ERA UMA VEZ, NAS PROFUNDEZAS DO OCEANO AZUL-ESVERDEADO, UM PEIXINHO CURIOSO CHAMADO PINDUCA. ELE ERA PEQUENO, COM ESCAMAS PRATEADAS QUE CINTILAVAM COMO A LUZ DAS ESTRELAS QUANDO ALGUM RAIO DE SOL OUSAVA ALCANÇAR AS REGIÕES MAIS BAIXAS DO MAR. PINDUCA MORAVA EM UMA ENSEADA ESCONDIDA ATRÁS DE UM RECIFE DE CORAIS COLORIDOS, JUNTO COM SEUS MELHORES AMIGOS: A LULA LILI, O CAVALO-MARINHO ZÉ BOLHA E A TARTARUGA TECA.

PINDUCA ERA O MAIS SONHADOR DO GRUPO. SEMPRE FAZIA PERGUNTAS SOBRE O MUNDO ALÉM DA ÁGUA, SOBRE A LUZ QUE VINHA DE CIMA E O QUE HAVIA DEPOIS DAS SOMBRAS PROFUNDAS DO OCEANO. UM DIA, ELE NADAVA PENSATIVO QUANDO COMENTOU COM OS AMIGOS:

— VOCÊS JÁ IMAGINARAM COMO SERIA VIVER SOB A LUZ DO SOL O TEMPO TODO?

TECA RIU, COM SUA VOZ ARRASTADA E TRANQUILA:

— AH, PINDUCA... O SOL É COISA DE SUPERFÍCIE. NÓS SOMOS CRIATURAS DAS CORRENTES E DAS MARÉS.

MAS ZÉ BOLHA, SEMPRE ANIMADO, ARREGALOU OS OLHOS:

— JÁ PENSOU SE A GENTE PUDESSE TRAZER O SOL ATÉ AQUI? A ÁGUA IA BRILHAR O TEMPO TODO! SERÍAMOS OS PRIMEIROS A TER UM MAR ILUMINADO!

LILI, MAIS PRÁTICA, SACUDIU SEUS TENTÁCULOS:

— NÃO DÁ PARA TRAZER O SOL, ZÉ. ELE É ENORME E QUENTE DEMAIS. MAS... TALVEZ EXISTA UMA FORMA DE ENCONTRAR ALGO PARECIDO. ALGO QUE TRAGA LUZ SEM QUEIMAR.

E ASSIM, PLANTOU-SE A IDEIA DA AVENTURA. PINDUCA E SUA TURMA DECIDIRAM PARTIR EM BUSCA DE UM ARTEFATO LENDÁRIO QUE, SEGUNDO HISTÓRIAS ANTIGAS, PODERIA TRAZER LUZ AO FUNDO DO MAR. CHAMAVAM-NO DE "CORAÇÃO DO SOL" — UMA PÉROLA MÍSTICA CAPAZ DE EMITIR BRILHO PRÓPRIO, PERDIDA HÁ MILÊNIOS NAS PROFUNDEZAS ABISSAIS.

A PREPARAÇÃO FOI BREVE, POIS A EMPOLGAÇÃO ERA MUITA. GUIADOS POR MAPAS ANTIGOS DESENHADOS EM CONCHAS E RECIFES, OS AMIGOS NADARAM POR FLORESTAS DE ALGAS GIGANTES, ATRAVESSARAM CÂNIONS SUBMARINOS E ESCAPARAM POR POUCO DAS ARMADILHAS DE UM POLVO MAL-HUMORADO CHAMADO TUFÃO.

NO CAMINHO, ENCONTRARAM UMA COMUNIDADE DE PEIXES-LANTERNA QUE CONTARAM MAIS SOBRE O TAL CORAÇÃO DO SOL:

— ELE FOI CRIADO POR UM CORAL ENCANTADO, QUE UM DIA BRILHOU TANTO QUE PARECIA O PRÓPRIO SOL — CONTOU UM PEIXE-LANTERNA ANCIÃO. — MAS QUANDO OS PEIXES COMEÇARAM A BRIGAR POR SUA LUZ, O CORAL SE ESCONDEU NAS PROFUNDEZAS, ABANDONANDO A PÉROLA.

COM ESSA INFORMAÇÃO, A TURMA SEGUIU PARA A TRILHA DAS SOMBRAS, UM LOCAL TÃO ESCURO QUE ATÉ AS ÁGUAS PARECIAM DORMIR. ALI, CADA UM TEVE QUE ENFRENTAR SEUS MEDOS. TECA VIU-SE PRESA EM REDES DE LEMBRANÇAS ANTIGAS; LILI FOI CONFRONTADA POR ILUSÕES QUE A CONFUNDIAM; ZÉ BOLHA PERDEU O RUMO E QUASE DESISTIU. MAS PINDUCA, COM SEU ESPÍRITO CURIOSO E CORAÇÃO VALENTE, MANTEVE TODOS UNIDOS.

