ERA UMA VEZ, EM UM REINO MUITO DISTANTE, UM REI CHAMADO DON BARTOLOMEU, CONHECIDO POR TODOS COMO O REI DOS BACALHAUS. O REINO ERA PEQUENO, MAS FAMOSO POR SUAS ENORMES RESERVAS DE BACALHAU, QUE O REI ACREDITAVA SEREM MÁGICAS. DON BARTOLOMEU TINHA UMA CARACTERÍSTICA PECULIAR: ERA COMPLETAMENTE BIRUTA. O REI VIVIA TENDO ALUCINAÇÕES E SONHANDO COM PEIXES FALANTES, MARES DE NUVENS, E CASTELOS DE AREIA QUE SE TRANSFORMAVAM EM POLVO GIGANTE. OS SÚDITOS O AMAVAM, MESMO COM SUAS EXCENTRICIDADES, POIS ELE SEMPRE TINHA UMA HISTÓRIA DIVERTIDA PARA CONTAR.
UMA NOITE, ENQUANTO DORMIA EM SEU LUXUOSO QUARTO, DON BARTOLOMEU TEVE UM SONHO MUITO ESTRANHO, ATÉ MESMO PARA OS SEUS PADRÕES. NESSE SONHO, UM ENORME BACALHAU DOURADO APARECEU FLUTUANDO SOBRE SEU TRONO. O PEIXE, COM OLHOS BRILHANTES E SÁBIOS, DISSE AO REI:
— DON BARTOLOMEU, GRANDE REI DOS BACALHAUS, UMA FILHA TE SERÁ DADA, MAS HÁ UMA CONDIÇÃO. VOCÊ E A RAINHA SÓ PODERÃO VÊ-LA QUANDO ELA COMPLETAR VINTE ANOS. ATÉ LÁ, ELA VIVERÁ ESCONDIDA NAS PROFUNDEZAS DO CASTELO, LONGE DE TODOS OS OLHARES.
O REI, AINDA SONOLENTO, PISCOU VÁRIAS VEZES, TENTANDO ENTENDER O QUE AQUELE BACALHAU ESTAVA LHE DIZENDO. MAS ANTES QUE PUDESSE RESPONDER, O PEIXE DESAPARECEU, DEIXANDO APENAS UMA LEVE BRISA DE MAR NO AR. DON BARTOLOMEU ACORDOU DE REPENTE, SENTINDO QUE AQUILO NÃO ERA APENAS UM SONHO, MAS UMA VISÃO ENVIADA PELAS PROFUNDEZAS DO OCEANO.
NO DIA SEGUINTE, O REI CONTOU À RAINHA MATILDE SOBRE O SONHO. A RAINHA, SEMPRE PACIENTE COM AS LOUCURAS DO MARIDO, RIU E DISSE:
— ORA, QUERIDO, JÁ IMAGINOU SE ISSO FOSSE VERDADE? TERÍAMOS UMA FILHA QUE NUNCA PODERÍAMOS VER!
— MAS E SE FOR VERDADE? — RETRUCOU O REI, COM OS OLHOS ARREGALADOS. — E SE O BACALHAU DOURADO ESTIVER CERTO?
ALGUNS MESES DEPOIS, A RAINHA MATILDE DESCOBRIU QUE IRIA DAR A LUZ A MAIS UM BACALHAUZINHO. DON BARTOLOMEU FICOU EUFÓRICO E AO MESMO TEMPO PREOCUPADO, LEMBRANDO-SE DO SONHO. NOVE MESES SE PASSARAM, E NASCEU UMA LINDA PRINCESA, COM CABELOS TÃO DOURADOS QUANTO O BACALHAU DO SONHO DO REI. A NOTÍCIA CORREU PELO REINO, MAS, COMO O BACALHAU DOURADO HAVIA DITO, A PRINCESA FOI ESCONDIDA NO FUNDO DO CASTELO, ONDE APENAS AS AMAS E AS FADAS PROTETORAS PODIAM VÊ-LA.
OS ANOS PASSARAM, E DON BARTOLOMEU CONTINUAVA SONHANDO COM O BACALHAU DOURADO, QUE SEMPRE LHE DIZIA:
— ESPERE, MEU REI. SUA FILHA SERÁ A LUZ DE SEU REINO, MAS APENAS QUANDO O TEMPO CERTO CHEGAR.
O REI, AINDA BIRUTA E CHEIO DE ALUCINAÇÕES, CUMPRIU A PROMESSA, EMBORA COM O CORAÇÃO APERTADO DE SAUDADE. ELE E A RAINHA MATILDE ESPERARAM PACIENTEMENTE. DON BARTOLOMEU, EM SEUS DEVANEIOS, IMAGINAVA COMO SERIA SUA FILHA AGORA, JÁ QUE CADA DIA QUE PASSAVA PARECIA UMA ETERNIDADE.
FINALMENTE, O VIGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA PRINCESA CHEGOU. O REINO INTEIRO ESTAVA EM FESTA, ANSIOSO PARA FINALMENTE CONHECER A MISTERIOSA FILHA DO REI. O GRANDE SALÃO DO CASTELO ESTAVA DECORADO COM REDES DE PESCA DOURADAS, CONCHAS BRILHANTES, E, É CLARO, MUITOS BACALHAUS.
QUANDO A PRINCESA APARECEU, TODOS FICARAM MARAVILHADOS. ELA ERA A JOVEM MAIS BELA QUE JÁ HAVIAM VISTO, COM OLHOS QUE BRILHAVAM COMO ESTRELAS DO MAR E UMA VOZ TÃO SUAVE QUANTO O MURMÚRIO DAS ONDAS. DON BARTOLOMEU, AO VER SUA FILHA PELA PRIMEIRA VEZ, SENTIU UMA MISTURA DE ALEGRIA E TRISTEZA. ELE SABIA QUE TODO AQUELE TEMPO DE ESPERA VALERA A PENA.
A PRINCESA, AO VER SEUS PAIS, SORRIU E CORREU PARA ABRAÇÁ-LOS. DON BARTOLOMEU, COM LÁGRIMAS NOS OLHOS, DISSE:
— MINHA QUERIDA FILHA, VOCÊ É A LUZ QUE SEMPRE ESPEREI. E AGRADEÇO AO BACALHAU DOURADO POR TER ME MOSTRADO O CAMINHO, MESMO QUE EM SONHOS LOUCOS.
DESDE AQUELE DIA, O REINO DOS BACALHAUS SE TORNOU AINDA MAIS PRÓSPERO E FELIZ. DON BARTOLOMEU, APESAR DE CONTINUAR BIRUTA, NUNCA MAIS TEVE ALUCINAÇÕES TÃO ESTRANHAS. E A PRINCESA, AGORA AO LADO DE SEUS PAIS, REINOU COM SABEDORIA E AMOR, TRAZENDO PAZ E ALEGRIA PARA TODOS NO REINO.
E ASSIM, O REI DOS BACALHAUS, SUA RAINHA, E A PRINCESA VIVERAM FELIZES PARA SEMPRE, COM A CERTEZA DE QUE, ÀS VEZES, ATÉ OS SONHOS MAIS MALUCOS PODEM SE TORNAR REALIDADE.