ERA UMA MANHÃ CLARA, E O SOL BRILHAVA SOBRE AS COLINAS AO REDOR DE JERUSALÉM. UM VENTO SUAVE SOPRAVA ENTRE AS ÁRVORES DO MONTE DAS OLIVEIRAS, ESPALHANDO O PERFUME DAS FLORES SILVESTRES PELO AR. LÁ EMBAIXO, ENTRE DUAS PEQUENAS VILAS CHAMADAS BETFAGÉ E BETÂNIA, UM GRUPO DE VIAJANTES SEGUIA PELA ESTRADA DE TERRA, CONVERSANDO EM VOZ BAIXA. À FRENTE DE TODOS, CAMINHAVA UM HOMEM DE OLHAR SERENO E PASSOS FIRMES: JESUS.

JESUS NÃO ERA COMO OS OUTROS MESTRES QUE O POVO CONHECIA. ELE FALAVA COM BONDADE, CURAVA OS DOENTES, ABRAÇAVA AS CRIANÇAS E ENSINAVA O AMOR ACIMA DE TUDO. E AGORA, ELE SEGUIA PARA JERUSALÉM, A GRANDE CIDADE ONDE MUITOS ACREDITAVAM QUE ALGO MUITO IMPORTANTE ESTAVA PRESTES A ACONTECER.

ENQUANTO CAMINHAVA, JESUS PAROU, OLHOU PARA O HORIZONTE E CHAMOU DOIS DE SEUS AMIGOS MAIS PRÓXIMOS, TIAGO E ANDRÉ.

— QUERO QUE VOCÊS VÃO ATÉ AQUELE POVOADO ALI ADIANTE — DISSE JESUS, APONTANDO COM A MÃO. — LOGO NA ENTRADA, VOCÊS ENCONTRARÃO UM JUMENTINHO AMARRADO, QUE NUNCA FOI MONTADO POR NINGUÉM. DESAMARREM O ANIMAL E TRAGAM-NO PARA MIM.

TIAGO COÇOU A CABEÇA, CONFUSO.

— MAS, MESTRE... E SE O DONO DO JUMENTINHO NÃO QUISER QUE A GENTE O LEVE?

JESUS SORRIU, COM AQUELE JEITO CALMO QUE SEMPRE DEIXAVA TODOS TRANQUILOS.

— SE ALGUÉM PERGUNTAR, DIGAM APENAS: “O SENHOR PRECISA DELE”.

OS DOIS DISCÍPULOS SE ENTREOLHARAM, DERAM DE OMBROS E PARTIRAM ESTRADA AFORA.

O VILAREJO ERA PEQUENO, COM RUAS ESTREITAS DE PEDRA E CASAS SIMPLES FEITAS DE BARRO E MADEIRA. HAVIA ALGUMAS MULHERES CARREGANDO JARROS D’ÁGUA, CRIANÇAS CORRENDO ATRÁS DE GALINHAS E VELHOS SENTADOS À SOMBRA, CONVERSANDO SOBRE OS DIAS ANTIGOS. E, LOGO NA ENTRADA, EXATAMENTE COMO JESUS DISSERA, LÁ ESTAVA ELE: UM JUMENTINHO, PRESO A UMA ESTACA, COM O PELO BRILHANTE E OS OLHOS CURIOSOS.

TIAGO SE ABAIXOU E COMEÇOU A SOLTAR O NÓ DA CORDA ENQUANTO ANDRÉ OLHAVA AO REDOR, NERVOSO. NÃO DEMOROU MUITO PARA UM HOMEM ALTO, DE BARBA BRANCA, APARECER À PORTA DE UMA DAS CASAS.

— EI! O QUE ESTÃO FAZENDO COM MEU JUMENTINHO?

TIAGO ENGOLIU EM SECO. ERA A HORA DE DIZER AS PALAVRAS EXATAS QUE JESUS TINHA ENSINADO.

— O SENHOR PRECISA DELE — RESPONDEU, COM FIRMEZA.

O HOMEM FICOU EM SILÊNCIO POR UM INSTANTE, OBSERVANDO OS DOIS. ENTÃO, COMO SE TIVESSE OUVIDO ALGO QUE APENAS O CORAÇÃO PODIA COMPREENDER, ASSENTIU COM A CABEÇA.

— SE O SENHOR PRECISA... LEVEM-NO EM PAZ.

