CLARINHA ERA UMA MENINA COM UM CABELO TÃO CHEIO, TÃO VOLUMOSO E TÃO REBELDE QUE, QUANDO ELA CORRIA, AS PESSOAS JURAVAM QUE ESTAVA VENTANDO. SEU CABELO TINHA VIDA PRÓPRIA, FAZIA VOLTAS, CRIAVA REDEMOINHOS E, DE VEZ EM QUANDO, PRENDIA PEQUENOS OBJETOS COMO GRAMPOS, CANETAS E, UMA VEZ, UMA BORBOLETA CHAMADA GERTRUDES.

SUA MÃE, DONA ZULEIDE, PASSAVA TODAS AS MANHÃS TENTANDO DOMAR AQUELA FLORESTA CAPILAR. MAS ERA UMA LUTA INGLÓRIA! ESCOVA? QUEBRAVA. PENTE? SUMIA DENTRO DA CABELEIRA. RABO DE CAVALO? O CABELO SE SOLTAVA SOZINHO, COMO SE TIVESSE ALERGIA A ELÁSTICO.

UM DIA, CLARINHA ACORDOU COM O CABELO AINDA MAIS ESPETADO DO QUE O NORMAL. PARECIA QUE ELA TINHA DORMIDO DENTRO DE UMA TEMPESTADE ELÉTRICA. DONA ZULEIDE SUSPIROU FUNDO E DISSE:

— FILHA, HOJE NÃO TEM JEITO. VOU PASSAR UM CREME ESPECIAL E DAR UM JEITINHO NISSO!

CLARINHA SABIA O QUE ISSO SIGNIFICAVA: MUITOS PUXÕES, LITROS DE CREME E O HORROR ABSOLUTO... O SECADOR DE CABELO!

ELA TENTOU ESCAPAR, MAS A MÃE A PEGOU NO AR, COMO UM GATO NINJA PEGA UM RATO DESAVISADO. EM POUCOS MINUTOS, CLARINHA ESTAVA SENTADA NO BANQUINHO, COM UMA TOALHA NOS OMBROS E UMA CARA DE PAVOR.

— AGORA, SÓ UM POUQUINHO DE CALOR... — DISSE DONA ZULEIDE, LIGANDO O SECADOR NA TOMADA.

E ENTÃO, ACONTECEU.

O SECADOR FEZ UM BARULHO ESQUISITO. UMA FAISCA PULOU DA TOMADA. UM BARULHÃO DE TROVÃO ECOOU PELO BANHEIRO. E PUFFF!

O CABELO DE CLARINHA SE ARREPIOU COMO NUNCA. COMO SE TIVESSE SIDO ATINGIDO POR UM RELÂMPAGO, ELE SE EXPANDIU, CRIOU UM VOLUME ABSURDO E COMEÇOU A SE MOVIMENTAR SOZINHO. MAS O MAIS IMPRESSIONANTE: CLARINHA COMEÇOU A FLOTUAR!

— AI, MEU PAI DO CÉU! — GRITOU DONA ZULEIDE.

CLARINHA ESTAVA NO AR, GIRANDO DEVAGAR, COMO UM BALÃO DE FESTA INFANTIL.

— MÃE, EU V-I-I-I-I-I-I-I-I-O-O-O-O-O-O-O-U-U-U-U-U-U-U-U-U... — E ANTES QUE ELA TERMINASSE A FRASE, ZAPT! ELA FOI SUGADA PELO CORREDOR, COMO UM FOGUETE LANÇADO AO ESPAÇO.

A MENINA SAIU FLUTUANDO PELA CASA, ESBARRANDO NOS LUSTRES, BATENDO NOS QUADROS E ASSUSTANDO A CACHORRINHA FIFI, QUE SE ESCONDEU DEBAIXO DO SOFÁ COM O RABO ENTRE AS PATAS.

DONA ZULEIDE SAIU CORRENDO ATRÁS DA FILHA, MAS NÃO CONSEGUIA ALCANÇÁ-LA.

— SEGURA ESSA MENINA! — GRITAVA ELA.

MAS QUEM CONSEGUIRIA SEGURAR UM CHICLETE ELÉTRICO FLUTUANTE?

CLARINHA FOI PARAR NA COZINHA, ONDE SUA IRMÃ, CAROL, ESTAVA TOMANDO LEITE. QUANDO VIU A CENA, CAROL CUSPIU TUDO PELA BOCA.

— CLARINHA, POR QUE VOCÊ ESTÁ VOANDO? — PERGUNTOU CAROL, COM OS OLHOS ARREGALADOS.

— NÃO SEI, MAS É LEGAL! — CLARINHA GIRAVA NO AR COMO UM HELICÓPTERO DESGOVERNADO.

DE REPENTE, UM ESTALO.

PÁ! O CABELO DELA ENCOSTOU NO VENTILADOR DE TETO.

— NÃO, NÃO, NÃO! — GRITOU CAROL.

ERA TARDE. O VENTILADOR COMEÇOU A GIRAR NO SENTIDO OPOSTO E LANÇOU CLARINHA COMO UMA BALA DE CANHÃO.

PLOFT! ELA FOI PARAR DENTRO DA GELADEIRA.

— MEU DEUS! MINHA FILHA VIROU UMA LASANHA CONGELADA! — GRITOU DONA ZULEIDE, PUXANDO CLARINHA DE LÁ DE DENTRO.

— EU TÔ BEM, EU TÔ BEM! MAS ACHO QUE MEU CABELO NÃO GOSTOU DO FRIO! — DISSE CLARINHA, BATENDO OS DENTES.

E ENTÃO, O CABELO DELA COMEÇOU A SOLTAR FAÍSCAS DE NOVO!

— AI, AI, AI, TÁ VINDO OUTRA ONDA! — BERROU CAROL.

BOOM!

LÁ FOI CLARINHA OUTRA VEZ, VOANDO PELA CASA FEITO UM ROJÃO DE FESTA JUNINA. DESSA VEZ, PASSOU PELA SALA, FEZ UMA CURVA NO AR E FOI DIRETO PARA O QUINTAL, ONDE ATERRISSOU DENTRO DA PISCINA COM UM ESTRONDO.

XABLAU! A ÁGUA SE ESPALHOU PARA TODOS OS LADOS. O CABELO DE CLARINHA FINALMENTE PERDEU A ELETRICIDADE E ELA AFUNDOU NA PISCINA COMO UM SACO DE BATATAS.

DONA ZULEIDE, CAROL E ATÉ A CACHORRINHA FIFI CORRERAM PARA VER.

UM SEGUNDO DEPOIS, CLARINHA EMERGIU.

— UAU! QUE ROLÊ!!! — GRITOU ELA, JOGANDO OS BRAÇOS PARA CIMA.

SEU CABELO ESTAVA FINALMENTE DOMADO, COLADO NA CABEÇA, COMPLETAMENTE ENCHARCADO.

DONA ZULEIDE SUSPIROU.

— NUNCA MAIS SECADOR! — DECRETOU ELA.

CAROL RIU.

— NUNCA MAIS TOMADA, VOCÊ QUER DIZER!

CLARINHA SORRIU.

— OU ENTÃO, NA PRÓXIMA, VAMOS TENTAR UMA PIPA. QUEM SABE EU CONSIGO VOAR MAIS ALTO?

E ENTÃO, TODAS RIRAM, ATÉ FIFI, QUE LATIU ANIMADAMENTE, FELIZ QUE A TEMPESTADE CAPILAR FINALMENTE TINHA PASSADO.