SHIRLEI TINHA UM GATINHO CHAMADO PUMA. APESAR DO NOME DE FELINO SELVAGEM, ELE ERA UMA BOLINHA DE PELOS PREGUIÇOSA E TRAVESSA, COM OLHOS QUE PARECIAM PEDIR DESCULPAS MESMO QUANDO FAZIA ALGUMA BAGUNÇA. SHIRLEI ADORAVA PUMA, MAS NAQUELE DIA, AI, QUE RAIVA!
TUDO COMEÇOU NUMA MANHÃ ENSOLARADA. SHIRLEI ESTAVA NO QUINTAL BRINCANDO COM SUA CORDA DE PULAR, ENQUANTO PUMA TOMAVA BANHO DE SOL, ESPARRAMADO NA GRAMA. DE REPENTE, O SOM DE PASSARINHOS NA ÁRVORE CHAMOU A ATENÇÃO DO GATINHO. ELE LEVANTOU AS ORELHAS, MEXEU O BIGODE E... ZÁS! EM UM PULO ELEGANTE (OU QUASE), ESCALOU A ÁRVORE COMO SE FOSSE UM VERDADEIRO PUMA DA SELVA.
– PUMA, DESCE JÁ DAÍ! – GRITOU SHIRLEI, LARGANDO A CORDA E COLOCANDO AS MÃOS NA CINTURA.
MAS PUMA NÃO DEU OUVIDOS. ELE FOI MAIS ALTO, PULOU DA ÁRVORE PARA O TELHADO DA CASA E FICOU LÁ, DEITADÃO, COM O RABO BALANÇANDO COMO SE DISSESSE: "AQUI EM CIMA ESTÁ ÓTIMO, OBRIGADO."
SHIRLEI FICOU UMA FERA.
– PUMA, VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO? DESCE AGORA, OU EU VOU... VOU... VOU CHAMAR O PAPAI!
PUMA APENAS BOCEJOU, COMO QUEM DIZIA: "RELAXA, HUMANA. O TELHADO É O MEU NOVO TRONO."
A MENINA FOI CORRENDO ATÉ O PAI, QUE ESTAVA CONSERTANDO O PORTÃO.
– PAPAI, O PUMA SUBIU NO TELHADO E NÃO QUER DESCER!
O PAI, SEGURANDO UMA CHAVE INGLESA, OLHOU PARA CIMA E COÇOU A CABEÇA.
– ESSE GATINHO DANADO..., MAS NÃO SE PREOCUPE, SHIRLEI, ELE VAI DESCER QUANDO SENTIR FOME.
– MAS ISSO PODE DEMORAR HORAS! – SHIRLEI CRUZOU OS BRAÇOS, INCONFORMADA. – E SE ELE DECIDIR MORAR LÁ PARA SEMPRE?
O PAI RIU E VOLTOU AO PORTÃO. SHIRLEI, PORÉM, NÃO ESTAVA NEM UM POUCO DISPOSTA A ESPERAR. SUBIR NO TELHADO ESTAVA FORA DE QUESTÃO (ELA ERA CORAJOSA, MAS NÃO TANTO ASSIM). ENTÃO DECIDIU TOMAR UMA ATITUDE DRAMÁTICA: PEGOU UM PRATINHO E COLOCOU UM POUCO DO PATÊ FAVORITO DE PUMA.
– VAMOS VER QUEM É MAIS ESPERTO, SEU PELUDO TEIMOSO! – DISSE, BALANÇANDO O PRATINHO DEBAIXO DO TELHADO.
MAS PUMA, DE LÁ DE CIMA, SÓ ERGUEU O FOCINHO E VOLTOU A DEITAR COMO UM REI, TOTALMENTE INDIFERENTE. SHIRLEI BUFOU.
FOI ENTÃO QUE TEVE OUTRA IDEIA. PEGOU SUA CORDA DE PULAR, FEZ UM LAÇO BEM FIRME E A ARREMESSOU PARA O TELHADO, TENTANDO LAÇAR O GATINHO. NÃO DEU CERTO, CLARO – PUMA ERA PEQUENO DEMAIS E ESCAPAVA FÁCIL. MAS A CENA ERA TÃO ENGRAÇADA QUE A VIZINHA, DONA TEREZA, QUE ESTAVA REGANDO SUAS PLANTAS, QUASE DERRUBOU O REGADOR DE TANTO RIR.
– SHIRLEI, MINHA QUERIDA, DEIXA O PUMA CURTIR O TELHADO UM POUQUINHO. LOGO ELE DESCE SOZINHO, VOCÊ VAI VER.
– MAS EU TÔ FURIOSA! – DISSE SHIRLEI, FRUSTRADA.
FOI ENTÃO QUE ALGO INESPERADO ACONTECEU: UM VENTINHO FRIO COMEÇOU A SOPRAR, E O CÉU, ANTES AZUL, FICOU CINZA. GOTAS DE CHUVA COMEÇARAM A CAIR.
PUMA, QUE ODIAVA SE MOLHAR, DEU UM SALTO E VOLTOU PARA A ÁRVORE NUM PISCAR DE OLHOS. DE LÁ, DESCEU RAPIDAMENTE PARA O CHÃO, SACUDINDO OS PELOS COMO QUEM DIZIA: "POR QUE NINGUÉM ME AVISOU QUE IA CHOVER?"
– AHÁ! – EXCLAMOU SHIRLEI, VITORIOSA. – EU SABIA QUE VOCÊ NÃO RESISTIRIA, SEU GATINHO TEIMOSO!
PUMA MIOU BAIXINHO E ESFREGOU A CABEÇA NAS PERNAS DELA, COMO SE PEDISSE DESCULPAS. SHIRLEI NÃO CONSEGUIU FICAR BRAVA POR MUITO TEMPO. AFINAL, ERA IMPOSSÍVEL RESISTIR ÀQUELE PAR DE OLHOS BRILHANTES.
E ASSIM, SHIRLEI APRENDEU QUE, ÀS VEZES, NÃO ADIANTA FICAR FURIOSA. BASTA ESPERAR UM POUQUINHO – OU UMA BOA CHUVA – QUE TUDO SE RESOLVE.
E QUANTO AO PUMA? BEM, ELE FICOU LONGE DO TELHADO POR ALGUNS DIAS..., MAS, COMO TODO BOM GATINHO, JÁ ESTAVA PLANEJANDO SUA PRÓXIMA AVENTURA.