HELENA ERA UMA MENINA DE 13 ANOS, CURIOSA, INTELIGENTE E COM UM OLHAR QUE PARECIA VER ALÉM DAS CORES COMUNS DO MUNDO. MORAVA COM SUA AVÓ, DONA NAIR, EM UMA PEQUENA CIDADE CERCADA POR COLINAS E CAMPOS DE LAVANDA. A CASA ERA ANTIGA, MAS ENCANTADORA, COM JANELAS AMPLAS E UM JARDIM QUE PARECIA SAÍDO DE UM LIVRO DE CONTOS DE FADAS.

DESDE PEQUENA, HELENA GOSTAVA DE OBSERVAR AS FLORES, CONVERSAR COM OS ANIMAIS DO QUINTAL E ANOTAR SEUS PENSAMENTOS EM UM CADERNO DE CAPA VERMELHA. MAS HAVIA UM VAZIO NO SEU PEITO QUE ELA NÃO CONSEGUIA EXPLICAR. APESAR DE TUDO AO SEU REDOR PARECER BONITO, ELA NÃO CONSEGUIA SE SENTIR VERDADEIRAMENTE FELIZ.

CERTA TARDE, AO EXPLORAR O SÓTÃO DA CASA DA AVÓ, HELENA ENCONTROU UMA CAIXINHA AZUL ESCONDIDA DENTRO DE UMA ANTIGA CÔMODA. CURIOSA, ABRIU-A E ENCONTROU UM FRASQUINHO DE VIDRO COM UMA ÚNICA PÍLULA DOURADA DENTRO. UM BILHETE AMARELADO DIZIA:

"PARA QUANDO A FELICIDADE PARECER DISTANTE DEMAIS. USE COM SABEDORIA."

HELENA FICOU INTRIGADA. SERIA UM REMÉDIO MÁGICO? UMA BRINCADEIRA DA JUVENTUDE DA VOVÓ? ELA DESCEU CORRENDO E MOSTROU À AVÓ, QUE EMPALIDECEU AO VER O OBJETO.

— ONDE VOCÊ ENCONTROU ISSO, MENINA? — PERGUNTOU DONA NAIR.

HELENA CONTOU SOBRE O SÓTÃO, E A AVÓ SE SENTOU, RESPIRANDO FUNDO.

— ESSA PÍLULA FOI FEITA POR UMA MULHER MUITO SÁBIA, CHAMADA ISADORA. DIZEM QUE ELA CONHECIA OS SEGREDOS DA ALMA E CONSEGUIA PREPARAR POÇÕES PARA CURAR TRISTEZAS PROFUNDAS. MAS ELA AVISAVA: SÓ SE DEVE USAR A PÍLULA QUANDO NÃO HOUVER MAIS NENHUM RAIO DE SOL NO CORAÇÃO.

NOS DIAS QUE SE SEGUIRAM, HELENA COMEÇOU A PRESTAR MAIS ATENÇÃO NAS PESSOAS AO SEU REDOR. PERCEBEU QUE MUITOS ADULTOS PARECIAM TRISTES, ANDAVAM APRESSADOS E RARAMENTE SORRIAM. ATÉ MESMO SUA MELHOR AMIGA, BIA, PARECIA DISTANTE E CALADA. HELENA TEVE VONTADE DE DAR A PÍLULA PARA BIA, MAS LEMBROU-SE DO AVISO DA AVÓ.

ENTÃO, DECIDIU INVESTIGAR MAIS SOBRE ISADORA, A MULHER QUE HAVIA CRIADO A PÍLULA. COM A AJUDA DA BIBLIOTECA DA ESCOLA E ALGUMAS HISTÓRIAS ANTIGAS DA CIDADE, DESCOBRIU QUE ISADORA VIVERA ALI HÁ MUITOS ANOS E QUE DEIXARA UM DIÁRIO MISTERIOSO ESCONDIDO EM ALGUM LUGAR.

COM A AJUDA DE BIA, QUE AOS POUCOS FOI SE ABRINDO NOVAMENTE, HELENA ENCONTROU O DIÁRIO DENTRO DE UMA VELHA ÁRVORE OCA NO PARQUE CENTRAL. AS PÁGINAS ESTAVAM DESGASTADAS, MAS LEGÍVEIS. LÁ, ISADORA FALAVA SOBRE EMOÇÕES, SOBRE A IMPORTÂNCIA DE SENTIR TRISTEZA, RAIVA, MEDO — E COMO CADA SENTIMENTO ERA UMA PARTE DO CAMINHO PARA A FELICIDADE.

