NA COLINA DOS ESPELHOS, ONDE O SOL BRILHAVA COMO UM GRANDE SORRISO NO CÉU, HAVIA UM ESPANTALHO DE PALHA, DESAJEITADO E SOLITÁRIO, PLANTADO NO MEIO DE UM VASTO CAMPO DE GIRASSÓIS. ESSE ESPANTALHO, SEM NOME E SEM VIDA, PASSAVA OS DIAS EM PÉ, ASSUSTANDO CORVOS E SONHANDO, EM SILÊNCIO, COM ALGO QUE ELE NÃO SABIA O QUE ERA.
ATÉ QUE UM DIA, UMA FADA DO BEM, CHAMADA FABIOLA, DECIDIU DAR UM POUCO DE MAGIA ÀQUELE LUGAR. COM UM ACENO GRACIOSO DA SUA VARINHA, ELA DISSE:
— HOJE, VOCÊ VAI GANHAR ALGO MUITO ESPECIAL. VOU LHE DAR UM CORAÇÃO, ESPANTALHO, E COM ELE, TODOS OS SENTIMENTOS HUMANOS.
E, COM UMA EXPLOSÃO DE PÓ DE ESTRELAS, O ESPANTALHO SENTIU ALGO NOVO E MÁGICO EM SEU PEITO DE PALHA. SEU CORAÇÃO COMEÇOU A BATER E, PELA PRIMEIRA VEZ, ELE PISCOU, MOVEU OS BRAÇOS E DEU UM PASSO CAMBALEANTE PARA FRENTE. ELE ESTAVA VIVO!
DESAJEITADO E CURIOSO, O ESPANTALHO SAIU DO CAMPO DE GIRASSÓIS E CAMINHOU EM DIREÇÃO À VILA NA BASE DA COLINA. FOI LÁ QUE ELE VIU SABRINA PELA PRIMEIRA VEZ. ELA ERA A MOÇA MAIS GRACIOSA QUE ELE JÁ VIRA — COM LONGOS CABELOS DOURADOS, UM VESTIDO ROSA FLORIDO, E UMA RISADA TÃO DOCE QUANTO O MEL. AO SEU LADO ESTAVA BILÚ, UM CACHORRINHO MARROM E PELUDO, QUE IMEDIATAMENTE FAREJOU ENCRENCA.
— OLHA QUEM ESTÁ AQUI, BILÚ — DISSE SABRINA, QUANDO VIU O ESPANTALHO. — UM ESPANTALHO CAMINHANDO! QUE COISA MAIS INUSITADA!
O ESPANTALHO, COM O CORAÇÃO DISPARADO, DEU UM SORRISO TORTO.
— OLÁ... EU ME CHAMO... HÃ... AINDA NÃO TENHO NOME. — ELE SE ENVERGONHOU UM POUCO. — MAS POSSO ME CHAMAR ESPANTO, SE VOCÊ QUISER.
SABRINA RIU, COM UMA DOÇURA QUE FEZ O CORAÇÃO DE ESPANTO DAR CAMBALHOTAS DENTRO DO PEITO DE PALHA.
— ESPANTO? É UM NOME ENGRAÇADO! — SABRINA SORRIU E FEZ UM AFAGO EM BILÚ, QUE COMEÇOU A ROSNAR BAIXINHO. O CACHORRINHO NÃO GOSTAVA NEM UM POUCO DAQUELE ESPANTALHO ESQUISITO E IA FAZER DE TUDO PARA AFASTÁ-LO DE SUA DONA.
NOS DIAS QUE SE SEGUIRAM, ESPANTO SEMPRE DAVA UM JEITO DE ENCONTRAR SABRINA, FOSSE NA PRAÇA, NO MERCADO OU MESMO NA BEIRA DO LAGO. ELE SE APAIXONOU POR SEU JEITO GENTIL, SUA RISADA E ATÉ PELO PERFUME DE FLORES QUE ELA SEMPRE CARREGAVA.
