AS ESTRELAS GIRAVAM LENTAMENTE NO FIRMAMENTO, COMO SE ESTIVESSEM PRESAS A UMA DANÇA MILENAR E SILENCIOSA. FLUTUANDO NO ESPAÇO, UMA CÁPSULA DE RESGATE SEGUIA À DERIVA ENTRE OS DESTROÇOS DE UMA FROTA DESTRUÍDA, CRUZANDO AS ROTAS ESTELARES DO SETOR ORIONIS-9. DENTRO DELA, UM JOVEM DE CABELOS ESCUROS, PELE MARCADA POR CICATRIZES FINAS E OLHOS DA COR DO MAR APÓS A TEMPESTADE, ABRIU OS OLHOS SEM SABER QUEM ERA, DE ONDE VINHA OU POR QUE ESTAVA ALI. NADA. NEM UM NOME. APENAS UM SÍMBOLO GRAVADO NO PAINEL DA CÁPSULA — O BRASÃO DO IMPÉRIO DE VARYON, COMPOSTO POR UMA ESTRELA NEGRA ENVOLTA EM TRÊS ANÉIS.

NO IMPÉRIO GALÁCTICO DE VARYON, A SOCIEDADE ERA ESTRUTURADA EM TRÊS ORDENS DE COMANDOS: OS LÂMINAS ESTELARES, GUERREIROS CORPO A CORPO COM ESPADAS DE PLASMA E ARMADURAS CINÉTICAS; OS TECNO-MAGOS, ESPECIALISTAS EM MANIPULAR A ENERGIA QUÂNTICA, CAPAZES DE FAZER "MAGIA" ATRAVÉS DA TECNOLOGIA; E OS EXPLORADORES DO VAZIO, PILOTOS E MERCADORES QUE ATRAVESSAVAM O HIPERESPAÇO COM PRECISÃO E INSTINTO SOBRENATURAL.

FOI UMA NAVE DE EXPLORADORES QUE ENCONTROU A CÁPSULA. O CARGUEIRO BRILHO DE KORLAN, COMANDADO PELA CAPITÃ MIRA KAEL, O RESGATOU E O LEVOU PARA BORDAK II, UM PLANETA OCEÂNICO HABITADO POR QUATRO FORMAS DISTINTAS DE VIDA: OS HUMANOS COLONOS; OS SELENITAS, CRIATURAS ANFÍBIAS QUE CONTROLAVAM CORRENTES MARÍTIMAS COM CANÇÕES GUTURAIS; OS NUAR, SERES ALADOS QUE MIGRAVAM ENTRE CONTINENTES FLUTUANTES; E OS DARR, ORGANISMOS BIO-MECÂNICOS ORIGINADOS DA FUSÃO DE METAL E SER VIVO, QUE VIVIAM NAS PROFUNDEZAS.

A BORDO DA NAVE E DEPOIS EM SOLO FIRME — OU, MELHOR, SOBRE PLATAFORMAS FLUTUANTES DE BORDAK II — O JOVEM FICOU CONHECIDO APENAS COMO KAI, NOME DADO PELA PEQUENA MECÂNICA SELI, QUE LHE ENTREGOU UM PEIXE AZUL RECÉM-PESCADO E DISSE QUE COMBINAVA COM SEUS OLHOS. COM O PASSAR DOS DIAS, DESCOBRIU QUE SEU CORPO SE MOVIA COM PRECISÃO EM COMBATE, QUE COMPREENDIA IDIOMAS QUE NUNCA OUVIRA ANTES E QUE, AO TOCAR CERTOS ARTEFATOS, PODIA SENTIR FRAGMENTOS DE EMOÇÕES ALHEIAS. ERA COMO SE UMA PARTE ESQUECIDA DELE ESTIVESSE SEMPRE À ESPREITA, ESPERANDO SER DESPERTADA.

MAS KAI QUERIA MAIS DO QUE SOBREVIVER — QUERIA DESCOBRIR QUEM ERA, POR QUE ESTAVA PERDIDO, E O QUE SIGNIFICAVAM OS PESADELOS COM UMA ESTRELA NEGRA QUE CHORAVA SANGUE METÁLICO.

