ERA UMA VEZ, EM UM VILAREJO À BEIRA-MAR CHAMADO BAÍA DO SOL, UMA MENINA CHAMADA LUNA, DE APENAS NOVE ANOS. ELA TINHA CABELOS NEGROS COMO A NOITE E OLHOS BRILHANTES QUE PARECIAM CONTER ESTRELAS. MAS O QUE FAZIA LUNA SER DIFERENTE DAS OUTRAS CRIANÇAS ERA SUA CURIOSIDADE INFINITA — ESPECIALMENTE SOBRE PIRATAS.

TODAS AS NOITES, SEU AVÔ, O VELHO MARINHEIRO ELIAS, LHE CONTAVA HISTÓRIAS INCRÍVEIS SOBRE MARES DISTANTES, TESOUROS ESCONDIDOS E PIRATAS DESTEMIDOS. MAS HAVIA UMA HISTÓRIA QUE LUNA AMAVA MAIS QUE TODAS: A DO PIRATA DA ILHA DA PRATA.

DIZIA A LENDA QUE, EM UMA ILHA ESQUECIDA PELO TEMPO, REPOUSAVA UM TESOURO FEITO INTEIRAMENTE DE PRATA MÁGICA — TÃO BRILHANTE QUE PODIA ILUMINAR A NOITE MAIS ESCURA. ESSE TESOURO PERTENCIA AO CAPITÃO BARBA-DE-BRUMA, UM PIRATA TEMIDO POR MUITOS, MAS COM UM CORAÇÃO DE OURO. SEGUNDO ELIAS, O CAPITÃO HAVIA ESCONDIDO SEU TESOURO PARA PROTEGER O MUNDO DE SUA MAGIA PODEROSA.

— MAS NINGUÉM JAMAIS ENCONTROU ESSA ILHA, VOVÔ? — PERGUNTAVA LUNA, COM OS OLHOS ARREGALADOS.

— MUITOS TENTARAM, MINHA ESTRELINHA DO MAR. MAS O MAPA DA ILHA DA PRATA SUMIU NO TEMPO... OU ASSIM PENSAM — RESPONDIA ELE COM UM SORRISO MISTERIOSO.

CERTA MANHÃ, ENQUANTO LUNA AJUDAVA O AVÔ A LIMPAR O SÓTÃO, ELA ENCONTROU UM BAÚ ANTIGO COBERTO DE POEIRA E CORDAS. DENTRO, HAVIA CONCHAS, BÚSSOLAS QUEBRADAS, MOEDAS ANTIGAS… E UM PEDAÇO DE PAPEL DOBRADO COM CUIDADO.

LUNA ABRIU O PAPEL E FICOU BOQUIABERTA.

ERA UM MAPA.

E BEM NO CENTRO, DESENHADA COM TINTA PRATEADA JÁ UM POUCO APAGADA, HAVIA UMA ILHA EM FORMA DE LUA CRESCENTE. ACIMA DELA, LIA-SE:

"AQUI REPOUSA A ILHA DA PRATA. QUE SÓ O CORAÇÃO PURO PODERÁ ENCONTRAR."

— VOVÔ! É O MAPA! — GRITOU LUNA.

ELIAS PEGOU O PAPEL, ANALISOU COM CUIDADO, E FICOU EM SILÊNCIO POR UM LONGO MOMENTO.

— LUNA… ESTE MAPA ERA DO MEU BISAVÔ. EU ACHAVA QUE ERA APENAS UMA LEMBRANÇA SEM VALOR. MAS TALVEZ… TALVEZ VOCÊ ESTEJA DESTINADA A ENCONTRÁ-LA.

NO DIA SEGUINTE, LUNA PARTIU COM SEU PEQUENO BARCO A VELA, O ESTRELA DO MAR, LEVANDO SÓ O ESSENCIAL: UMA BÚSSOLA, O MAPA, UM CADERNO DE ANOTAÇÕES, E SEU COLAR DE CONCHA — PRESENTE DE SUA MÃE.

O MAR ESTAVA CALMO, MAS A AVENTURA PROMETIA SER TUDO, MENOS TRANQUILA.

DURANTE TRÊS DIAS, LUNA NAVEGOU ENTRE GOLFINHOS SALTITANTES, CARDUMES COLORIDOS E NUVENS QUE PARECIAM BALEIAS. ELA SEGUIA CADA TRAÇO DO MAPA, MESMO QUANDO PARECIA NÃO FAZER SENTIDO.

