ERA UMA TARDE QUENTE EM JERUSALÉM, E O SOL DOURAVA AS MURALHAS ANTIGAS DA CIDADE. O SOM DOS MERCADORES VENDENDO FRUTAS SECAS, ESPECIARIAS E TECIDOS ELEGANTES. ECOAVA PELAS RUAS ESTREITAS. ENTRE A MULTIDÃO, DOIS ADOLESCENTES CAMINHAVAM APRESSADOS: ELIABE, DE 14 ANOS, E SUA PRIMA TAMAR, DE 12. ELES ESTAVAM ANIMADOS COM UMA TAREFA ESPECIAL QUE LHES FORA CONFIADA POR SEU AVÔ, SIMEÃO, UM RESPEITADO ESCRIBA DA CIDADE.

— LEMBRE-SE, TAMAR — DISSE ELIABE, AJUSTANDO A PEQUENA BOLSA DE COURO EM SEU OMBRO —, O AVÔ DISSE QUE ESSE MANUSCRITO É MUITO IMPORTANTE. DEVEMOS LEVÁ-LO AO RABI JESHUA ANTES QUE O SOL SE PONHA.

TAMAR ASSENTIU COM OS OLHOS BRILHANDO DE EMPOLGAÇÃO. — EU SEI! JÁ PENSOU, ENCONTRAR O RABI QUE TODOS COMENTAM? DIZEM QUE ELE CURA OS DOENTES APENAS COM UM TOQUE E FALA COM TANTA SABEDORIA QUE ATÉ OS SACERDOTES FICAM SEM RESPOSTA!

O PERGAMINHO EM SUAS MÃOS ERA ANTIGO, COM LETRAS HEBRAICAS CUIDADOSAMENTE TRAÇADAS. SIMEÃO ACREDITAVA QUE RABI JESHUA, TAMBÉM CONHECIDO COMO JESUS, ENTENDERIA UMA PROFECIA ESQUECIDA ESCRITA POR UM ANTIGO PROFETA.

ENQUANTO ATRAVESSAVAM OS BECOS DA CIDADE, VIRAM CENAS TÍPICAS DO COTIDIANO: UMA MULHER CARREGANDO ÁGUA NUM CÂNTARO, CRIANÇAS BRINCANDO COM PEDRINHAS, HOMENS DISCUTINDO A TORÁ SOB A SOMBRA DE UMA FIGUEIRA.

MAS A JORNADA NÃO SERIA TÃO SIMPLES.

NA PRAÇA DO MERCADO, UM GRUPO DE SOLDADOS ROMANOS MONTAVA GUARDA. AO VEREM OS DOIS JOVENS CORRENDO COM PRESSA, UM DELES, UM CENTURIÃO DE OLHAR SEVERO, OS PAROU.

— PARA ONDE VÃO TÃO APRESSADOS? — PERGUNTOU, CRUZANDO OS BRAÇOS.

ELIABE TENTOU PARECER TRANQUILO. — VAMOS AO MONTE DAS OLIVEIRAS. TEMOS UMA ENTREGA PARA UM RABI.

O CENTURIÃO OS OLHOU DE CIMA A BAIXO E APONTOU PARA A BOLSA. — O QUE CARREGAM AÍ?

TAMAR SE ADIANTOU, SORRINDO INOCENTEMENTE. — APENAS UM MANUSCRITO VELHO. NOSSO AVÔ NOS PEDIU PARA LEVÁ-LO. NÃO VALE MUITO PARA ROMANOS.

O CENTURIÃO FRANZIU O CENHO, MAS OS DEIXOU PASSAR.

APÓS O SUSTO, OS DOIS CONTINUARAM DESVIANDO DAS RUAS MAIS VIGIADAS. AO ALCANÇAREM O MONTE DAS OLIVEIRAS, A LUZ DO ENTARDECER PINTAVA TUDO COM TONS DE OURO E LARANJA. ALI, SOB UMA OLIVEIRA CENTENÁRIA, ENCONTRARAM UM GRUPO DE PESSOAS REUNIDAS.

UM HOMEM DE OLHAR SERENO E PALAVRAS DOCES FALAVA SOBRE AMOR, PERDÃO E O REINO DOS CÉUS. ERA JESHUA.

TAMAR FICOU PARALISADA. — É ELE...

ELIABE SE APROXIMOU, REVERENTE, E ESTENDEU O PERGAMINHO. — RABI JESHUA, MEU AVÔ SIMEÃO PEDIU QUE ENTREGÁSSEMOS ISSO. ELE ACREDITA QUE O SENHOR ENTENDERÁ ESSAS PALAVRAS ANTIGAS.

JESUS PEGOU O MANUSCRITO COM CUIDADO. SEUS OLHOS PASSARAM PELAS LINHAS, E UM SORRISO SUAVE SURGIU EM SEU ROSTO.

— DE FATO, ESSAS PALAVRAS SÃO VERDADEIRAS. FALAM DE ESPERANÇA, DE REDENÇÃO, DE AMOR ETERNO. OBRIGADO POR SUA MISSÃO, JOVENS.

ELE OS ABENÇOOU, TOCANDO-LHES A CABEÇA, E AMBOS SENTIRAM UMA PAZ INEXPLICÁVEL.

NA VOLTA PARA CASA, A NOITE JÁ CAÍRA, E AS ESTRELAS BRILHAVAM NO CÉU COMO PROMESSAS.

ELIABE SORRIU. — NUNCA PENSEI QUE UMA SIMPLES ENTREGA MUDARIA TANTO...

TAMAR COMPLETOU: — ... E QUE EU ME SENTIRIA TÃO PERTO DE DEUS.

