LUCA ERA UM MENINO DE 11 ANOS QUE MORAVA EM VENEZA, A CIDADE DAS GÔNDOLAS E DOS CANAIS. ELE ADORAVA EXPLORAR CADA VIELA, CADA PONTE, E SONHAVA EM SER UM GRANDE EXPLORADOR DOS MARES, COMO OS ANTIGOS NAVEGADORES ITALIANOS.

UMA NOITE, ENQUANTO CAMINHAVA COM SEU AVÔ, NONNO GIUSEPPE, À BEIRA DO GRANDE CANAL, LUCA OLHOU PARA A ÁGUA ESCURA E VIU ALGO INUSITADO: UM ENORME OLHO BRILHANTE, ESPIANDO ENTRE AS ONDAS.

— NONNO, VOCÊ VIU AQUILO? — LUCA PUXOU A MANGA DO CASACO DO AVÔ.

— O QUE, MEU CARO? — PERGUNTOU O VELHO HOMEM, SORRINDO.

LUCA PISCOU, E O OLHO DESAPARECEU. “DEVO ESTAR IMAGINANDO COISAS”, PENSOU. MAS, NAQUELA NOITE, ELE TEVE UM SONHO ESTRANHO: UMA BALEIA GIGANTE NADAVA PELOS CANAIS DE VENEZA, DESLIZANDO SILENCIOSA SOB AS PONTES E GÔNDOLAS.

NA MANHÃ SEGUINTE, AO SAIR PARA A ESCOLA, LUCA ENCONTROU UM OBJETO CURIOSO NA PORTA DE CASA: UMA GRANDE CONCHA AZUL, RELUZENTE COMO O CÉU AO AMANHECER. ELE A PEGOU E, AO ENCOSTÁ-LA NO OUVIDO, OUVIU UM SOM BAIXINHO:

— ME AJUDE...

LUCA ESTREMECEU. ELE CONHECIA BEM HISTÓRIAS DE MARINHEIROS E MISTÉRIOS DO MAR, MAS NUNCA OUVIRA UMA CONCHA FALAR.

DEPOIS DA AULA, DECIDIU INVESTIGAR. VOLTOU AO MESMO LOCAL ONDE TINHA VISTO O OLHO NA ÁGUA. E ENTÃO, PARA SUA SURPRESA, UMA BALEIA AZUL SURGIU NA SUPERFÍCIE! ELA ERA IMENSA, MAS TINHA OLHOS GENTIS.

— FINALMENTE TE ENCONTREI! — DISSE A BALEIA, COM UMA VOZ SUAVE COMO O VENTO.

LUCA ARREGALOU OS OLHOS.

— VOCÊ… VOCÊ FALA? — GAGUEJOU.

— SIM. E PRECISO DE SUA AJUDA. MEU NOME É ONDINA. FUI SEPARADA DO MEU GRUPO E ACABEI PRESA NESTES CANAIS. SE NÃO CONSEGUIR VOLTAR AO MAR, FICAREI SEM FORÇAS.

LUCA OLHOU AO REDOR. AS ÁGUAS ESTREITAS DE VENEZA NÃO ERAM LUGAR PARA UMA CRIATURA TÃO GRANDE. COMO UMA BALEIA TINHA PARADO ALI? ERA UM MISTÉRIO! MAS ELE SABIA QUE PRECISAVA AJUDÁ-LA.

NAQUELA NOITE, LUCA CONTOU TUDO A NONNO GIUSEPPE, QUE, LONGE DE DUVIDAR, ACARICIOU SUA LONGA BARBA BRANCA E DISSE:

— SE A BALEIA PRECISA VOLTAR AO MAR, PRECISAREMOS ENCONTRAR UM CAMINHO SECRETO.

O AVÔ PEGOU UM VELHO MAPA, COBERTO DE MARCAS E ANOTAÇÕES.

— AQUI! — APONTOU ELE. — HÁ UM TÚNEL SUBMERSO QUE LIGA O CANAL DE VENEZA AO MAR. ERA USADO POR ANTIGOS MERCADORES, MAS HÁ SÉCULOS NINGUÉM O VÊ.

NA MADRUGADA SEGUINTE, LUCA E ONDINA NADARAM ATÉ A ENTRADA DO TÚNEL. MAS ELE ESTAVA BLOQUEADO POR PEDRAS E ESCOMBROS. A BALEIA TENTOU EMPURRÁ-LOS, MAS ESTAVAM FIRMES DEMAIS.

FOI QUANDO LUCA TEVE UMA IDEIA. CORREU ATÉ A PRAÇA DE SÃO MARCOS E TOCOU UM SINO ENORME QUE ECOOU PELA CIDADE INTEIRA. OS GONDOLEIROS, CURIOSOS, SAÍRAM DE SUAS CASAS. LUCA EXPLICOU TUDO E, JUNTOS, TROUXERAM CORDAS, ALAVANCAS E ATÉ BARCOS PARA AJUDAR A REMOVER AS PEDRAS.

COM UM GRANDE ESFORÇO, O CAMINHO FOI ABERTO. ONDINA, EMOCIONADA, NADOU ATÉ A SAÍDA E SENTIU A ÁGUA SALGADA DO MAR OUTRA VEZ.

— OBRIGADA, LUCA. VOCÊ TEM UM CORAÇÃO TÃO GRANDE QUANTO O OCEANO! — DISSE A BALEIA ANTES DE DESAPARECER NAS ONDAS.

NINGUÉM NUNCA MAIS VIU ONDINA, MAS, ÀS VEZES, NAS NOITES MAIS SILENCIOSAS, LUCA ENCOSTAVA A CONCHA AZUL NO OUVIDO E OUVIA O SOM DAS ONDAS E UMA VOZ SUSSURRANDO:

— OBRIGADA, AMIGO...

E ASSIM, LUCA PERCEBEU QUE A AMIZADE PODE ATRAVESSAR OCEANOS, E QUE TODO GRANDE EXPLORADOR CARREGA UM CORAÇÃO VALENTE.