LÉO ERA UM MENINO ESPECIAL. DESDE QUE NASCEU, SEUS PÉS E TORNOZELOS NÃO FUNCIONAVAM COMO OS DAS OUTRAS CRIANÇAS. ELE NÃO CONSEGUIA CORRER, PULAR OU BRINCAR DE ESCONDE-ESCONDE. TODOS OS DIAS, BEM CEDO, SEUS PAIS O LEVAVAM ATÉ A GRANDE PORTA DOURADA DO TEMPLO, A MAIS BONITA DE TODAS, CHAMADA FORMOSA.

LÁ, LÉO SENTAVA-SE EM UMA MANTA COLORIDA, ESTENDIA A MÃO E ESPERAVA. ESPERAVA PELAS MOEDAS, PELOS SORRISOS, PELOS OLHARES BONDOSOS. ERA ASSIM QUE AJUDAVA EM CASA: COM AS ESMOLAS QUE GANHAVA.

MAS NAQUELE DIA, ALGO EXTRAORDINÁRIO ESTAVA PARA ACONTECER.

O MENINO DA PORTA

ENQUANTO O SOL NASCIA E PINTAVA O CÉU DE LARANJA, LÉO ARRUMAVA SUAS PEDRINHAS COLORIDAS — SEU PASSATEMPO FAVORITO — AO LADO DA MANTA. ELE CONVERSAVA COM AS PESSOAS, SORRIA MESMO QUANDO O IGNORAVAM, E ERA AMIGO DOS POMBOS QUE VINHAM BELISCAR MIGALHAS AO SEU REDOR.

APESAR DAS DIFICULDADES, LÉO ERA CHEIO DE VIDA POR DENTRO. SONHAVA COM MUITAS COISAS: EM CORRER, JOGAR BOLA, NADAR NO LAGO..., MAS SEU MAIOR SONHO ERA ENTRAR NO TEMPLO. ELE VIA GENTE DE TODAS AS IDADES PASSANDO POR ALI E IMAGINAVA COMO DEVIA SER LINDO LÁ DENTRO. MAS SÓ QUEM PODIA ANDAR E ESTIVESSE LIMPO PODIA ENTRAR. E ELE, COM SUAS PERNAS IMÓVEIS E ROUPAS DE MENDIGO, NUNCA FORA ALÉM DA PORTA FORMOSA.

DOIS ESTRANHOS DIFERENTES

NAQUELA TARDE, LÉO JÁ ESTAVA CANSADO. HAVIA SIDO UM DIA QUENTE, E POUCOS HAVIAM PARADO PARA AJUDAR. FOI QUANDO ELE VIU DOIS HOMENS SE APROXIMANDO. ERAM DIFERENTES — SEUS OLHOS BRILHAVAM COM ALGO QUE LÉO NÃO CONSEGUIA EXPLICAR. UM DELES ERA MAIS VELHO, TINHA BARBA ESPESSA E OLHOS FIRMES. O OUTRO PARECIA CALMO E SORRIA COMO SE JÁ CONHECESSE LÉO.

ELE FEZ O QUE SEMPRE FAZIA: ESTENDEU A MÃO E DISSE COM A VOZ DOCE:

— UMA ESMOLA, POR FAVOR?

OS DOIS HOMENS PARARAM. O MAIS VELHO SE AGACHOU À ALTURA DE LÉO E DISSE ALGO ESTRANHO:

— OLHA PARA NÓS.

LÉO LEVANTOU OS OLHOS, SURPRESO. AS PESSOAS NORMALMENTE NÃO O OLHAVAM DIRETO. QUANDO O FAZIA, VIA DESPREZO OU PENA. MAS AQUELES OLHOS… NÃO TINHAM NADA DISSO. TINHAM FORÇA. CORAGEM. AMOR.

— NÃO TENHO PRATA NEM OURO — CONTINUOU O HOMEM. — MAS O QUE TENHO, EU TE DOU. EM NOME DE JESUS CRISTO, O NAZARENO: LEVANTA-TE E ANDA!

ANTES QUE LÉO PUDESSE ENTENDER O QUE ESTAVA ACONTECENDO, O HOMEM SEGUROU SUA MÃO COM FIRMEZA. FOI COMO SE UMA ONDA DE CALOR PERCORRESSE TODO O SEU CORPO. SEUS PÉS FORMIGARAM, SEUS TORNOZELOS SE MEXERAM — PELA PRIMEIRA VEZ NA VIDA.

LÉO OLHOU, ARREGALANDO OS OLHOS.

— EU… ESTOU DE PÉ?

E ENTÃO, COMO SE O MUNDO INTEIRO GRITASSE “SIM”, LÉO SALTOU.

PULOU, CORREU, GIROU COMO UM PIÃO. RIU ALTO, MAIS ALTO DO QUE JAMAIS HAVIA RIDO. SEUS OLHOS SE ENCHERAM DE LÁGRIMAS, E ELE NEM SE IMPORTOU. SENTIA-SE LEVE, SOLTO, VIVO.

UM NOVO CAMINHO

— ESPERA! — ELE GRITOU, CORRENDO ATRÁS DOS DOIS HOMENS. — EU QUERO IR COM VOCÊS!