MAS BILÚ NÃO ESTAVA NADA CONTENTE. O CACHORRINHO COMEÇOU A BOLAR PLANOS PARA ACABAR COM O "ROMANCE" ENTRE SUA DONA E AQUELE ESPANTALHO DE PALHA.
NO PRIMEIRO PLANO, BILÚ ENTERROU O CHAPÉU DE ESPANTO NO MEIO DO CAMPO DE GIRASSÓIS, TORCENDO PARA QUE SABRINA NÃO O RECONHECESSE SEM O CHAPÉU. MAS SABRINA RIU.
— ORA, ESPANTO, VOCÊ ESTÁ AINDA MAIS ENGRAÇADO SEM CHAPÉU! — DISSE ELA, AJEITANDO O CABELO DELE COM GENTILEZA. O ESPANTALHO, VERMELHO COMO UM TOMATE, FICOU AINDA MAIS APAIXONADO.
NO SEGUNDO PLANO, BILÚ TENTOU ESCONDER OS SAPATOS DE SABRINA, PARA QUE ELA NÃO PUDESSE SAIR PARA O ENCONTRO. MAS, CLARO, SABRINA SIMPLESMENTE PEGOU OUTRO PAR E FOI FELIZ ENCONTRAR ESPANTO.
ATÉ QUE UM DIA, BILÚ TEVE A IDEIA MAIS MIRABOLANTE DE TODAS: ELE COMEÇOU A LATIR, ROSNAR E PULAR AO REDOR DO ESPANTALHO, TENTANDO MORDER A PALHA QUE SE DESPENTEAVA COM CADA MOVIMENTO.
— BILÚ! PARE COM ISSO! — GRITOU SABRINA, TENTANDO CONTER O CACHORRINHO TRAVESSO.
MAS, ANTES QUE BILÚ PUDESSE DERRUBAR O ESPANTALHO DE VEZ, FABIOLA, A FADA DO BEM, APARECEU NUM CINTILAR DE LUZ.
— BILÚ, BILÚ! — DISSE ELA, COM UM SORRISO BRINCALHÃO. — VOCÊ ESTÁ TENTANDO ATRAPALHAR ALGO BONITO! NÃO É TODO DIA QUE UM ESPANTALHO GANHA UM CORAÇÃO E DESCOBRE O QUE É O AMOR.
BILÚ, COM AS ORELHAS CAÍDAS E O RABINHO ENTRE AS PERNAS, PERCEBEU QUE TALVEZ ESTIVESSE EXAGERANDO. AFINAL, ESPANTO NÃO ERA TÃO MAU ASSIM. E, ACIMA DE TUDO, ELE FAZIA SABRINA FELIZ.
COM UM ÚLTIMO LATIDO BAIXINHO, BILÚ SE DEITOU AO LADO DE SABRINA, ACEITANDO QUE TALVEZ PUDESSE COMPARTILHAR O CARINHO DELA COM ESPANTO.
E ASSIM, NA COLINA DOS ESPELHOS, ESPANTO CONTINUOU A VIVER COM O CORAÇÃO CHEIO DE SENTIMENTOS, MAS O MAIS IMPORTANTE DELES ERA O AMOR QUE SENTIA POR SABRINA. ELE, BILÚ E SABRINA SE TORNARAM INSEPARÁVEIS, VIVENDO MUITAS AVENTURAS ENGRAÇADAS E MOMENTOS DOCES.
AFINAL, QUEM DIRIA QUE UM ESPANTALHO DE PALHA PODERIA TER UM CORAÇÃO TÃO GRANDE?
E ENQUANTO O SOL SE PUNHA, REFLETIDO NOS ESPELHOS DA COLINA, SABRINA SUSSURRAVA PARA ESPANTO:
— SEU NOME PODE SER ESPANTO, MAS PARA MIM, VOCÊ SEMPRE SERÁ MEU CORAÇÃO DE PALHA.
E BILÚ AGORA CORRIA FELIZ AO REDOR DOS DOIS, AFINAL, HAVIA DESCOBERTO QUE O AMOR NÃO É ALGO QUE SE PERDE, MAS SIM ALGO QUE SE MULTIPLICA.