TIAGO E ANDRÉ VOLTARAM APRESSADOS, PUXANDO O JUMENTINHO QUE CAMINHAVA OBEDIENTE, COMO SE SOUBESSE QUE ESTAVA PRESTES A VIVER ALGO MUITO ESPECIAL.

QUANDO CHEGARAM AONDE JESUS ESTAVA, OUTROS DISCÍPULOS SE APROXIMARAM. ELES TIRARAM SEUS MANTOS — PEDAÇOS DE PANO QUE USAVAM SOBRE A ROUPA PARA SE PROTEGER DO SOL E DO VENTO — E OS COLOCARAM SOBRE O LOMBO DO ANIMAL, FORMANDO UMA ESPÉCIE DE SELA IMPROVISADA. JESUS SUBIU COM A AJUDA DELES, SENTANDO-SE SUAVEMENTE SOBRE O JUMENTINHO.

E ASSIM COMEÇOU A JORNADA PARA JERUSALÉM, MAS NÃO COMO UMA SIMPLES CAMINHADA. AGORA, ERA COMO UM DESFILE, UMA CELEBRAÇÃO.

ENQUANTO SEGUIAM CAMINHO, AS PESSOAS VINHAM DE TODOS OS LADOS. ALGUMAS ESTENDIAM SEUS PRÓPRIOS MANTOS NO CHÃO, COMO SE ESTIVESSEM FAZENDO UM TAPETE REAL. OUTRAS CORTAVAM RAMOS DE PALMEIRAS E OS BALANÇAVAM NO AR, GRITANDO COM ALEGRIA:

— HOSANA! BENDITO O REI QUE VEM EM NOME DO SENHOR!

AS CRIANÇAS PULAVAM E CORRIAM NA FRENTE, CANTANDO CANÇÕES ALEGRES. OS MAIS VELHOS CHORAVAM EMOCIONADOS, LEMBRANDO DAS ANTIGAS PROMESSAS DE QUE UM DIA VIRIA UM REI JUSTO E BONDOSO PARA SALVAR O POVO.

A ESTRADA QUE LEVAVA A JERUSALÉM ESTAVA CHEIA DE GENTE. HOMENS, MULHERES, JOVENS E IDOSOS DEIXAVAM SUAS CASAS, SEUS TRABALHOS, SUAS PREOCUPAÇÕES — TODOS CORRIAM PARA VER JESUS PASSAR.

A FAMA DELE HAVIA SE ESPALHADO POR TODA A REGIÃO. MUITOS ALI TINHAM OUVIDO AS HISTÓRIAS: O CEGO QUE VOLTOU A ENXERGAR, A MENINA QUE ELE TROUXE DE VOLTA À VIDA, O PARALÍTICO QUE ANDOU, OS PÃES QUE ALIMENTARAM UMA MULTIDÃO. JESUS NÃO ERA APENAS UM HOMEM BOM — PARA MUITOS, ELE ERA O TÃO ESPERADO REI, O SALVADOR.

E ALI ESTAVA ELE, MONTADO HUMILDEMENTE EM UM JUMENTINHO, NÃO NUM CAVALO ALTO E ELEGANTE COMO OS REIS GUERREIROS, MAS NUM ANIMAL SIMPLES, SÍMBOLO DE PAZ. ERA DIFERENTE DE TUDO O QUE SE ESPERAVA DE UM REI. E MESMO ASSIM — OU TALVEZ POR CAUSA DISSO — O POVO O ACLAMAVA COM AINDA MAIS ENTUSIASMO.

— HOSANA! HOSANA NAS ALTURAS! VIVA O REI! — GRITAVAM COM VOZES CHEIAS DE ESPERANÇA.

ALGUNS JOGAVAM FLORES NO CHÃO, OUTRAS PESSOAS BATIAM PALMAS E CANTAVAM. UM GRUPO DE CRIANÇAS COMEÇOU A FORMAR UM CORAL IMPROVISADO, ENTOANDO HINOS QUE HAVIAM APRENDIDO NOS ENCONTROS DE ORAÇÃO. ERA COMO SE TODA A NATUREZA ESTIVESSE EM FESTA.

ATÉ OS ANIMAIS PARECIAM MAIS ALEGRES NAQUELE DIA. PÁSSAROS CANTAVAM DO ALTO DAS ÁRVORES. CÃES ABANAVAM O RABO ACOMPANHANDO A MULTIDÃO. E O JUMENTINHO — AH, O JUMENTINHO! — MARCHAVA FIRME, ORGULHOSO DE CARREGAR NAS COSTAS O MAIS ESPECIAL DE TODOS OS PASSAGEIROS.