ELE COMEÇOU COMO TODOS OS AVENTUREIROS FAZEM: AJUDANDO EM TAREFAS SIMPLES NO MERCADO DE ONDALUNE, UM DISTRITO FLUTUANTE ONDE HUMANOS E SELENITAS TROCAVAM PESCADO POR CRISTAIS DE ENERGIA. APRENDEU A COZINHAR COM RALK, UM DARR MESTRE DA CULINÁRIA — SEUS PRATOS ERAM ESTRANHAMENTE DELICIOSOS, MESMO FEITOS COM ALGAS BIOLUMINESCENTES E CARNE DE POLVO-FANTASMA. DEPOIS FOI ENVIADO PARA AS PLATAFORMAS DE TREINAMENTO, ONDE ENFRENTOU BESTAS MARÍTIMAS EM SIMULAÇÕES, PESCOU CRIATURAS NAS CORRENTES DE VÉU, E ATÉ DUELOU COM NUAR EM PLENO VOO COM O AUXÍLIO DE UMA MOCHILA PROPULSORA.

DURANTE ESSE TEMPO, UMA FIGURA O OBSERVAVA DAS SOMBRAS: O TECNO-MAGO ALTHAR, UMA ENTIDADE CERCADA POR RUMORES, QUE DIZIA TER SERVIDO NA GUARDA DO NÚCLEO — O CÍRCULO MAIS ÍNTIMO DO IMPERADOR VARYON VII.

KAI NÃO SABIA, MAS ERA PROCURADO EM VÁRIOS SISTEMAS. SEU ROSTO APARECIA EM CARTAZES DIGITAIS EM IDIOMAS CIFRADOS: “RECUPERAR VIVO — PRIORIDADE MÁXIMA”. HAVIA ALGO NELE QUE INTERESSAVA AO ALTO COMANDO DO IMPÉRIO… OU AMEAÇAVA SEUS SEGREDOS.

AO LADO DE SELI, QUE ADAPTOU SUA ROUPA COM PLACAS RECICLADAS DE EXO-ARMADURA, KAI COMEÇOU A EXPLORAR OS ARREDORES DE BORDAK II. PARTICIPOU DE CAÇADAS AOS RASTROS DOS KRALL, PREDADORES INTERESTELARES QUE VINHAM ROUBAR OS OVOS DOS SELENITAS. DESCOBRIU UMA CAVERNA SUBMARINA ONDE OS DARR FABRICAVAM ARTEFATOS COM MEMÓRIAS LÍQUIDAS, CAPAZES DE MOSTRAR CENAS DO PASSADO. QUANDO TOCOU UM DESSES, VIU UMA CENA PERTURBADORA: ELE MESMO, TRAJANDO UMA ARMADURA NEGRA COM O BRASÃO DO IMPÉRIO, CORTANDO UM TECNO-MAGO AO MEIO E GRITANDO PALAVRAS QUE NÃO ENTENDIA, MAS SENTIA. RAIVA. DOR. DESESPERO.

— VOCÊ ERA UM LÂMINA ESTELAR. — DISSE ALTHAR, QUANDO KAI O CONFRONTOU. — UM DOS MAIS TEMIDOS. MAS VOCÊ... SE VOLTOU CONTRA ELES. ALGO EM VOCÊ QUEBROU. E FUGIU.

— POR QUÊ?

— PORQUE VOCÊ VIU O QUE NINGUÉM MAIS TEVE CORAGEM DE VER. O IMPÉRIO… NÃO PROTEGE. ELE DEVORA.

A PARTIR DESSE MOMENTO, KAI DECIDIU SEGUIR AS PISTAS DO QUE VIU NA MEMÓRIA LÍQUIDA. PARTIU COM SELI E UM PEQUENO GRUPO DE AVENTUREIROS PARA OUTROS PLANETAS DO SETOR ÔMEGA: EM ZINDARA, UM MUNDO DE FLORESTAS INVERTIDAS, CAÇOU BESTAS ETÉREAS COM OS NUAR; EM THEROX, UM PLANETA DESÉRTICO DE COMÉRCIO NÔMADE, TRABALHOU COM OS EXPLORADORES VENDENDO MINERAIS RAROS E TESTANDO ESPECIARIAS ALUCINÓGENAS. EM CADA LUGAR, COLETAVA FRAGMENTOS DE SI MESMO: UM GESTO FAMILIAR, UMA FRASE QUE DISPARAVA LEMBRANÇAS, UMA DOR QUE RECONHECIA.

