NUMA PEQUENA VILA CHAMADA ESPERANÇA, VIVIA UMA MENINA CURIOSA E GENTIL CHAMADA RAABE. CERTO DIA, ENQUANTO AJUDAVA SUA AVÓ NO JARDIM, ELA ENCONTROU UM LIVRO ANTIGO COM CAPA DOURADA E LETRAS BRILHANTES: "AS PARÁBOLAS DO MESTRE". AO ABRI-LO, UMA LUZ INTENSA A ENVOLVEU, E UMA VOZ SUAVE DISSE:

— RAABE, VOCÊ FOI ESCOLHIDA PARA UMA MISSÃO ESPECIAL. DEVE APRENDER E VIVER AS LIÇÕES DO MESTRE PARA AJUDAR SUA VILA A ENCONTRAR O VERDADEIRO CAMINHO.

RAABE FOI TRANSPORTADA PARA UM CAMPO VASTO, ONDE UM HOMEM LANÇAVA SEMENTES. ALGUMAS CAÍAM À BEIRA DO CAMINHO, OUTRAS EM SOLO ROCHOSO, OUTRAS ENTRE ESPINHOS E ALGUMAS EM BOA TERRA. O HOMEM EXPLICOU:

— AS SEMENTES SÃO AS PALAVRAS DO MESTRE. O SOLO REPRESENTA OS CORAÇÕES DAS PESSOAS. APENAS OS CORAÇÕES PREPARADOS PODEM FRUTIFICAR.

EM SEGUIDA, RAABE VIU UMA CIDADE NO ALTO DE UMA COLINA, ILUMINADA POR UMA LUZ INTENSA. UM HOMEM ACENDIA UMA LAMPARINA E A COLOCAVA NO ALTO PARA ILUMINAR A TODOS. ELE DISSE:

— VOCÊ É A LUZ DO MUNDO. NÃO ESCONDA SUA LUZ; DEIXE-A BRILHAR PARA QUE TODOS VEJAM SUAS BOAS OBRAS.

RAABE ENCONTROU UM GRUPO DE PESSOAS PREPARANDO UMA REFEIÇÃO. UMA DELAS DISSE:

— SEM SAL, A COMIDA PERDE O SABOR. ASSIM, SEM AMOR E FÉ, A VIDA PERDE O SENTIDO. SEJA O SAL DA TERRA, TRAZENDO SABOR E PRESERVAÇÃO AO MUNDO.

EM UM CAMPO, UM HOMEM ENCONTROU UM TESOURO ESCONDIDO E, CHEIO DE ALEGRIA, VENDEU TUDO PARA COMPRÁ-LO. EM OUTRO LUGAR, UM MERCADOR ENCONTROU UMA PÉROLA PRECIOSA E FEZ O MESMO. ELES DISSERAM A RAABE:

— O REINO DOS CÉUS É COMO ESSE TESOURO E ESSA PÉROLA. VALE MAIS QUE TUDO. BUSQUE-O COM TODO O SEU CORAÇÃO.

RAABE VIU UM HOMEM FERIDO À BEIRA DA ESTRADA. MUITOS PASSARAM E O IGNORARAM, MAS UM SAMARITANO O AJUDOU, CUIDOU DE SUAS FERIDAS E O LEVOU A UM ABRIGO. ELE DISSE:

— AME AO PRÓXIMO COMO A SI MESMO. SEJA COMPASSIVA E AJUDE QUEM PRECISA, INDEPENDENTEMENTE DE QUEM SEJA.

UM PASTOR DEIXOU SUAS NOVENTA E NOVE OVELHAS PARA PROCURAR UMA QUE SE PERDEU. AO ENCONTRÁ-LA, CELEBROU COM ALEGRIA. ELE EXPLICOU:

— ASSIM É O AMOR DO MESTRE. ELE SE ALEGRA MAIS POR UM PECADOR QUE SE ARREPENDE DO QUE POR NOVENTA E NOVE JUSTOS QUE NÃO PRECISAM DE ARREPENDIMENTO.

RAABE ASSISTIU À HISTÓRIA DE UM JOVEM QUE PEDIU SUA HERANÇA, GASTOU TUDO E, ARREPENDIDO, VOLTOU PARA CASA. SEU PAI O RECEBEU COM ALEGRIA E FESTA. O PAI DISSE:

— MEU FILHO ESTAVA PERDIDO E FOI ACHADO. ESTAVA MORTO E REVIVEU. ASSIM É O PERDÃO DO MESTRE.

TRÊS SERVOS RECEBERAM TALENTOS DE SEU SENHOR. DOIS OS MULTIPLICARAM, MAS UM OS ENTERROU. O SENHOR ELOGIOU OS DOIS PRIMEIROS E REPREENDEU O ÚLTIMO. ELE DISSE:

— USE OS DONS QUE RECEBEU. MULTIPLIQUE-OS PARA O BEM DO PRÓXIMO E PARA A GLÓRIA DO MESTRE. RAABE VIU DUAS CASAS: UMA CONSTRUÍDA SOBRE A ROCHA E OUTRA SOBRE A AREIA. VEIO A TEMPESTADE, E APENAS A CASA NA ROCHA PERMANECEU. UMA VOZ DISSE:

— QUEM OUVE E PRATICA AS PALAVRAS DO MESTRE É COMO QUEM CONSTRÓI SOBRE A ROCHA. ESTARÁ FIRME DIANTE DAS ADVERSIDADES.

