ERA UMA VEZ, EM UM MUNDO ONDE A FÉ BRILHAVA COMO ESTRELAS NO CÉU ESCURO, DOIS JOVENS VIAJANTES: LUME, UMA GAROTA CORAJOSA DE CABELOS DOURADOS COMO O SOL, E SOLANO, UM RAPAZ TRANQUILO, COM OLHOS PROFUNDOS COMO O MAR. ELES VIVIAM NA TERRA DE ANTÍVIA, UM REINO DISTANTE ONDE O POVO COMEÇAVA A OUVIR HISTÓRIAS SOBRE O REI INVISÍVEL, UM SOBERANO DE AMOR É VERDADE QUE GOVERNAVA COM JUSTIÇA MESMO SEM SER VISTO.

LUME E SOLANO NÃO ERAM HERÓIS COMUNS. ELES ERAM GUARDIÕES DA LUZ, APRENDIZES ESCOLHIDOS PARA ESPALHAR AS HISTÓRIAS DO REI INVISÍVEL EM TERRAS ONDE NINGUÉM AINDA O CONHECIA. SEUS MESTRES, OS SÁBIOS ANCIÃOS PAULO E BARNABÉ, HAVIAM ENSINADO QUE O VERDADEIRO PODER NÃO VINHA DA ESPADA OU DA FORÇA, MAS DA FÉ FIRME, DA CORAGEM DIANTE DO SOFRIMENTO, E DO AMOR QUE SE DOA ATÉ O FIM.

CERTA MANHÃ, DEPOIS DE MUITAS SEMANAS EM TREINAMENTO, PAULO E BARNABÉ REUNIRAM OS JOVENS.

— CHEGOU A HORA DE VOCÊS PARTIREM — DISSE PAULO, COLOCANDO UMA MÃO FIRME SOBRE O OMBRO DE LUME. — MUITOS LÁ FORA AINDA NÃO OUVIRAM FALAR DO REINO DO REI INVISÍVEL. VOCÊS IRÃO COM A GENTE ATÉ LISTRA, ICÔNIO E ANTIOQUIA. LÁ, HÁ CORAÇÕES PRONTOS PARA OUVIR.

— MAS TAMBÉM HÁ PERIGOS — DISSE BARNABÉ, OLHANDO SOLANO NOS OLHOS. — VOCÊS ENCONTRARÃO REJEIÇÃO, ZOMBARIA, TALVEZ ATÉ DOR. MAS LEMBREM-SE: É PRECISO QUE PASSEMOS POR MUITOS SOFRIMENTOS PARA ENTRAR NO REINO DE DEUS.

LUME RESPIROU FUNDO. O MEDO ERA REAL, MAS ALGO MAIS FORTE ARDIA EM SEU CORAÇÃO: A ESPERANÇA DE LEVAR LUZ AOS QUE VIVIAM NA ESCURIDÃO.

A ESTRADA ATÉ LISTRA ERA LONGA E CHEIA DE DESAFIOS. MONTANHAS FRIAS, VILAREJOS FECHADOS E ESTRADAS TRAIÇOEIRAS TESTAVAM A PACIÊNCIA E A FÉ DOS VIAJANTES. MAS EM CADA CIDADE, LUME E SOLANO CONTAVAM ÀS PESSOAS SOBRE O REI INVISÍVEL — COMO ELE AMAVA A TODOS, INCLUSIVE OS QUE ERRAVAM, E COMO QUERIA RECEBÊ-LOS EM SEU REINO.

EM LISTRA, PORÉM, TUDO QUASE DESMORONOU.

ENQUANTO FALAVAM NA PRAÇA DA CIDADE, UM GRUPO DE HOMENS SE LEVANTOU COM PEDRAS NAS MÃOS.

— MENTIRAS! — GRITAVAM. — NÃO PRECISAMOS DE UM REI QUE NINGUÉM VÊ!

SOLANO TENTOU EXPLICAR, MAS AS PEDRAS VOARAM. ELES CORRERAM PARA ESCAPAR, ESCONDENDO-SE EM UMA CASA HUMILDE ONDE UMA MULHER OS ACOLHEU. LUME CHORAVA EM SILÊNCIO.

— POR QUE NOS ODEIAM TANTO? SÓ ESTAMOS TENTANDO AJUDAR...

PAULO, QUE TAMBÉM ESTAVA COM ELES, SE APROXIMOU.

— O SOFRIMENTO É PARTE DO CAMINHO — DISSE ELE. — MAS CADA LÁGRIMA QUE CAI É SEMENTE NO SOLO. UM DIA, FLORESCERÁ.

NO DIA SEGUINTE, AINDA MACHUCADOS, ELES VOLTARAM À PRAÇA. E DESSA VEZ, ALGO MUDOU. AS CRIANÇAS SE APROXIMARAM. DEPOIS OS ANCIÃOS. E, POR FIM, MUITOS OUVIRAM COM ATENÇÃO.

EM ICÔNIO, O POVO ESTAVA DIVIDIDO. ALGUNS OS ACOLHERAM COM ALEGRIA; OUTROS, COM DESCONFIANÇA. LUME E SOLANO VISITAVAM CASAS, AJUDAVAM OS DOENTES, OUVIAM OS TRISTES. COM O TEMPO, OS CORAÇÕES SE ABRIAM COMO FLORES AO SOL.

UM MENINO CHAMADO RAVI, QUE MAL PODIA ANDAR, FOI CARREGADO ATÉ ELES.

