AS MONTANHAS ARAT SE ERGUIAM ALTAS E IMPONENTES NO HORIZONTE, SEPARANDO OS REINOS DE SUR-AKAN E NIR-AKAN COMO UMA MURALHA DE PEDRA. DIZIAM QUE ATRAVESSAR ESSA CORDILHEIRA ERA QUASE IMPOSSÍVEL, A NÃO SER POR UMA TRILHA ESTREITA E ANTIGA QUE POUCOS CONHECIAM. ERA UM LUGAR CERCADO DE LENDAS, MONSTROS E MISTÉRIOS ESQUECIDOS PELO TEMPO.

MILENA, UMA ARQUEIRA ESPERTA E CORAJOSA, ABRIU OS OLHOS COM DIFICULDADE. SUA CABEÇA LATEJAVA, E O BALANÇO RITMADO DO QUE PARECIA SER UMA CARROÇA FAZIA SEU ESTÔMAGO REVIRAR. AO SEU LADO, VICTOR, UM JOVEM MAGO DE CABELOS BAGUNÇADOS E OLHOS CURIOSOS, TAMBÉM ACORDAVA, PISCANDO COM DIFICULDADE PARA TENTAR ENTENDER ONDE ESTAVA.

— ONDE... ONDE A GENTE ESTÁ? — MILENA SUSSURROU.

VICTOR OLHOU AO REDOR. ELES ESTAVAM PRESOS, COM OS PULSOS AMARRADOS POR CORDAS GROSSAS. A CARROÇA ERA COBERTA POR UM PANO ESCURO, QUE DEIXAVA PASSAR APENAS ALGUNS RAIOS DE LUZ. ALÉM DELES, HAVIA MAIS DOIS JOVENS: RAFI, UM GUERREIRO QUE USAVA UM LENÇO VERMELHO NA CABEÇA, E LUNA, UMA LADRA DE OLHAR DESCONFIADO E RÁPIDOS MOVIMENTOS. NINGUÉM SABIA COMO TINHAM IDO PARAR ALI.

— ALGUÉM SE LEMBRA DE ALGUMA COISA? — LUNA PERGUNTOU.

TODOS BALANÇARAM A CABEÇA. TINHAM MEMÓRIAS CONFUSAS, COMO SE TIVESSEM SIDO ENFEITIÇADOS. A CARROÇA PAROU BRUSCAMENTE. VOZES FORAM OUVIDAS DO LADO DE FORA, MAS ESTAVAM MUITO ABAFADAS PARA ENTENDER. ENTÃO, A LONA FOI PUXADA E UMA LUZ FORTE ENTROU, CEGANDO-OS POR UM MOMENTO. UM HOMEM ENCAPUZADO APARECEU E DISSE:

— BEM-VINDOS À VILA DE ABADIR. SEU DESTINO SERÁ DECIDIDO LÁ.

SEM ENTENDER O QUE AQUILO SIGNIFICAVA, OS JOVENS FORAM LEVADOS PARA UMA PEQUENA CELA DE PEDRA NO MEIO DA VILA. AS CASAS ERAM SIMPLES, FEITAS DE MADEIRA E PEDRA, E OS MORADORES PARECIAM ASSUSTADOS, COMO SE ESCONDESSEM ALGO.

DURANTE A NOITE, UM VELHO CHAMADO EDRAN APARECEU NA CELA. ELE ERA O ANCIÃO DA VILA E TRAZIA INFORMAÇÕES IMPORTANTES.

— VOCÊS FORAM ENCONTRADOS DESACORDADOS NA ENTRADA DA FLORESTA. ESTAVAM COM UM AMULETO MUITO ANTIGO, ALGO PERIGOSO. TIVEMOS QUE TRANCÁ-LOS ATÉ ENTENDER O QUE ESTÁ ACONTECENDO.

MILENA FRANZIU A TESTA.

— QUE AMULETO?

EDRAN MOSTROU UM PEQUENO OBJETO BRILHANTE, COM SÍMBOLOS ESTRANHOS.

— ISSO FOI ACHADO COM VOCÊS. PERTENCE AO SUBTERRÂNEO DE ARAT, UM LUGAR PROIBIDO.

