ERA UMA VEZ, À BEIRA DE UM RIO CRISTALINO, UMA MOÇA CHAMADA VERA VERUSKA. ELA MORAVA NO FUNDO DO RIO, ONDE OS PEIXES NADAVAM E AS PEDRAS BRILHAVAM COMO ESTRELAS. TODAS AS NOITES, QUANDO A LUA SURGIA NO CÉU, VERA VERUSKA SUBIA DAS PROFUNDEZAS CARREGANDO UM ESPELHO PRATEADO, QUE PARECIA TER SIDO FEITO DA PRÓPRIA ÁGUA DO RIO. ELA CAMINHAVA SILENCIOSA PELA MARGEM, SENTAVA-SE EM UMA PEDRA COBERTA DE MUSGO E, SEM DIZER UMA PALAVRA, ADMIRAVA SEU PRÓPRIO ROSTO NO ESPELHO.
— POR QUE SERÁ QUE VERA VERUSKA FAZ ISSO? — PERGUNTAVAM AS CORUJAS CURIOSAS, QUE VIAM TUDO DO ALTO DAS ÁRVORES.
VERA VERUSKA ERA LINDA, COM CABELOS LONGOS E DOURADOS COMO OS RAIOS DO SOL. MAS, ESTRANHAMENTE, ELA NUNCA SORRIA. TODAS AS NOITES, ELA OLHAVA SEU REFLEXO NO ESPELHO, MAS SEUS OLHOS PARECIAM ESTAR SEMPRE BUSCANDO ALGO MAIS, COMO SE PROCURASSE UMA RESPOSTA ESCONDIDA NAS ONDAS.
UMA NOITE, ENQUANTO VERA VERUSKA ADMIRAVA SEU REFLEXO, UMA LIBÉLULA, MUITO PEQUENA E BRILHANTE, POUSOU EM SUA MÃO. ERA UMA LIBÉLULA ENCANTADA, QUE ADORAVA FAZER PERGUNTAS E DESCOBRIR SEGREDOS.
— OI, MOÇA DO RIO! — DISSE A LIBÉLULA, COM SUA VOZINHA SUAVE. — POR QUE VOCÊ OLHA TANTO PARA O SEU ROSTO? VOCÊ É TÃO BONITA, MAS PARECE TÃO TRISTE!
VERA VERUSKA, SURPREENDIDA, RESPONDEU GENTILMENTE:
— EU OLHO NO ESPELHO PORQUE, QUANDO ESTOU NO FUNDO DO RIO, NÃO POSSO VER O MEU ROSTO. AS ÁGUAS LÁ SÃO ESCURAS E EU NÃO ME LEMBRO COMO EU SOU. ENTÃO, VENHO AQUI, À LUZ DA LUA, PARA ME LEMBRAR DE QUEM SOU.
A LIBÉLULA PISCOU SUAS ASAS BRILHANTES E SORRIU:
— MAS VOCÊ NÃO PRECISA DE UM ESPELHO PARA SABER QUEM É. O QUE VOCÊ CARREGA POR DENTRO É MUITO MAIS BONITO DO QUE O QUE O ESPELHO MOSTRA!
VERA VERUSKA FRANZIU A TESTA. NINGUÉM NUNCA HAVIA DITO ALGO ASSIM A ELA.
— O QUE EU CARREGO POR DENTRO? — PERGUNTOU CURIOSA.
A LIBÉLULA DANÇOU PELO AR E RESPONDEU:
— SIM! SUA BONDADE, SUA CORAGEM, SEU AMOR PELO RIO E PELOS PEIXINHOS... TUDO ISSO FAZ VOCÊ SER QUEM É. O ESPELHO SÓ MOSTRA UMA PARTE PEQUENA DE VOCÊ. QUER VER COMO É LINDO O QUE VOCÊ TEM POR DENTRO?
VERA VERUSKA SORRIU, ALGO QUE ELA NÃO FAZIA HÁ MUITO TEMPO, E NESSE INSTANTE, UMA LUZ SUAVE COMEÇOU A BRILHAR AO SEU REDOR. ERA COMO SE A PRÓPRIA LUA TIVESSE DESCIDO DO CÉU PARA ENVOLVÊ-LA. ELA OLHOU NOVAMENTE NO ESPELHO E, PELA PRIMEIRA VEZ, VIU ALÉM DO SEU REFLEXO. ELA VIU A LUZ DO SEU CORAÇÃO, VIU SUA BONDADE E SEU AMOR PELA NATUREZA. E ERA A COISA MAIS LINDA QUE JÁ TINHA VISTO.
COM UM SUSPIRO DE ALEGRIA, VERA VERUSKA SOLTOU O ESPELHO QUE SEGURAVA. O ESPELHO FLUTUOU POR UM INSTANTE E DEPOIS AFUNDOU DEVAGAR NAS ÁGUAS DO RIO, SE TORNANDO PARTE DELE. ELA NÃO PRECISAVA MAIS DELE.
— OBRIGADA, PEQUENA LIBÉLULA — DISSE VERA VERUSKA, FELIZ. — AGORA SEI QUE SOU MUITO MAIS DO QUE MEU REFLEXO.
A LIBÉLULA PISCOU E VOOU PARA LONGE, DANÇANDO PELA NOITE ESTRELADA.
A PARTIR DAQUELA NOITE, VERA VERUSKA NÃO SUBIA MAIS À SUPERFÍCIE PARA OLHAR O ESPELHO. ELA AINDA SUBIA PARA VER A LUA E AS ESTRELAS, MAS AGORA O FAZIA COM UM SORRISO NO ROSTO, PORQUE SABIA QUE SUA VERDADEIRA BELEZA VINHA DE DENTRO. E, ASSIM, AS ÁGUAS DO RIO CONTINUARAM A BRILHAR, REFLETINDO A LUZ DO CORAÇÃO DE VERA VERUSKA PARA SEMPRE.