AO CHEGAREM NO FUNDO DO TRONO DAS ROCHAS NEGRAS, ENCONTRARAM UM SER LENDÁRIO: O GUARDIÃO ABISSAL. ERA UM PEIXE COLOSSAL, COM OLHOS COMO LANTERNAS E DENTES COMO CORAIS PARTIDOS. ELE PROTEGIA O CORAÇÃO DO SOL.

— POR QUE QUEREM A LUZ, PEQUENOS? — PERGUNTOU O GUARDIÃO, COM UMA VOZ QUE FAZIA O CHÃO TREMER.

PINDUCA, MESMO TREMENDO DE MEDO, RESPONDEU:

— QUEREMOS ILUMINAR O FUNDO DO MAR, NÃO POR VAIDADE, MAS PARA QUE MAIS CRIATURAS POSSAM VIVER COM ALEGRIA, VER AS CORES, CONTAR HISTÓRIAS SOB A LUZ.

O GUARDIÃO OS OBSERVOU LONGAMENTE. ENTÃO, MOVEU-SE LENTAMENTE E REVELOU, DENTRO DE UMA CONCHA GIGANTE, A PÉROLA DOURADA. SUA LUZ ERA QUENTE, MAS GENTIL, COMO UM ABRAÇO DE MANHÃ.

— LEVEM-NA, MAS LEMBREM-SE: A LUZ SÓ TEM VALOR SE COMPARTILHADA.

E ASSIM, COM O CORAÇÃO DO SOL, PINDUCA E SUA TURMA VOLTARAM À ENSEADA. INSTALARAM A PÉROLA NO CENTRO DO RECIFE, E A LUZ ESPALHOU-SE SUAVE E CONSTANTE. ALGAS FLORESCERAM, PEIXES VIERAM DE LONGE PARA CONHECER A MARAVILHA. UM NOVO CICLO COMEÇOU, ONDE DIA E NOITE TINHAM OUTRA FORMA DE EXISTIR.

MAS O QUE NINGUÉM ESPERAVA ERA QUE, COM O TEMPO, A PRESENÇA DA LUZ COMEÇOU A ALTERAR O EQUILÍBRIO DO ECOSSISTEMA AO REDOR. ALGUMAS CRIATURAS, ACOSTUMADAS À ESCURIDÃO, COMEÇARAM A SE AFASTAR. OUTRAS, QUE NUNCA TINHAM VIVIDO SOB A CLARIDADE, FICARAM DESORIENTADAS.

— ACHO QUE A LUZ ESTÁ INCOMODANDO ALGUNS VIZINHOS — COMENTOU LILI, OBSERVANDO UM CARDUME DE PEIXES-FANTASMA INDO EMBORA.

— TALVEZ... TALVEZ TENHAMOS EXAGERADO — DISSE TECA, PREOCUPADA.

PINDUCA SENTIU UM APERTO NO CORAÇÃO. ELE SÓ QUERIA FAZER ALGO BOM PARA TODOS. REUNIU A TURMA E TIVERAM UMA LONGA CONVERSA SOB O BRILHO DOURADO DA PÉROLA.

FOI ENTÃO QUE TIVERAM UMA NOVA IDEIA: POR QUE NÃO DIVIDIR O CORAÇÃO DO SOL EM FRAGMENTOS MENORES E DISTRIBUÍ-LOS ENTRE AS COMUNIDADES DO FUNDO DO MAR? ASSIM, CADA REGIÃO PODERIA RECEBER UM POUCO DE LUZ, SEM OFUSCAR A BELEZA NATURAL DA ESCURIDÃO.

COM AJUDA DO GUARDIÃO ABISSAL, QUE RETORNOU PARA ORIENTÁ-LOS, CONSEGUIRAM DIVIDIR A PÉROLA COM CUIDADO. CADA PEDAÇO FOI LEVADO COM RESPEITO E CARINHO PARA UM NOVO LAR: CAVERNAS ESCURAS, RECIFES ABANDONADOS, TOCAS ESQUECIDAS.

LOGO, O FUNDO DO MAR TORNOU-SE UM LUGAR DE BRILHOS PONTUAIS, PEQUENOS SÓIS ESPALHADOS POR ENTRE AS CORRENTES. E A LUZ, AGORA EQUILIBRADA, PASSOU A UNIR EM VEZ DE AFASTAR.

PINDUCA E SUA TURMA, SATISFEITOS COM O RESULTADO, VOLTARAM À ENSEADA. A ROTINA RETOMOU, COM NOVAS HISTÓRIAS PARA CONTAR, JOGOS PARA INVENTAR E MUITOS MERGULHOS EM DIREÇÃO AO DESCONHECIDO.

NAQUELA NOITE, SOB A ÁGUA ILUMINADA SUAVEMENTE POR UM FRAGMENTO DO CORAÇÃO DO SOL, OS AMIGOS DESCANSARAM EM SILÊNCIO. E O MAR, COMO SEMPRE, CONTINUOU A SE MOVER, CHEIO DE SEGREDOS E POSSIBILIDADES.