NO TEMPO EM QUE OS ANIMAIS FALAVAM, A FLORESTA ERA CHEIA DE VOZES, HISTÓRIAS E CANÇÕES. HAVIA UM ANIMAL, NO ENTANTO, QUE TODOS TEMIAM E ADMIRAVAM: O PORCO-DO-MATO. NÃO PORQUE FOSSE O MAIS FORTE, OU O MAIS RÁPIDO, MAS PORQUE ELE SABIA FAZER FOGO.

AH, O FOGO! QUENTINHO NAS NOITES FRIAS, ESPANTAVA ONÇAS E ILUMINAVA AS CAVERNAS. OS OUTROS ANIMAIS VIVIAM TREMENDO NAS SOMBRAS, ENQUANTO O PORCO-DO-MATO SE AQUECIA PERTO DE SUA CHAMA BRILHANTE, SOLTANDO RISADINHAS ORGULHOSAS.

— HA! EU SOU O REI DA FLORESTA! — ELE DIZIA, COM O PEITO ESTUFADO. — SEM MIM, TODOS VIVERIAM NO ESCURO!

OS BICHOS TENTAVAM SE APROXIMAR, PEDIAM AJUDA, MAS ELE SEMPRE RESPONDIA O MESMO:

— O FOGO É MEU SEGREDO!

UM DIA, UM GRUPO DIFERENTE CHEGOU À FLORESTA. ERAM OS HUMANOS — ALTOS, DESAJEITADOS, E CHEIOS DE CURIOSIDADE. ELES NÃO SABIAM FALAR COM OS ANIMAIS, MAS O BRILHO NOS OLHOS DIZIA TUDO: TAMBÉM QUERIAM APRENDER SOBRE O FOGO.

O PORCO-DO-MATO RIU ALTO:

— ELES NEM SABEM ROLAR UMA PEDRA! NUNCA CONSEGUIRÃO O QUE EU TENHO!

MAS, PARA SURPRESA DE TODOS, UMA MENINA HUMANA CHAMADA IARA COMEÇOU A OBSERVAR O PORCO-DO-MATO DE LONGE. SILENCIOSA COMO UM TATU, ATENTA COMO UMA CORUJA, ELA ASSISTIA O BICHO RACHAR GRAVETOS, ESFREGAR PAUS E SOPRAR ATÉ O FOGO SURGIR.

CERTA NOITE, IARA TENTOU IMITAR O PORCO-DO-MATO. NÃO CONSEGUIU. NO DIA SEGUINTE, TENTOU DE NOVO. E FALHOU OUTRA VEZ. POR DIAS E DIAS, ELA TENTOU, ATÉ QUE SUAS MÃOS FICARAM FERIDAS E SEUS OLHOS SE ENCHERAM DE LÁGRIMAS.

O PORCO-DO-MATO VIU TUDO, ESCONDIDO ATRÁS DE UM ARBUSTO. PELA PRIMEIRA VEZ, SENTIU ALGO DIFERENTE NO CORAÇÃO: PENA... E RESPEITO.

NA MANHÃ SEGUINTE, ELE SE APROXIMOU, DEVAGAR. A MENINA RECUOU, ASSUSTADA, MAS O PORCO-DO-MATO EMPURROU UM GRAVETO NA DIREÇÃO DELA.

— FOGO NÃO FOI FEITO PARA UM SÓ, — ELE DISSE. — FOI FEITO PARA AQUECER MUITOS.

COM PACIÊNCIA, ELE MOSTROU A TÉCNICA, SOPROU DEVAGAR JUNTO COM ELA, E JUNTOS, VIRAM A CHAMA NASCER. A MENINA SORRIU, EMOCIONADA, E OFERECEU UMA FRUTA EM AGRADECIMENTO.

NAQUELA NOITE, OS HUMANOS DIVIDIRAM O FOGO COM OS ANIMAIS. E PELA PRIMEIRA VEZ, A NAQUELA NOITE, OS HUMANOS DIVIDIRAM O FOGO COM OS ANIMAIS. E PELA PRIMEIRA VEZ, A FLORESTA TODA BRILHOU COMO O CÉU ESTRELADO.