NO DIA SEGUINTE, UM ESTRONDO ABALOU A VILA. ALGO VIERA DA FLORESTA. CRIATURAS ESCURAS, COM OLHOS BRILHANTES E FORMAS DISTORCIDAS, INVADIRAM ABADIR. O CAOS SE ESPALHOU. OS JOVENS CONSEGUIRAM ESCAPAR DA CELA NO MEIO DA CONFUSÃO E SE ESCONDERAM NA FLORESTA SOMBRIA.

ERA UM LUGAR ASSUSTADOR, COM ÁRVORES TORTAS E UM NEVOEIRO CONSTANTE. A CADA PASSO, PARECIA QUE ESTAVAM SENDO OBSERVADOS. TINHAM QUE SOBREVIVER. RAFI CONSEGUIU FAZER ARMAS IMPROVISADAS COM GALHOS E PEDRAS. LUNA ACHOU FRUTAS COMESTÍVEIS. MILENA LIDERAVA O GRUPO, E VICTOR USAVA O POUCO DE MAGIA QUE LEMBRAVA PARA PROTEGÊ-LOS.

MAS ALGO ESTAVA ERRADO. A FLORESTA NÃO ERA APENAS SOMBRIA. ERA VIVA. SUSSURRAVA. GUIAVA. AOS POUCOS, ELES PERCEBERAM QUE ESTAVAM SENDO LEVADOS PARA UM LUGAR ESPECÍFICO: UMA ENTRADA SECRETA NAS MONTANHAS ARAT. LÁ, ENCONTRARAM UM PORTÃO DE PEDRA COM OS MESMOS SÍMBOLOS DO AMULETO.

VICTOR COLOCOU O AMULETO NO CENTRO DO PORTÃO. ELE BRILHOU, E A ENTRADA SE ABRIU, REVELANDO UM CAMINHO PARA O SUBTERRÂNEO.

LÁ DENTRO, O GRUPO ENFRENTOU PERIGOS AINDA MAIORES. CORREDORES ESCUROS, ARMADILHAS ANTIGAS, E CRIATURAS DAS TREVAS. DESCOBRIRAM QUE UMA FORÇA ANTIGA ESTAVA DESPERTANDO. UM ANTIGO FEITICEIRO, SELADO HÁ SÉCULOS, TENTAVA VOLTAR AO MUNDO ATRAVÉS DO AMULETO.

— ELE ESTÁ TENTANDO ROMPER A BARREIRA ENTRE OS REINOS — EXPLICOU VICTOR. — SE CONSEGUIR, AS TREVAS DOMINARÃO TUDO.

NUMA BATALHA FINAL DENTRO DO CORAÇÃO DA MONTANHA, OS JOVENS USARAM TUDO O QUE TINHAM APRENDIDO. RAFI ENFRENTOU OS MONSTROS COM CORAGEM, LUNA DESATIVOU ARMADILHAS, MILENA ACERTOU UMA FLECHA CERTEIRA NO PONTO FRACO DO FEITICEIRO, E VICTOR USOU O PODER DO AMULETO PARA SELAR NOVAMENTE O MAL.

QUANDO TUDO TERMINOU, A MONTANHA TREMEU, MAS LOGO O SILÊNCIO VOLTOU. O GRUPO SAIU PELA MESMA PASSAGEM, AGORA FECHADA NOVAMENTE. FORAM RECEBIDOS PELOS MORADORES DE ABADIR COMO HERÓIS.

EDRAN SORRIU.

— VOCÊS MUDARAM O DESTINO DESTA TERRA. OBRIGADO.

COM OS CORAÇÕES CHEIOS DE CORAGEM, OS JOVENS DECIDIRAM CONTINUAR JUNTOS. HAVIA OUTROS MISTÉRIOS NO MUNDO. OUTRAS AVENTURAS OS ESPERAVAM. MAS SABIAM QUE, ACONTECESSE O QUE ACONTECESSE, JAMAIS ESQUECERIAM O QUE VIVERAM NAS MONTANHAS ARAT.

DIAS DEPOIS, O GRUPO ACAMPAVA À BEIRA DE UM RIACHO, JÁ LONGE DE ABADIR. O AMULETO, AGORA ADORMECIDO, PERMANECIA COM VICTOR, GUARDADO COM TODO CUIDADO.