NA CAPITAL DO IMPÉRIO, ZERITH-PRIME, RUMORES CRESCIAM: REBELIÕES EM COLÔNIAS DISTANTES, UMA NOVA FORÇA SE ORGANIZANDO NAS SOMBRAS. KAI COMEÇOU A RECEBER MENSAGENS CODIFICADAS EM SUAS ARMAS E EQUIPAMENTOS: FRASES COMO “A VERDADE DORME EM DAL’KORITH” E “LIBERTE OS SETE QUE SELARAM A ESTRELA”.

AO RETORNAR A BORDAK II, DESCOBRIU QUE MIRA KAEL FORA CAPTURADA POR TROPAS IMPERIAIS. ALTHAR, SELI E OS ALIADOS QUE FIZERA AO LONGO DA JORNADA SE REUNIRAM EM UM ANTIGO TEMPLO SELENITA, ONDE O GRUPO PLANEJOU UM RESGATE AUDACIOSO. FOI ALI QUE KAI DESCOBRIU UM ARTEFATO LENDÁRIO: O CORAÇÃO DE LYS, UMA ESPADA-VIVA FEITA DE CRISTAL ENTOANTE, QUE REAGIA À PRESENÇA DE QUEM CARREGAVA MEMÓRIAS BLOQUEADAS.

AO EMPUNHÁ-LA, KAI VIU TUDO: SUA INFÂNCIA EM UMA LUA DEVASTADA, TREINADO DESDE CEDO COMO LÂMINA ESTELAR; A DESCOBERTA DE EXPERIMENTOS FEITOS EM POPULAÇÕES INTEIRAS POR ORDENS DO ALTO CONSELHO; SUA TRAIÇÃO, QUANDO LIBERTOU PRISIONEIROS E MATOU O PRÓPRIO MESTRE; SUA FUGA E O RITUAL DE ESQUECIMENTO, FEITO POR ALTHAR, PARA PROTEGÊ-LO.

AGORA, A DECISÃO ERA SUA. VOLTAR AO IMPÉRIO PARA DESTRUÍ-LO POR DENTRO? OU CONTINUAR COMO UM SÍMBOLO DE RESISTÊNCIA NOS MUNDOS ESQUECIDOS?

ELE ESCOLHEU O TERCEIRO CAMINHO: UM AVENTUREIRO LIVRE, GUIADO PELAS MEMÓRIAS QUE FINALMENTE RECUPERAVA E PELAS NOVAS QUE DECIDIA CONSTRUIR.

EM MEIO ÀS BATALHAS, ÀS EXPLORAÇÕES E AOS JANTARES IMPROVISADOS COM SELI E OS DEMAIS, KAI DESCOBRIU QUE A VERDADEIRA IDENTIDADE NÃO ERA UM DADO FIXO, MAS UMA SOMA DE ESCOLHAS. E A SUA ESCOLHA ERA LUTAR POR UM NOVO IMPÉRIO — NÃO FEITO DE ESTRELAS NEGRAS E COMANDO MILITAR, MAS DE LAÇOS, DE MAGIA E DE LIBERDADE.

NOS ANOS SEGUINTES, HISTÓRIAS SE ESPALHARAM COMO POEIRA ESTELAR: O JOVEM SEM MEMÓRIA QUE UNIU PLANETAS, QUE PESCOU COM SELENITAS E DUELOU COM DARR, QUE COZINHAVA COMO UM MESTRE E DUELAVA COMO UM REI, QUE INVOCAVA RELÂMPAGOS COM PALAVRAS ESQUECIDAS E NAVEGAVA NEBULOSAS EM BUSCA DE RESPOSTAS.

KAI — O NOME QUE COMEÇOU COMO UM APELIDO QUALQUER — SE TORNAVA UMA LENDA.

MAS SE ALGUÉM PERGUNTASSE A ELE, EM UMA NOITE TRANQUILA AO REDOR DE UMA FOGUEIRA ESTELAR, QUEM ELE ERA, ELE SORRIRIA E DIRIA:

— APENAS UM AVENTUREIRO. O RESTO... O RESTO ESTOU DESCOBRINDO.

NOS LIMITES DO SETOR FRAKTIS, UMA ZONA PROIBIDA PELAS ROTAS COMERCIAIS DO IMPÉRIO, KAI E SUA TRIPULAÇÃO RASTREAVAM UMA TRANSMISSÃO CODIFICADA ORIGINADA DE UM SATÉLITE ANTIGO, DESATIVADO HÁ SÉCULOS. A BORDO DA NAVE SERENA VAGA, MODIFICADA POR SELI COM PROPULSORES DE DOBRA DE FREQUÊNCIA VARIÁVEL, O GRUPO APROXIMOU-SE DO NÚCLEO CONGELADO DO QUE PARECIA SER UM PLANETA MORTO.