OS VAGA-LUMES PISCARAM CONFUSOS, ACHANDO QUE HAVIA UMA NOVA CONSTELAÇÃO NASCENDO ENTRE OS GALHOS. AS CORUJAS PISCARAM DEVAGAR, SURPRESAS COM AS SOMBRAS DANÇANTES NAS ÁRVORES. E OS TAMANDUÁS, SEMPRE SONOLENTOS, FICARAM ACORDADOS ATÉ MAIS TARDE, OUVINDO HISTÓRIAS CONTADAS AO REDOR DA CHAMA.

O PORCO-DO-MATO, ACOSTUMADO A DORMIR SOZINHO COM SEU FOGO, AGORA SE VIU CERCADO. HAVIA RISOS, FRUTAS PASSADAS DE MÃO EM MÃO, E ATÉ A ONÇA — QUE COSTUMAVA ROSNAR PARA TODO MUNDO — ESTAVA QUIETA, DEITADA A UMA DISTÂNCIA RESPEITOSA, APENAS ESCUTANDO.

IARA, COM OS OLHOS BRILHANDO, SENTOU-SE AO LADO DO PORCO-DO-MATO.

— EU QUERIA TE CONTAR UMA COISA — DISSE ELA, TENTANDO PRONUNCIAR AS PALAVRAS COM CALMA, MESMO SABENDO QUE ELE NÃO ENTENDIA TUDO. — QUANDO VOCÊ ME AJUDOU, MEU CORAÇÃO FICOU QUENTE. COMO O FOGO.

O PORCO-DO-MATO NÃO RESPONDEU DE IMEDIATO. SÓ OLHOU PARA A MENINA, DEPOIS PARA A CHAMA QUE DANÇAVA ENTRE ELES. ELE NÃO SABIA MUITO DE CORAÇÕES HUMANOS, MAS SENTIU QUE ALGO TINHA MUDADO DENTRO DELE TAMBÉM.

NO DIA SEGUINTE, OS ANIMAIS COMEÇARAM A AJUDAR OS HUMANOS COM OUTRAS COISAS: O TATU MOSTROU ONDE CAVAR PARA ENCONTRAR ÁGUA FRESCA, A ARARA INDICOU AS FRUTAS MAIS DOCES NAS ÁRVORES ALTAS, E ATÉ O TAMANDUÁ ENSINOU A ARRANCAR CUPINS SEM SE MACHUCAR.

OS HUMANOS, POR SUA VEZ, ENSINARAM A AMARRAR CIPÓS FORTES, A FAZER FERRAMENTAS COM PEDRAS LISAS E ATÉ A DESENHAR NAS CAVERNAS COM CARVÃO E ARGILA.

A FLORESTA NÃO ERA MAIS DIVIDIDA ENTRE QUEM TINHA E QUEM NÃO TINHA. AGORA, ELA ERA FEITA DE TROCA, DE CUIDADO E DE APRENDIZADO.

CERTO DIA, O PORCO-DO-MATO SUBIU EM UMA PEDRA E OLHOU EM VOLTA. VIU CRIANÇAS HUMANAS CORRENDO COM FILHOTES DE JAGUATIRICA, VIU UM MACACO PUXANDO UM CARRINHO DE FOLHAS SECAS, E VIU IARA MOSTRANDO A OUTRA MENINA COMO SOPRAR DEVAGAR SOBRE O FOGO NOVO.

ELE BUFOU BAIXINHO, SATISFEITO.

DEPOIS, DESCEU DA PEDRA, E SUMIU ENTRE AS ÁRVORES. NINGUÉM SABE AO CERTO PARA ONDE ELE FOI. ALGUNS DIZEM QUE VOLTOU A VIVER SOZINHO, FELIZ EM VER O MUNDO BRILHANDO SEM PRECISAR ESTAR NO CENTRO DELE.