ERA UMA VEZ, NA PEQUENA VILA DE SOLÃNDIA, UM LUGAR ONDE O SOL PARECIA BRILHAR MAIS FORTE E AS FLORES DANÇAVAM AO RITMO DA BRISA, UM MENINO CHAMADO BENTO. BENTO ERA CONHECIDO POR SUA CURIOSIDADE INFINITA E SUA CAPACIDADE DE TRANSFORMAR ATÉ OS DIAS MAIS COMUNS EM AVENTURAS EXTRAORDINÁRIAS. UM DIA, ENQUANTO EXPLORAVA O SÓTÃO POEIRENTO DA CASA DE SUA AVÓ, ELE ENCONTROU UM OBJETO PECULIAR: UMA CORNETA DOURADA, COM INTRINCADOS DESENHOS DE ESTRELAS E LÚNAS GRAVADOS EM SUA SUPERFÍCIE.

— O QUE É ISSO? — BENTO MURMUROU, LIMPANDO A POEIRA E ADMIRANDO A CORNETA QUE BRILHAVA, MESMO NA LUZ FRACA DO SÓTÃO.

AO SOPRAR A CORNETA PELA PRIMEIRA VEZ, UM SOM MELODIOSO E CHEIO DE VIDA ENCHEU O AR. MAS ALGO INACREDITÁVEL ACONTECEU: UMA PEQUENA FAÍSCA SALTOU DA CORNETA, E UM SER LUMINOSO, COM ASAS TRANSPARENTES E UM SORRISO CALOROSO, APARECEU.

— OLÁ, JOVEM AVENTUREIRO! EU SOU LUMINA, O FANTASMINHA DA CORNETA MÁGICA. AO SOPRAR ESTE INSTRUMENTO, VOCÊ DESPERTOU O MEU PODER. ÀS SUAS ORDENS!

BENTO FICOU SEM PALAVRAS, MAS NÃO DEMOROU PARA SE RECUPERAR DA SURPRESA.

— SUAS ORDENS? QUER DIZER QUE VOCÊ PODE FAZER QUALQUER COISA?

LUMINA SORRIU DE FORMA ENIGMÁTICA.

— NÃO QUALQUER COISA, MEU PEQUENO AMIGO. A CORNETA MÁGICA TEM TRÊS PODERES ESPECIAIS: CHAMAR AMIGOS, AFASTAR MEDOS E REVELAR SEGREDOS. MAS USE-A COM SABEDORIA. CADA VEZ QUE A TOCAR, UMA DAS ESTRELAS GRAVADAS NELA DESAPARECERÁ. QUANDO TODAS AS ESTRELAS SE APAGAREM, O ENCANTO SE DESVANECERÁ.

BENTO ASSENTIU, FASCINADO. ELE SABIA QUE PRECISAVA USAR A CORNETA COM CUIDADO, MAS A CURIOSIDADE O INSTIGAVA A EXPERIMENTAR. NAQUELA MESMA TARDE, ELE DECIDIU TESTAR O PRIMEIRO PODER. NO PARQUE DA VILA, ONDE AS CRIANÇAS BRINCAVAM, BENTO SOPROU A CORNETA PARA “CHAMAR AMIGOS”. O SOM DA CORNETA PARECIA UM CONVITE IRRESISTÍVEL, E LOGO, TODAS AS CRIANÇAS SE REUNIRAM AO SEU REDOR.

— VAMOS BRINCAR! — GRITOU ELE, E AS CRIANÇAS CONCORDARAM EM COMEÇAR UMA GRANDE CAÇA AO TESOURO IMAGINÁRIA.

A TARDE PASSOU EM RISOS E BRINCADEIRAS, E BENTO PERCEBEU COMO ERA BOM TER MUITOS AMIGOS POR PERTO. QUANDO VOLTOU PARA CASA, NOTOU QUE UMA DAS ESTRELAS DA CORNETA HAVIA DESAPARECIDO. AGORA RESTAVAM ONZE.