MAS NEM TODOS ESTAVAM FELIZES COM AQUELA CELEBRAÇÃO.

ENTRE A MULTIDÃO, ALGUNS FARISEUS — HOMENS IMPORTANTES DA LEI, QUE NÃO ENTENDIAM QUEM ERA JESUS DE VERDADE — COMEÇARAM A FRANZIR A TESTA E COCHICHAR ENTRE SI.

— ISSO É UM ABSURDO — DISSE UM DELES. — UM HOMEM SIMPLES, SENDO TRATADO COMO REI!

— ISSO PODE CAUSAR CONFUSÃO! — RESPONDEU OUTRO. — É MELHOR QUE ELE MANDE ESSE POVO SE CALAR.

ELES SE APROXIMARAM DE JESUS E DISSERAM COM FIRMEZA:

— MESTRE, ORDENE QUE SEUS DISCÍPULOS PAREM COM ESSES GRITOS. ISSO ESTÁ FORA DE CONTROLE.

JESUS OLHOU PARA ELES COM TERNURA, MAS SUA RESPOSTA FOI CHEIA DE PODER:

— EU LHES DIGO: SE ELES SE CALAREM... AS PRÓPRIAS PEDRAS GRITARÃO!

AS PALAVRAS DELE ECOARAM COMO TROVÃO, MESMO SENDO DITAS COM CALMA. ERA COMO SE O UNIVERSO INTEIRO RECONHECESSE QUEM ELE ERA — O CÉU, A TERRA, OS ANIMAIS, O VENTO E ATÉ AS PEDRAS SABIAM: JESUS ERA O REI PROMETIDO, O FILHO DE DEUS.

OS FARISEUS SE CALARAM, SEM SABER O QUE DIZER.

ENQUANTO JESUS DESCIA O MONTE DAS OLIVEIRAS EM DIREÇÃO À CIDADE, AS MURALHAS DE JERUSALÉM SURGIRAM NO HORIZONTE, BANHADAS PELA LUZ DOURADA DA TARDE. ERA UMA VISTA MAJESTOSA. A CIDADE INTEIRA PARECIA ESTAR ESPERANDO POR ELE.

E DE ALGUMA FORMA, NO CORAÇÃO DE CADA PESSOA ALI, ALGO ESPECIAL ACONTECIA. UM SENTIMENTO NOVO NASCIA: ESPERANÇA.

NÃO ERA O TIPO DE REI QUE VINHA COM EXÉRCITOS, ESPADAS OU COROAS BRILHANTES. ERA O REI DA PAZ, O SALVADOR DO AMOR, O SENHOR QUE VINHA PARA TRANSFORMAR O MUNDO COMEÇANDO DE DENTRO, NO CORAÇÃO DAS PESSOAS.

NAQUELA TARDE, ENQUANTO O SOL SE PUNHA E A MULTIDÃO AINDA CANTAVA, O JUMENTINHO FOI LEVADO DE VOLTA AO SEU LUGAR. ELE NÃO ERA MAIS APENAS UM JUMENTINHO COMUM — HAVIA SE TORNADO PARTE DE UMA HISTÓRIA ETERNA.

E POR MUITO TEMPO, CONTARAM-SE AS HISTÓRIAS DAQUELE DIA GLORIOSO.

CRIANÇAS CONTAVAM AOS IRMÃOS MENORES SOBRE COMO VIRAM O REI PASSAR. VELHINHAS LEMBRAVAM COM OLHOS MAREJADOS DA EMOÇÃO QUE SENTIRAM AO CANTAR “HOSANA!”. E O POVO INTEIRO GUARDAVA NO CORAÇÃO A LEMBRANÇA DAQUELE MOMENTO EM QUE A PAZ ANDOU PELAS RUAS MONTADA NUM JUMENTINHO.

PORQUE NAQUELE DIA, TODOS SOUBERAM: O VERDADEIRO REI HAVIA CHEGADO. E ELE NÃO PRECISAVA DE UM TRONO DE OURO PARA SER MAJESTOSO. ELE ERA GRANDIOSO POR AQUILO QUE CARREGAVA NO CORAÇÃO — AMOR, MISERICÓRDIA, E A PROMESSA DE UM REINO ONDE TODOS SERIAM BEM-VINDOS.

E ESSE REINO... COMEÇAVA ALI MESMO.