AS FRIAS TERRAS DE STONEHAVEN, CERCADAS POR MONTANHAS ETERNAMENTE COBERTAS DE NEVE, ERGUIA-SE UMA VILA FORTIFICADA, ONDE AS PESSOAS VIVIAM SOB O CONSTANTE SUSSURRO DOS VENTOS DO NORTE. ERA UMA ÉPOCA DE LENDAS E PERIGOS, DE LOBOS NAS FLORESTAS E REIS EM TRONOS DE PEDRA. ENTRE TODAS AS HISTÓRIAS CONTADAS EM VOLTA DAS FOGUEIRAS, NENHUMA ERA TÃO REVERENCIADA QUANTO A DO CAVALEIRO QUE SALVOU STONEHAVEN E DESAPARECEU SEM DEIXAR VESTÍGIOS, A NÃO SER SUA ARMADURA, CRAVADA NA ROCHA MAIS ALTA COMO UMA CRUZ DE FERRO.

SIR EDRIC DE THORNE ERA SEU NOME. ALTO, DE CABELOS ESCUROS COMO AS ÁGUAS DO LAGO SABLE, OLHOS CINZENTOS E UMA VOZ GRAVE QUE SOAVA COMO TROVÃO. ERA UM CAVALEIRO DA ORDEM DO LOBO BRANCO, CONHECIDO POR SUA BRAVURA E LEALDADE INABALÁVEIS. DIZIAM QUE SEU CAVALO, BRANNOC, ERA MAIS RÁPIDO QUE O VENTO E QUE SUA ESPADA, SKELD, CORTAVA FERRO COMO MADEIRA PODRE.

NA ALVORADA DE UM INVERNO CRUEL, OS BATEDORES VOLTARAM COM OLHOS ARREGALADOS E ROSTOS PÁLIDOS. INVASORES ATRAVESSAVAM OS VALES GELADOS, HOMENS SEM REI NEM HONRA, VINDOS DO LESTE, ONDE A TERRA ERA ESCURA E O SOL MAL NASCIA. SEUS ESTANDARTES ERAM PRETOS COMO A NOITE, E SUAS ARMADURAS, QUEIMADAS PELO FOGO DOS VULCÕES. LIDERAVA-OS UM GUERREIRO COM UM ELMO DE CHIFRES E UM ESCUDO FEITO DE CRÂNIOS: O LORDE MAERKAN.

O CONSELHO DE STONEHAVEN SE REUNIU NA TORRE DO SALGUEIRO. ESTAVAM LÁ O VELHO BARÃO ALDRED, COM SUA BARBA BRANCA COMO A NEVE; A JOVEM E ASTUTA LADY YSORIA, FILHA DO FERREIRO-MOR; E O MAGO OLOREN, UM HOMEM DE OLHOS QUE MUDAVAM DE COR CONFORME O TEMPO. SIR EDRIC PERMANECEU EM SILÊNCIO, OBSERVANDO AS DISCUSSÕES.

"NÃO PODEMOS ENFRENTÁ-LOS EM CAMPO ABERTO!" VOCIFERAVA O BARÃO. "SERÁ NOSSA RUÍNA!"

"E SE FUGIRMOS, O QUE RESTARÁ DE STONEHAVEN?"—REVIDOU YSORIA.

SIR EDRIC SE ERGUEU, SUA ARMADURA RANGENDO COMO PORTÕES ANTIGOS.

"DAREI A ELES UM COMBATE QUE NÃO ESQUECERÃO. NÃO PRECISAMOS DE UM EXÉRCITO, APENAS DE CORAGEM."

A VILA FOI EVACUADA. MULHERES, CRIANÇAS E ANCIÃOS SEGUIRAM PARA OS BOSQUES, GUIADOS POR BATEDORES. O MAGO OLOREN DEU A EDRIC UM ANEL DE OBSIDIANA, DIZENDO APENAS: "USE-O QUANDO A ÚLTIMA LUZ SE APAGAR."