AO FINAL DE SUA JORNADA, RAABE RETORNOU À SUA VILA. COM O CORAÇÃO CHEIO DE SABEDORIA, COMPARTILHOU AS LIÇÕES APRENDIDAS. A VILA SE TRANSFORMOU: AS PESSOAS PASSARAM A AMAR MAIS, PERDOAR, AJUDAR E BUSCAR O REINO DOS CÉUS.

OS DIAS NA VILA DE ESPERANÇA TORNARAM-SE DIFERENTES. ONDE ANTES HAVIA BRIGAS E DESCONFIANÇAS, AGORA HAVIA SORRISOS, PARTILHAS E ORAÇÕES. MAS O LIVRO DOURADO AINDA NÃO HAVIA DESAPARECIDO. ELE PERMANECIA EM SEU QUARTO, SOBRE A MESA, COMO SE ESTIVESSE ESPERANDO ALGO MAIS.

NUMA TARDE SILENCIOSA, ENQUANTO REGAVA AS FLORES, RAABE OUVIU NOVAMENTE A VOZ SUAVE:

— AINDA HÁ MAIS A APRENDER, PEQUENA LUZ. NEM TODOS OS CORAÇÕES SE ABRIRAM. HÁ PEDRAS ESCONDIDAS NO CAMPO. VÁ ATÉ O VELHO MOINHO.

SEM HESITAR, RAABE CALÇOU SUAS SANDÁLIAS E SEGUIU PELA TRILHA ATÉ O MOINHO, ONDE ENCONTROU UM MENINO DE ROSTO FRANZIDO E OLHOS DESCONFIADOS. ELE ERA NOVO NA VILA E SE CHAMAVA ELI. TINHA FAMA DE BRIGUENTO, DE MENTIROSO, E NINGUÉM QUERIA BRINCAR COM ELE.

RAABE SE APROXIMOU DEVAGAR, OFERECENDO UM PEDAÇO DE PÃO COM MEL.

— TROUXE ISSO PARA VOCÊ. FIZ COM MINHA AVÓ.

— NÃO PRECISO DE AJUDA — ROSNOU ELI, MAS SEUS OLHOS SE FIXARAM NO PÃO COM DESEJO. MESMO ASSIM, ELE VIROU AS COSTAS.

RAABE LEMBROU-SE DA PARÁBOLA DO AMIGO IMPORTUNO E DECIDIU INSISTIR. VOLTOU DIA APÓS DIA, OFERECENDO PÃO, FRUTAS, ATÉ QUE UM DIA ELI FINALMENTE ACEITOU.

— POR QUE VOCÊ ESTÁ SENDO BOA COMIGO? — ELE PERGUNTOU, CONFUSO.

— PORQUE O MESTRE ME ENSINOU QUE DEVEMOS AMAR ATÉ QUEM NÃO NOS AMA DE VOLTA — ELA RESPONDEU COM UM SORRISO TRANQUILO.

NAQUELA NOITE, LÚCIA SONHOU COM UM CAMPO DE TRIGO E JOIO. A VOZ SUAVE DISSE:

— NEM TUDO QUE PARECE BOM É BOM, E NEM TUDO QUE PARECE RUIM É PERDIDO. ESPERE A COLHEITA.

ACORDOU COM A CERTEZA DE QUE ELI AINDA TINHA UM BOM CORAÇÃO POR TRÁS DA RAIVA.

CERTA MANHÃ, ENQUANTO CAMINHAVA PARA A ESCOLA, ELA VIU UM GRUPO DE MENINOS ZOMBANDO DE ELI. ELE ESTAVA SUJO, COM A ROUPA RASGADA. SEM PENSAR, LÚCIA SE PÔS À FRENTE DELE:

— DEIXEM-no EM PAZ!

OS MENINOS RIRAM, MAS FORAM EMBORA. ELI FICOU PARADO, SEM PALAVRAS.

— VOCÊ ME DEFENDEU… — DISSE, EMOCIONADO.

RAABE ENTÃO CONTOU A PARÁBOLA DO BOM PASTOR, QUE DEIXA AS NOVENTA E NOVE OVELHAS PARA BUSCAR A QUE SE PERDEU. PELA PRIMEIRA VEZ, ELI SORRIU.

COM O TEMPO, OS DOIS FICARAM AMIGOS INSEPARÁVEIS. ELI COMEÇOU A MUDAR. PASSOU A AJUDAR NA HORTA COMUNITÁRIA, CUIDAVA DAS GALINHAS DO SENHOR TOBIAS E UM DIA ATÉ DEVOLVEU UMA MOEDA QUE ENCONTRARA NO CHÃO — “PORQUE AGORA SEI O QUE É JUSTO”, DISSE ELE.

