Contos doTio-Avô
Saulo Piva Romero
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ERA UMA VEZ, NO CORAÇÃO DA DENSA FLORESTA DO MATO GROSSO, UMA ALDEIA CHAMADA YARAÍ. ALI, VIVIAM DIVERSOS POVOS INDÍGENAS, QUE RESPEITAVAM A NATUREZA E AS LENDAS ANTIGAS. ENTRE ELES, HAVIA UMA JOVEM GUERREIRA CONHECIDA COMO PENA DE BEM-TE-VI. SEU NOME VINHA DA BELA PENA QUE ELA SEMPRE USAVA PRESA AO CABELO, UMA LEMBRANÇA DO PÁSSARO QUE LHE TROUXE SORTE EM SUA PRIMEIRA CAÇADA. PENA DE BEM-TE-VI ERA CONHECIDA POR SUA BELEZA, MAS SUA CORAGEM ERA AINDA MAIOR.

 

 O CHAMADO DO PAJÉ

 

CERTA MANHÃ, O PAJÉ DA ALDEIA, UM VELHO SÁBIO QUE CONVERSAVA COM OS ESPÍRITOS DA FLORESTA, TEVE UMA VISÃO PERTURBADORA. ELE VIU O RIO DAS ALMAS, UM CURSO DE ÁGUA SAGRADO PARA O POVO YARAÍ, SENDO TOMADO POR UMA SOMBRA ESCURA. A ÁGUA, ANTES CRISTALINA, TORNAVA-SE NEGRA E MORTA. OS ANIMAIS FUGIAM, E AS PLANTAS MURCHAVAM. ERA A PRESENÇA DE ANHANGÁ, O ESPÍRITO MALIGNO DAS MATAS, QUE QUERIA DESTRUIR A VIDA DA FLORESTA.

 

O PAJÉ CONVOCOU OS GUERREIROS MAIS VALENTES DA ALDEIA, E ENTRE ELES ESTAVA PENA DE BEM-TE-VI. "O ESPÍRITO ANHANGÁ DESEJA LEVAR NOSSO RIO SAGRADO PARA AS PROFUNDEZAS DAS TREVAS", DISSE O PAJÉ. "SOMENTE ALGUÉM DE CORAÇÃO PURO E DESTEMIDO PODE ENFRENTÁ-LO. PENA DE BEM-TE-VI, VOCÊ É NOSSA MELHOR ESPERANÇA."

 

 A JORNADA NA FLORESTA

 

COM SUA LANÇA ADORNADA COM PENAS E UM ARCO FEITO DO TRONCO MAIS RESISTENTE, PENA DE BEM-TE-VI PARTIU SOZINHA. A FLORESTA ERA SUA AMIGA; ELA CONHECIA CADA CANTO, CADA SOM. AS ARARAS SOBREVOAVAM SUA CABEÇA, E OS MACACOS GRITAVAM NAS COPAS DAS ÁRVORES, ALERTANDO-A DOS PERIGOS.

 

AO ATRAVESSAR A TRILHA DOS CIPÓS, ELA ENCONTROU UM VELHO TAMANDUÁ-BANDEIRA QUE PARECIA CANSADO. "PEQUENA GUERREIRA, O ESPÍRITO ANHANGÁ ROUBOU O BRILHO DE NOSSOS RIOS. ELE ESTÁ NO CORAÇÃO DA FLORESTA, NA CAVERNA DA PERDIÇÃO. MAS CUIDADO, ELE PODE TOMAR QUALQUER FORMA PARA ENGANAR VOCÊ", ALERTOU O TAMANDUÁ.

 

 O ENCONTRO COM O ESPÍRITO DA FLORESTA

 

PENA DE BEM-TE-VI SEGUIU EM DIREÇÃO À CAVERNA, MAS NO CAMINHO ENCONTROU UMA ONÇA-PINTADA, DE OLHOS BRILHANTES COMO ESTRELAS. "QUEM SE ATREVE A ADENTRAR MEUS DOMÍNIOS?" ROSNOU A ONÇA.

 

"SOU PENA DE BEM-TE-VI, E VENHO RESTAURAR A PUREZA DO RIO DAS ALMAS", RESPONDEU A GUERREIRA, COM FIRMEZA.

 

A ONÇA OBSERVOU A JOVEM COM INTERESSE. "SE SEU CORAÇÃO FOR TÃO PURO QUANTO SUAS PALAVRAS, A FLORESTA ESTARÁ AO SEU LADO." E ENTÃO, COM UM SALTO GRACIOSO, DESAPARECEU ENTRE AS SOMBRAS.

 

A CAVERNA DA PERDIÇÃO

 

AO CHEGAR À ENTRADA DA CAVERNA, PENA DE BEM-TE-VI OUVIU UM SOM MELODIOSO. UMA MULHER DE LONGOS CABELOS NEGROS DANÇAVA ALI, RODEADA POR FLORES, CANTANDO UMA CANÇÃO HIPNÓTICA. "JOVEM GUERREIRA, VENHA DESCANSAR. VOCÊ DEVE ESTAR CANSADA DA LONGA JORNADA", DISSE A MULHER, COM UM SORRISO ACOLHEDOR.