NAQUELA NOITE, ENQUANTO GUARDAVA A CORNETA, BENTO OUVIU UM BARULHO ESTRANHO VINDO DO QUINTAL. UM SOM BAIXO E ASSUSTADOR, COMO UM ROSNADO. ELE SENTIU UM FRIO NA ESPINHA, MAS LEMBROU-SE DO SEGUNDO PODER DA CORNETA: AFASTAR MEDOS. PEGOU O INSTRUMENTO E SOPROU COM CORAGEM. UMA MELODIA SUAVE ENVOLVEU A NOITE, E UMA LUZ DOURADA ILUMINOU O QUINTAL. PARA SUA SURPRESA, O ROSNADO SE TRANSFORMOU EM UM MIADO. ERA APENAS UM GATO PERDIDO, TREMENDO DE FRIO.

BENTO LEVOU O GATO PARA DENTRO, AQUECENDO-O COM UM COBERTOR. ELE O CHAMOU DE SOLUÇO, POR CAUSA DO BARULHINHO QUE FAZIA AO RONRONAR. MAIS UMA ESTRELA DESAPARECEU, RESTANDO AGORA DEZ.

NOS DIAS SEGUINTES, BENTO USOU A CORNETA DE MANEIRAS SURPREENDENTES. DESCOBRIU QUE PODIA REVELAR SEGREDOS ESCONDIDOS E SOLUCIONAR PEQUENOS MISTÉRIOS DA VILA. QUANDO A PROFESSORA DA ESCOLA PERDEU SEU BROCHE FAVORITO, BENTO TOCOU A CORNETA E VIU UM BRILHO DOURADO INDICANDO O LUGAR ONDE O BROCHE HAVIA CAÍDO: ENTRE AS RACHADURAS DO PISO DA SALA DE AULA.

MAS QUANTO MAIS USAVA A CORNETA, MAIS AS ESTRELAS DESAPARECIAM. RESTAVAM APENAS TRÊS QUANDO ALGO INESPERADO ACONTECEU.

UM DIA, UM VIAJANTE MISTERIOSO CHEGOU À VILA. ELE ERA ALTO, USAVA UM CHAPÉU GRANDE QUE ESCONDIA SEU ROSTO E CARREGAVA UM SACO QUE PARECIA MUITO PESADO. AS CRIANÇAS COCHICHAVAM, DIZENDO QUE ELE ERA UM FEITICEIRO OU TALVEZ UM LADRÃO.

— NÃO É NADA DISSO! — BENTO AFIRMOU, CONFIANTE. MAS, NO FUNDO, ELE TAMBÉM ESTAVA CURIOSO. DECIDIU USAR O PODER DA CORNETA PARA REVELAR O SEGREDO DO VIAJANTE.

QUANDO SOPROU A CORNETA, UMA NUVEM DOURADA CERCOU O VIAJANTE, E SEU VERDADEIRO EU FUI REVELADO: ELE ERA UM VELHO INVENTOR, CARREGANDO SUAS CRIAÇÕES PARA VENDER NA VILA.

— OBRIGADO, JOVEM — DISSE O INVENTOR. — VOCÊ ME LIVROU DE MAL-ENTENDIDOS. POR SUA CORAGEM E BONDADE, VOU LHE DAR ALGO ESPECIAL.

DO SACO, O INVENTOR RETIROU UM PEQUENO DISPOSITIVO: UMA CAIXA DE MÚSICA QUE TOCAVA MELODIAS ENCANTADORAS. BENTO AGRADECEU, MAS SABIA QUE A CORNETA ESTAVA PERDENDO SUAS ESTRELAS E QUE O FIM DO ENCANTO ESTAVA PRÓXIMO.

NA MANHÃ SEGUINTE, ALGO TERRÍVEL ACONTECEU. SOLÂNDIA FOI ENVOLVIDA POR UMA ESPESSA NEBLINA NEGRA, E TODOS OS MORADORES FICARAM PRESOS EM SUAS CASAS. A NEBLINA PARECIA VIVA, SUSSURRANDO PALAVRAS SOMBRIAS QUE ASSUSTAVAM ATÉ OS ADULTOS MAIS CORAJOSOS.