A TRANSFORMAÇÃO DE ELI FOI COMO O FERMENTO QUE UMA MULHER MISTURA NA MASSA E QUE LEVEDA TUDO. PEQUENA, SILENCIOSA, MAS PODEROSA. UM DIA, ELE OLHOU PARA LÚCIA E DISSE:

— EU ERA COMO AQUELE FILHO QUE FOI EMBORA… E AGORA VOLTEI.

RAABE SABIA QUE ELE FALAVA DA PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO.

O LIVRO DOURADO EM SUA MESA ENTÃO BRILHOU DE NOVO E NOVAS PÁGINAS SURGIRAM. UMA MOSTRAVA UM JUIZ SEVERO, QUE SÓ FEZ JUSTIÇA PORQUE UMA VIÚVA INSISTIA. OUTRA, UM SERVO QUE RECEBEU PERDÃO, MAS NÃO SOUBE PERDOAR. OUTRA AINDA, UM HOMEM RICO QUE IGNOROU UM MENDIGO À SUA PORTA E DESCOBRIU, TARDE DEMAIS, O VALOR DO AMOR.

RAABE ENTENDEU QUE O CONHECIMENTO NÃO BASTAVA. ERA PRECISO VIVER CADA LIÇÃO — MESMO QUANDO ERA DIFÍCIL.

CHEGOU ENTÃO O TEMPO DA COLHEITA NA VILA. OS CAMPOS ESTAVAM DOURADOS E PRONTOS. RAABE LEMBROU-SE DA PARÁBOLA DOS TRABALHADORES DA VINHA E REUNIU TODOS, INCLUSIVE CRIANÇAS E IDOSOS, PARA AJUDAR. UM SENHOR PROTESTOU:

— MAS ISSO É INJUSTO! ALGUNS TRABALHARAM O DIA INTEIRO, OUTROS SÓ AGORA CHEGARAM!

RAABE RESPONDEU COM AS PALAVRAS DO MESTRE:

— O DONO DA VINHA É GENEROSO. A RECOMPENSA NÃO ESTÁ APENAS NO QUE SE FEZ, MAS NO CORAÇÃO COM QUE SE FEZ.

TODOS SE CALARAM. E COLHERAM JUNTOS, EM PAZ.

CERTA NOITE, LÚCIA SONHOU COM DEZ LAMPARINAS. CINCO ESTAVAM ACESAS, CINCO ESTAVAM APAGADAS. A VOZ VOLTOU:

— SEJA COMO AS VIRGENS PRUDENTES. MANTENHA SUA LUZ ACESA, POIS NINGUÉM SABE O DIA NEM A HORA.

RAABE ACORDOU DECIDIDA A ENSINAR MAIS PESSOAS. REUNIU OS JOVENS DA VILA E FALOU DA VIGILÂNCIA, DO SERVO FIEL E DO OUTRO QUE, POR DESCUIDO, PERDEU TUDO.

CONTOU SOBRE OS DOIS FILHOS — UM QUE DIZIA “SIM” E NÃO FAZIA NADA, E O OUTRO QUE DIZIA “NÃO” E SE ARREPENDIA DEPOIS. TODOS ENTENDERAM QUE AÇÕES VALEM MAIS DO QUE PALAVRAS.

COM O TEMPO, A VILA INTEIRA VIVIA COMO UMA GRANDE FAMÍLIA. TODOS REPARTIAM, PERDOAVAM, AJUDAVAM. ATÉ OS VISITANTES SE ESPANTAVAM:

— NUNCA VIMOS UM LUGAR ASSIM.

ELI RESPONDEU COM UM BRILHO NO OLHAR:

— É PORQUE AQUI, SEGUIMOS AS PARÁBOLAS DO MESTRE.

RAABE SUBIU ATÉ O MONTE ONDE TUDO COMEÇOU. O LIVRO DOURADO ESTAVA COM ELA. NELE, AGORA, NÃO HAVIA MAIS PÁGINAS EM BRANCO. MAS HAVIA UM ESPELHO. AO OLHAR, VIU SEU REFLEXO. E A VOZ FALOU UMA ÚLTIMA VEZ:

— AGORA VOCÊ ENTENDE. O REINO DOS CÉUS COMEÇA DENTRO DE CADA UM. QUANDO VOCÊS VIVEM COMO EU ENSINEI, TORNAM-SE SAL, LUZ, FERMENTO, PÉROLA, TESOURO, SEMENTE… TORNAM-SE MEUS.

O LIVRO ENTÃO SE FECHOU E SE DESFEZ EM POEIRA DOURADA QUE SUBIU AOS CÉUS.

RAABE DESCEU O MONTE, AGORA NÃO COMO UMA MENINA, MAS COMO UMA GUARDIÃ DO REINO. E SUA LUZ, INVISÍVEL AOS OLHOS, BRILHAVA MAIS FORTE DO QUE NUNCA.

PORQUE ELA ERA, ENFIM, SAL DA TERRA, LUZ DO MUNDO. ELA HAVIA CONQUISTADO UM LUGAR NO CORAÇÃO DO MESTRE JESUS.