NA FLORESTA DE CIPÓ DOURADO, ONDE OS GALHOS DANÇAVAM COM O VENTO E OS RIOS CANTAVAM SEGREDOS ANTIGOS, VIVIAM MUITOS ANIMAIS. MAS OS MAIS FALANTES DE TODOS ERAM OS PAPAGAIOS E OS PERIQUITOS. ELES NÃO PARAVAM DE TAGARELAR UM SEGUNDO SEQUER.

OS PAPAGAIOS, COM SUAS PENAS COLORIDAS COMO ARCO-ÍRIS, ADORAVAM CONTAR HISTÓRIAS QUE OUVIAM DOS VIAJANTES. ELES SE REUNIAM NOS GALHOS MAIS ALTOS PARA FOFOCAR SOBRE O QUE ACONTECIA NA FLORESTA E NO MUNDO LÁ FORA. JÁ OS PERIQUITOS, MAIS VERDINHOS E PEQUENOS, GOSTAVAM DE CANTAR, MAS SEMPRE ACABAVAM REPETINDO O QUE OS PAPAGAIOS DIZIAM.

ERA UMA BAGUNÇA ALEGRE! QUANDO O SOL NASCIA, O BARULHO COMEÇAVA: PIU-PIU, PARA-PARA CRÓ-CRÓ! E AS RISADAS! PARECIAM FOGOS DE ARTIFÍCIO EM DIA DE FESTA.

MAS NEM TODOS NA FLORESTA GOSTAVAM DAQUELA ALEGRIA BARULHENTA. TRÊS LOBOS VIVIAM NAS SOMBRAS DA MATA FECHADA. ELES SE CHAMAVAM RUFUS, GARRAS E SOMBRIO. ERAM LOBOS VELHOS, FAMINTOS E RABUGENTOS. DETESTAVAM O SOM DOS PASSARINHOS E, AINDA MAIS, DETESTAVAM NÃO CONSEGUIR CAÇAR EM PAZ.

— AQUELES PAPAGAIOS E PERIQUITOS NÃO CALAM A BOCA! — ROSNAVA RUFUS, COÇANDO AS ORELHAS.

— TODA VEZ QUE TENTO ME APROXIMAR DE UMA PRESA, ELES GRITAM "OLHA O LOBO!" — RECLAMAVA GARRAS.

— TEMOS QUE DAR UM FIM NELES — DISSE SOMBRIO, O MAIS CRUEL DOS TRÊS. — SENÃO, MORREREMOS DE FOME!

NAQUELA NOITE, OS LOBOS FIZERAM UM PLANO. IRIAM FINGIR QUE ESTAVAM MUDADOS. QUE QUERIAM FAZER AMIZADE COM OS PAPAGAIOS E PERIQUITOS. ASSIM, PODERIAM SE APROXIMAR E... BEM, DEVORÁ-LOS DE UMA VEZ!

NO DIA SEGUINTE, OS LOBOS APARECERAM SORRINDO NA CLAREIRA ONDE AS AVES SE REUNIAM.

— OLÁ, QUERIDOS PASSARINHOS! — DISSE RUFUS COM UM SORRISO TORTO.

— VIEMOS EM PAZ. QUEREMOS CONVERSAR, COMO VOCÊS! — DISSE GARRAS, TENTANDO PARECER SIMPÁTICO.

OS PAPAGAIOS SE ENTREOLHARAM. OS PERIQUITOS PARARAM DE CANTAR. NUNCA OS LOBOS TINHAM FALADO ASSIM.

— HUMM... — MURMUROU O VELHO PAPAGAIO SABUGO, QUE ERA O MAIS ESPERTO. — ISSO ESTÁ ESTRANHO.

MAS OS MAIS JOVENS, COMO O PAPAGAIO LUME E O PERIQUITO VERDEJANTE, ACHARAM DIVERTIDO.

— VAMOS DAR UMA CHANCE! — DISSE LUME.

— SIM, PODE SER LEGAL TER NOVOS AMIGOS! — DISSE VERDEJANTE.

ENTÃO, OS LOBOS PASSARAM O DIA TODO OUVINDO HISTÓRIAS, FAZENDO PERGUNTAS E FINGINDO INTERESSE. RIAM DAS PIADAS, BATIAM PALMAS (COM AS PATAS, DESAJEITADAMENTE) E DIZIAM:

— VOCÊS SÃO MESMO MUITO ENGRAÇADOS!

MAS À NOITE, REUNIDOS DE NOVO NA CAVERNA, MOSTRARAM SUAS VERDADEIRAS INTENÇÕES.

— AMANHÃ, CONVIDO-OS PARA UM PIQUENIQUE. QUANDO ESTIVEREM DISTRAÍDOS, ATACAMOS! — DISSE SOMBRIO.

O DIA SEGUINTE CHEGOU, E OS LOBOS TROUXERAM FRUTAS E CASTANHAS (NA VERDADE, ROUBADAS DE UM ESQUILO DISTRAÍDO).

— UM PIQUENIQUE PARA CELEBRAR NOSSA NOVA AMIZADE! — DISSE RUFUS.

OS PAPAGAIOS E PERIQUITOS SE ANIMARAM. COMEÇARAM A COMER, CANTAR E DANÇAR. MAS SABUGO CONTINUAVA DESCONFIADO.

ELE VOOU ATÉ A FLORESTA FECHADA, ONDE VIVIA A CORUJA VELÚDA, A MAIS SABIA DE TODAS.

