NO CORAÇÃO DAS SELVAS DENSAS DE PAPUA-NOVA GUINÉ, HAVIA UMA ALDEIA CHAMADA RANU, ONDE OS MORADORES VIVIAM EM HARMONIA COM A NATUREZA. O POVO DE RANU ERA CONHECIDO POR SUA CORAGEM, MAS TAMBÉM POR TEMER UMA ANTIGA LENDA: A DOS HOMENS-DE-BARRO, CRIATURAS QUE HABITAVAM OS PÂNTANOS E CUJOS CORPOS ERAM MOLDADOS DO PRÓPRIO SOLO DA TERRA.

ERA UMA HISTÓRIA SUSSURRADA AO REDOR DAS FOGUEIRAS, PASSADA DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO. DIZIAM QUE OS HOMENS-DE-BARRO APARECIAM À NOITE, COBERTOS DE LAMA, OLHOS BRILHANTES COMO BRASAS, E QUE LEVAVAM EMBORA AQUELES QUE SE AVENTURAVAM MUITO PERTO DOS PÂNTANOS.

O DESAFIO DE ATU

ATU, UM MENINO DE DOZE ANOS, SEMPRE ESCUTAVA ESSAS HISTÓRIAS COM UM MISTO DE MEDO E FASCINAÇÃO. ELE QUERIA PROVAR QUE OS HOMENS-DE-BARRO NÃO PASSAVAM DE INVENÇÃO DOS MAIS VELHOS PARA ASSUSTAR AS CRIANÇAS.

— ISSO NÃO PASSA DE SUPERSTIÇÃO! — DISSE ELE UM DIA PARA SUA MELHOR AMIGA, LANI. — VOU ATÉ O PÂNTANO ESTA NOITE E TRAREI UMA PROVA DE QUE NÃO HÁ NADA LÁ.

LANI ARREGALOU OS OLHOS.

— VOCÊ ESTÁ LOUCO? MEU AVÔ DIZ QUE NINGUÉM QUE VIU OS HOMENS-DE-BARRO VOLTOU PARA CONTAR A HISTÓRIA!

— ENTÃO VOU SER O PRIMEIRO! — ATU RESPONDEU COM UM SORRISO DESAFIADOR.

A JORNADA AO PÂNTANO

NAQUELA NOITE, ATU PEGOU UMA TOCHA E SE AVENTUROU NA FLORESTA. O CAMINHO ATÉ O PÂNTANO ERA TRAIÇOEIRO, COM RAÍZES RETORCIDAS E SONS MISTERIOSOS ECOANDO NA ESCURIDÃO. O AR ÚMIDO ESTAVA CARREGADO DO CHEIRO DE LAMA E FOLHAS PODRES.

QUANDO FINALMENTE CHEGOU À BEIRA DO PÂNTANO, ATU SENTIU UM CALAFRIO PERCORRER SUA ESPINHA. O SOLO ERA LAMACENTO, E O SILÊNCIO PARECIA PESADO. ELE OLHOU AO REDOR E RIU CONSIGO MESMO.

— NADA ALÉM DE LAMA E ÁRVORES… — MURMUROU, ALIVIADO.

MAS, DE REPENTE, ALGO SE MOVEU NA ÁGUA. ATU CONGELOU.

LENTAMENTE, UMA FIGURA COMEÇOU A EMERGIR DO LODO. SEU CORPO ERA FEITO DE BARRO ESCURO, RACHADO EM ALGUNS PONTOS, E SEUS OLHOS BRILHAVAM EM UM TOM AVERMELHADO. ENTÃO, OUTRA FIGURA SURGIU. E MAIS OUTRA. LOGO, UMA DÚZIA DELAS CERCAVA ATU.

O MENINO TENTOU CORRER, MAS SEUS PÉS AFUNDARAM NO SOLO ENCHARCADO. OS HOMENS-DE-BARRO SE APROXIMAVAM, SEUS MOVIMENTOS ERAM LENTOS, MAS CONSTANTES.

— HUMANO… POR QUE NOS PERTURBA? — UMA VOZ GRAVE ECOOU, COMO SE VIESSE DA PRÓPRIA TERRA.

O SEGREDO DOS HOMENS-DE-BARRO

ATU ENGOLIU EM SECO.

— EU… EU SÓ QUERIA PROVAR QUE VOCÊS NÃO EXISTIAM! — RESPONDEU ELE, TREMENDO.

OS SERES SE ENTREOLHARAM E ENTÃO UM DELES DEU UM PASSO À FRENTE.

— SOMOS OS GUARDIÕES DESTE PÂNTANO. NOSSO DEVER É PROTEGER O TERRITÓRIO DOS INTRUSOS.

— MAS MINHA ALDEIA… VOCÊS LEVAM AS PESSOAS! — ATU RETRUCOU.

O LÍDER DOS HOMENS-DE-BARRO BALANÇOU A CABEÇA.

— NÃO LEVAMOS NINGUÉM. APENAS OS ASSUSTAMOS PARA QUE NÃO DESTRUAM O EQUILÍBRIO DA FLORESTA. ANTES DE NÓS, OS HOMENS VINHAM AQUI PARA CAÇAR SEM NECESSIDADE, CORTAR ÁRVORES E ENVENENAR AS ÁGUAS. AGORA, A NATUREZA ESTÁ SEGURA.

ATU FICOU EM SILÊNCIO, REFLETINDO SOBRE AQUELAS PALAVRAS. ELE PERCEBEU QUE SUA ALDEIA VIA OS HOMENS-DE-BARRO COMO MONSTROS, MAS, NA VERDADE, ELES ERAM PROTETORES.

A VOLTA PARA CASA

— EU ENTENDO AGORA. VOU CONTAR PARA A ALDEIA QUE VOCÊS NÃO SÃO MONSTROS — DISSE ATU.

O LÍDER ASSENTIU.

— MAS LEMBRE-SE: A FLORESTA É VIVA. SE OS HUMANOS NÃO RESPEITAREM, SEREMOS OBRIGADOS A AGIR NOVAMENTE.

COM ISSO, OS HOMENS-DE-BARRO RECUARAM LENTAMENTE PARA AS SOMBRAS DO PÂNTANO, DESAPARECENDO NA LAMA.

ATU CORREU DE VOLTA PARA RANU, COM O CORAÇÃO DISPARADO. AO CHEGAR, TODOS ESTAVAM PREOCUPADOS, MAS ELE OS ACALMOU.

— OS HOMENS-DE-BARRO EXISTEM, MAS NÃO SÃO NOSSOS INIMIGOS! ELES SÓ QUEREM PROTEGER A NATUREZA! — CONTOU.

NO INÍCIO, NINGUÉM ACREDITOU NELE. MAS COM O TEMPO, A ALDEIA PASSOU A RESPEITAR OS PÂNTANOS E A NATUREZA, E OS HOMENS-DE-BARRO NUNCA MAIS PRECISARAM ASSUSTAR NINGUÉM.