A NOITE ESTAVA FRIA EM PARIS, E AS LUZES DA CIDADE BRILHAVAM COMO ESTRELAS TERRENAS. NO TOPO DA MAJESTOSA TORRE EIFFEL, UM VULTO ESGUIO SE MOVIA SILENCIOSAMENTE ENTRE AS VIGAS METÁLICAS. NÃO ERA UM LADRÃO, NEM UM AVENTUREIRO OUSADO — ERA UM GATO. MAS NÃO UM GATO COMUM. SEU PELO NEGRO BRILHAVA À LUZ DA LUA, E SEUS OLHOS DOURADOS TINHAM UM BRILHO ENIGMÁTICO.

ESTE ERA NOIR, O FELINO MAIS ASTUTO E ENIGMÁTICO DE TODA A CIDADE. NINGUÉM SABIA EXATAMENTE DE ONDE ELE VINHA, MAS AS HISTÓRIAS SOBRE SUAS FAÇANHAS ERAM CONTADAS EM SUSSURROS PELOS BECOS DE PARIS. NOIR ERA UM MISTÉRIO AMBULANTE.

NAQUELA NOITE, NOIR TINHA UMA MISSÃO ESPECIAL. ALGO ESTAVA ERRADO NA TORRE EIFFEL. ELE SENTIA NO AR, NO VENTO QUE SUSSURRAVA SEGREDOS ENTRE OS FERROS DA ESTRUTURA. OS TURISTAS HAVIAM IDO EMBORA, OS GUARDAS ESTAVAM DISTRAÍDOS, MAS NOIR SABIA QUE ALGUÉM — OU ALGO — ESTAVA ALI.

FOI ENTÃO QUE ELE OUVIU UM RUÍDO ESTRANHO, VINDO DE UM DOS ANDARES SUPERIORES. NOIR SALTOU COM AGILIDADE, SUAS PATAS MACIAS NÃO FAZIAM NENHUM SOM. ESCONDEU-SE ATRÁS DE UM PILAR E ESPIOU. PARA SUA SURPRESA, VIU DUAS FIGURAS ENCAPUZADAS TENTANDO ABRIR UMA CAIXA METÁLICA EMBUTIDA NA ESTRUTURA DA TORRE. SEUS BIGODES TREMERAM. AQUELA CAIXA GUARDAVA UM SEGREDO DA CIDADE, ALGO QUE NOIR NUNCA VIRA, MAS QUE SEMPRE OUVIRA FALAR NOS BECOS OBSCUROS.

COM UM SALTO ÁGIL, NOIR SE APROXIMOU SILENCIOSAMENTE. ELE PRECISAVA DE REFORÇOS. FELIZMENTE, CONHECIA ALGUÉM QUE PODERIA AJUDAR.

A ALIADA INESPERADA

EM UM APARTAMENTO NÃO MUITO LONGE DALI, UMA GAROTA CHAMADA CLÉO ESTUDAVA PARA UMA PROVA DE HISTÓRIA. SEU QUARTO ERA PEQUENO, MAS ACONCHEGANTE, CHEIO DE LIVROS E DESENHOS DA TORRE EIFFEL. CLÉO SEMPRE SONHARA EM SER UMA EXPLORADORA E, DE CERTA FORMA, A CIDADE DE PARIS ERA SEU GRANDE MAPA DO TESOURO.

FOI ENTÃO QUE NOIR APARECEU EM SUA JANELA. COM UM MIADO BAIXO E INSISTENTE, ELE BATEU COM A PATA NO VIDRO. CLÉO ARREGALOU OS OLHOS.

— NOIR? O QUE FAZ AQUI A ESSA HORA? — SUSSURROU, ABRINDO A JANELA.

O GATO PULOU PARA DENTRO E ENCAROU-A COM SEUS OLHOS DOURADOS. DEPOIS, SEM AVISO, VIROU-SE E CORREU DE VOLTA PARA A JANELA, OLHANDO PARA ELA COMO SE DISSESSE: “VENHA!”. CLÉO HESITOU POR UM SEGUNDO, MAS ENTÃO SORRIU. SE NOIR ESTAVA CHAMANDO, ALGO INTERESSANTE ESTAVA ACONTECENDO.

VESTIU UM CASACO, PEGOU SUA LANTERNA E SEGUIU O FELINO PELAS RUAS ILUMINADAS DA CIDADE. ELES CORRERAM JUNTOS ATÉ A BASE DA TORRE EIFFEL, ONDE NOIR FEZ UM GESTO COM A CAUDA, INDICANDO O PERIGO NO ALTO.

— VOCÊ QUER QUE EU SUBA LÁ? — SUSSURROU CLÉO, SENTINDO UM FRIO NA BARRIGA.