NA NOITE DO ATAQUE, UMA TEMPESTADE ENCOBRIU A LUA. OS INVASORES DESCERAM DOS MONTES, BESTAS RUGINDO ENTRE ELES. MAS NA ENTRADA DO VALE, SOZINHO, ESTAVA EDRIC. SUA ESPADA FLAMEJAVA COM RUNAS ANTIGAS. BRANNOC RELINCHAVA E PISOTEAVA O CHÃO. ELE ATACOU COMO UM RELÂMPAGO.

A BATALHA FOI FEROZ. EDRIC CORTAVA, GOLPEAVA E BLOQUEAVA COM A GRAÇA DE UM GUERREIRO ABENÇOADO PELOS DEUSES. CAÍA SOBRE ELE UMA CHUVA DE LANÇAS E FLECHAS, MAS NENHUMA O ATINGIA. DIZIA-SE QUE O ANEL DE OLOREN CRIAVA UMA AURA DE PROTEÇÃO. AO AMANHECER, O VALE ESTAVA COBERTO DE CORPOS, E APENAS MAERKAN PERMANECIA DE PÉ.

ELES LUTARAM POR HORAS. SKELD QUEBROU O ESCUDO DO LORDE INIMIGO. MAS MAERKAN ERA FEITO DE SOMBRAS E FOGO. QUANDO TUDO PARECIA PERDIDO, EDRIC ERGUEU O ANEL AOS CÉUS E O DESTRUIU. UM CLARÃO ENVOLVEU A MONTANHA.

QUANDO A LUZ SE DISSIPOU, NÃO HAVIA MAIS SINAL DE EDRIC, APENAS SUA ARMADURA, CRAVADA NO ALTO DA MONTANHA DE VARR, COMO SE ALGUM GIGANTE A HOUVESSE FINCADO ALI. O INIMIGO HAVIA SUMIDO.

O TEMPO PASSOU. CRIANÇAS CRESCERAM OUVINDO A HISTÓRIA DO CAVALEIRO. ALGUNS DIZIAM QUE ELE SE TORNARA UM COM A TERRA, PROTEGENDO-A EM ESPÍRITO. OUTROS JURAVAM VER UMA FIGURA ENCAPUZADA NOS DIAS DE NEBLINA, VIGIANDO OS CAMINHOS.

ANOS DEPOIS, UM JOVEM CHAMADO CAELAN, APRENDIZ DE FERREIRO, SUBIU A MONTANHA. ALGO O CHAMAVA NOS SONHOS. LEVAVA CONSIGO UMA PEDRA AZUL, DEIXADA POR SUA MÃE, QUE AFIRMAVA SER DE EDRIC. AO TOCAR A ARMADURA, A PEDRA BRILHOU. POR UM INSTANTE, OUVIU-SE UM RELINCHO AO LONGE. E O VENTO SUSSURROU:

"ENQUANTO STONEHAVEN PRECISAR DE MIM, ESTAREI AQUI."

CAELAN DESCEU A MONTANHA COM OS OLHOS CHEIOS DE LÁGRIMAS. A ARMADURA PERMANECIA, INTACTA, BRILHANDO SOB O SOL FRIO. A CRUZ DE FERRO NÃO ERA APENAS UM SÍMBOLO. ERA UM PACTO. E O CAVALEIRO, AINDA QUE DESAPARECIDO, NUNCA TINHA IDO EMBORA.

E ASSIM, EM CADA INVERNO, QUANDO AS NUVENS DESCEM E A NOITE CHEGA CEDO, AS CRIANÇAS DE STONEHAVEN OLHAM PARA A MONTANHA E ACENAM. PORQUE SABEM QUE LÁ EM CIMA, ONDE O VENTO CANTA E A NEVE NÃO DERRETE, O GUARDIÃO DE FERRO OBSERVA. SILENCIOSO. ETERNO.

MAS NAQUELE INVERNO EM ESPECIAL, ALGO MUDOU. A NEVE CAIU MAIS CEDO, E OS VENTOS CANTAVAM DE FORMA ESTRANHA, COMO SE TROUXESSEM PALAVRAS EM LÍNGUAS ESQUECIDAS. UM GRUPO DE VIAJANTES CHEGOU À VILA, TRAZENDO RUMORES DE QUE O SUL ESTAVA EM GUERRA, E QUE UM NOVO PODER CRESCIA NAS RUÍNAS DO ANTIGO REINO DE DRAEGONFALL.