NO QUARTO DIA, NUVENS NEGRAS COBRIRAM O CÉU. ONDAS CRESCERAM E O VENTO UIVOU COMO UM LOBO FAMINTO. UM REDEMOINHO SURGIU DE REPENTE, E PUXOU O BARCO PARA O CENTRO COM FORÇA.

LUNA GRITOU, TENTANDO CONTROLAR O LEME, MAS UMA ONDA GIGANTESCA A LANÇOU PARA O MAR.

TUDO FICOU ESCURO.

QUANDO ACORDOU, LUNA ESTAVA EM UMA PRAIA DE AREIA BRANCA E FINA. AO SEU LADO, O MAPA ESTAVA MOLHADO, MAS INTACTO.

ELA SE LEVANTOU E OLHOU AO REDOR. À FRENTE, HAVIA UMA FLORESTA CINTILANTE — AS FOLHAS DAS ÁRVORES BRILHAVAM COMO SE FOSSEM FEITAS DE PRATA.

ELA HAVIA CHEGADO.

A ILHA DA PRATA EXISTIA.

MARAVILHADA, LUNA CAMINHOU PELA FLORESTA, OUVINDO O CANTO DE PÁSSAROS INVISÍVEIS E O SUSSURRO DO VENTO ENTRE OS GALHOS. CADA PASSO FAZIA AS FOLHAS SE ILUMINAREM SOB SEUS PÉS. ERA COMO ANDAR EM UM SONHO.

MAS NEM TUDO ERA TÃO CALMO.

ATRÁS DE UMA GRANDE PEDRA PRATEADA, UM PAR DE OLHOS ESPIAVA LUNA COM ATENÇÃO.

— ORA, ORA… UMA GAROTINHA SOZINHA NA MINHA ILHA? — MURMUROU UMA VOZ ROUCA.

DO MATO SURGIU UMA FIGURA ALTA, VESTINDO UM CASACO DE COURO SURRADO, UM CHAPÉU DE TRÊS PONTAS, E UMA ESPADA PENDURADA NA CINTURA. ELE TINHA UM TAPA-OLHO DE COURO E UMA BARBA LONGA E BRANCA COMO ESPUMA DO MAR.

— VOCÊ É O... CAPITÃO BARBA-DE-BRUMA? — PERGUNTOU LUNA, TREMENDO.

— A PRÓPRIA LENDA — DISSE ELE, FAZENDO UMA REVERÊNCIA EXAGERADA. — E VOCÊ, PEQUENA NAVEGADORA, É A PRIMEIRA A ENCONTRAR MINHA ILHA EM MAIS DE CEM ANOS.

O CAPITÃO NÃO PARECIA MALVADO, MAS HAVIA ALGO MELANCÓLICO EM SEUS OLHOS. ELE CONVIDOU LUNA A SEGUIR ATÉ UMA CLAREIRA, ONDE HAVIA UMA GRANDE PEDRA COM INSCRIÇÕES ANTIGAS.

— A PRATA DESTA ILHA É MÁGICA, MENINA. PODE CURAR DOENÇAS, FAZER PLANTAS CRESCEREM EM SEGUNDOS E ATÉ ILUMINAR NOITES SEM LUAR. MAS NAS MÃOS ERRADAS, TRAZ DESTRUIÇÃO. POR ISSO, SÓ QUEM TEM O CORAÇÃO PURO PODE LEVAR O TESOURO — EXPLICOU O CAPITÃO.

LUNA OLHOU PARA A PEDRA, ONDE HAVIA UMA CAVIDADE EM FORMA DE CORAÇÃO. AO LADO, UMA PEQUENA CAIXA DE PRATA REPOUSAVA.

— DENTRO DESTA CAIXA ESTÁ A CHAVE PARA O TESOURO. MAS PARA ABRI-LA, VOCÊ PRECISA MOSTRAR SEU MAIOR VALOR — DISSE O CAPITÃO.

LUNA FICOU PENSATIVA. CORAGEM? INTELIGÊNCIA? GENEROSIDADE?

ENTÃO, LEMBROU-SE DE UMA COISA QUE SUA MÃE SEMPRE DIZIA: “O MAIOR VALOR DE ALGUÉM É AQUILO QUE ELA COMPARTILHA COM O MUNDO.”

