ERA UMA VEZ, EM UMA PEQUENA VILA CERCADA POR UMA DENSA FLORESTA CHAMADA VILA DO SOL, UMA MENINA CHAMADA LILA. LILA TINHA OITO ANOS E UM CORAÇÃO CURIOSO QUE ADORAVA EXPLORAR O MUNDO AO SEU REDOR. NO ENTANTO, HAVIA UMA COISA QUE LILA NÃO CONSEGUIA ENFRENTAR: O MEDO.

MAS O MEDO DE LILA NÃO ERA COMO O DE OUTRAS CRIANÇAS, QUE SE ASSUSTAVAM COM TROVÕES OU BICHOS-PAPÕES. O MEDO DE LILA TINHA UMA COR. ELE ERA AZUL. UM AZUL PROFUNDO E ESCURO, COMO O CÉU DA NOITE MAIS FECHADA.

QUANDO LILA SENTIA MEDO, O AZUL TOMAVA CONTA DE TUDO. ELE COMEÇAVA PEQUENO, NOS CANTOS DE SEUS PENSAMENTOS, MAS LOGO CRESCIA COMO UMA MANCHA DE TINTA, COBRINDO TUDO AO SEU REDOR. NINGUÉM MAIS VIA O MEDO AZUL, MAS PARA LILA, ELE ERA REAL E MUITO ASSUSTADOR.

O CONVITE MISTERIOSO

CERTA TARDE, ENQUANTO CAMINHAVA PELA ESTRADA QUE LEVAVA AO BOSQUE, LILA ENCONTROU ALGO INCOMUM. NO MEIO DO CAMINHO HAVIA UM ENVELOPE DOURADO, BRILHANDO SOB O SOL. INTRIGADA, ELA O PEGOU.

O ENVELOPE TINHA SEU NOME ESCRITO COM LETRAS ELEGANTES: “LILA”. DENTRO HAVIA UM PEQUENO PEDAÇO DE PAPEL QUE DIZIA:
“VENHA AO BOSQUE DAS SOMBRAS AO ENTARDECER. TRAGA APENAS CORAGEM.”

LILA SENTIU O AZUL SE APROXIMAR. O BOSQUE DAS SOMBRAS ERA CONHECIDO POR SER ESCURO E MISTERIOSO. MUITAS CRIANÇAS CONTAVAM HISTÓRIAS DE CRIATURAS MÁGICAS QUE VIVIAM ALI. ALGUMAS ERAM GENTIS, MAS OUTRAS… NEM TANTO. AINDA ASSIM, A CURIOSIDADE DE LILA ERA MAIOR QUE SEU MEDO. ELA DECIDIU IR.

A CAMINHADA NA FLORESTA

QUANDO O SOL COMEÇOU A SE ESCONDER ATRÁS DAS MONTANHAS, LILA ENTROU NO BOSQUE. AS ÁRVORES ERAM TÃO ALTAS QUE BLOQUEAVAM QUASE TODA A LUZ. O AZUL DO MEDO COMEÇOU A SE ESPALHAR DEVAGAR, TINGINDO OS TRONCOS DAS ÁRVORES E O CAMINHO À SUA FRENTE.

LILA RESPIROU FUNDO E CONTINUOU ANDANDO. DEPOIS DE ALGUNS MINUTOS, ELA OUVIU UM BARULHO. ERA UM FARFALHAR SUAVE, COMO SE ALGUÉM ESTIVESSE A OBSERVANDO.

— QUEM ESTÁ AÍ? — PERGUNTOU LILA, TENTANDO PARECER CORAJOSA.

UMA VOZ SUAVE E MELODIOSA RESPONDEU:
— NÃO TENHA MEDO, PEQUENA LILA. ESTOU AQUI PARA AJUDAR.

DE TRÁS DE UMA ÁRVORE SURGIU UMA CRIATURA ESTRANHA E ENCANTADORA. ELA TINHA O TAMANHO DE UM COELHO, MAS SUA PELE ERA FEITA DE FOLHAS DOURADAS E SEUS OLHOS BRILHAVAM COMO PEQUENAS ESTRELAS.

— MEU NOME É FOLHINHAS — DISSE A CRIATURA. — FUI EU QUE DEIXEI O CONVITE.

LILA ARREGALOU OS OLHOS.
— POR QUÊ? O QUE VOCÊ QUER COMIGO?

— QUERO MOSTRAR O SEGREDO DO SEU MEDO AZUL — RESPONDEU FOLHINHAS. — MAS PARA ISSO, VOCÊ PRECISA ME SEGUIR.

O CAMINHO DOS ESPELHOS

LILA HESITOU, MAS CONCORDOU. FOLHINHAS A LEVOU POR UM CAMINHO ESTREITO, ONDE O CHÃO PARECIA FEITO DE VIDRO E AS ÁRVORES REFLETIAM A LUZ DA LUA, CRIANDO UM BRILHO MÁGICO.

