ERA UMA VEZ UM VELHO MARUJO CHAMADO SEU MANUEL, QUE HAVIA PASSADO A VIDA INTEIRA NAVEGANDO PELOS MARES DO BRASIL. ELE CONHECIA CADA ONDA, CADA SOPRO DE VENTO E CADA CANTO DE PEIXE QUE HABITAVA AS PROFUNDEZAS. NO ENTANTO, HAVIA UM PEIXE QUE ELE JAMAIS CONSEGUIRA FISGAR, UM PEIXE RARO E MAJESTOSO CHAMADO BEIJUPIRÁ, TAMBÉM CONHECIDO COMO O REI DOS PEIXES.
DIZIAM QUE O BEIJUPIRÁ ERA SOLITÁRIO, NADAVA SOZINHO PELAS ÁGUAS MORNAS DO LITORAL NORDESTINO, E APENAS OS MAIS PACIENTES E HABILIDOSOS PESCADORES TINHAM A SORTE DE ENCONTRÁ-LO. A LENDA CONTAVA QUE QUEM PESCASSE O BEIJUPIRÁ DEVERIA HASTEAR UMA BANDEIRA BRANCA OU VERMELHA EM SINAL DE REVERÊNCIA, POIS FISGAR O REI DOS MARES ERA UMA HONRA QUE POUCOS ALCANÇAVAM.
SEU MANUEL, COM SEUS CABELOS BRANCOS COMO A ESPUMA DO MAR E PELE CURTIDA PELO SOL, SEMPRE SONHOU EM CAPTURAR O PEIXE REI. ELE HAVIA OUVIDO HISTÓRIAS SOBRE O BEIJUPIRÁ DESDE JOVEM, MAS NUNCA O HAVIA VISTO, NEM MESMO DE RELANCE. AGORA, JÁ COM MUITOS ANOS DE MAR NAS COSTAS, DECIDIU QUE SUA ÚLTIMA GRANDE MISSÃO SERIA ENCONTRAR O TAL PEIXE LENDÁRIO.
NAQUELE OUTONO, O VENTO TRAZIA MURMÚRIOS DE QUE O BEIJUPIRÁ PODERIA SER ENCONTRADO AO NORTE DE UBATUBA, NO LITORAL PAULISTA. AS ÁGUAS ESTAVAM FRIAS, E O PEIXE, CONHECIDO POR PERCORRER LONGAS DISTÂNCIAS DURANTE O OUTONO E O INVERNO, PODIA ESTAR POR ALI, PASSANDO DESPERCEBIDO ENTRE AS ROCHAS E COSTÕES. SEM PENSAR DUAS VEZES, SEU MANUEL PREPAROU SEU PEQUENO BARCO DE MADEIRA E PARTIU RUMO AO HORIZONTE.
FORAM DIAS DE ESPERA. O VELHO MARUJO LANÇAVA SUA LINHA AO MAR A CADA AMANHECER, ESPERANDO O PUXÃO FIRME QUE INDICARIA A PRESENÇA DO BEIJUPIRÁ. O CÉU MUDAVA DE COR, AS ESTRELAS VINHAM E IAM, MAS O PEIXE NÃO APARECIA. NA QUARTA MADRUGADA, PORÉM, ALGO DIFERENTE ACONTECEU.
ENQUANTO OBSERVAVA AS ÁGUAS CALMAS, SEU MANUEL SENTIU UMA LEVE VIBRAÇÃO NA LINHA. SEU CORAÇÃO BATEU FORTE. ELE PUXOU DEVAGAR, COM AS MÃOS TRÊMULAS DE EXPECTATIVA, E A LINHA COMEÇOU A SE MEXER. ERA FORTE, RESISTENTE, E LUTAVA COMO SE FOSSE O DONO DO MAR. "É ELE!", PENSOU SEU MANUEL, COM O CORAÇÃO DISPARADO. "O REI DOS PEIXES!"
A LUTA ENTRE O VELHO MARUJO E O BEIJUPIRÁ DUROU HORAS. O PEIXE SE DEBATIA, MERGULHAVA FUNDO, E SEU MANUEL PUXAVA COM TODA A SUA FORÇA E EXPERIÊNCIA ACUMULADA. ERA UMA DANÇA ENTRE HOMEM E MAR, UMA BATALHA SILENCIOSA QUE TESTAVA A PACIÊNCIA E A DETERMINAÇÃO DO MARUJO. FINALMENTE, COM UM ÚLTIMO PUXÃO, ELE CONSEGUIU TRAZER O BEIJUPIRÁ À SUPERFÍCIE.
O PEIXE ERA MAGNÍFICO. GRANDE, COM SUAS ESCAMAS PRATEADAS QUE RELUZIAM AO LUAR, ELE PARECIA CARREGAR TODA A MAJESTADE DO OCEANO. SEUS OLHOS ERAM PROFUNDOS E TRANQUILOS, COMO SE SOUBESSE QUE SEU DESTINO ESTAVA TRAÇADO DESDE O INÍCIO. SEU MANUEL, APESAR DA ALEGRIA DE FINALMENTE CAPTURAR O PEIXE QUE TANTO BUSCARA, SENTIU UMA ESTRANHA SENSAÇÃO DE RESPEITO E REVERÊNCIA.
LEMBRANDO-SE DA ANTIGA TRADIÇÃO, O VELHO MARUJO SOLTOU A LINHA, FOI ATÉ O MASTRO DE SEU BARCO E ERGUEU UMA PEQUENA BANDEIRA BRANCA QUE HAVIA TRAZIDO ESPECIALMENTE PARA ESSA OCASIÃO. ELE NÃO QUERIA CAPTURAR O REI DOS PEIXES PARA SI. QUERIA APENAS ENCONTRAR A MAJESTADE QUE TANTO ADMIRAVA.
AO HASTEAR A BANDEIRA, O BEIJUPIRÁ, COMO SE ENTENDESSE O GESTO DE RESPEITO, DEU UM LEVE IMPULSO E MERGULHOU DE VOLTA ÀS PROFUNDEZAS. SEU MANUEL, AO VÊ-LO SUMIR NAS ÁGUAS ESCURAS, SORRIU COM OS OLHOS CHEIOS DE LÁGRIMAS.
O VELHO MARUJO NÃO LEVOU O PEIXE, MAS, NAQUELE MOMENTO, ELE SOUBE QUE HAVIA CUMPRIDO SUA MISSÃO. AFINAL, A HONRA MAIOR NÃO ESTAVA EM CAPTURAR O REI DOS PEIXES, MAS EM ENCONTRÁ-LO E RESPEITAR SUA SOBERANIA NO VASTO REINO DO OCEANO.
E ASSIM, SEU MANUEL VOLTOU AO PORTO, COM O CORAÇÃO LEVE E A ALMA EM PAZ, SABENDO QUE, EMBORA TIVESSE DEIXADO O BEIJUPIRÁ IR, A LENDA DO REI DOS PEIXES CONTINUARIA VIVA, ESPERANDO OUTRO MARUJO CORAJOSO PARA HONRAR SUA MAJESTADE.