ENTRE OS VIAJANTES, ESTAVA UMA MOÇA DE CABELOS VERMELHOS COMO FOGO, CHAMADA ELSINORE. ELA CARREGAVA UM GRIMÓRIO PRESO AO CINTO E OLHOS QUE PARECIAM SABER MAIS DO QUE DIZIAM. DISSE QUE VIERA PROCURAR "A FORJA DO HERÓI", E QUE A CHAVE ESTAVA COM O APRENDIZ DE FERREIRO.

CAELAN, AGORA UM JOVEM DE MÃOS CALEJADAS E MENTE INQUIETA, RECONHECEU A PEDRA AZUL COMO PARTE DE UM MAPA ARCANO. QUANDO ELE E ELSINORE TOCARAM A PEDRA JUNTOS, VISÕES INUNDARAM SEUS PENSAMENTOS: EDRIC EM UM SALÃO DE ESPELHOS, FALANDO COM ENTIDADES DE LUZ E SOMBRA, SUA ALMA DIVIDIDA ENTRE MUNDOS.

DECIDIRAM PARTIR EM BUSCA DA FORJA ESQUECIDA, ONDE, SEGUNDO ELSINORE, PODERIA SER REFEITO O ELO QUE PRENDIA O CAVALEIRO À ARMADURA. SEGUIRAM PELOS VALES GELADOS, CRUZARAM RIOS OCULTOS POR NÉVOAS ENCANTADAS, ENFRENTARAM CRIATURAS QUE NÃO TEMIAM O FERRO NEM O FOGO.

GUIADOS POR FRAGMENTOS DE RUNAS E HISTÓRIAS QUASE APAGADAS, CHEGARAM ÀS CAVERNAS DE DURNHAL, ONDE O TEMPO FLUÍA DE MANEIRA ESTRANHA. LÁ, ENCONTRARAM VESTÍGIOS DE ANTIGOS CAVALEIROS, ESPADAS FUNDIDAS À PEDRA, ESCUDOS COBERTOS DE MUSGO.

NO CORAÇÃO DA MONTANHA, ENCONTRARAM A FORJA, AINDA ACESA COM CHAMAS AZUIS. ELSINORE LEU O GRIMÓRIO EM VOZ ALTA, ENQUANTO CAELAN COLOCAVA A PEDRA AZUL NO PEDESTAL. UMA LUZ SURGIU, E NO CENTRO DA FORJA APARECEU A FIGURA TRANSLÚCIDA DE EDRIC.

"STONEHAVEN ESTÁ EM PERIGO NOVAMENTE," DISSE ELE. "E DESTA VEZ, NÃO POSSO LUTAR SOZINHO."

SUA VOZ ECOAVA COMO TROVÃO ANTIGO. CAELAN SENTIU O PESO DA ESCOLHA: FORJAR UMA NOVA LÂMINA, UMA NOVA ARMADURA, OU DEVOLVER EDRIC À ETERNIDADE.

O MARTELO CAIU SOBRE O FERRO, E FAÍSCAS COMO ESTRELAS PREENCHERAM A CAVERNA. UMA NOVA CRUZ DE FERRO SURGIA. E COM ELA, UM NOVO CAPÍTULO DA LENDA.

PORQUE EM STONEHAVEN, OS HERÓIS NÃO MORREM. ELES ESPERAM. NO SILÊNCIO. NA NEVE. NO FERRO ETERNO.

QUANDO A NOVA ARMADURA FOI COMPLETADA, EDRIC ESTENDEU A MÃO E TOCOU-A. NUM PISCAR DE OLHOS, SUA FORMA ESPECTRAL SE CONDENSOU, TOMANDO CORPO DIANTE DELES. OS OLHOS DE CAELAN SE ARREGALARAM, E ELSINORE DEIXOU ESCAPAR UM SUSPIRO DE ESPANTO. EDRIC, AGORA REVESTIDO EM AÇO RELUZENTE E ENCANTADO, ERGUEU A NOVA ESPADA, CUJA LÂMINA PARECIA FEITA DE LUZ E SOMBRA ENTRELAÇADAS.