NOIR APENAS MIOU E COMEÇOU A ESCALAR A ESTRUTURA DE METAL COM A FACILIDADE DE UM ACROBATA. CLÉO RESPIROU FUNDO E SEGUIU SEU AMIGO FELINO.

MISTÉRIO NAS ALTURAS

SUBIR A TORRE EIFFEL À NOITE NÃO ERA EXATAMENTE PERMITIDO, MAS CLÉO SABIA SE ESGUEIRAR. QUANDO CHEGOU AO TERCEIRO ANDAR, AVISTOU AS DUAS FIGURAS ENCAPUZADAS. NOIR JÁ ESTAVA MAIS PERTO, ESCONDIDO NAS SOMBRAS.

— CONSEGUIU ABRIR? — SUSSURROU UMA DAS FIGURAS.

— ESTÁ QUASE… A SENHA DEVE ESTAR ERRADA. — RESPONDEU A OUTRA.

CLÉO SE APROXIMOU UM POUCO MAIS, TENTANDO VER MELHOR O QUE ESTAVAM FAZENDO. A CAIXA METÁLICA QUE TENTAVAM ABRIR PARECIA MUITO ANTIGA. ALGO RELUZIA DENTRO DELA, ALGO DOURADO. SERIA UM TESOURO?

MAS ANTES QUE PUDESSE DESCOBRIR, SEU PÉ ESCORREGOU LEVEMENTE SOBRE O METAL ÚMIDO DA TORRE. O BARULHO ECOOU NA NOITE SILENCIOSA.

OS LADRÕES SE VIRARAM RAPIDAMENTE.

— QUEM ESTÁ AÍ?! — EXCLAMOU UM DELES.

NOIR, ÁGIL COMO SEMPRE, SALTOU SOBRE O ROSTO DO PRIMEIRO BANDIDO, ARRANHANDO SUA MÁSCARA. O HOMEM GRITOU E CAIU PARA TRÁS. O SEGUNDO PUXOU UM PEQUENO DISPOSITIVO E APONTOU PARA NOIR. MAS CLÉO, AGINDO POR INSTINTO, PEGOU SUA LANTERNA E JOGOU UM FEIXE DE LUZ DIRETO NOS OLHOS DO BANDIDO.

— AH! — ELE GRITOU, COBRINDO O ROSTO.

APROVEITANDO A DISTRAÇÃO, NOIR SALTOU PARA A CAIXA E COM UMA PATADA CERTEIRA, FECHOU-A NOVAMENTE, TRAVANDO O MECANISMO.

FOI ENTÃO QUE O ALARME DA TORRE SOOU. ALGUÉM HAVIA ACIONADO A SEGURANÇA!

OS LADRÕES PERCEBERAM QUE NÃO TINHAM MAIS TEMPO E FUGIRAM PELA LATERAL DA ESTRUTURA, DESAPARECENDO NA NOITE PARISIENSE.

CLÉO OLHOU PARA NOIR, QUE LAMBEU A PATA COM TRANQUILIDADE.

— PARECE QUE SALVAMOS A NOITE, HEIN? — SUSSURROU ELA.

A PATRULHA DA TORRE CHEGOU MINUTOS DEPOIS, MAS OS BANDIDOS JÁ HAVIAM SUMIDO. OS GUARDAS ENCONTRARAM CLÉO ALI, COM UM GATO PRETO SENTADO AO SEU LADO, OBSERVANDO TUDO COM AQUELES OLHOS MISTERIOSOS.

— O QUE ESTÁ FAZENDO AQUI, GAROTA? — PERGUNTOU UM DOS SEGURANÇAS.

CLÉO PENSOU RÁPIDO.

— EU… EU VI DOIS HOMENS SUSPEITOS AQUI E SUBI PARA VER O QUE ERA. ELES FUGIRAM ANTES QUE EU PUDESSE VER DIREITO! — DISSE, SEM CONTAR TODA A VERDADE.

O SEGURANÇA COÇOU A CABEÇA.

— BOM, VAMOS VERIFICAR AS CÂMERAS. OBRIGADO POR AVISAR. MAS DA PRÓXIMA VEZ, DEIXE ISSO PARA NÓS, CERTO?

CLÉO ASSENTIU E DESCEU DA TORRE, COM NOIR AO SEU LADO. ASSIM QUE ESTAVAM LONGE DA SEGURANÇA, ELA OLHOU PARA O GATO E SUSSURROU:

— O QUE SERÁ QUE TINHA NAQUELA CAIXA, HEIN, NOIR?

O GATO APENAS PISCOU LENTAMENTE, COMO SE GUARDASSE UM SEGREDO QUE JAMAIS REVELARIA.

E ASSIM, NAQUELA NOITE ESTRELADA EM PARIS, CLÉO E NOIR MAIS UMA VEZ PROTEGERAM OS MISTÉRIOS DA CIDADE. E, QUEM SABE, TALVEZ VOLTASSEM A SE AVENTURAR EM BREVE…