NUM VALE SAGRADO ENTRE MONTANHAS COBERTAS DE NÉVOA E RIOS CINTILANTES, EXISTIA O REINO DE LUNARA. ERA UMA TERRA ONDE O SOL NASCIA MAIS DOURADO E A LUA PARECIA CANTAR PARA AS ESTRELAS. LÁ, AS ÁRVORES CONTAVAM HISTÓRIAS AO VENTO E OS PÁSSAROS LEVAVAM SEGREDOS DE UM CANTO A OUTRO. MAS O VERDADEIRO ENCANTO DE LUNARA NÃO ESTAVA NA NATUREZA, E SIM EM SEU POVO: MULHERES FORTES, LIVRES E GUERREIRAS.

LUNARA ERA GOVERNADA POR MULHERES DESDE TEMPOS GLORIOSOS. SUAS ANCESTRAIS HAVIAM FUGIDO DE UM IMPÉRIO DISTANTE, ONDE OS HOMENS DOMINAVAM TUDO: AS LEIS, AS ARMAS, OS SONHOS. FUGIRAM MONTANDO CAVALOS VELOZES, LEVANDO APENAS SUAS FILHAS E A CORAGEM NOS OLHOS. CRUZARAM DESERTOS E FLORESTAS ATÉ FUNDAREM LUNARA. ALI, PROMETERAM QUE NENHUMA MULHER SERIA SILENCIADA, QUE NENHUMA MENINA SERIA ENSINADA A TEMER SUA PRÓPRIA VOZ.

AS MULHERES DE LUNARA APRENDIAM DESDE CEDO A PLANTAR, CAÇAR, LUTAR E DECIDIR POR SI MESMAS. TINHAM A LIBERDADE DE ESCOLHER SE QUERIAM SER MÃES OU GUERREIRAS – OU AMBAS. A REPRODUÇÃO ERA UMA ESCOLHA, UM DOM CONTROLADO PELAS PRÓPRIAS MULHERES COM OS SABERES PASSADOS POR CURANDEIRAS E SÁBIAS ANCIÃS. A VIDA ALI FLORESCIA COM HARMONIA, COM RESPEITO PELA TERRA E PELAS DECISÕES DE CADA UMA.

MAS A HISTÓRIA QUE ECOAVA COM MAIS FORÇA EM CADA CORAÇÃO LUNARENSE ERA A DA GUARDIÃ DO AMULETO, UM SÍMBOLO MÁGICO DE FORÇA, RESISTÊNCIA E LIBERDADE. DIZIA-SE QUE O AMULETO FORA CRIADO NA PRIMEIRA GRANDE GUERRA, FORJADO COM AS LÁGRIMAS E O SANGUE DAS PRIMEIRAS GUERREIRAS CAÍDAS EM BATALHA. EM SEU CENTRO HAVIA UMA PEDRA QUE BRILHAVA COM A LUZ DAS ESTRELAS, E QUEM O CARREGASSE SE TORNAVA IMBATÍVEL EM CORAGEM.

A ÚLTIMA PORTADORA DO AMULETO HAVIA SIDO AYLA, A CAMPONESA QUE, COM UMA FOICE EM MÃOS E UM GRITO DE JUSTIÇA NOS LÁBIOS, LIDEROU O EXÉRCITO DE LUNARA CONTRA OS INVASORES DA CONFEDERAÇÃO DO NORTE. ELES QUERIAM SUBJUGAR O REINO, IMPOR REIS E DECRETOS QUE COLOCARIAM AS MULHERES DE VOLTA ÀS SOMBRAS. AYLA, COM SUAS TRANÇAS SUADAS E PÉS DESCALÇOS, DESAFIOU OS GENERAIS EM CAMPO ABERTO E VENCEU. O POVO A CHAMOU DE “RAINHA DAS TERRAS LIVRES”, EMBORA ELA NUNCA TENHA SE SENTADO NUM TRONO.

DESDE ENTÃO, O AMULETO FORA GUARDADO A SETE CHAVES, ESCONDIDO NUM LUGAR SECRETO, ESPERANDO A PRÓXIMA GUARDIÃ.