— VELÚDA, OS LOBOS ESTÃO DIFERENTES. ESTÃO... SIMPÁTICOS DEMAIS.

A CORUJA ARREGALOU OS OLHOS.

— LOBOS NÃO MUDAM ASSIM, SABUGO. ESTÃO ARMANDO ALGO. LEVE ISTO — DISSE ELA, ENTREGANDO UMA PENA BRILHANTE DE CORUJA. — SE ESTIVER EM PERIGO, JOGUE-A NO AR.

SABUGO VOLTOU E VIU QUE OS LOBOS ESTAVAM CERCANDO OS PASSARINHOS, LENTAMENTE.

— LUME! VERDEJANTE! VÔEM! RÁPIDO! — GRITOU ELE.

MAS ERA TARDE DEMAIS. OS LOBOS PULARAM. OS PASSARINHOS GRITARAM. SABUGO JOGOU A PENA NO AR. UM CLARÃO BRILHOU, COMO UM RELÂMPAGO SILENCIOSO. DO ALTO, DESCEU VELÚDA COM SUAS IRMÃS CORUJAS. ELAS GIRARAM NO AR, FORMANDO UM CÍRCULO DE LUZ AO REDOR DOS LOBOS.

— VOCÊS ENGANARAM OS INOCENTES. AGORA SERÃO CASTIGADOS! — DISSE VELÚDA.

AS CORUJAS CANTARAM UMA CANÇÃO ANTIGA, E OS LOBOS FORAM TRANSFORMADOS EM SOMBRAS. NÃO PODERIAM MAIS SAIR DA MATA FECHADA, NEM FAZER MAL A NINGUÉM.

OS PAPAGAIOS E PERIQUITOS APRENDERAM UMA LIÇÃO: NEM TODOS QUE SORRIEM SÃO AMIGOS. E SABUGO PASSOU A ENSINAR OS MAIS JOVENS SOBRE CUIDADO, AMIZADE VERDADEIRA E CORAGEM.

A FLORESTA VOLTOU A SER ALEGRE, MAS COM UM POUCO MAIS DE SILÊNCIO DE VEZ EM QUANDO.

E ASSIM, ENTRE HISTÓRIAS, CANÇÕES E PENAS COLORIDAS, A FLORESTA DE CIPÓ DOURADO VIVEU EM PAZ POR MUITOS E MUITOS DIAS.

COM O PASSAR DO TEMPO, OS FILHOTES DE PAPAGAIOS E PERIQUITOS CRESCERAM OUVINDO AS HISTÓRIAS DAQUELE DIA EM QUE A CORAGEM VENCEU A MALDADE. ELES ADORAVAM REPETIR OS CONTOS, DANDO RISADAS E IMITANDO OS LOBOS COM VOZES ENGRAÇADAS. LUME E VERDEJANTE VIRARAM GRANDES LÍDERES ENTRE AS AVES, ENSINANDO QUE A AMIZADE É BOA, MAS DEVE SER ACOMPANHADA DE ATENÇÃO E SABEDORIA.

UM DIA, UM SOM DIFERENTE ECOOU DA FLORESTA FECHADA. NÃO ERA GRUNHIDO DE LOBO, NEM PIADO DE PASSARINHO. ERA UMA CANÇÃO SUAVE, TOCADA POR UM INSTRUMENTO FEITO DE BAMBU E FOLHAS. TODOS PARARAM PARA OUVIR.

SABUGO OLHOU PARA O ALTO E DISSE:

— ISSO NÃO É AMEAÇA. É ALGUÉM PEDINDO AJUDA.

LUME E VERDEJANTE VOARAM JUNTOS PARA INVESTIGAR. NO MEIO DA MATA, ENCONTRARAM UM FILHOTE DE LOBO. ERA PEQUENO, COM OLHOS GRANDES E ASSUSTADOS. ESTAVA SOZINHO, TREMENDO DE FRIO.

— POR FAVOR, NÃO ME MACHUQUEM. EU NÃO SOU COMO ELES... — DISSE O FILHOTE, COM A VOZ FRAQUINHA.

OS PASSARINHOS SE ENTREOLHARAM. O FILHOTE PARECIA SINCERO. E ELE NÃO PODIA SER CULPADO PELOS ERROS DOS OUTROS.

— COMO SE CHAMA?

— NILO...

— VEM CONOSCO, NILO. MAS LEMBRE-SE: CONFIANÇA SE CONSTRÓI COM TEMPO E AÇÕES.

NILO FOI LEVADO PARA A CLAREIRA, ONDE TODOS OS ANIMAIS DECIDIRAM DAR UMA CHANCE AO NOVO MORADOR. ELE APRENDEU A COLHER FRUTAS, A RESPEITAR OS MENORES E A OUVIR MAIS DO QUE FALAR.

OS DIAS PASSARAM, E NILO SE TORNOU PARTE DA GRANDE FAMÍLIA DA FLORESTA. SUA CANÇÃO DE BAMBU VIROU UM SÍMBOLO DE UNIÃO. E QUANDO ALGUÉM PERGUNTAVA SOBRE O PASSADO SOMBRIO DOS LOBOS, ELE DIZIA:

— NÃO IMPORTA DE ONDE VIEMOS, MAS QUEM ESCOLHEMOS SER.

E A FLORESTA DE CIPÓ DOURADO CANTOU ESSA NOVA VERDADE COM AINDA MAIS ALEGRIA, ENTRE FOLHAS VERDES, PENAS COLORIDAS E SONHOS QUE VOAVAM LIVRES COM O VENTO.