ERA UMA VEZ, EM UMA CIDADE PEQUENA CERCADA POR MONTANHAS AZUIS E CAMPOS FLORIDOS, UMA GAROTINHA CHAMADA LILA. ELA TINHA SETE ANOS, OLHOS CURIOSOS COMO OS DE UM ESQUILO E CABELOS CASTANHOS QUE PARECIAM DANÇAR COM O VENTO. LILA MORAVA COM SUA AVÓ, DONA LÚCIA, EM UMA CASA FEITA DE MADEIRA CHEIROSA, COM JANELAS VERMELHAS E UM JARDIM REPLETO DE GIRASSÓIS.

LILA ERA UMA CRIANÇA ALEGRE, MAS ÀS VEZES SE SENTIA INVISÍVEL. NA ESCOLA, ELA ERA TÍMIDA. NA HORA DO RECREIO, PREFERIA OBSERVAR OS OUTROS BRINCANDO DO QUE SE JUNTAR À BAGUNÇA. AS PROFESSORAS GOSTAVAM DELA, MAS MUITAS VEZES ESQUECIAM DE CHAMÁ-LA PARA AJUDAR NOS PROJETOS. "SERÁ QUE EU SOU INVISÍVEL?", LILA SE PERGUNTAVA.

CERTA NOITE, ANTES DE DORMIR, ELA CONTOU ISSO À AVÓ.

— VOVÓ, ACHO QUE NINGUÉM ME VÊ. PARECE QUE EU NÃO ESTOU AQUI. — SEUS OLHOS ESTAVAM MAREJADOS.

DONA LÚCIA, COM SUA VOZ SUAVE, ABRAÇOU LILA.

— MINHA FLOR, VOCÊ É COMO UMA SEMENTE MÁGICA. ÀS VEZES, SEMENTES PRECISAM DE TEMPO PARA CRESCER E MOSTRAR SUAS FLORES AO MUNDO. MAS QUANDO FLORESCEM... AH, NINGUÉM CONSEGUE IGNORÁ-LAS.

ESSAS PALAVRAS FICARAM NO CORAÇÃO DE LILA. E NA MANHÃ SEGUINTE, ALGO INCRÍVEL ACONTECEU.

LILA ESTAVA ANDANDO PELA TRILHA ATRÁS DE SUA CASA, ONDE COSTUMAVA PROCURAR PEDRINHAS BRILHANTES. DE REPENTE, OUVIU UM SOM ESTRANHO, COMO UM ASSOBIO BAIXINHO. SEGUIU O SOM ATÉ ENCONTRAR ALGO QUE A FEZ PRENDER A RESPIRAÇÃO: UMA PEDRA ENORME, COM DESENHOS MISTERIOSOS BRILHANDO EM AZUL.

CURIOSA, LILA TOCOU A PEDRA. NO MESMO INSTANTE, UMA LUZ DOURADA A ENVOLVEU, E ELA OUVIU UMA VOZ SUAVE, VINDA DE DENTRO DA PEDRA:

— OLHA EU AQUI!

ASSUSTADA E ENCANTADA, LILA DEU UM PASSO ATRÁS.

— QUEM ESTÁ AÍ?

A PEDRA RESPONDEU:

— SOU A PEDRA DO CORAÇÃO ESCONDIDO. SÓ AQUELES QUE SENTEM QUE NÃO SÃO VISTOS CONSEGUEM ME ENCONTRAR. VOCÊ ME DESPERTOU, LILA.

LILA NÃO SABIA O QUE DIZER. MAS A PEDRA CONTINUOU:

— VOCÊ TEM UM DOM. PODE ENXERGAR O QUE OUTROS NÃO CONSEGUEM. POSSO LEVÁ-LA A UM LUGAR ONDE OS INVISÍVEIS SE TORNAM HERÓIS. VOCÊ QUER VIR COMIGO?

LILA HESITOU. MAS SEU CORAÇÃO BATIA FORTE, CHEIO DE CORAGEM. ELA ASSENTIU.

EM UM PISCAR DE OLHOS, ELA FOI TRANSPORTADA PARA UM LUGAR MÁGICO: O VALE DAS VOZES SILENCIOSAS. ERA UM MUNDO COLORIDO, ONDE TUDO SUSSURRAVA — AS ÁRVORES, OS ANIMAIS, ATÉ O VENTO. LÁ, LILA ENCONTROU OUTRAS CRIANÇAS COMO ELA: TÍMIDAS, ESQUECIDAS, MAS CHEIAS DE LUZ INTERIOR.

CADA CRIANÇA TINHA UM TALENTO ESCONDIDO. UMA SABIA CONVERSAR COM OS PÁSSAROS. OUTRA CONSEGUIA PINTAR OS SENTIMENTOS COM TINTAS QUE DANÇAVAM NO PAPEL. UM GAROTINHO DE OLHOS TRISTES PODIA TRANSFORMAR LÁGRIMAS EM ESTRELAS.

LILA FOI RECEBIDA POR UMA GUARDIÃ DO VALE, UMA MULHER ALTA COM CABELOS COMO NUVENS.

— BEM-VINDA, LILA. AQUI, TODOS DIZEM: "OLHA EU AQUI!" COM ORGULHO. MOSTRE-NOS QUEM VOCÊ É.

COM O TEMPO, LILA DESCOBRIU QUE PODIA OUVIR OS SENTIMENTOS DOS OUTROS. QUANDO UMA AMIGA ESTAVA TRISTE, ELA OUVIA A TRISTEZA COMO UMA MÚSICA BAIXINHA E SABIA COMO AJUDAR. QUANDO UM COLEGA ESTAVA COM MEDO, ELA SENTIA O FRIO EM SEU CORAÇÃO E OFERECIA PALAVRAS QUENTES.

ELA SE TORNOU UMA GUIA NO VALE, AJUDANDO OS OUTROS A SE ENCONTRAREM. E, EM TROCA, FOI VISTA — DE VERDADE — PELA PRIMEIRA VEZ.

MAS O TEMPO PASSOU, E LILA SENTIU SAUDADE DE SUA CASA E DE SUA AVÓ. PEDIU PARA VOLTAR.

A GUARDIÃ DISSE:

— VOCÊ PODE IR, LILA. O QUE APRENDEU AQUI NUNCA SE PERDERÁ. ONDE QUER QUE ESTEJA, LEMBRE-SE: DIGA COM FORÇA E TERNURA, "OLHA EU AQUI!"

LILA VOLTOU PARA CASA, NOS BRAÇOS DE UMA MANHÃ DOURADA. A PEDRA JÁ NÃO BRILHAVA, MAS LILA BRILHAVA POR DENTRO. NA ESCOLA, COMEÇOU A LEVANTAR A MÃO MAIS VEZES, A SORRIR COM MAIS CORAGEM. AJUDAVA OS COLEGAS, FAZIA PERGUNTAS, CONTAVA HISTÓRIAS.

UM DIA, DURANTE UMA APRESENTAÇÃO NA ESCOLA, LILA CONTOU SOBRE O VALE DAS VOZES SILENCIOSAS (SEM FALAR DA MAGIA, É CLARO). E QUANDO TERMINOU, SORRIU E DISSE:

— OLHA EU AQUI!

A SALA INTEIRA APLAUDIU. ELA NÃO ERA MAIS INVISÍVEL. E NUNCA MAIS SE ESQUECEU DE QUE, MESMO QUANDO O MUNDO PARECE DISTRAÍDO, HÁ SEMPRE UMA LUZ DENTRO DE NÓS DIZENDO: "OLHA EU AQUI!"