CEM ANOS DEPOIS, EM UMA MANHÃ DE PRIMAVERA, KAENA, UMA MENINA DE DOZE ANOS COM OLHOS COMO O CÉU DEPOIS DA TEMPESTADE, ACORDOU COM UM SUSSURRO. ELA VIVIA NA ALDEIA DE YUNARI, ONDE CRESCIAM LAVANDAS E SE TREINAVA O CORPO E A MENTE COM ESPADAS DE MADEIRA E SABEDORIA ANCESTRAL. A VOZ QUE A DESPERTOU NÃO ERA DE SUA MÃE NEM DAS ANCIÃS. ERA UMA VOZ QUE ECOAVA EM SEU CORAÇÃO.

“KAENA, DESPERTA. O TEMPO CHEGOU.”

CONFUSA, ELA SE LEVANTOU E SAIU PARA O CAMPO. AS FLORES DANÇAVAM COM O VENTO, MAS KAENA SENTIA ALGO DIFERENTE. UM CALOR NO PEITO. E ENTÃO, SEM SABER POR QUÊ, CORREU. SUBIU COLINAS, ATRAVESSOU RIACHOS, ATÉ CHEGAR ÀS RUÍNAS DE AR'THARA, ONDE DIZIAM QUE AS SOMBRAS DO PASSADO AINDA CAMINHAVAM. ALI, SOB UMA PEDRA COBERTA DE MUSGO, KAENA CAVOU COM AS MÃOS ATÉ ENCONTRAR... O AMULETO.

A PEDRA BRILHAVA, MESMO SOB O SOL. ASSIM QUE O TOCOU, KAENA VIU UMA IMAGEM: AYLA, COM OLHOS CHEIOS DE FÚRIA E TERNURA, ESTENDENDO-LHE A MÃO.

"VOCÊ É A PRÓXIMA", DISSE A IMAGEM. “A CHAMA RENASCE CONTIGO.”

KAENA VOLTOU CORRENDO PARA A ALDEIA. AS ANCIÃS A RECEBERAM EM SILÊNCIO. ELAS SABIAM. O AMULETO NUNCA ERRAVA.

NAQUELA MESMA NOITE, AS ESTRELAS SE APAGARAM NO CÉU.

UMA FUMAÇA NEGRA SUBIA NO HORIZONTE. ERA O EXÉRCITO DA NOVA ORDEM PATRIARCAL, UM GRUPO DE HOMENS QUE RENEGAVAM A IGUALDADE, CLAMANDO PELO “RETORNO DA AUTORIDADE MASCULINA”. HAVIAM CONQUISTADO REINOS VIZINHOS, QUEIMADO ALDEIAS E CAPTURADO MULHERES PARA SERVIREM COMO ESCRAVAS E REPRODUTORAS. AGORA, MARCHAVAM RUMO A LUNARA.

KAENA ASSISTIU A TUDO COM O AMULETO NO PESCOÇO. TINHA APENAS DOZE ANOS, MAS SEUS OLHOS JÁ CARREGAVAM SÉCULOS.

AS GUERREIRAS SE REUNIRAM. LIDERADAS PELA COMANDANTE RAVENA, UMA MULHER DE CABELOS PRATEADOS E ARMADURA FORJADA EM FOGO LUNAR, PREPARARAM-SE PARA RESISTIR. RAVENA NÃO QUERIA COLOCAR KAENA EM RISCO, MAS O AMULETO PULSAVA MAIS FORTE COM A MENINA DO QUE JAMAIS HAVIA PULSADO EM OUTRAS MÃOS.

“ELA DEVE LUTAR”, DISSERAM AS ANCIÃS. “ELA É A GUARDIÃ. A ÚLTIMA ESPERANÇA.”

RAVENA ASSENTIU. “ENTÃO LUTARÁ AO MEU LADO.”

E ASSIM, LUNARA MARCHOU.

