULPAS.

AS ABELHAS COROARAM LILI COMO AMIGA REAL DA COLMEIA.

NUMA MANHÃ CLARA, LILI FOI CONVIDADA PARA UM PIQUENIQUE MUITO ESPECIAL FEITO PELOS GATOS-DO-MATO. ELES TINHAM FAMA DE REFINADOS E EXIGENTES, E O CONVITE DIZIA: “TRAGA ALGO ÚNICO PARA IMPRESSIONAR.”

LILI FICOU INQUIETA. NÃO ERA BOA COZINHEIRA NEM TINHA FLORES RARAS. PENSOU POR HORAS, ATÉ QUE TEVE UMA IDEIA. QUANDO CHEGOU O DIA, OS GATOS-DO-MATO ESTAVAM COM SUAS TOALHAS BORDADAS, FRUTAS IMPORTADAS E QUEIJOS DE PLANTAS EXÓTICAS. CADA ANIMAL TRAZIA ALGO CHAMATIVO.

QUANDO CHEGOU A VEZ DE LILI, ELA ABRIU UM PEQUENO ESTOJO FEITO DE CASCA DE COCO E DISSE:

— EU TROUXE O SOM DO VENTO.

OS GATOS SE ENTREOLHARAM, CONFUSOS.

LILI PUXOU UM CONJUNTO DE FIOS FINÍSSIMOS DE TEIA QUE HAVIA AMARRADO ENTRE DUAS PEDRAS. QUANDO O VENTO SOPROU, A TEIA VIBROU E PRODUZIU UMA MÚSICA SUAVE E MELÓDICA. TODOS FICARAM EM SILÊNCIO, OUVINDO.

OS GATOS RONRONARAM DE PRAZER, ENCANTADOS.

— NUNCA OUVIMOS NADA ASSIM — DISSE UM DELES, COM OS OLHOS BRILHANDO.

E LILI GANHOU UM LUGAR DE HONRA NO PIQUENIQUE, SENTADA SOBRE UMA ALMOFADA DE PÉTALAS, CERCADA DE CURIOSOS QUE QUERIAM SABER COMO ELA CRIAVA SONS COM FIOS INVISÍVEIS.