BENTO SABIA QUE PRECISAVA AGIR. PEGOU A CORNETA, AGORA COM APENAS DUAS ESTRELAS RESTANTES, E SOPROU PARA AFASTAR O MEDO. UMA MELODIA PODEROSA SE ESPALHOU PELA VILA, TRAZENDO CORAGEM AOS CORAÇÕES DOS MORADORES. A NEBLINA ENFRAQUECEU, MAS AINDA NÃO DESAPARECEU POR COMPLETO.

— VOCÊ AINDA TEM UM SOPRO, BENTO — DISSE LUMINA. — MAS LEMBRE-SE: ESTE SERÁ O ÚLTIMO. USE-O COM SABEDORIA.

BENTO REFLETIU POR UM INSTANTE. ELE SABIA QUE PRECISAVA REVELAR O SEGREDO DA NEBLINA PARA DERROTÁ-LA DE VEZ. COM AS MÃOS FIRMES, LEVOU A CORNETA À BOCA E SOPROU PELA ÚLTIMA VEZ. A MELODIA ERA MAIS BELA E PODEROSA DO QUE NUNCA. UMA LUZ DOURADA ENVOLVEU A VILA, E O SEGREDO DA NEBLINA FOI REVELADO: ERA UMA MAGIA CRIADA POR UM ANTIGO FEITICEIRO QUE HAVIA SIDO ESQUECIDO.

O SOM DA CORNETA DESPERTOU O ESPÍRITO DO FEITICEIRO, QUE APARECEU DIANTE DE BENTO.

— QUEM OUSA DESPERTAR MINHA MAGIA? — ELE RUGIU, MAS SEUS OLHOS ESTAVAM TRISTES.

BENTO, SEM MEDO, RESPONDEU:

— POR QUE CRIOU ESSA NEBLINA? ELA SÓ TROUXE MEDO E SOLIDÃO.

O FEITICEIRO SUSPIROU.

— EU QUERIA PROTEGER MINHA CASA, MAS, COM O TEMPO, ESQUECI-ME DO MOTIVO E ME TORNEI PRISIONEIRO DE MINHA PRÓPRIA MAGIA.

COM A CORAGEM QUE O SOM DA CORNETA HAVIA TRAZIDO, BENTO PROPÔS:

— QUE TAL TRANSFORMAR ESSA MAGIA EM ALGO QUE TRAGA ALEGRIA, NÃO MEDO? VOCÊ PODE USAR SEU PODER PARA AJUDAR A VILA, EM VEZ DE ASSUSTÁ-LA.

O FEITICEIRO PONDEROU E, TOCADO PELAS PALAVRAS DE BENTO, CONCORDOU. ELE DISSIPOU A NEBLINA, SUBSTITUINDO-A POR UMA CHUVA DE FLORES DOURADAS QUE PERFUMARAM A VILA INTEIRA. OS MORADORES SAÍRAM DE SUAS CASAS, COMEMORANDO COM ALEGRIA.

A CORNETA AGORA ESTAVA SEM ESTRELAS. BENTO SABIA QUE SEU TEMPO COM LUMINA HAVIA TERMINADO.

— VOCÊ FOI UM GUARDIÃO DIGNO, BENTO — DISSE LUMINA, ANTES DE DESAPARECER EM UMA ÚLTIMA FAÍSCA DE LUZ.

EMBORA SENTISSE SAUDADES DA CORNETA, BENTO PERCEBEU QUE A VERDADEIRA MAGIA ESTAVA EM SEU CORAÇÃO: A CORAGEM, A BONDADE E A CAPACIDADE DE TRANSFORMAR O MUNDO AO SEU REDOR. E ASSIM, A VILA DE SOLÂNDIA CONTINUOU BRILHANDO, NÃO APENAS PELO SOL, MAS TAMBÉM PELA HISTÓRIA DO MENINO QUE USOU UMA CORNETA MÁGICA PARA ESPALHAR AMIZADE, CORAGEM E ALEGRIA.