ERA UMA VEZ, EM UM GRANDE FORMIGUEIRO ESCONDIDO NO CORAÇÃO DE UMA FLORESTA, UMA FORMIGUINHA CHAMADA ANARA. COMO TODAS AS FORMIGAS, ELA TRABALHAVA INCANSAVELMENTE AO LADO DE SUAS IRMÃS, CARREGANDO FOLHAS, SEMENTES E CUIDANDO DO FORMIGUEIRO. AS FORMIGAS SEMPRE SE AJUDAVAM, E ANARA SABIA QUE A FORÇA DE UMA FORMIGA ESTAVA NA UNIÃO DE TODAS. DESDE QUE NASCERA, OUVIRA AS SÁBIAS PALAVRAS DA RAINHA: "A FORMIGA É PEQUENA, MAS JUNTAS, SOMOS UM EXÉRCITO!"
ANARA, NO ENTANTO, TINHA ALGO QUE A FAZIA DIFERENTE. EM VEZ DE ESTAR SEMPRE CONTENTE COM SUAS TAREFAS, ELA SE SENTIA INQUIETA. ELA OLHAVA PARA AS FORMIGAS AO REDOR E PENSAVA: "NÓS TRABALHAMOS SEM PARAR, NUNCA QUESTIONAMOS, NUNCA SONHAMOS... SERÁ QUE SÓ PODEMOS SER FORMIGAS E NADA MAIS?"
UM DIA, ENQUANTO CARREGAVA UM GRÃO DE AREIA, ANARA PAROU. ELA LARGOU O GRÃO E SE SENTOU AO PÉ DE UMA GRANDE ÁRVORE. ELA OLHOU PARA O CÉU E, PELA PRIMEIRA VEZ, NÃO PENSOU EM TRABALHO, MAS EM SI MESMA. ENQUANTO ELA REFLETIA, UMA GRANDE SERPENTE ESPREITAVA A FLORESTA. SUA PELE ESCAMOSA BRILHAVA À LUZ DO SOL ENQUANTO ELA RASTEJAVA SILENCIOSA EM DIREÇÃO AO FORMIGUEIRO.
AS OUTRAS FORMIGAS PERCEBERAM O PERIGO E IMEDIATAMENTE SE REUNIRAM EM UM ENXAME. MILHARES DE PEQUENAS PATAS SE MOVERAM EM HARMONIA, PRONTAS PARA DEFENDER SUA CASA. MAS ANARA FICOU ALI, DEBAIXO DA ÁRVORE, IMÓVEL. ELA SABIA QUE AS FORMIGAS PODERIAM VENCER A SERPENTE, COMO SEMPRE FIZERAM, UNIDAS. MAS, DE ALGUMA FORMA, ANARA SE SENTIA PRESA.
“TODO O ENIGMA DA VIDA ESTÁ FECHADO NA CABEÇA DE UMA FORMIGA,” ELA PENSAVA, LEMBRANDO-SE DAS PALAVRAS QUE OUVIRA CERTA VEZ DE UMA FORMIGA ANCIÃ. “SERÁ QUE NUNCA PODEREMOS SER MAIS QUE ISSO? NUNCA PODEREMOS SONHAR EM SER MAIS DO QUE FORMIGAS?”
DE REPENTE, A SERPENTE AVANÇOU, SUA BOCA PRONTA PARA ATACAR AS FORMIGAS. MAS ANTES QUE PUDESSE DAR O BOTE, ANARA FEZ ALGO EXTRAORDINÁRIO. ELA JUNTOU SUAS PEQUENAS PATINHAS E FEZ UMA PRECE SILENCIOSA, NÃO PARA A SERPENTE, NEM PARA AS FORMIGAS, MAS PARA O VENTO, PARA A FLORESTA, PARA TUDO AO SEU REDOR. ELA PEDIU POR ALGO DIFERENTE, ALGO QUE A AJUDASSE A ENTENDER O QUE SIGNIFICAVA REALMENTE VIVER.
ENTÃO, ALGO MÁGICO ACONTECEU. AS RAÍZES DA GRANDE ÁRVORE SOB A QUAL ANARA ESTAVA COMEÇARAM A SE MOVER SUAVEMENTE, COMO SE OUVISSEM SUA PRECE. ELAS SE ENTRELAÇARAM EM VOLTA DA SERPENTE, IMPEDINDO-A DE AVANÇAR. A SERPENTE, SURPRESA, RECUOU E DESAPARECEU RAPIDAMENTE ENTRE AS FOLHAS.
AS FORMIGAS, ESPANTADAS, OLHARAM PARA ANARA. NUNCA HAVIAM VISTO ALGO ASSIM. ELAS SEMPRE SOUBERAM QUE ERAM FORTES JUNTAS, MAS ANARA, DE ALGUMA FORMA, CONSEGUIRA VENCER A SERPENTE SOZINHA, COM UMA PRECE E UM DESEJO PROFUNDO DE ALGO MAIS. A RAINHA SE APROXIMOU DE ANARA E FALOU COM SUA VOZ FIRME, MAS GENTIL:
— "VOCÊ NOS MOSTROU QUE MESMO PEQUENAS, PODEMOS ALCANÇAR O DESCONHECIDO, SE TIVERMOS CORAGEM DE NOS PERGUNTAR QUEM REALMENTE SOMOS."
ANARA SORRIU, MAS NÃO DE ORGULHO. ELA SABIA QUE NÃO ERA MAIS FORTE DO QUE SUAS IRMÃS. APENAS TINHA ESCUTADO UM CHAMADO DIFERENTE NAQUELE DIA, E ISSO A FIZERA ENRAIZAR-SE NA TERRA DE UMA MANEIRA ESPECIAL. DESDE ENTÃO, ANARA FICOU CONHECIDA COMO "A FORMIGA ENRAIZADA", NÃO POR TER RAÍZES QUE A PRENDIAM À TERRA, MAS POR TER ENCONTRADO DENTRO DE SI MESMA A RAIZ DE ALGO MAIOR, ALGO QUE TODAS AS FORMIGAS COMPARTILHAVAM, MAS QUE POUCAS OUSAVAM DESCOBRIR.
E ASSIM, ANARA CONTINUOU A TRABALHAR AO LADO DE SUAS IRMÃS. ELA NÃO ERA DIFERENTE, MAS AGORA SABIA QUE, POR TRÁS DE CADA PEQUENA TAREFA, DE CADA FOLHA CARREGADA, HAVIA UM MISTÉRIO MAIOR, PROFUNDO COMO O DESFILADEIRO DO VERÃO, ALÉM DAS GOTAS DE ORVALHO E DO MURMÚRIO NOTURNO. A VIDA DAS FORMIGAS, APESAR DE SIMPLES, ESCONDIA SEGREDOS ANTIGOS, E ANARA AGORA SABIA QUE O ENIGMA DA VIDA PODERIA SER DESVENDADO, ATÉ MESMO POR UMA FORMIGA.