ERA UMA VEZ, NUMA PEQUENA VILA À BEIRA-MAR, UM HOMEM MISTERIOSO QUE TODAS AS NOITES DE LUA CHEIA CAMINHAVA PELA PRAIA. NINGUÉM SABIA AO CERTO DE ONDE ELE VINHA, MAS SUAS PEGADAS FICAVAM GRAVADAS NA AREIA ATÉ A MARÉ LEVÁ-LAS DE VOLTA AO MAR. DIZIAM OS ANTIGOS QUE ELE GUARDAVA UM SEGREDO TÃO PROFUNDO QUANTO O OCEANO.
CERTO DIA, UMA MENINA CHAMADA MARINA, CURIOSA COMO SÓ ELA, RESOLVEU SEGUI-LO. TODOS NA VILA A AVISARAM PARA NÃO CHEGAR PERTO DELE, POIS MUITAS LENDAS CERCAVAM AQUELE HOMEM, MAS A MENINA, CHEIA DE CORAGEM E CURIOSIDADE, ESPEROU A LUA CHEIA APARECER NO CÉU E DECIDIU DESCOBRIR POR SI MESMA.
ERA UMA NOITE MÁGICA. O MAR ESTAVA TRANQUILO, E O REFLEXO DA LUA DANÇAVA NAS ONDAS, ILUMINANDO O CAMINHO. MARINA CAMINHOU DESCALÇA NA AREIA FRIA, E LOGO AVISTOU O HOMEM, SEMPRE DE COSTAS, A CAMINHAR LENTAMENTE. ELE USAVA UMA CAPA LONGA E UMA BENGALA QUE AFUNDAVA SUAVEMENTE NA AREIA A CADA PASSO.
CAUTELOSA, A MENINA SEGUIU-O DE LONGE, TENTANDO NÃO FAZER BARULHO, MAS DE REPENTE UMA CONCHA DEBAIXO DE SEU PÉ QUEBROU, FAZENDO UM ESTALO. O HOMEM PAROU. O CORAÇÃO DE MARINA BATEU MAIS FORTE, MAS, AO INVÉS DE SE VIRAR E CONFRONTÁ-LA, O HOMEM APENAS SUSPIROU E CONTINUOU SEU CAMINHO.
QUANDO ELE CHEGOU A UMA PEDRA GRANDE À BEIRA DO MAR, PAROU. O VENTO SOPROU SUAVE, E O HOMEM FINALMENTE SE VIROU, OLHANDO DIRETAMENTE PARA MARINA. SEUS OLHOS NÃO ERAM ASSUSTADORES, MAS TINHAM UMA TRISTEZA PROFUNDA. ELE FEZ UM GESTO COM A MÃO, CONVIDANDO-A A SE APROXIMAR.
COM O CORAÇÃO NA GARGANTA, MARINA CAMINHOU ATÉ ELE.
— VOCÊ VEIO ME ENCONTRAR — DISSE O HOMEM COM UMA VOZ ROUCA, MAS GENTIL.
— QUEM É VOCÊ? — PERGUNTOU MARINA, TENTANDO ESCONDER O MEDO.
— SOU O GUARDIÃO DAS MEMÓRIAS DO MAR. HÁ MUITOS ANOS, FIZ UM PACTO COM O OCEANO PARA PROTEGER SEUS SEGREDOS E OS MISTÉRIOS QUE GUARDA. MAS, EM TROCA, FIQUEI PRESO A ESTAS AREIAS, VAGANDO EM CADA NOITE DE LUA CHEIA.
MARINA FRANZIU A TESTA.
— PRESO? NÃO PODE IR EMBORA?
— NÃO ATÉ QUE ENCONTRE ALGUÉM QUE POSSA OUVIR AS HISTÓRIAS QUE O MAR SUSSURRA — ELE DISSE, OLHANDO PARA O HORIZONTE. — ALGUÉM PURO DE CORAÇÃO E DISPOSTO A OUVIR O QUE O OCEANO TEM A DIZER.
— EU POSSO OUVIR — RESPONDEU MARINA, DETERMINADA. — SEMPRE AMEI O MAR E SUAS ONDAS. QUERO SABER SEUS SEGREDOS.
O HOMEM SORRIU, O PRIMEIRO SORRISO QUE ELA VIA NELE, E APONTOU PARA O MAR.
— ENTÃO ESCUTE.
MARINA FECHOU OS OLHOS, E O SOM DO MAR PARECEU MUDAR. AS ONDAS SUSSURRAVAM PALAVRAS QUE ELA NUNCA HAVIA ESCUTADO ANTES, CONTAVAM HISTÓRIAS DE SEREIAS QUE UM DIA NADARAM LIVREMENTE, DE PIRATAS QUE ENTERRARAM TESOUROS ESQUECIDOS, DE REIS E RAINHAS DE TERRAS SUBMERSAS E CRIATURAS MÁGICAS QUE VIVIAM NAS PROFUNDEZAS DO OCEANO. O TEMPO PARECIA PARAR, E MARINA FOI ENVOLVIDA POR AQUELA MAGIA ANTIGA.
QUANDO FINALMENTE ABRIU OS OLHOS, O HOMEM HAVIA DESAPARECIDO. MAS ALGO EM SEU CORAÇÃO HAVIA MUDADO. ELA SABIA QUE, DE ALGUMA FORMA, ELE NÃO ESTAVA MAIS PRESO. O HOMEM MISTERIOSO ENCONTRARA EM MARINA ALGUÉM QUE PODERIA MANTER VIVAS AS HISTÓRIAS DO MAR.
A PARTIR DAQUELA NOITE, SEMPRE QUE A LUA CHEIA SURGIA NO CÉU, MARINA CAMINHAVA PELA PRAIA E CONTAVA AS HISTÓRIAS QUE OUVIRA DO OCEANO. E AS ONDAS PARECIAM MAIS CALMAS, COMO SE AGRADECESSEM.
E ASSIM, AS HISTÓRIAS DO MAR NUNCA FORAM ESQUECIDAS, E MARINA SE TORNOU A NOVA GUARDIÃ, CAMINHANDO PELA PRAIA, NÃO MAIS SOZINHA, MAS COM O OCEANO COMO SEU AMIGO ETERNO.