OS HOMENS RIRAM, FELIZES COM A EMPOLGAÇÃO DO MENINO.

— CLARO! VENHA CONOSCO — DISSE O MAIS JOVEM.

E LÉO PASSOU PELA PORTA FORMOSA — NÃO CARREGADO, NEM ARRASTADO, MAS CORRENDO, PULANDO, LOUVANDO A DEUS.

O TEMPLO ERA AINDA MAIS BONITO DO QUE ELE IMAGINAVA. AS COLUNAS ERAM ENORMES, OS TETOS ALTOS, E HAVIA CANTOS POR ONDE A LUZ ENTRAVA FORMANDO DESENHOS MÁGICOS NO CHÃO. MAS O QUE MAIS O ENCANTAVA ERA O SOM: VOZES LOUVANDO, ORAÇÕES SINCERAS, GENTE EM COMUNHÃO.

ELE GIRAVA NO MEIO DA MULTIDÃO, DANÇAVA, AGRADECIA. “OBRIGADO, DEUS! OBRIGADO, JESUS! EU POSSO ANDAR! EU POSSO VIVER!”

AS PESSOAS O OLHAVAM, ESPANTADAS. ALGUMAS MURMURAVAM:

— NÃO É AQUELE MENINO DA PORTA? O QUE ACONTECEU COM ELE?

— É ELE SIM! O QUE HOUVE?

E A NOTÍCIA SE ESPALHOU COMO VENTO NO DESERTO. TODOS QUERIAM VER O MILAGRE COM OS PRÓPRIOS OLHOS.

O NOME DE JESUS

PEDRO — ERA ASSIM QUE SE CHAMAVA O HOMEM MAIS VELHO — SUBIU EM UM DEGRAU E, VENDO A MULTIDÃO REUNIDA, FALOU COM VOZ FIRME:

— IRMÃOS! POR QUE ESTÃO TÃO ADMIRADOS? ACHAM QUE FOI POR NOSSO PODER OU SANTIDADE QUE FIZEMOS ESTE MENINO ANDAR? NÃO! FOI PELO NOME DE JESUS CRISTO, AQUELE QUE VOCÊS CRUCIFICARAM, MAS QUE DEUS RESSUSCITOU DOS MORTOS! FOI PELA FÉ NESSE NOME QUE ESTE MENINO FOI CURADO. NÃO POR NÓS, MAS POR ELE!

LÉO, AO OUVIR O NOME DE JESUS, SENTIU O CORAÇÃO BATER MAIS FORTE. ELE NÃO SABIA MUITO SOBRE AQUELE HOMEM, MAS SABIA QUE, POR CAUSA DELE, AGORA ELE PODIA CORRER, BRINCAR E SONHAR. QUERIA APRENDER MAIS. QUERIA SEGUIR ESSE TAL JESUS.

O PEQUENO MISSIONÁRIO

NOS DIAS QUE SEGUIRAM, LÉO NÃO VOLTOU À PORTA FORMOSA PARA PEDIR ESMOLAS. AGORA ELE TINHA UMA MISSÃO MAIOR. COM SUAS PERNINHAS NOVAS E ÁGEIS, CORRIA PELAS RUAS, CONTANDO A TODOS O QUE ACONTECERA.

— EI, VOCÊ AÍ! SABIA QUE JESUS PODE CURAR O SEU CORAÇÃO?

— QUER OUVIR UMA HISTÓRIA DE VERDADE? EU TENHO UMA INCRÍVEL!

— EU ERA COXO, MAS AGORA ANDO! TUDO POR CAUSA DE JESUS!

AS CRIANÇAS O SEGUIAM, ENCANTADAS. OS ADULTOS PARAVAM PARA OUVI-LO. ALGUNS ACREDITAVAM, OUTROS RIAM. MAS LÉO NÃO SE IMPORTAVA. SEU CORAÇÃO ERA CHEIO DE GRATIDÃO, E SUA VIDA, AGORA, ERA UMA CANÇÃO DE ESPERANÇA.

UMA NOVA PORTA

UM DIA, JÁ BEM MAIS CRESCIDO, LÉO LEVOU SEU FILHO ATÉ A MESMA PORTA ONDE COSTUMAVA FICAR. SENTARAM-SE JUNTOS, E ELE CONTOU:

— AQUI, MEU FILHO, FOI ONDE TUDO MUDOU. EU NÃO PODIA ANDAR. VIVIA PEDINDO ESMOLAS. MAS DOIS HOMENS ME TROUXERAM ALGO MUITO MAIOR QUE MOEDAS. ELES ME DERAM FÉ. E A FÉ ME LEVOU ATÉ JESUS.

O MENINO OLHOU PARA O PAI COM OS OLHOS BRILHANDO.

— E EU POSSO CONHECER ESSE JESUS TAMBÉM?

LÉO SORRIU.

— CLARO QUE PODE. ELE ESTÁ BEM AQUI, NO NOSSO CORAÇÃO. E SEMPRE ESTARÁ, EM CADA PASSO QUE DAMOS.

E ENTÃO, DE MÃOS DADAS, PAI E FILHO ENTRARAM NO TEMPLO PELA PORTA FORMOSA. NÃO COMO PEDINTES. MAS COMO TESTEMUNHAS VIVAS DE UM MILAGRE.