ZÉLIA ADORAVA DIAS DE CHUVA. ENQUANTO MUITAS CRIANÇAS SE ENCOLHIAM DENTRO DE CASA, TORCENDO PARA QUE O SOL VOLTASSE LOGO, ELA COLOCAVA SUAS GALOCHAS AMARELAS, SUA CAPA DE CHUVA VERDE E SAÍA PARA EXPLORAR O QUINTAL. HAVIA ALGO MÁGICO NA FORMA COMO A ÁGUA ESCORRIA PELAS FOLHAS DAS ÁRVORES, FORMANDO PEQUENOS RIOS NA TERRA.

CERTO DIA, DURANTE UMA TARDE CHUVOSA, ZÉLIA ENCONTROU UM BURACO CURIOSO NO CANTO DO JARDIM, BEM AO LADO DA CASINHA DOS PASSARINHOS QUE SEU AVÔ HAVIA CONSTRUÍDO. O BURACO NÃO ERA GRANDE, MAS PARECIA PROFUNDO. MOVIDA PELA CURIOSIDADE, ELA SE AJOELHOU E ESPIOU LÁ DENTRO. FOI QUANDO VIU UM PAR DE OLHINHOS BRILHANTES A OBSERVANDO DE VOLTA.

— QUEM ESTÁ AÍ? — PERGUNTOU A MENINA, SEGURANDO A RESPIRAÇÃO.

PARA SUA SURPRESA, UM RATINHO CINZA SAIU DO BURACO, SEGURANDO UM PEDAÇO DE QUEIJO COM AS DUAS PATINHAS. ELE A ENCAROU POR UM INSTANTE E, ENTÃO, DESAPARECEU DE VOLTA NA TOCA.

ZÉLIA FICOU INTRIGADA. POR QUE HAVERIA UM RATO VIVENDO ALI? E POR QUE ELE PARECIA TÃO BEM ALIMENTADO? DECIDIU INVESTIGAR.

NAQUELA NOITE, DEPOIS DO JANTAR, ZÉLIA PEGOU UMA LANTERNA E VOLTOU AO QUINTAL. APROXIMOU-SE DA TOCA E ESPEROU. A CHUVA TINHA PARADO, MAS O AR AINDA CHEIRAVA A TERRA MOLHADA. ENTÃO, ALGO INACREDITÁVEL ACONTECEU: UMA FILA DE RATINHOS SURGIU, CARREGANDO PEDACINHOS DE QUEIJO E PEDAÇOS DE TECIDOS COLORIDOS. ELES SE MOVIAM RÁPIDO, COMO SE ESTIVESSEM EM UMA MISSÃO MUITO IMPORTANTE.

ZÉLIA SEGUIU OS RATOS EM SILÊNCIO. ELES PASSARAM PELO JARDIM, CONTORNARAM A CASA E ENTRARAM EM UM BURACO NA PAREDE DO VELHO GALPÃO. A MENINA HESITOU POR UM INSTANTE, MAS LOGO ENCONTROU UM JEITO DE ESPIAR LÁ DENTRO.

O QUE VIU A DEIXOU DE BOCA ABERTA.

DENTRO DO GALPÃO, OS RATINHOS TINHAM CONSTRUÍDO UM VERDADEIRO PALÁCIO SUBTERRÂNEO! COM AS LANTERNAS NATURAIS DA BIOLUMINESCÊNCIA DE PEQUENOS INSETOS, A CAVERNA BRILHAVA COM UMA LUZ SUAVE E DOURADA. HAVIA ROUPAS ROÍDAS CUIDADOSAMENTE EMPILHADAS, FORMANDO ALMOFADAS. PEQUENOS PEDAÇOS DE QUEIJO ESTAVAM ORGANIZADOS COMO SE FOSSEM UM BANQUETE. MAS O QUE MAIS CHAMOU A ATENÇÃO DE ZÉLIA FOI O QUE VIU NO CENTRO DO ESPAÇO: UM ESPELHO ANTIGO, DE MOLDURA DOURADA E DETALHES FLORAIS.

ELA RECONHECEU AQUELE ESPELHO. ELE PERTENCIA À SUA MÃE! TINHA DESAPARECIDO MESES ATRÁS, E AGORA ESTAVA ALI, SENDO POLIDO POR UM DOS RATINHOS.

— O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? — SUSSURROU PARA SI MESMA.

DE REPENTE, UM RUÍDO INTERROMPEU SEUS PENSAMENTOS.

MIAU!

UM GATO PRETO E BRANCO APARECERAM NA ENTRADA DA TOCA, OS OLHOS BRILHANDO NA ESCURIDÃO. OS RATINHOS CONGELARAM.

ZÉLIA SABIA QUE PRECISAVA AGIR RÁPIDO. ELA PEGOU UM PEDAÇO DE PAU E BATEU NO CHÃO, TENTANDO ASSUSTAR O GATO. O FELINO HESITOU POR UM INSTANTE, DEPOIS DEU UM SALTO PARA TRÁS E DESAPARECEU NA NOITE.

OS RATINHOS SUSPIRARAM ALIVIADOS. UM DELES, QUE PARECIA SER O LÍDER, SE APROXIMOU DE ZÉLIA E FEZ UMA REVERÊNCIA. A MENINA SORRIU.

— VOCÊS MORAM AQUI? É POR ISSO QUE PEGAM OS TECIDOS E OS QUEIJOS? — PERGUNTOU.

O RATINHO ASSENTIU COM A CABEÇA E APONTOU PARA O ESPELHO. FOI ENTÃO QUE ZÉLIA PERCEBEU ALGO AINDA MAIS ESTRANHO: O REFLEXO NO ESPELHO ERA DIFERENTE. NO LUGAR DO GALPÃO, HAVIA UMA CIDADE MINÚSCULA, CHEIA DE RATOS ANDANDO POR RUAS FEITAS DE BOTÕES E JANELAS ENFEITADAS COM RENDAS, LAÇOS DE CETIM, BROCHES E PEQUENOS FRASCOS DE PERFUME.

— O ESPELHO É UM PORTAL! — EXCLAMOU.

OS RATINHOS ACENARAM ENTUSIASMADOS. ELES ERAM VIAJANTES ENTRE OS DOIS MUNDOS, PEGANDO OBJETOS DO MUNDO HUMANO PARA MELHORAR A VIDA NA CIDADE ESCONDIDA DENTRO DO ESPELHO.

ZÉLIA FICOU MARAVILHADA COM O SEGREDO QUE DESCOBRIRA. NAQUELA NOITE, PROMETEU AOS RATINHOS QUE MANTERIA TUDO EM SIGILO. COMO AGRADECIMENTO, ELES LHE DERAM UM PEQUENO BROCHE DE OURO EM FORMA DE FLOR, QUE PARECIA BRILHAR QUANDO TOCADO PELA LUZ.

DESDE ENTÃO, SEMPRE QUE CHOVIA, ZÉLIA SABIA QUE OS RATOS DA CHUVA ESTAVAM EM MISSÃO, RECOLHENDO QUEIJO, TECIDOS E PEQUENOS TESOUROS COMO RENDAS, LAÇOS DE CETIM, BROCHES E FRASCOS DE PERFUME PARA LEVAR À CIDADE ESCONDIDA. E ELA, AGORA SUA AMIGA E PROTETORA, FAZIA QUESTÃO DE DEIXAR ALGUNS TESOUROS À PORTA DO BURACO NO JARDIM, GARANTINDO QUE A MAGIA CONTINUASSE VIVA.