— SENTEM ISSO? — PERGUNTOU LUNA. — O AR... ESTÁ DIFERENTE.

DE REPENTE, UMA NOVA LUZ BRILHOU NO AMULETO. ERA FRACA, MAS CONSTANTE. MILENA SE LEVANTOU E OLHOU PARA O NORTE.

— ACHO QUE NOSSA JORNADA ESTÁ APENAS COMEÇANDO.

E ENTÃO, COM MOCHILAS NAS COSTAS, OLHOS ATENTOS E ESPERANÇA RENOVADA, OS QUATRO SEGUIRAM EM FRENTE. AGORA, NÃO ERAM APENAS AVENTUREIROS. ERAM OS GUARDIÕES DAS SOMBRAS DE ARAT.

CAMINHARAM POR VÁRIOS DIAS EM DIREÇÃO AO NORTE, GUIADOS PELO BRILHO DO AMULETO QUE OSCILAVA CONFORME SE APROXIMAVAM DE ALGO DESCONHECIDO. NA BEIRA DE UMA MONTANHA MAIS BAIXA, ENCONTRARAM UM ANTIGO TEMPLO EM RUÍNAS, PARCIALMENTE COBERTO POR RAÍZES E MUSGO. LÁ, HAVIA MURAIS QUE CONTAVAM A HISTÓRIA DE UM SEGUNDO ARTEFATO: A LÂMINA DE LURIAN, UMA ESPADA FORJADA PARA PROTEGER O MUNDO DA SOMBRA ETERNA.

— SEGUNDO OS DESENHOS, ELA FOI DIVIDIDA EM TRÊS PARTES E ESPALHADA PELOS REINOS PARA IMPEDIR QUE FOSSE USADA PARA O MAL — DISSE VICTOR, OBSERVANDO ATENTAMENTE OS SÍMBOLOS.

— ENTÃO NOSSA MISSÃO AINDA NÃO ACABOU — COMENTOU MILENA. — PRECISAMOS ENCONTRAR ESSAS PARTES.

ELES DECIDIRAM SEGUIR EM DIREÇÃO AO PRIMEIRO LOCAL INDICADO NO MURAL: O DESFILADEIRO DE VARUN, NA FRONTEIRA LESTE DE NIR-AKAN. ATRAVESSARAM RIOS GELADOS, ENFRENTARAM LOBOS FAMINTOS E PASSARAM NOITES GELADAS AO RELENTO. MAS NADA OS DETINHA.

AO CHEGAREM AO DESFILADEIRO, DESCOBRIRAM QUE A PRIMEIRA PARTE DA ESPADA ESTAVA PROTEGIDA POR UM ESPÍRITO ANTIGO: UM DRAGÃO DE PEDRA QUE SÓ DESPERTAVA DIANTE DA CORAGEM VERDADEIRA. RAFI FOI QUEM SE APROXIMOU PRIMEIRO, DE PEITO ABERTO E SEM ARMAS.

— NÃO VIEMOS LUTAR. VIEMOS RESTAURAR A PAZ.

O DRAGÃO, COM OLHOS BRILHANTES COMO CRISTAIS, ANALISOU O GRUPO E, LENTAMENTE, REVELOU UMA PARTE DA LÂMINA ESCONDIDA SOB SUAS ASAS.

— VOCÊS TÊM O CORAÇÃO PURO. LEVEM-NA. MAS LEMBREM-SE: A SOMBRA OS SEGUIRÁ ENQUANTO CARREGAREM ESSE FARDO.

AGORA COM A PRIMEIRA PARTE DA LÂMINA DE LURIAN EM MÃOS, OS QUATRO AMIGOS SABIAM QUE A JORNADA SERIA AINDA MAIS PERIGOSA. MAS TAMBÉM MAIS IMPORTANTE. POIS O DESTINO DO MUNDO DEPENDIA DO QUE FARIAM A SEGUIR.

