ERA UMA VEZ, NUM CANTINHO TRANQUILO DA FLORESTA, UM SAPINHO CHAMADO LECO. ELE ERA DIFERENTE DOS OUTROS SAPOS DO LAGO. ENQUANTO TODOS OS SAPOS ADORAVAM ENGOLIR MOSQUITOS PARA O JANTAR, LECO TINHA UM GRANDE PROBLEMA: ELE SIMPLESMENTE NÃO QUERIA ENGOLIR MOSQUITOS.

“SÃO NOJENTOS!”, RECLAMAVA ELE. “POR QUE EU NÃO POSSO COMER OUTRA COISA, COMO FRUTAS OU FOLHAS?”

OS OUTROS SAPOS ACHAVAM ENGRAÇADO. “LECO, SOMOS SAPOS! ENGOLIR MOSQUITOS FAZ PARTE DE QUEM SOMOS!” DIZIA DONA SALTA, A SÁBIA ANCIÃ DO LAGO.

MAS LECO NÃO SE CONVENCIA. ELE VIVIA INVENTANDO DESCULPAS PARA NÃO COMER. QUANDO UM MOSQUITO PASSAVA VOANDO, ELE FINGIA QUE NÃO O VIA OU VIRAVA A CABEÇA. ÀS VEZES, QUANDO ESTAVA COM MUITA FOME, COMIA SÓ UM OU DOIS MOSQUITOS, MAS ISSO O DEIXAVA DE MAU HUMOR O RESTO DO DIA.

O MISTÉRIO DO LAGO

UMA NOITE, ENQUANTO A LUA BRILHAVA SOBRE O LAGO, LECO NOTOU ALGO ESTRANHO. O AR ESTAVA MAIS QUIETO DO QUE DE COSTUME. NÃO HAVIA O SOM DO HABITUAL ZUMBIDO DOS MOSQUITOS. CURIOSO, ELE PULOU ATÉ A MARGEM E VIU ALGO SURPREENDENTE: A ÁGUA ESTAVA COBERTA POR UMA FINA CAMADA DE TEIAS BRILHANTES.

“TEIAS? AQUI NO LAGO?” LECO COÇOU A CABEÇA COM UMA PATINHA.

DE REPENTE, UMA ARANHA ENORME DESCEU DE UMA ÁRVORE PRÓXIMA. “AH, OLÁ, JOVEM SAPO”, DISSE ELA, COM UM SORRISO QUE FEZ LECO TREMER. “SOU ARABELA, A TECELÃ DA FLORESTA. DECIDI AJUDAR OS ANIMAIS CAPTURANDO TODOS OS MOSQUITOS. NÃO É MARAVILHOSO?”

LECO PISCOU. ERA ESTRANHO, MAS ELE NÃO PODIA NEGAR QUE A IDEIA PARECIA BOA. “BEM, EU NÃO GOSTO DE MOSQUITOS, ENTÃO… ACHO QUE É ÓTIMO!” RESPONDEU ELE.

UM LAGO EM SILÊNCIO

NOS DIAS SEGUINTES, O LAGO FICOU QUIETO. OS MOSQUITOS DESAPARECERAM, E OS OUTROS SAPOS COMEÇARAM A RECLAMAR. “SEM MOSQUITOS, O QUE VAMOS COMER?” PERGUNTAVAM UNS AOS OUTROS. ATÉ DONA SALTA PARECIA PREOCUPADA. “OS MOSQUITOS SÃO UMA PARTE IMPORTANTE DO NOSSO LAR. SEM ELES, ALGO PODE DAR ERRADO.”

MAS LECO ESTAVA FELIZ. ELE COMEÇOU A EXPERIMENTAR OUTRAS COMIDAS: SEMENTES QUE CAÍAM DAS ÁRVORES, PEDACINHOS DE ALGAS, E ATÉ PEQUENAS FRUTINHAS QUE BOIAVAM NA ÁGUA. PARA ELE, A AUSÊNCIA DOS MOSQUITOS ERA UMA BÊNÇÃO.

A CHEGADA DO CAOS

PORÉM, A TRANQUILIDADE NÃO DUROU MUITO. COM O PASSAR DAS SEMANAS, ALGO ESTRANHO COMEÇOU A ACONTECER. OS PEIXES, QUE COSTUMAVAM COMER AS LARVAS DOS MOSQUITOS, COMEÇARAM A SUMIR, POIS NÃO TINHAM MAIS O QUE COMER. SEM OS PEIXES, O EQUILÍBRIO DO LAGO FOI QUEBRADO, E A ÁGUA FICOU TURVA E CHEIA DE ALGAS. OS PÁSSAROS, QUE DEPENDIAM DOS MOSQUITOS PARA ALIMENTAR SEUS FILHOTES, TAMBÉM COMEÇARAM A DESAPARECER.