— EU NÃO POSSO CORRER, COMO AS OUTRAS CRIANÇAS... — DISSE COM LÁGRIMAS.

SOLANO AJOELHOU-SE.

— VOCÊ PODE CRER NO REI INVISÍVEL?

— SIM, EU QUERO! — RESPONDEU RAVI.

E ALI, ENQUANTO ORAVAM JUNTOS, RAVI COMEÇOU A SE SE LEVANTAR. CAMBALEANTE, DEU SEUS PRIMEIROS PASSOS SOZINHO. A MULTIDÃO SE ESPANTOU. MUITOS ACREDITARAM NAQUELE DIA.

MAS OUTROS FICARAM FURIOSOS. “ELES ESTÃO CONFUNDINDO O POVO!”, GRITAVAM. MAIS UMA VEZ, OS GUARDIÕES DA LUZ TIVERAM QUE PARTIR ÀS PRESSAS.

NA CIDADE DE ANTIOQUIA, AS RUAS ERAM LARGAS E CHEIAS DE GENTE. COMERCIANTES, SOLDADOS, ARTISTAS — TODOS SEGUIAM SUAS VIDAS SEM PENSAR EM ALGO MAIOR. MAS LUME E SOLANO NÃO DESISTIRAM. DURANTE SEMANAS, VISITARAM CADA CANTO DA CIDADE. UM A UM, FORAM GANHANDO AMIGOS.

ENTÃO VEIO O MOMENTO MAIS IMPORTANTE: PAULO E BARNABÉ DECIDIRAM DESIGNAR PRESBÍTEROS, LÍDERES LOCAIS QUE CONTINUARIAM O TRABALHO DEPOIS QUE PARTISSEM.

REUNIRAM TODOS QUE ACREDITARAM E, COM JEJUNS E ORAÇÕES, CONFIARAM AQUELAS PESSOAS AO SENHOR. ERA COMO PLANTAR ÁRVORES FORTES QUE RESISTIRIAM MESMO AOS VENTOS MAIS VIOLENTOS.

— AGORA, VOCÊS SÃO A LUZ DAQUI — DISSE LUME COM UM SORRISO.

— CUIDEM UNS DOS OUTROS, MESMO QUANDO FOR DIFÍCIL — COMPLETOU SOLANO.

A MISSÃO AINDA NÃO TINHA TERMINADO. OS GUARDIÕES DA LUZ CRUZARAM PISÍDIA, CHEGARAM À PANFÍLIA, E ANUNCIARAM A PALAVRA EM PERGE, UMA CIDADE COSTEIRA. LÁ, UM VELHO PESCADOR CHAMADO DÉMIO OUVIU SUAS HISTÓRIAS E DISSE:

— ESPEREI MINHA VIDA INTEIRA POR ALGO QUE FIZESSE SENTIDO. AGORA SEI QUE HÁ UM REI ACIMA DE TODOS, MESMO QUE EU NUNCA O TENHA VISTO.

DALI, DESCERAM PARA ATÁLIA, ONDE EMBARCARAM EM UM NAVIO RUMO A ANTIOQUIA, O LUGAR ONDE TUDO COMEÇOU. DURANTE A VIAGEM, LUME FICOU OLHANDO O MAR E PENSOU EM TUDO O QUE VIVERAM.

— TANTAS LÁGRIMAS… — MURMUROU ELA.

— E TANTOS FRUTOS — DISSE SOLANO.

QUANDO CHEGARAM A ANTIOQUIA, FORAM RECEBIDOS COM FESTA. TODA A COMUNIDADE SE REUNIU PARA OUVIR SUAS HISTÓRIAS.

PAULO TOMOU A PALAVRA:

— IRMÃOS, O REI INVISÍVEL ESTEVE CONOSCO EM CADA CIDADE. MESMO QUANDO FOMOS PERSEGUIDOS, ELE ESTAVA LÁ. EM LISTRA, EM ICÔNIO, EM ANTIOQUIA... MUITOS AGORA CREEM. DEUS ABRIU A PORTA DA FÉ ATÉ MESMO PARA OS PAGÃOS!

SOLANO CONTOU SOBRE RAVI. LUME FALOU SOBRE O PESCADOR DÉMIO. TODOS SE EMOCIONARAM.

— O REINO DO REI INVISÍVEL ESTÁ CRESCENDO — DISSERAM JUNTOS.

NAQUELA NOITE, LUME E SOLANO FICARAM OLHANDO AS ESTRELAS.

— SABE — DISSE ELA —, ACHO QUE NUNCA VAMOS PARAR. SEMPRE HAVERÁ ALGUÉM PRECISANDO OUVIR.

— SIM — RESPONDEU ELE —, E SEMPRE VALERÁ A PENA, MESMO COM SOFRIMENTO.

NA QUIETUDE DA NOITE, AS PALAVRAS DE PAULO ECOARAM EM SUAS MEMÓRIAS: “É PRECISO QUE PASSEMOS POR MUITOS SOFRIMENTOS PARA ENTRAR NO REINO DE DEUS.”

MAS ELES SABIAM, NO FUNDO DO CORAÇÃO, QUE AQUELE REINO JÁ ESTAVA NASCENDO EM CADA GESTO DE AMOR, EM CADA HISTÓRIA CONTADA, EM CADA CORAÇÃO TRANSFORMADO.

E ASSIM, OS GUARDIÕES DA LUZ CONTINUARAM SUA JORNADA, CERTOS DE QUE A FÉ, MESMO INVISÍVEL, BRILHA MAIS FORTE DO QUE QUALQUER SOL.