ERA UMA VEZ UM PEQUENO REINO, CHEIO DE FLORES COLORIDAS, PASSARINHOS QUE CANTAVAM O DIA INTEIRO E UM CÉU TÃO AZUL QUE PARECIA DE PINTURA. LÁ MORAVA O REIZINHO ABUL, QUE TINHA TUDO PARA SER FELIZ: UM CASTELO COM MUITAS JANELAS, JARDINS CHEIOS DE BORBOLETAS E UM TRONO FEITO DE NUVENS FOFAS (PELO MENOS, ERA O QUE DIZIAM). MAS SABE O QUE ERA ESTRANHO? ABUL, O REIZINHO, ESTAVA SEMPRE, SEMPRE, SEMPRE DE MAL HUMOR!
ELE FRANZIA AS SOBRANCELHAS O TEMPO TODO, BUFAVA SEM PARAR E, QUANDO FALAVA, ERA SEMPRE COM A VOZ EMBURRADA:
"EU NÃO GOSTO DISSO!", "EU NÃO QUERO AQUILO!" OU "SAI DA MINHA FRENTE!". ATÉ OS PASSARINHOS, QUE CANTAVAM LINDAMENTE, PARAVAM DE CANTAR QUANDO VIAM ABUL PASSAR, COM MEDO DE LEVAR UMA BRONCA.
UM DIA, A SÁBIA CONSELHEIRA DO REINO, DONA MARGARIDA, FOI FALAR COM O REIZINHO. ELA ERA UMA VELHINHA COM CABELOS BRANCOS COMO ALGODÃO E SEMPRE TINHA UM SORRISO TRANQUILO NO ROSTO.
— MAJESTADE, O QUE O DEIXA TÃO MAL-HUMORADO? — PERGUNTOU ELA GENTILMENTE.
ABUL DEU DE OMBROS, EMBURRADO COMO SEMPRE.
— EU NEM SEI! SÓ SEI QUE FICO BRAVO, IRRITADO, CHATEADO O TEMPO TODO!
DONA MARGARIDA SORRIU E, PACIENTEMENTE, DISSE:
— SABE, ABUL, ÀS VEZES, QUANDO A GENTE ESTÁ MAL-HUMORADO, O CORAÇÃO FICA TÃO APERTADO QUE ESQUECE COMO É RIR DE VERDADE. MAS TEM UMA SOLUÇÃO SIMPLES: CÓCEGAS NO CORAÇÃO!
O REIZINHO FRANZIU AINDA MAIS A TESTA. CÓCEGAS NO CORAÇÃO? ISSO NÃO FAZIA O MENOR SENTIDO PARA ELE!
— O QUE SÃO CÓCEGAS NO CORAÇÃO? — PERGUNTOU, DESCONFIADO.
DONA MARGARIDA DEU UMA RISADINHA SUAVE.
— SÃO MOMENTOS QUE FAZEM VOCÊ RIR DE VERDADE, MOMENTOS EM QUE VOCÊ ESQUECE DE TODAS AS COISAS QUE TE IRRITAM. PODE SER UMA PIADA, UMA BRINCADEIRA, OU ATÉ UMA MÚSICA BOBA. SÓ QUE, PARA ISSO, VOCÊ PRECISA SE ABRIR, PARAR DE BUFAR POR UM SEGUNDO E DEIXAR O CORAÇÃO LEVE COMO UMA PLUMA.
ABUL SUSPIROU, MAS DECIDIU DAR UMA CHANCE. NO DIA SEGUINTE, O REIZINHO ACORDOU E TENTOU NÃO BUFAR AO SAIR DA CAMA. EM VEZ DE RECLAMAR DO CAFÉ DA MANHÃ, ELE OBSERVOU OS PASSARINHOS CANTANDO NA JANELA. QUANDO UMA BORBOLETA POUSOU NO NARIZ DELE, QUASE DEU UMA RISADINHA... QUASE.
FOI ENTÃO QUE ALGO CURIOSO ACONTECEU. OS HABITANTES DO REINO, QUE SEMPRE SE ESCONDIAM DO MAL-HUMOR DO REI, COMEÇARAM A SE APROXIMAR. UM GRUPO DE CRIANÇAS APARECEU PARA BRINCAR NO JARDIM DO CASTELO. ELAS RIAM, CORRIAM E FAZIAM CARETAS ENGRAÇADAS. ABUL, DE SUA JANELA, OBSERVAVA, CURIOSO.
DE REPENTE, UMA DAS CRIANÇAS TROPEÇOU E CAIU DE UM JEITO TÃO ENGRAÇADO QUE ABUL SOLTOU UMA RISADA SEM QUERER. FOI UMA RISADA TÍMIDA, QUASE ESCONDIDA, MAS ERA UMA RISADA! E SABE O QUE ACONTECEU? O CORAÇÃO DELE FEZ UM PEQUENO “PLIM!”, COMO SE UMA PLUMA TIVESSE TOCADO. ABUL COLOCOU A MÃO NO PEITO, SURPRESO.
“SERÁ QUE É ISSO QUE DONA MARGARIDA QUIS DIZER? CÓCEGAS NO CORAÇÃO?”
NOS DIAS SEGUINTES, ABUL COMEÇOU A REPARAR NAS COISAS SIMPLES AO SEU REDOR. RIU QUANDO O GATO DO CASTELO TENTOU PEGAR O PRÓPRIO RABO, SORRIU AO VER O JARDINEIRO DANÇANDO NO MEIO DAS FLORES E GARGALHOU DE VERDADE QUANDO DONA MARGARIDA CONTOU UMA PIADA BOBA SOBRE UM SAPO QUE QUERIA SER CANTOR.
AOS POUCOS, O MAL-HUMOR DO REIZINHO FOI SE DERRETENDO, COMO GELO AO SOL. NÃO QUER DIZER QUE ELE NUNCA MAIS FICAVA BRAVO. ÀS VEZES, ABUL AINDA TINHA SEUS DIAS RUINS, COMO TODO MUNDO. CHORAVA, GRITAVA, FICAVA EMBURRADO. MAS AGORA ELE SABIA O SEGREDO: CÓCEGAS NO CORAÇÃO. E SEMPRE QUE SE SENTIA MAL-HUMORADO, ELE SE LEMBRAVA DE QUE O BOM HUMOR ESTAVA BEM ALI, ESCONDIDO ENTRE RISADAS E MOMENTOS BOBOS.
E ASSIM, O PEQUENO REINO FICOU AINDA MAIS FELIZ, PORQUE, QUANDO O REIZINHO ABUL RIA, TODO O REINO RIA JUNTO.
E VIVERAM TODOS RINDO E FAZENDO CÓCEGAS NO CORAÇÃO PARA SEMPRE!