LOGO, CHEGARAM A UM CÍRCULO DE ESPELHOS. CADA UM TINHA UMA FORMA DIFERENTE: QUADRADOS, REDONDOS, ALTOS, BAIXOS. NO CENTRO, HAVIA UM ESPELHO MAIOR, COM UMA MOLDURA DE GALHOS TRANÇADOS. FOLHINHAS APONTOU PARA ELE.

— ESTE ESPELHO MOSTRA O QUE O MEDO REALMENTE É. OLHE PARA ELE, LILA.

LILA SENTIU O AZUL DO MEDO CRESCER RAPIDAMENTE. ELA NÃO QUERIA OLHAR. E SE O QUE VISSE FOSSE TERRÍVEL? MAS ALGO DENTRO DELA DIZIA QUE PRECISAVA FAZER ISSO. COM AS MÃOS TRÊMULAS, LILA DEU UM PASSO À FRENTE E ENCAROU O ESPELHO.

O SEGREDO DO MEDO

NO REFLEXO, LILA NÃO VIU UM MONSTRO OU ALGO ASSUSTADOR. ELA VIU UMA MENINA PEQUENA, SENTADA EM UM CANTO, ABRAÇANDO OS JOELHOS. A MENINA TINHA OLHOS TRISTES E ESTAVA CERCADA POR UMA NÉVOA AZUL.

— ESSA SOU EU…? — PERGUNTOU LILA, CONFUSA.

— SIM E NÃO — EXPLICOU FOLHINHAS. — ESSA É A PARTE DE VOCÊ QUE SENTE MEDO. MAS O MEDO NÃO É SEU INIMIGO, LILA. ELE SÓ QUER SER OUVIDO. PERGUNTE A ELA O QUE ESTÁ SENTINDO.

LILA SE APROXIMOU DO REFLEXO E, COM A VOZ SUAVE, PERGUNTOU:
— POR QUE VOCÊ ESTÁ TÃO TRISTE?

A MENINA NO ESPELHO RESPONDEU:
— PORQUE VOCÊ NUNCA ME ESCUTA. SEMPRE TENTA ME AFASTAR, MAS EU SÓ QUERO TE PROTEGER. O MEDO NÃO É RUIM, LILA. ELE SÓ QUER AVISAR QUE ALGO PODE DAR ERRADO. VOCÊ PRECISA APRENDER A ME OUVIR, MAS TAMBÉM A DIZER QUE ESTÁ TUDO BEM.

LILA FICOU EM SILÊNCIO POR UM MOMENTO. ELA NUNCA TINHA PENSADO NO MEDO DESSA FORMA. SEMPRE ACHOU QUE ELE ERA ALGO A SER EVITADO, NÃO COMPREENDIDO.

— EU PROMETO TENTAR OUVIR VOCÊ — DISSE LILA AO REFLEXO.

ASSIM QUE FALOU, A NÉVOA AZUL COMEÇOU A MUDAR. ELA FICOU MAIS CLARA, TRANSFORMANDO-SE EM UM TOM SUAVE, COMO O CÉU AO AMANHECER. A MENINA NO ESPELHO SORRIU, E LILA SENTIU ALGO DIFERENTE. O MEDO AINDA ESTAVA LÁ, MAS AGORA ERA MENOR E MENOS ASSUSTADOR.

UM NOVO COMEÇO

FOLHINHAS SORRIU.
— VOCÊ ACABOU DE DESCOBRIR O SEGREDO DO MEDO, LILA. ELE SÓ É GRANDE E ASSUSTADOR QUANDO VOCÊ TENTA IGNORÁ-LO. QUANDO VOCÊ O ACEITA, ELE SE TORNA UM GUIA, NÃO UM INIMIGO.

LILA AGRADECEU A FOLHINHAS E COMEÇOU A CAMINHAR DE VOLTA PARA CASA. ENQUANTO ANDAVA, PERCEBEU QUE O AZUL AINDA ESTAVA LÁ, MAS AGORA ELE PARECIA UM AMIGO. NÃO DOMINAVA TUDO AO SEU REDOR. PELO CONTRÁRIO, ELE DAVA ESPAÇO PARA O VERDE DAS ÁRVORES E O DOURADO DA LUA.

QUANDO CHEGOU EM CASA, LILA SE SENTIA DIFERENTE. ELA SABIA QUE AINDA ENFRENTARIA MOMENTOS DE MEDO, MAS AGORA ENTENDIA QUE O SEGREDO ERA OUVI-LO, ACEITÁ-LO E, ACIMA DE TUDO, CONTINUAR ANDANDO.

E ASSIM, LILA CRESCEU APRENDENDO A VIVER COM SEU MEDO AZUL, QUE NUNCA MAIS A IMPEDIU DE EXPLORAR O MUNDO. AFINAL, O VERDADEIRO SEGREDO DO MEDO É QUE ELE SÓ QUER SER RECONHECIDO.