MAS NÃO HAVIA MORTE ALI — APENAS SILÊNCIO.

— A FREQUÊNCIA ECOA DENTRO DE UMA ESTRUTURA SUBTERRÂNEA — DISSE ALTHAR, OS OLHOS BRUXULEANDO COM ENERGIA AZULADA. — É DE DAL'KORITH.

KAI SE ENRIJECEU. ESSE NOME VOLTAVA A ELE COMO UM ECO. ERA ALI, SEGUNDO AS MENSAGENS CIFRADAS, QUE OS "SETE" HAVIAM SELADO A ESTRELA.

DESCERAM POR UMA FENDA PROFUNDA, ONDE VENTOS CORTAVAM COMO NAVALHAS. AS PAREDES ERAM LISAS, QUASE VÍTREAS, E VIBRAVAM COM UMA MÚSICA IMPERCEPTÍVEL. OS NUAR CHAMAVAM AQUILO DE "O CANTO DO FIM", UMA MELODIA ANTIGA QUE SÓ PODIA SER OUVIDA POR QUEM HAVIA PERDIDO ALGO MUITO PRECIOSO.

NO CENTRO DA CRATERA, UMA CÂMARA OCTOGONAL SE ABRIU DIANTE DELES. SETE PILARES FLUTUAVAM AO REDOR DE UM PRISMA NEGRO. E DENTRO DO PRISMA, HAVIA UMA PRESENÇA VIVA — ALGO PULSANTE, IMENSO, FAMINTO. KAI SE APROXIMOU, SENTINDO UMA MEMÓRIA QUE NÃO ERA SUA PASSAR POR SEUS OSSOS.

— ISSO... ISSO É UMA PRISÃO, NÃO UM SANTUÁRIO — MURMUROU SELI, RECUANDO.

ALTHAR SE AJOELHOU DIANTE DO PRISMA. — A ESTRELA NEGRA NÃO ERA APENAS SÍMBOLO DO IMPÉRIO. ERA SUA FONTE. O QUE ALIMENTAVA A EXPANSÃO, O PODER, A DOMINAÇÃO. ELES A SELARAM AQUI QUANDO PERCEBERAM O CUSTO. E OS SETE, QUE FIZERAM ISSO, FORAM APAGADOS DA HISTÓRIA.

— E VOCÊ SABIA? — KAI PERGUNTOU, VOZ GRAVE.

— SEMPRE SOUBE. MAS A VERDADE SÓ TEM VALOR QUANDO ALGUÉM TEM FORÇA PARA CARREGÁ-LA.

KAI TOCOU O PRISMA. SENTIU A ESSÊNCIA VIVA ALI DENTRO EMPURRAR SUA MENTE, TENTANDO ENTRAR. VIU IMAGENS: MUNDOS DEVASTADOS, CIDADES ENGOLIDAS POR LUZ NEGRA, CRIANÇAS TRANSFORMADAS EM GUERREIROS SEM ALMA. A ESTRELA ERA FOME. ERA PODER ABSOLUTO — E A LOUCURA QUE ELE TRAZIA.

MAS HAVIA OUTRA COISA. PARTE DELE ESTAVA LÁ DENTRO.

— EU FUI CRIADO COM ISSO... — MURMUROU. — NÃO SÓ TREINADO. MOLDADO. ALIMENTADO POR ESSA ENERGIA. FOI POR ISSO QUE LUTEI COM TANTA FÚRIA. POR ISSO... POR ISSO EU FUGI. NÃO LUTEI CONTRA O IMPÉRIO. LUTEI CONTRA MIM MESMO.

SELI PEGOU SUA MÃO.

— VOCÊ NÃO É MAIS ISSO. VOCÊ ESCOLHEU SER MAIS. E AGORA... PRECISA DECIDIR DE NOVO.

OS PILARES COMEÇARAM A GIRAR EM TORNO DO PRISMA. O SELO ESTAVA ENFRAQUECENDO. A ENERGIA DA ESTRELA NEGRA SE AGITAVA, REAGINDO À PRESENÇA DE SEU ANTIGO AVATAR. KAI TINHA DUAS OPÇÕES: RESTAURAR O SELO, MANTENDO A FONTE APRISIONADA E CONDENANDO O IMPÉRIO A SE REESTRUTURAR — OU LIBERTAR A ESTRELA E ABSORVER SEU PODER PARA DESTRUÍ-LO POR COMPLETO, ARRISCANDO TORNAR-SE O QUE MAIS TEMIA.

