ERA UMA VEZ, NUMA FLORESTA ENCANTADA CHAMADA ARVOREDO AZUL, ONDE OS PÁSSAROS VIVIAM EM HARMONIA HÁ MUITAS GERAÇÕES. O CÉU ERA SEMPRE PINTADO COM O VOO COLORIDO DE ARARAS, BEIJA-FLORES, CORUJAS, PAPAGAIOS, SABIÁS, E TANTOS OUTROS QUE COMPUNHAM A GRANDE SINFONIA AÉREA DA FLORESTA. MAS COMO TODA HISTÓRIA QUE COMEÇA COM PAZ, ALGO ESTAVA PRESTES A MUDAR.

TUDO COMEÇOU QUANDO O VELHO CORVO BALTAZAR, UM PÁSSARO SÁBIO E RECLUSO QUE MORAVA NO TOPO DO CARVALHO SOMBRIO, ANUNCIOU UMA PROFECIA ESQUECIDA: “QUANDO OS VENTOS SOPRAREM DO NORTE E AS PENAS NEGRAS COBRIREM O CÉU, A GUERRA ENTRE OS PÁSSAROS TERÁ INÍCIO.” NO INÍCIO, NINGUÉM LEVOU A SÉRIO. MAS ENTÃO, UMA MANHÃ FRIA E CINZENTA, VENTOS DO NORTE COMEÇARAM A SOPRAR, E BANDOS DE PÁSSAROS PRETOS — GRALHAS, CORVOS E URUBUS — TOMARAM OS CÉUS.

ESSES PÁSSAROS, QUE MORAVAM NAS MONTANHAS ALÉM DA FLORESTA, SEMPRE VIVERAM ISOLADOS E DESCONFIADOS. LIDERADOS PELA GRALHA-GRANDE ZARKON, ELES VINHAM EM BUSCA DE TERRITÓRIO, ALEGANDO QUE O ARVOREDO AZUL ESTAVA LHES ROUBANDO O ALIMENTO E AS CORRENTES DE VENTO. ZARKON ERA ASTUTO E ORGULHOSO, E LOGO DECLAROU: “TOMAREMOS O CÉU QUE NOS PERTENCE POR DIREITO! CHEGA DE CANÇÕES FELIZES E PENAS COLORIDAS! É HORA DA MUDANÇA!”

OS PÁSSAROS DO ARVOREDO, PEGOS DE SURPRESA, ORGANIZARAM-SE COM DIFICULDADE. O CONSELHO DAS ASAS, LIDERADO PELA ARARA-RAINHA CELESTE, CONVOCOU REPRESENTANTES DE TODAS AS ESPÉCIES PARA FORMAR UMA ALIANÇA DAS NUVENS. ENTRE ELES ESTAVAM A PEQUENA BEIJA-FLOR MELINA, CONHECIDA POR SUA VELOCIDADE; O CORAJOSO GAVIÃO RURIK, GUARDIÃO DOS VENTOS; A SÁBIA CORUJA ALBA, CONSELHEIRA DA NOITE; E O BEM-HUMORADO CANÁRIO TOBIAS, MESTRE DOS AVISOS E CANTOS.

NO COMEÇO, TENTARAM A PAZ. ENVIARAM MENSAGEIROS, POMBOS-DIPLOMATAS COM RAMOS DE OLIVEIRA, MAS NENHUM VOLTOU. ZARKON QUERIA O CÉU INTEIRO, E NÃO CEDERIA ESPAÇO. A TENSÃO CRESCEU ATÉ O DIA EM QUE UMA ESQUADRA DE GRALHAS INVADIU O SANTUÁRIO DAS PENAS, DESTRUINDO NINHOS E EMPURRANDO OS PEQUENOS FILHOTES PARA LONGE. FOI O ESTOPIM. COMEÇAVA ALI A GUERRA DOS PÁSSAROS.

AS BATALHAS ERAM TRAVADAS NOS CÉUS AO AMANHECER, COM FORMAÇÕES DE VOO QUE RISCAVAM O HORIZONTE COMO FLECHAS DE PENAS. O GAVIÃO RURIK LIDERAVA OS ATAQUES COM TÁTICAS OUSADAS, USANDO AS CORRENTES DE AR COMO ALIADOS. OS BEIJA-FLORES, ÁGEIS E QUASE INVISÍVEIS, ATUAVAM COMO ESPIÕES E SABOTADORES. AS CORUJAS, COM SUA VISÃO NOTURNA, PROTEGIAM OS NINHOS DURANTE A NOITE. JÁ OS PAPAGAIOS E ARARAS FORMAVAM MURALHAS COLORIDAS NO CÉU, GRITANDO COMANDOS E INCENTIVANDO SEUS COMPANHEIROS.