UMA PASSAGEM CHAMOU ATENÇÃO DE HELENA:

"A PÍLULA SÓ FUNCIONA SE A ALMA JÁ TIVER APRENDIDO A DANÇAR COM A PRÓPRIA SOMBRA."

HELENA PERCEBEU QUE A FELICIDADE NÃO ERA ALGO QUE SE TOMAVA EM UMA PÍLULA. ERA ALGO CONSTRUÍDO, SENTINDO E ENFRENTANDO CADA MOMENTO DA VIDA, MESMO OS DIFÍCEIS. DECIDIU COMEÇAR A ESCREVER CARTAS ANÔNIMAS PARA OS VIZINHOS, COM PALAVRAS DE CARINHO E CORAGEM. COM BIA, CRIOU UM CLUBE DO BEM-ESTAR NA ESCOLA, ONDE TODOS PODIAM FALAR SOBRE SEUS SENTIMENTOS.

E, POUCO A POUCO, HELENA COMEÇOU A SENTIR ALGO DIFERENTE DENTRO DE SI. NÃO ERA UMA EXPLOSÃO DE ALEGRIA, MAS UMA CALMA, UMA LUZ SUAVE, COMO SE O SOL TIVESSE VOLTADO A BRILHAR, MESMO NOS DIAS NUBLADOS.

MESES SE PASSARAM. A CAIXINHA AZUL CONTINUAVA GUARDADA NA ESTANTE DE HELENA. UM DIA, ELA ACORDOU COM O CORAÇÃO APERTADO — SUA AVÓ HAVIA SIDO LEVADA AO HOSPITAL. ERA UMA GRIPE FORTE, MAS PARA ALGUÉM DA IDADE DE DONA NAIR, ERA PREOCUPANTE.

HELENA PASSOU A NOITE EM CLARO, OLHANDO A PÍLULA E PENSANDO. MAS LEMBROU-SE DAS PALAVRAS DE ISADORA. RESPIROU FUNDO, PEGOU SEU CADERNO VERMELHO E COMEÇOU A ESCREVER SOBRE SUAS MEMÓRIAS COM A AVÓ: OS BOLOS, AS HISTÓRIAS, OS ABRAÇOS APERTADOS. CHOROU, SIM, MAS SENTIU-SE MAIS LEVE DEPOIS.

DONA NAIR MELHOROU E VOLTOU PARA CASA. AO VÊ-LA NO JARDIM, RODEADA DE FLORES, HELENA TOMOU UMA DECISÃO: ENTERROU A CAIXINHA AZUL SOB A MACIEIRA QUE ELAS HAVIAM PLANTADO JUNTAS ANOS ATRÁS.

— POR QUE ENTERROU A PÍLULA? — PERGUNTOU A AVÓ, SURPRESA.

— PORQUE A VERDADEIRA FELICIDADE É SABER QUE POSSO ENFRENTAR A TRISTEZA — RESPONDEU HELENA. — NÃO PRECISO DE MÁGICA PARA ISSO. PRECISO DE CORAGEM, AMOR E MEMÓRIAS BOAS.

DONA NAIR SORRIU, COM OS OLHOS MAREJADOS, E ABRAÇOU A NETA.

ANOS DEPOIS, SOB A SOMBRA DA MACIEIRA, UMA MENINA FOLHEAVA UM CADERNO DE CAPA VERMELHA. ERA A FILHA DE HELENA, QUE AGORA ERA PSICÓLOGA E ESCRITORA. NO CADERNO, HAVIA HISTÓRIAS, REFLEXÕES E DESENHOS.

NO FIM DO CADERNO, UM ENVELOPE DIZIA: "PARA QUANDO VOCÊ ACHAR QUE NÃO CONSEGUE MAIS. LEIA E LEMBRE-SE: VOCÊ É FEITA DE LUZ, MESMO QUANDO TUDO PARECE ESCURO."

A MENINA SORRIU, FECHOU O CADERNO E CORREU PARA O JARDIM, ONDE A MACIEIRA FLORESCIA.