"A GUERRA JÁ COMEÇOU," DISSE EDRIC. "DRAEGONFALL NÃO SE ERGUE APENAS COMO UM REINO. ELE É A BOCA DE UM ANTIGO MAL."

SEM PERDER TEMPO, OS TRÊS DEIXARAM DURNHAL. NO CAMINHO DE VOLTA A STONEHAVEN, PASSARAM POR ALDEIAS EM CINZAS E OUVIRAM RUMORES DE UMA CRIATURA CHAMADA VHARAK, O DEVORADOR DE VOZES, UM SERVO DOS ANTIGOS QUE SE ALIMENTAVA DE LEMBRANÇAS E CORAGEM. SUA TRILHA DEIXAVA POVOS INTEIROS MUDOS, INCAPAZES DE CONTAR O QUE TINHAM VISTO.

AO CHEGAREM À VILA, ENCONTRARAM OS PORTÕES ABERTOS, MAS NENHUM SINAL DE LUTA. APENAS O SILÊNCIO ABSOLUTO. NEM UMA CRIANÇA CHORAVA, NEM UMA PORTA RANGIA. FOI ELSINORE QUEM PERCEBEU: ESTAVAM SOB O FEITIÇO DE VHARAK. CAELAN CORREU ATÉ A CASA DO FERREIRO E ENCONTROU SEU PAI COM OS OLHOS ABERTOS, MAS VAZIOS. UMA SOMBRA OS VIGIAVA.

"EDRIC," SUSSURROU ELSINORE, "PRECISAMOS AGIR ANTES QUE A NOITE CAIA."

O CAVALEIRO ASSENTIU. REUNIU OS DOIS SOB A CRUZ DE FERRO DA MONTANHA E, ALI, TRAÇARAM UM NOVO PLANO: ATRAIR VHARAK ATÉ O ALTAR ONDE A ARMADURA ANTIGA REPOUSAVA, E FORÇAR O CONFRONTO SOB O OLHAR DAS ESTRELAS, POIS SOMENTE SOB O CÉU ABERTO OS ANTIGOS PODIAM SER FERIDOS.

NA NOITE SEGUINTE, ACENDERAM FOGUEIRAS EM CÍRCULOS, TOCARAM SINOS DE PRATA E ENTOARAM O NOME ESQUECIDO DE EDRIC. QUANDO A CRIATURA SURGIU, ERA UMA PRESENÇA FEITA DE NEBLINA ESCURA E ECOS DISTANTES, COM UMA BOCA QUE SE MOVIA SEM SOM.

EDRIC ENFRENTOU VHARAK COM A NOVA ESPADA, ENQUANTO CAELAN E ELSINORE SUSTENTAVAM O FEITIÇO DE CONTENÇÃO. A BATALHA FEZ A TERRA TREMER. QUANDO EDRIC CRAVOU A LÂMINA NO PEITO DA CRIATURA, ELA EXPLODIU EM SILÊNCIO ABSOLUTO. UM SILÊNCIO TÃO DENSO QUE O MUNDO PARECEU PARAR. E ENTÃO, COMO O ROMPER DE UMA REPRESA, O SOM VOLTOU À VILA.

STONEHAVEN ESTAVA SALVA MAIS UMA VEZ.

MAS EDRIC NÃO PERMANECEU. COM UM ÚLTIMO OLHAR PARA CAELAN E ELSINORE, VOLTOU À CRUZ DE FERRO E ALI REPOUSOU A ARMADURA NOVA, SELANDO-A COM SEU PRÓPRIO NOME. "CHAMEM-ME APENAS QUANDO O FERRO TREMER E A NEVE SANGRAR," DISSE ELE, ANTES DE DESAPARECER EM LUZ.

CAELAN E ELSINORE DESCERAM A MONTANHA EM SILÊNCIO. AGORA SABIAM: A LENDA NÃO TERMINAVA. ERA APENAS MAIS UMA DOBRA NO TEMPO, ONDE CORAGEM E FERRO TECIAM O DESTINO. PORQUE EM STONEHAVEN, MESMO NO SILÊNCIO MAIS PROFUNDO, OS HERÓIS CONTINUAM A VIGIAR.