BENTO E BERNARDA ERAM PRIMOS, MAS TODO MUNDO NA FAMÍLIA OS CONHECIA COMO "OS ENFEZADOS." DESDE PEQUENOS, QUALQUER COISA ERA MOTIVO PARA ELES FRANZIREM A TESTA E CRUZAREM OS BRAÇOS. NADA PARECIA AGRADÁ-LOS! SE O SOL ESTAVA MUITO FORTE, BENTO FICAVA ENFEZADO. SE O VENTO SOPRAVA UM POUQUINHO MAIS FORTE, BERNARDA JÁ RECLAMAVA.
CERTA MANHÃ, ELES ACORDARAM DE MAU HUMOR, COMO DE COSTUME. BENTO SE APOIOU NO TRAVESSEIRO E OLHOU PARA A PRIMA, O ROSTO ENFEZADO. “VOCÊ RONCA COMO UM TRATOR, BERNARDA,” DISSE, IRRITADO. BERNARDA, QUE NÃO GOSTAVA DE SER CONTRARIADA, RESPONDEU COM UM OLHAR FURIOSO. “E VOCÊ BABA NO TRAVESSEIRO, QUE COISA MAIS FEIA!”
OS DOIS ESTAVAM TÃO IRRITADOS QUE, QUANDO O GATO ENTROU NO QUARTO, ESTALANDO AS PATAS NO CHÃO DE MADEIRA, BENTO OLHOU PARA ELE COM UMA CARA TÃO FEIA QUE O BICHANO FUGIU RAPIDINHO. O GATO NUNCA MAIS OUSOU ENTRAR ALI SEM ANTES ESPIAR SE OS PRIMOS ESTAVAM DE BOM HUMOR – O QUE ERA RARO.
MAS AQUELE DIA ESTAVA SÓ COMEÇANDO. QUANDO O AVÔ CHAMOU BENTO PARA AJUDAR A TIRAR AS ROUPAS DO VARAL, ELE RESMUNGOU: “POR QUE EU SEMPRE TENHO QUE FAZER ISSO?” E BERNARDA, QUE ESTAVA TENTANDO DOBRAR UM LENÇOL, SE ATRAPALHOU TODA E FICOU AINDA MAIS ENFEZADA. “ESSE LENÇOL ESTÁ CONTRA MIM!”, GRITOU ELA, TENTANDO, SEM SUCESSO, DOMAR O PANO QUE PARECIA TER VIDA PRÓPRIA.
NO ALMOÇO, TUDO SEGUIU O MESMO RITMO. BENTO NÃO GOSTOU DAS CENOURAS. “ESTÃO MUITO COZIDAS!” E BERNARDA RECLAMOU DO SUCO. “ESTÁ SEM AÇÚCAR!”
VENDO A SITUAÇÃO, O AVÔ DECIDIU TOMAR UMA ATITUDE. CHAMOU OS DOIS PARA UMA CONVERSA. “SABEM, BENTO E BERNARDA, VOCÊS PASSAM TANTO TEMPO ENFEZADOS QUE NÃO ENXERGAM O LADO BOM DAS COISAS. APOSTO QUE, SE VOCÊS TENTASSEM SORRIR UM POUQUINHO MAIS, O DIA DE VOCÊS SERIA BEM DIFERENTE.”
BENTO E BERNARDA CRUZARAM OS BRAÇOS. “DUVIDO!”, DISSERAM EM UNÍSSONO.
O AVÔ, ENTÃO, PROPÔS UM DESAFIO. “HOJE À TARDE, VAMOS FAZER ALGO DIFERENTE. VAMOS ANDAR PELA FAZENDA E, EM VEZ DE RECLAMAR, VOCÊS TÊM QUE ENCONTRAR ALGO PARA ELOGIAR. SE CONSEGUIREM, PROMETO UMA SURPRESA NO FINAL DO DIA.”
CURIOSOS COM A PROMESSA, OS PRIMOS ACEITARAM. ELES SAÍRAM PELA FAZENDA, AINDA COM OS ROSTOS FRANZIDOS, MAS, AOS POUCOS, COMEÇARAM A NOTAR COISAS QUE NUNCA TINHAM PERCEBIDO. “OLHA, QUE LEGAL! OS PASSARINHOS FAZEM NINHOS DIFERENTES UNS DOS OUTROS!”, DISSE BENTO, SURPRESO. “E AS FLORES DO JARDIM DA VOVÓ TÊM UM CHEIRO DOCE!”, COMENTOU BERNARDA, AINDA TÍMIDA.
AO FINAL DO PASSEIO, O AVÔ OS SURPREENDEU COM UM BOLO DE CHOCOLATE FRESQUINHO. MAS A MAIOR SURPRESA FOI PERCEBER QUE, PELO MENOS POR AQUELE DIA, OS PRIMOS NÃO ESTAVAM TÃO ENFEZADOS ASSIM.
E ASSIM, BENTO E BERNARDA APRENDERAM QUE A VIDA ERA MAIS LEVE QUANDO DEIXAVAM AS IRRITAÇÕES DE LADO E BUSCAVAM O LADO BOM DAS COISAS – NEM QUE FOSSE SÓ PARA GANHAR UM PEDAÇO DE BOLO NO FINAL DO DIA!