SILMARA ESTAVA SENTADA NO PEQUENO CAIS DA ILHA DAS OSTRAS, UM LUGAR ONDE O VENTO SUSSURRAVA SEGREDOS ANTIGOS E AS ONDAS CONTAVAM HISTÓRIAS ESQUECIDAS. O CÉU ESTAVA TINGIDO DE UM LARANJA SUAVE, ANUNCIANDO O CREPÚSCULO, ENQUANTO O MAR, VASTO E SERENO, REFLETIA OS ÚLTIMOS RAIOS DE SOL COMO UM MANTO DE SEDA DOURADA. ALI, NAQUELE CENÁRIO TRANQUILO, A JOVEM MULHER ENCONTRAVA UM POUCO DE PAZ, EMBORA SEU CORAÇÃO ESTIVESSE SEMPRE APERTADO PELA SAUDADE.
SILMARA, COM SEUS LONGOS CABELOS CASTANHOS PRESOS POR UMA FITA DE CETIM COR DE ROSA, TINHA OLHOS QUE PARECIAM REFLETIR A IMENSIDÃO DO MAR. ELA VESTIA UM LEVE VESTIDO LONGO NA COR VERDE, QUE DANÇAVA SUAVEMENTE AO RITMO DA BRISA. AQUELE LUGAR ERA ESPECIAL PARA ELA, POIS ALI, HÁ MUITOS ANOS, CONHECERA O GRANDE AMOR DE SUA VIDA.
O NOME DELE ERA MIGUEL, UM HOMEM DE SORRISO FÁCIL E OLHAR DETERMINADO, CUJA PAIXÃO PELO MAR ERA TÃO INTENSA QUANTO O AMOR QUE NUTRIA POR SILMARA. ELES SE CONHECERAM EM UMA TARDE ENSOLARADA, QUANDO ELE, COM SEU VELEIRO, APORTOU PELA PRIMEIRA VEZ NA ILHA DAS OSTRAS. DESDE ENTÃO, SUAS VIDAS SE ENTRELAÇARAM COMO AS REDES DOS PESCADORES LOCAIS, FIRMES E INSEPARÁVEIS. MIGUEL A ENSINARA A AMAR O MAR, A SENTIR SUA FORÇA E RESPEITAR SEUS MISTÉRIOS. ELES NAVEGAVAM JUNTOS, DESCOBRINDO ILHAS ESCONDIDAS E SEGREDOS QUE APENAS O OCEANO PODIA REVELAR.
MAS NUMA NOITE DE TEMPESTADE, O MAR, SEMPRE TÃO GENEROSO, MOSTROU SEU LADO CRUEL. MIGUEL PARTIU EM SEU VELEIRO PARA UMA ÚLTIMA JORNADA ANTES DO INVERNO CHEGAR. O CÉU ESCURECEU RAPIDAMENTE, E AS ONDAS SE ERGUERAM COMO GIGANTES ENFURECIDOS. SILMARA ESPEROU POR ELE NO PORTO, OLHANDO FIXAMENTE PARA O HORIZONTE, MAS MIGUEL NUNCA MAIS VOLTOU. O MAR, EM SEU PODER INESCRUTÁVEL, O LEVOU PARA SEMPRE.
AGORA, ENQUANTO O SOL SE DESPEDIA DO DIA, SILMARA AVISTOU UM VELEIRO DISTANTE, NAVEGANDO LENTAMENTE PELO HORIZONTE. SEU CORAÇÃO APERTOU, E LÁGRIMAS DISCRETAS COMEÇARAM A CORRER POR SEU ROSTO DELICADO. O VELEIRO PARECIA DESLIZAR SOBRE AS ÁGUAS COM UMA ELEGÂNCIA QUE LHE ERA FAMILIAR, COMO SE FOSSE UMA LEMBRANÇA VIVA DOS DIAS FELIZES QUE VIVERA AO LADO DE MIGUEL.
ELA FECHOU OS OLHOS E, POR UM MOMENTO, PÔDE SENTIR O CALOR DAS MÃOS DE MIGUEL SEGURANDO AS SUAS, A RISADA LEVE DELE AO VENTO, E O SOM DE SUAS VOZES MISTURANDO-SE AO MURMÚRIO DAS ONDAS. ERA COMO SE, DE ALGUMA FORMA, ELE ESTIVESSE ALI, NAVEGANDO NOVAMENTE PARA ELA.
SILMARA ABRIU OS OLHOS E OLHOU PARA O VELEIRO, AGORA QUASE SUMINDO NA LINHA DO HORIZONTE. SENTIU UMA MISTURA DE TRISTEZA E ALÍVIO. TRISTEZA POR SABER QUE MIGUEL NÃO RETORNARIA, MAS ALÍVIO POR PERCEBER QUE, ENQUANTO ELA VIVESSE, AS MEMÓRIAS QUE COMPARTILHARAM ESTARIAM SEMPRE PRESENTES, COMO AQUELE VELEIRO QUE DESLIZAVA SERENAMENTE, LEVANDO CONSIGO O AMOR QUE JAMAIS MORRERIA.
LEVANTANDO-SE, SILMARA DECIDIU QUE VOLTARIA ÀQUELE PORTO TODAS AS TARDES, NÃO MAIS ESPERANDO POR MIGUEL, MAS PARA RECORDAR COM CARINHO OS MOMENTOS QUE COMPARTILHARAM. O MAR, COM TODA SUA GRANDIOSIDADE, HAVIA TOMADO SEU AMADO, MAS TAMBÉM LHE HAVIA DADO LEMBRANÇAS QUE O TEMPO NUNCA PODERIA APAGAR.
E ASSIM, AO SOM DAS ONDAS E SOB O CÉU ESTRELADO, SILMARA SORRIU. SABIA QUE, DE ALGUMA FORMA, MIGUEL SEMPRE ESTARIA NAVEGANDO AO SEU LADO, E QUE O AMOR DELES, COMO O MAR, ERA ETERNO E INFINITO.