DIAS DEPOIS, CHEGARAM À FLORESTA DE NEVRIN, ONDE, SEGUNDO O MAPA DO TEMPLO, ESTAVA A SEGUNDA PARTE DA ESPADA. MAS A FLORESTA ESTAVA TOMADA POR UMA NÉVOA LILÁS QUE FAZIA COM QUE TODOS OS SENTIDOS FICASSEM CONFUSOS. ELES SE AMARRARAM COM CORDAS PARA NÃO SE PERDEREM UNS DOS OUTROS E SEGUIRAM CAUTELOSAMENTE.

ENQUANTO AVANÇAVAM, SOMBRAS DO PASSADO COMEÇARAM A APARECER DIANTE DE CADA UM DELES: ERROS ANTIGOS, MEDOS, PESSOAS QUE HAVIAM ABANDONADO. ERA UM TESTE DA FLORESTA.

MILENA VIU SUA IRMÃ DESAPARECIDA, CHAMANDO POR AJUDA. VICTOR OUVIU A VOZ DO MESTRE QUE HAVIA FALECIDO. RAFI VIU UM VELHO RIVAL, E LUNA, SEU PAI, QUE ELA ACHAVA TER SIDO UM TRAIDOR. PRECISARAM LEMBRAR QUE AQUILO NÃO ERA REAL E FOCAR NA MISSÃO.

NO CENTRO DA FLORESTA, ACHARAM UM LAGO COM ÁGUAS BRILHANTES. DENTRO DELE, A SEGUNDA PARTE DA LÂMINA REPOUSAVA. MAS UM ESPÍRITO GUARDIÃO APARECEU E DECLAROU:

— PARA LEVAREM A ESPADA, DEVEM DEIXAR UM PEDAÇO DE SI.

VICTOR, SEM HESITAR, MERGULHOU. AO SAIR, TRAZIA A PARTE DA LÂMINA... E OS CABELOS COMPLETAMENTE BRANCOS. HAVIA PERDIDO PARTE DE SUA ENERGIA VITAL, MAS SORRIU.

— VALEU A PENA. ESTAMOS MAIS PERTO.

AGORA, RESTAVA APENAS UMA PARTE DA LÂMINA. E RUMORES FALAVAM QUE ESTAVA GUARDADA NA TORRE DO VENTO, UMA CONSTRUÇÃO ESQUECIDA ENTRE AS NUVENS, SÓ ACESSÍVEL POR UM ANTIGO ELEVADOR MÁGICO ESCONDIDO NAS COLINAS DE SERION.

COM CORAGEM RENOVADA, O GRUPO SEGUIU VIAGEM, SABENDO QUE O QUE OS ESPERAVA NÃO ERA APENAS O FIM DE UMA MISSÃO..., MAS O COMEÇO DE ALGO AINDA MAIOR.

NA BASE DA TORRE DO VENTO, ENFRENTARAM UM ÚLTIMO DESAFIO: O PRÓPRIO TEMPO. LÁ DENTRO, O TEMPO CORRIA MAIS RÁPIDO, E CADA SEGUNDO CUSTAVA HORAS DE SUAS VIDAS. MAS JUNTOS, PROTEGENDO UNS AOS OUTROS, CHEGARAM AO TOPO.

ALI, ENCONTRARAM A ÚLTIMA PARTE DA LÂMINA DE LURIAN, CRAVADA EM UM PEDESTAL DE CRISTAL. AO UNIR AS TRÊS PARTES, UMA EXPLOSÃO DE LUZ ENVOLVEU O GRUPO.

— VOCÊS SÃO AGORA OS GUARDIÕES DA LUZ PERDIDA — DISSE UMA VOZ ANCESTRAL. — A ESCURIDÃO PODE VOLTAR, MAS ENQUANTO SEUS CORAÇÕES PERMANECEREM UNIDOS, ELA NUNCA VENCERÁ.

E ENTÃO, COMO POR MAGIA, FORAM LEVADOS DE VOLTA À CLAREIRA ONDE TUDO COMEÇARA.

DESTA VEZ, SABIAM QUEM ERAM. O MUNDO ESTAVA MAIS SEGURO. MAS A AVENTURA NUNCA TERMINA DE VERDADE. PORQUE ONDE HOUVER CORAGEM, HAVERÁ SEMPRE UMA NOVA HISTÓRIA PARA VIVER.