 

PENA DE BEM-TE-VI HESITOU. ALGO NA VOZ SUAVE LHE PARECIA ERRADO. ELA ENTÃO FECHOU OS OLHOS E ESCUTOU O VENTO QUE SOPRAVA PELAS ÁRVORES. OUVIU O CHAMADO DISTANTE DO BEM-TE-VI, SEU PÁSSARO DA SORTE. FOI QUANDO PERCEBEU: A MULHER ERA, NA VERDADE, ANHANGÁ DISFARÇADO, TENTANDO ENGANÁ-LA.

 

"NÃO ME ENGANARÁ, ESPÍRITO TRAIÇOEIRO!", GRITOU PENA DE BEM-TE-VI, ERGUENDO SUA LANÇA.

 

ANHANGÁ RIU, ASSUMINDO SUA VERDADEIRA FORMA: UM CERVO DE OLHOS VERMELHOS E CHIFRES DE FOGO. "VOCÊ É CORAJOSA, MENINA. MAS NINGUÉM JAMAIS DERROTOU ANHANGÁ", RUGIU O ESPÍRITO.

 

 A BATALHA FINAL

 

A LUTA FOI INTENSA. ANHANGÁ CONJUROU VENTOS SOMBRIOS E FEZ AS SOMBRAS DAS ÁRVORES SE ERGUEREM CONTRA A JOVEM GUERREIRA. PENA DE BEM-TE-VI, COM SUA DESTREZA, DESVIAVA DAS GARRAS E DOS GOLPES SOMBRIOS. QUANDO TUDO PARECIA PERDIDO, ELA LEMBROU-SE DE UM ENSINAMENTO DO PAJÉ: O PODER DO CANTO SAGRADO DA FLORESTA.

 

PENA DE BEM-TE-VI COMEÇOU A CANTAR UMA ANTIGA CANÇÃO QUE SUA AVÓ LHE ENSINARA, UMA MELODIA QUE FALAVA DA CRIAÇÃO DO MUNDO, DO SOL, DA LUA E DOS ESPÍRITOS PROTETORES. O CANTO FEZ AS ÁRVORES BALANÇAREM, E A FLORESTA RESPONDEU. A ONÇA, O TAMANDUÁ E AS ARARAS SURGIRAM PARA AJUDÁ-LA. OS ESPÍRITOS DA FLORESTA, INVOCADOS PELA CANÇÃO, CERCARAM ANHANGÁ, ENFRAQUECENDO-O.

 

COM UM ÚLTIMO GOLPE, PENA DE BEM-TE-VI ACERTOU O CORAÇÃO DO ESPÍRITO MALIGNO. ANHANGÁ SOLTOU UM UIVO ENSURDECEDOR ANTES DE DESAPARECER COMO FUMAÇA AO VENTO.

 

 O RETORNO À ALDEIA

 

AO VENCER O ESPÍRITO, O RIO DAS ALMAS VOLTOU A BRILHAR. OS PEIXES NADARAM FELIZES, E AS FLORES DE VITÓRIA-RÉGIA ABRIRAM SUAS PÉTALAS AO SOL. PENA DE BEM-TE-VI RETORNOU À ALDEIA YARAÍ COMO UMA HEROÍNA. O PAJÉ A RECEBEU COM UM SORRISO ORGULHOSO.

 

"VOCÊ TROUXE DE VOLTA A VIDA À NOSSA FLORESTA, JOVEM GUERREIRA. A CORAGEM QUE VOCÊ MOSTROU SERÁ LEMBRADA POR TODAS AS GERAÇÕES QUE VIRÃO", DISSE ELE.

 

PENA DE BEM-TE-VI SORRIU. ELA SABIA QUE SUA MISSÃO ESTAVA CUMPRIDA, MAS TAMBÉM SABIA QUE A FLORESTA SEMPRE PRECISARIA DE PROTETORES. COLOCOU UMA NOVA PENA DE BEM-TE-VI EM SEU CABELO E OLHOU PARA O HORIZONTE.

 

E ASSIM, A JOVEM GUERREIRA TORNOU-SE UMA LENDA ENTRE SEU POVO, UMA HISTÓRIA CONTADA AO REDOR DAS FOGUEIRAS. UMA HISTÓRIA SOBRE CORAGEM, SABEDORIA E O AMOR PELA NATUREZA.

 

E DIZEM QUE, SEMPRE QUE O BEM-TE-VI CANTA NO AMANHECER, É UM SINAL DE QUE PENA DE BEM-TE-VI AINDA VIGIA E PROTEGE A FLORESTA, DE ONDE QUER QUE ESTEJA.

 

Saulo Piva Romero
Enviado por Saulo Piva Romero em 12/11/2024
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