A BATALHA DUROU DIAS. AS GUERREIRAS LUTARAM COM LANÇAS, FLECHAS, ESPADAS E PALAVRAS. ALGUMAS GRITAVAM O NOME DE SUAS MÃES, OUTRAS O DE AYLA. KAENA, COM O AMULETO NO PEITO E UMA PEQUENA ADAGA NA MÃO, MOVIA-SE COMO O VENTO. NÃO ERA FORÇA O QUE A GUIAVA, MAS VISÃO. VIA AS INTENÇÕES DOS INIMIGOS ANTES MESMO QUE ELES SE MOVESSEM. TOCAVA O CHÃO E SABIA POR ONDE O PERIGO VIRIA. ERA COMO SE CARREGASSE DENTRO DE SI TODAS AS GUERREIRAS QUE VIERAM ANTES.

EM UM MOMENTO CRÍTICO, RAVENA CAIU, FERIDA. KAENA CORREU ATÉ ELA.

“VOCÊ PRECISA LIDERAR AGORA”, DISSE RAVENA, ENTREGANDO SUA ESPADA.

KAENA TREMEU, MAS SENTIU O AMULETO BRILHAR. ERGUEU A ESPADA E GRITOU: “POR LUNARA! PELA LIBERDADE!”

AS GUERREIRAS AVANÇARAM COM FÚRIA RENOVADA. COM KAENA À FRENTE, ROMPERAM A LINHA INIMIGA E LIBERTARAM OS PRISIONEIROS. AS MULHERES CAPTURADAS SE UNIRAM À LUTA, ARMADAS COM CORRENTES, PEDRAS E CORAGEM. E ENTÃO, COMO UMA ONDA, A RESISTÊNCIA CRESCEU.

O LÍDER DA NOVA ORDEM TENTOU FUGIR, MAS FOI DETIDO POR KAENA.

“VOCÊ NÃO ENTENDE”, ELE CUSPIU. “O MUNDO PRECISA DE ORDEM! PRECISA DE HOMENS NO COMANDO!”

KAENA O OLHOU NOS OLHOS. “O MUNDO PRECISA DE EQUILÍBRIO. E VOCÊ NUNCA SOUBE O QUE É JUSTIÇA.”

COM UM GESTO, QUEBROU O CETRO DE COMANDO DO INIMIGO. O EXÉRCITO DA NOVA ORDEM SE DISPERSOU. A GUERRA ACABOU.

LUNARA CELEBROU POR SETE DIAS E SETE NOITES. AS ESTRELAS VOLTARAM AO CÉU, E A LUA BRILHOU COMO NUNCA. KAENA NÃO QUIS TRONO NEM COROAS. PEDIU APENAS UMA HORTA PARA CUIDAR E UM CAMPO PARA TREINAR OUTRAS MENINAS.

O AMULETO FOI GUARDADO NOVAMENTE, MAS AGORA SOB UM NOVO PACTO: NÃO MAIS PARA PROTEGER DE INVASORES, MAS PARA LEMBRAR QUE A FORÇA ESTÁ EM CADA MENINA QUE ACREDITA EM SI MESMA, QUE DESAFIA O SILÊNCIO, QUE ESCOLHE SEU PRÓPRIO CAMINHO.

AS HISTÓRIAS DE KAENA, RAVENA E AYLA FORAM PASSADAS ADIANTE, DE BOCA EM BOCA, DE AVÓ PARA NETA, COMO SEMENTES LANÇADAS AO VENTO. EM LUNARA, OS NOMES DAS GUERREIRAS VIRARAM CONSTELAÇÕES, E SEUS FEITOS INSPIRARAM ATÉ MESMO OUTROS REINOS, QUE PASSARAM A OUVIR E RESPEITAR AS VOZES DAS GUERREIRAS DE LUNARA.

DIZEM QUE, ATÉ HOJE, QUANDO UMA MENINA DE CORAÇÃO LIVRE E OLHOS BRILHANTES TOCA A TERRA COM RESPEITO E LEVANTA A CABEÇA COM CORAGEM, O AMULETO BRILHA, MESMO ESCONDIDO. E QUE AYLA SORRI, EM ALGUM LUGAR ALÉM DAS ESTRELAS.

PORQUE ENQUANTO HOUVER MENINAS QUE NÃO ACEITAM SE CALAR LUNARA JAMAIS CAIRÁ.