ERA UMA VEZ, NUM LUGAR MUITO DISTANTE, ESCONDIDO NO CORAÇÃO DE UMA FLORESTA MÁGICA, VIVIA KALIL KAEL, O GUARDIÃO DO VALE DA ESCURIDÃO. KALIL ERA DIFERENTE DE TODOS OS OUTROS. ELE TINHA APENAS UM OLHO E POSSUÍA UM DOM ESPECIAL: PODIA SE TRANSFORMAR NUM GRANDE E PELUDO ANIMAL, COMO UMA ANTA, OU VOLTAR À SUA FORMA DE UM HOMEM ALTO, CABELUDO E BARBUDO.
KALIL NÃO ERA UM HOMEM COMUM. ELE ERA O PROTETOR DAS MATAS E CUIDAVA DE CADA ÁRVORE, RIACHO E ANIMAL QUE VIVIA POR LÁ. SUA MISSÃO ERA GARANTIR QUE NINGUÉM QUEBRASSE A ORDEM OU O SILÊNCIO DAS NOITES NA FLORESTA. ÀS VEZES, O VENTO CARREGAVA UM SOM ESTRANHO E ASSUSTADOR: UM GRITO ALTO QUE ECOAVA PELAS ÁRVORES. ESSE ERA O GRITO DE KALIL, E TODOS SABIAM QUE, SE OUVISSEM, JAMAIS DEVERIAM RESPONDÊ-LO. DIZIAM QUE QUEM RESPONDESSE AO CHAMADO DO GUARDIÃO PODERIA PERDER O JUÍZO, POIS O GRITO CARREGAVA OS SEGREDOS MAIS ANTIGOS E PODEROSOS DA FLORESTA.
KALIL VIVIA NO MISTERIOSO VALE DA ESCURIDÃO, UM LUGAR QUE, APESAR DE SEU NOME ASSUSTADOR, NÃO ERA PERIGOSO PARA QUEM RESPEITAVA A FLORESTA. O VALE ERA PROFUNDO E CERCADO POR ÁRVORES TÃO ALTAS QUE SUAS COPAS TOCAVAM O CÉU. LÁ, O SILÊNCIO ERA ABSOLUTO, E KALIL CONHECIA CADA SEGREDO, CADA CANTO ESCONDIDO. ERA SEU LAR, E ELE FAZIA DE TUDO PARA PROTEGÊ-LO.
CERTA NOITE, DOIS JOVENS IRMÃOS, JÚLIA E PEDRO, ESTAVAM EXPLORANDO A FLORESTA. ELES ERAM MUITO CURIOSOS E QUERIAM SABER MAIS SOBRE AS LENDAS DO VALE DA ESCURIDÃO. OS MAIS VELHOS SEMPRE OS ADVERTIAM SOBRE O GUARDIÃO, MAS ELES NÃO ACREDITAVAM QUE KALIL REALMENTE EXISTIA.
— SERÁ QUE A GENTE ENCONTRA O GUARDIÃO? — PERGUNTOU PEDRO, EMPOLGADO.
— ACHO QUE É SÓ UMA HISTÓRIA QUE CONTAM PARA A GENTE NÃO SAIR À NOITE — RESPONDEU JÚLIA, COM UM SORRISO DE DESAFIO.
ENQUANTO CAMINHAVAM, OUVIRAM UM SOM DISTANTE. UM GRITO FORTE, QUE PARECIA ECOAR DE TODOS OS LADOS. ELES CONGELARAM NO LUGAR.
— O QUE FOI ISSO? — PEDRO SUSSURROU, COM OS OLHOS ARREGALADOS.
— NÃO SEI, MAS NÃO PODEMOS RESPONDER — DISSE JÚLIA, LEMBRANDO DAS HISTÓRIAS.
MAS, MOVIDO PELA CURIOSIDADE, PEDRO QUASE GRITOU DE VOLTA. ANTES QUE PUDESSE, JÚLIA O SEGUROU PELO BRAÇO. OS DOIS FICARAM QUIETOS, E O GRITO SE AFASTOU, DESAPARECENDO NO AR.
DE REPENTE, DIANTE DELES, UMA SOMBRA GRANDE SURGIU. AOS POUCOS, A FIGURA FOI SE REVELANDO: ERA KALIL KAEL. ELE ESTAVA EM SUA FORMA HUMANA, COM LONGOS CABELOS E BARBA ESPESSA. SEU ÚNICO OLHO BRILHAVA COMO UMA ESTRELA NO MEIO DA NOITE.
— VOCÊS SÃO CORAJOSOS, MAS A FLORESTA NÃO É UM LUGAR PARA BRINCAR — DISSE KALIL COM UMA VOZ GRAVE, MAS NÃO ZANGADA.
OS IRMÃOS FICARAM PARALISADOS. NÃO SABIAM SE CORRIAM OU PEDIAM DESCULPAS.
— EU SOU O GUARDIÃO DESTE VALE — CONTINUOU KALIL — E A FLORESTA TEM SUAS REGRAS. SE VOCÊS A RESPEITAREM, ELA SEMPRE OS PROTEGERÁ. MAS, SE PERTURBAREM O SILÊNCIO DAS NOITES, PODEM SE PERDER PARA SEMPRE NOS SEGREDOS QUE ELA GUARDA.
JÚLIA E PEDRO OUVIRAM COM ATENÇÃO. KALIL ENTÃO SE TRANSFORMOU DIANTE DE SEUS OLHOS NUM ENORME BICHO PELUDO, PARECIDO COM UMA ANTA, E DESAPARECEU ENTRE AS ÁRVORES.
A PARTIR DAQUELE DIA, OS IRMÃOS NUNCA MAIS DUVIDARAM DAS LENDAS DA FLORESTA. ELES APRENDERAM A RESPEITAR A NATUREZA E SEU SILÊNCIO, SABENDO QUE KALIL KAEL ESTAVA SEMPRE POR PERTO, CUIDANDO DE TUDO. E QUANDO OUVIRAM O GRITO DE KALIL NOVAMENTE, ELES FICARAM QUIETOS, GRATOS POR ESTAREM SEGUROS NO CORAÇÃO DA FLORESTA.
E ASSIM, A LENDA DO GUARDIÃO DO VALE DA ESCURIDÃO CONTINUOU A SER CONTADA, PARA QUE TODOS LEMBRASSEM DE RESPEITAR A MAGIA E OS MISTÉRIOS DA FLORESTA.