LUNA TIROU DO PESCOÇO SEU COLAR DE CONCHA E O COLOCOU NA CAVIDADE.

NADA ACONTECEU.

ELA ENTÃO ABRIU SEU CADERNO DE ANOTAÇÕES E LEU EM VOZ ALTA:

— “MINHA MISSÃO É ENCONTRAR ALGO INCRÍVEL E COMPARTILHAR COM QUEM MAIS PRECISA. SE ENCONTRAR O TESOURO DA PRATA, LEVAREI UM POUCO PARA CURAR A DONA LURDES, AJUDAR A ESCOLA E CONSTRUIR BARCOS PARA QUEM PERDEU TUDO.”

NESSE INSTANTE, A PEDRA BRILHOU COM UMA LUZ SUAVE. A CAIXA SE ABRIU, REVELANDO UMA PEQUENA CHAVE FEITA INTEIRAMENTE DE PRATA RELUZENTE.

O CAPITÃO SORRIU, OS OLHOS MAREJADOS.

— VOCÊ PROVOU SER DIGNA. VENHA, O VERDADEIRO TESOURO A ESPERA.

ELES CAMINHARAM ATÉ UMA CAVERNA ESCONDIDA ATRÁS DE UMA CACHOEIRA PRATEADA. LÁ DENTRO, AS PAREDES ERAM COBERTAS POR VEIOS DE PRATA VIVA, QUE PULSAVA COMO SE TIVESSE CORAÇÃO. NO CENTRO, UMA ÁRVORE GIGANTESCA CRESCIA, COM FRUTOS QUE BRILHAVAM COMO ESTRELAS.

— ESSA ÁRVORE É A FONTE DA PRATA MÁGICA. LEVE APENAS O QUE PRECISA. A ILHA CUIDA DO RESTO — DISSE O CAPITÃO.

LUNA COLHEU ALGUMAS FOLHAS, ALGUNS FRUTOS, E UMA PEQUENA PEDRA DE PRATA, COLOCANDO TUDO EM SEU SACO.

— POR QUE VOCÊ NUNCA DEIXOU NINGUÉM ENCONTRAR ESTE LUGAR? — PERGUNTOU ELA.

— PORQUE, ATÉ HOJE, SÓ QUERIAM A PRATA PELO PODER. MAS VOCÊ QUER PARA AJUDAR. TALVEZ SEJA HORA DE O MUNDO CONHECER NOVAMENTE A MAGIA DA ILHA DA PRATA.

O CAPITÃO A ACOMPANHOU ATÉ A PRAIA, ONDE, MILAGROSAMENTE, SEU BARCO A ESPERAVA, NOVINHO EM FOLHA. ANTES DE PARTIR, ELE LHE DEU ALGO: UM COLAR COM UM PINGENTE DE PRATA EM FORMA DE ESTRELA.

— SEMPRE QUE PRECISAR VOLTAR, USE ISSO E SIGA O LUAR — DISSE ELE.

LUNA EMBARCOU, ACENANDO PARA O CAPITÃO, QUE DESAPARECEU LENTAMENTE NA NEBLINA PRATEADA DA ILHA.

QUANDO VOLTOU À BAÍA DO SOL, ENCONTROU TUDO COMO HAVIA DEIXADO — O CHEIRO DE MARESIA, AS GAIVOTAS VOANDO EM CÍRCULOS, O VELHO FAROL AINDA ACESO. ENTREGOU O BARCO AO AVÔ, QUE A ABRAÇOU SEM DIZER UMA PALAVRA, COMO SE SOUBESSE TUDO SEM PRECISAR OUVIR NADA.

GUARDOU A CHAVE PRATEADA NO FUNDO DE SUA GAVETA, AO LADO DO MAPA, AGORA UM POUCO MAIS DESBOTADO. NUNCA FALOU MUITO SOBRE O QUE VIU OU ENCONTROU. APENAS DIZIA, COM UM LEVE SORRISO:

— O MAR TEM SEGREDOS QUE SÓ CONTAM SUAS HISTÓRIAS A QUEM SABE ESCUTAR O SILÊNCIO ENTRE AS ONDAS.

E TODA NOITE, ANTES DE DORMIR, LUNA OLHAVA PARA O CÉU. ÀS VEZES, A ESTRELA DO PINGENTE AINDA BRILHAVA. OUTRAS VEZES, NÃO.

MAS ELA NUNCA DEIXOU DE ESPERAR A MARÉ CERTA.