ELE FECHOU OS OLHOS.

E ENTÃO SORRIU.

— HÁ UM TERCEIRO CAMINHO.

USANDO O CORAÇÃO DE LYS, CANALIZOU NÃO O PODER DA ESTRELA, MAS SUAS MEMÓRIAS. CADA PESSOA QUE SALVARA. CADA CRIATURA QUE CONHECERA. CADA RISO COM SELI. CADA PRATO COZINHADO COM RALK. CADA DANÇA COM OS NUAR NOS VENTOS DE ZINDARA. CADA PEQUENO MOMENTO QUE HAVIA LHE MOSTRADO QUE O UNIVERSO ERA MAIS DO QUE GUERRA.

O PRISMA RACHOU. A ESTRELA NEGRA RUGIU. MAS, AO INVÉS DE SE LIBERTAR, FOI ABSORVIDA POR KAI — NÃO COMO UM DEUS VINGATIVO, MAS COMO UM FOGO CONTROLADO, UMA LEMBRANÇA DE TUDO QUE PODERIA TER SIDO E NÃO FOI.

ELE NÃO SE TRANSFORMOU EM ALGO MONSTRUOSO. TORNOU-SE COMPLETO.

NOS DIAS SEGUINTES, A QUEDA DO IMPÉRIO FOI RÁPIDA. SEM A ESTRELA, OS SISTEMAS SE REBELARAM, AS FORÇAS SE DIVIDIRAM. MAS KAI NÃO LIDEROU NENHUMA FROTA. ELE SE RETIROU.

JUNTO DE SELI, VOLTOU A BORDAK II. REABRIU O ANTIGO MERCADO DE ONDALUNE, COZINHOU PRATOS PARA VIAJANTES, ENSINOU JOVENS A LUTAR E A PESCAR, OUVIU HISTÓRIAS NAS NOITES ESTELARES. SEU NOME VIROU CANÇÃO, SUA FIGURA, MITO.

MAS ÀQUELES QUE O ENCONTRAVAM, ELE DIZIA O MESMO:

— O QUE FUI... NÃO IMPORTA. O QUE SOU, É ESCOLHA MINHA. E A CADA NOVO DIA, ESCOLHO VIVER, NÃO POR GLÓRIA, MAS POR TODAS AS PEQUENAS MARAVILHAS QUE AINDA EXISTEM.

PRISMA RACHOU. A ESTRELA NEGRA RUGIU. MAS, AO INVÉS DE SE LIBERTAR, FOI ABSORVIDA POR KAI — NÃO COMO UM DEUS VINGATIVO, MAS COMO UM FOGO CONTROLADO, UMA LEMBRANÇA DE TUDO QUE PODERIA TER SIDO E NÃO FOI.

ELE NÃO SE TRANSFORMOU EM ALGO MONSTRUOSO. TORNOU-SE COMPLETO.

NOS DIAS SEGUINTES, A QUEDA DO IMPÉRIO FOI RÁPIDA. SEM A ESTRELA, OS SISTEMAS SE REBELARAM, AS FORÇAS SE DIVIDIRAM. MAS KAI NÃO LIDEROU NENHUMA FROTA. ELE SE RETIROU.

JUNTO DE SELI, VOLTOU A BORDAK II. VIU AS PLATAFORMAS FLUTUANTES RENASCEREM EM FESTIVAIS, OS MERCADOS CANTAREM EM MIL LÍNGUAS, OS JOVENS TREINANDO NÃO PARA GUERRA, MAS PARA AVENTURAS. AINDA EMPUNHAVA A ESPADA, MAS AGORA ELA ERA SÍMBOLO — NÃO DE DOMÍNIO, MAS DE ESCOLHA.

NUMA NOITE SILENCIOSA, SENTADO NA PROA DA SERENA VAGA, NAVEGANDO SOZINHO PELAS MARÉS DAS LUAS LÍQUIDAS, KAI OLHOU PARA AS ESTRELAS. NÃO EM BUSCA DE RESPOSTAS. MAS COMO QUEM REENCONTRA UM VELHO AMIGO.

ELE NÃO PRECISAVA MAIS LEMBRAR QUEM ERA.  PORQUE AGORA, ELE SABIA PARA ONDE ESTAVA INDO