MAS A GUERRA TROUXE SOFRIMENTO. PENAS COBRIAM O CHÃO DA FLORESTA COMO NEVE. O SILÊNCIO SUBSTITUIU OS CANTOS MATINAIS. MUITOS SE PERGUNTAVAM SE AQUELA LUTA FAZIA SENTIDO. MELINA, A BEIJA-FLOR, ERA UMA DAS MAIS JOVENS DO CONSELHO, E COMEÇOU A DUVIDAR. “ESTAMOS PERDENDO O QUE NOS FAZ PÁSSAROS: A LEVEZA, A CANÇÃO, O VOO POR PRAZER”, DIZIA ELA A ALBA.

FOI ENTÃO QUE MELINA TOMOU UMA DECISÃO ARRISCADA. DURANTE A NOITE, VOOU SOZINHA ATÉ O TERRITÓRIO INIMIGO, ATRAVESSANDO VENTOS CORTANTES E CORVOS EM VIGÍLIA. CHEGOU ATÉ ZARKON, POUSANDO DIANTE DELE COM O PEITO VIBRANDO. “QUERO ENTENDER. POR QUE VOCÊ ODEIA TANTO A NOSSA FLORESTA?”

ZARKON, SURPRESO COM A CORAGEM DA PEQUENA AVE, RESPONDEU: “ODEIO? NÃO. TEMO. DURANTE ANOS, VIMOS VOCÊS PROSPERAREM ENQUANTO NOSSAS MONTANHAS SECAVAM. QUANDO PEDIMOS AJUDA, RIRAM DE NÓS. QUANDO NOSSOS JOVENS FORAM BUSCAR ABRIGO, VOCÊS OS EXPULSARAM. ESTA GUERRA É PELO RESPEITO QUE NUNCA TIVEMOS.”

MELINA, COM OS OLHOS MAREJADOS, ENTENDEU QUE POR TRÁS DO ÓDIO HAVIA DOR. PROMETEU QUE LEVARIA A VERDADE AO CONSELHO. NO DIA SEGUINTE, O CÉU AMANHECEU ESTRANHO — NÃO HAVIA COMBATE. OS PÁSSAROS SE REUNIRAM, ESPERANDO UM ATAQUE QUE NÃO VEIO. ENTÃO MELINA SURGIU, VOANDO ENTRE AS NUVENS, COM ZARKON A SEU LADO.

FOI UMA CENA CHOCANTE. RURIK ERGUEU AS ASAS EM ALERTA, MAS MELINA FALOU ALTO: “A GUERRA NÃO PRECISA CONTINUAR. PODEMOS PARTILHAR O CÉU. PODEMOS APRENDER A OUVIR.” ALBA CONFIRMOU AS PALAVRAS, LEMBRANDO A TODOS QUE A SABEDORIA ESTÁ EM COMPREENDER ANTES DE ATACAR.

DEMOROU DIAS, DEBATES, E MUITAS REUNIÕES EM GALHOS ALTOS. MAS ENFIM, UM NOVO ACORDO FOI FEITO. OS PÁSSAROS DO ARVOREDO AZUL E OS DAS MONTANHAS SOMBRIAS CRIARAM O PACTO DOS VENTOS LIVRES. PARTILHARAM TERRITÓRIOS, REPLANTARAM ÁRVORES, CRIARAM ROTAS DE MIGRAÇÃO CONJUNTAS, E CONSTRUÍRAM JUNTOS UM NOVO SANTUÁRIO DAS PENAS, MAIOR E MAIS FORTE.

MELINA FOI CHAMADA DE EMBAIXADORA DAS ASAS, E SUA HISTÓRIA VIROU LENDA. O CÉU VOLTOU A SER COLORIDO E OS CANTOS, MAIS DOCES DO QUE NUNCA. A GUERRA DOS PÁSSAROS SE TRANSFORMOU EM UMA LEMBRANÇA — NÃO DE DOR, MAS DE APRENDIZADO. E ASSIM, A FLORESTA VOLTOU A VIVER EM HARMONIA, LEMBRANDO TODOS QUE ATÉ AS ASAS MENORES PODEM MUDAR O RUMO DOS VENTOS.