E ASSIM, COM CORAÇÕES LEVES E ESPERANÇA RENOVADA, ELES SABIAM QUE AQUELA MISSÃO EM JERUSALÉM TINHA SIDO APENAS O INÍCIO DE ALGO MUITO MAIOR.

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NOS DIAS SEGUINTES, ELIABE E TAMAR PASSARAM A AJUDAR SIMEÃO NO TRABALHO DE COPIAR ANTIGOS MANUSCRITOS. O AVÔ PARECIA MAIS ANIMADO DO QUE NUNCA, ESPECIALMENTE DEPOIS DE SABER DA REAÇÃO DE JESHUA AO PERGAMINHO. NUMA MANHÃ, ENQUANTO LIMPAVAM O PEQUENO ESCRITÓRIO REPLETO DE PERGAMINHOS, SIMEÃO REVELOU UM NOVO SEGREDO.

— HÁ OUTRO MANUSCRITO — DISSE ELE, EM VOZ BAIXA, COMO SE TEMESSE QUE AS PAREDES ESCUTASSEM —, ESCONDIDO HÁ GERAÇÕES, QUE FALA SOBRE O SERVO SOFREDOR. ESTÁ GUARDADO NAS CAVERNAS DE QUMRAN, NO DESERTO.

— NÓS PODEMOS BUSCÁ-LO! — DISSE TAMAR DE IMEDIATO, OS OLHOS FAISCANDO.

ELIABE HESITOU. — NO DESERTO? SOZINHOS?

SIMEÃO ASSENTIU. — NÃO ESTARÃO SOZINHOS. UM AMIGO DE CONFIANÇA OS ENCONTRARÁ EM JERICÓ E OS GUIARÁ ATÉ LÁ. MAS DEVEM SER DISCRETOS. OS ROMANOS TÊM OLHOS EM TODOS OS CANTOS.

ASSIM COMEÇOU A NOVA MISSÃO.

VESTIDOS COMO SIMPLES APRENDIZES DE ESCRIBA, OS DOIS DEIXARAM JERUSALÉM AO AMANHECER, COM UM PEQUENO MAPA DESENHADO À MÃO E A ESPERANÇA DE CUMPRIR MAIS UMA TAREFA DIVINA. A ESTRADA ATÉ JERICÓ ERA LONGA E CHEIA DE PERIGOS, MAS TAMBÉM DE ENCONTROS SURPREENDENTES.

NO TERCEIRO DIA DE VIAGEM, AO PARAR PERTO DE UM POÇO, ENCONTRARAM UMA MULHER VESTIDA COM ROUPAS MODESTAS E UM OLHAR SÁBIO. ELA LHES OFERECEU ÁGUA E PÃO.

— PARA ONDE VÃO? — PERGUNTOU.

— ESTAMOS A CAMINHO DE JERICÓ — RESPONDEU ELIABE, CAUTELOSO.

A MULHER SORRIU. — QUE O SENHOR OS PROTEJA. HÁ MAIS NO DESERTO DO QUE AREIA E SERPENTES. TAMBÉM HÁ VERDADES ESCONDIDAS.

CHEGANDO A JERICÓ, ENCONTRARAM UM JOVEM CHAMADO MALKIEL, AMIGO DE SIMEÃO. ELE OS CONDUZIU ATÉ AS ENCOSTAS ROCHOSAS DAS CAVERNAS DE QUMRAN. O CALOR ERA INTENSO, E OS VENTOS CARREGAVAM A AREIA COMO SE SUSSURRASSEM SEGREDOS.

LÁ DENTRO, ENTRE INSCRIÇÕES ANTIGAS E JARROS QUEBRADOS, ENCONTRARAM O MANUSCRITO. ESTAVA BEM PROTEGIDO, ENVOLTO EM LINHO SECO. AO ABRI-LO, TAMAR LEU EM VOZ BAIXA:

— "FOI DESPREZADO E REJEITADO PELOS HOMENS, HOMEM DE DORES..."

ELIABE COMPLETOU: — "... E CARREGOU SOBRE SI AS NOSSAS ENFERMIDADES."

VOLTARAM PARA JERUSALÉM COM O MANUSCRITO ESCONDIDO ENTRE OS ROLOS DE TECIDO. QUANDO SIMEÃO O LEU, SEUS OLHOS SE ENCHERAM DE LÁGRIMAS.

— É A CONFIRMAÇÃO. ESSE HOMEM, JESHUA, É AQUELE DE QUEM OS PROFETAS FALARAM.

NO DIA SEGUINTE, FORAM AO TEMPLO. JESHUA ESTAVA ALI, ENSINANDO COM AUTORIDADE. AO VER OS JOVENS, SORRIU.

— VOCÊS VOLTARAM.

— TEMOS ALGO MAIS — DISSE TAMAR, ENTREGANDO O NOVO MANUSCRITO.

JESUS LEU, EM SILÊNCIO, COM O SEMBLANTE SERENO. DEPOIS, DISSE:

— AS ESCRITURAS SE CUMPREM. VOCÊS FORAM ESCOLHIDOS PARA ESSE TEMPO.

NAQUELA NOITE, ENQUANTO A CIDADE DORMIA, ELIABE E TAMAR OLHAVAM PARA AS ESTRELAS E COMPREENDIAM QUE SUA JORNADA ESTAVA APENAS COMEÇANDO. A MISSÃO EM JERUSALÉM ERA MUITO MAIOR DO QUE PENSAVAM. ERA UMA MISSÃO DE FÉ, CORAGEM E VERDADE.

E ALI, SOB O CÉU SAGRADO, PROMETERAM CONTINUAR SUA CAMINHADA, ONDE QUER QUE DEUS OS ENVIASSE.