OS SAPOS, POR SUA VEZ, ESTAVAM CADA VEZ MAIS FRACOS. SEM MOSQUITOS PARA ENGOLIR, ELES NÃO TINHAM ENERGIA PARA PULAR OU CANTAR. ATÉ LECO COMEÇOU A SENTIR OS EFEITOS. SUAS NOVAS COMIDAS NÃO O DEIXAVAM FORTE COMO ANTES, E ELE SE SENTIA CANSADO O TEMPO TODO.

“TALVEZ DONA SALTA TENHA RAZÃO”, PENSOU LECO. “OS MOSQUITOS PODEM SER NOJENTOS, MAS ELES SÃO IMPORTANTES PARA O LAGO.”

UM PLANO CORAJOSO

DETERMINANDO-SE A RESOLVER O PROBLEMA, LECO DECIDIU CONVERSAR COM ARABELA. “SENHORA ARANHA, PRECISAMOS TRAZER OS MOSQUITOS DE VOLTA. O LAGO ESTÁ DOENTE SEM ELES.”

ARABELA ARQUEOU UMA SOBRANCELHA. “AH, MEU PEQUENO AMIGO, MAS POR QUE EU FARIA ISSO? GOSTO DE UM LAGO SEM MOSQUITOS. ELES ME IRRITAM TANTO QUANTO A VOCÊ!”

LECO PENSOU RÁPIDO. “E SE EU TE AJUDAR A CONSTRUIR UMA TEIA MAIOR, LONGE DO LAGO? ASSIM VOCÊ PODE PEGAR OUTROS INSETOS, COMO MARIPOSAS E BESOUROS.”

ARABELA COÇOU O QUEIXO COM UMA DE SUAS PATAS. “HMM… É UMA PROPOSTA INTERESSANTE. MAS VOCÊ VAI PRECISAR ME AJUDAR A DESFAZER TODAS AS TEIAS DO LAGO PRIMEIRO.”

LECO SABIA QUE SERIA DIFÍCIL, MAS ACEITOU. ELE PASSOU OS DIAS SEGUINTES PULANDO DE UM LADO PARA O OUTRO, PUXANDO FIOS DE TEIA E LIBERTANDO OS MOSQUITOS PRESOS. AOS POUCOS, ELES COMEÇARAM A VOLTAR AO LAGO.

A RECONCILIAÇÃO COM OS MOSQUITOS

QUANDO OS MOSQUITOS VOLTARAM, O LAGO COMEÇOU A SE RECUPERAR. OS PEIXES REAPARECERAM, OS PÁSSAROS VOLTARAM A CANTAR, E OS SAPOS RECUPERARAM SUAS FORÇAS. ATÉ LECO, COM O ESTÔMAGO RONCANDO, PERCEBEU QUE NÃO TINHA MAIS ESCOLHA.

“TALVEZ ENGOLIR MOSQUITOS NÃO SEJA TÃO RUIM ASSIM…” PENSOU ELE. QUANDO O PRIMEIRO MOSQUITO PASSOU VOANDO, LECO ESTICOU A LÍNGUA E O PEGOU. SURPREENDENTEMENTE, ELE NÃO SE SENTIU TÃO MAL QUANTO ESPERAVA.

DONA SALTA SORRIU AO VER LECO ENGOLINDO MOSQUITOS COMO UM SAPO DE VERDADE. “ÀS VEZES, PRECISAMOS ACEITAR QUEM SOMOS PARA AJUDAR O LUGAR ONDE VIVEMOS.”

LECO CONCORDOU. ELE APRENDEU QUE, EMBORA NÃO GOSTASSE DOS MOSQUITOS, ELES ERAM ESSENCIAIS PARA O EQUILÍBRIO DO LAGO. E ASSIM, LECO PASSOU A ENGOLIR MOSQUITOS COM MAIS FREQUÊNCIA, MAS AINDA SE PERMITIA UMA OU OUTRA FRUTINHA DE VEZ EM QUANDO.

O LAGO EM HARMONIA

COM O TEMPO, O LAGO VOLTOU A SER O QUE ERA: UM LUGAR CHEIO DE VIDA, COM O ZUMBIDO DOS MOSQUITOS E O COAXAR ALEGRE DOS SAPOS. E NO MEIO DE TUDO ISSO, LÁ ESTAVA LECO, FELIZ POR TER AJUDADO A SALVAR SEU LAR.

E SE VOCÊ PASSASSE PELO LAGO NUMA NOITE DE LUA CHEIA, TALVEZ VISSE UM PEQUENO SAPO VERDE COM UM MOSQUITO NA LÍNGUA E UM SORRISO NO ROSTO, PORQUE ELE FINALMENTE ENTENDEU QUE CADA PEDACINHO DA NATUREZA TEM SEU PAPEL – ATÉ MESMO OS MOSQUITOS.