NUMA CIDADEZINHA CHAMADA SERTÃOZINHO, HAVIA UM CAIPIRA MUITO CONHECIDO POR SUAS HISTÓRIAS E CAUSOS. SEU NOME ERA CHICO GARGANTA, UM HOMEM ESPERTO, MAS MEIO DESAJEITADO, QUE ADORAVA CONTAR UNS "CAUSOS" ASSUSTADORES PROS AMIGOS NA RODA DE PROSA.
CERTA NOITE, ENQUANTO CHICO CONTAVA UMA DE SUAS HISTÓRIAS, ZÉ DA BOIADA, SEU AMIGO, INTERROMPEU:
— ÓIA, CHICO, CÊ NUM SABE DE NADA! VOU TE CONTAR UMA HISTÓRIA VERDADEIRA QUE ACONTECEU COMIGO LÁ PROS LADOS DO MATO DO BOITATÁ!
— CONTA, ZÉ! — RESPONDEU CHICO, CURIOSO.
ZÉ COMEÇOU A CONTAR:
— NUM DIA DE SÃO JOÃO, EU TAVA VORTANDO DA ROÇA, JÁ ERA NOITE. O CÉU TAVA MAIS PRETO QUE CARVÃO. DE REPENTE, UM CLARÃO TOMOU CONTA DO MATO. ERA O BOITATÁ, A COBRA DE FOGO! AS CHAMAS DELA SERPENTEAVAM PELAS ÁRVORES, QUEIMANDO TUDO QUE ENCONTRAVA. FIQUEI PARALISADO DE MEDO, MAS CONSEGUI ME ESCONDER ATRÁS DUMA PEDRA. QUANDO O FOGO PASSOU, TUDO FICOU ESCURO DE NOVO.
CHICO ARREGALOU OS OLHOS E PERGUNTOU:
— E OCÊ VIU A MULA SEM CABEÇA TAMBÉM?
ZÉ BALANÇOU A CABEÇA AFIRMATIVAMENTE E CONTINUOU:
— VI, SIM! A DANADA VINHA TROTANDO PELA ESTRADA, SEM CABEÇA E SOLTANDO FOGO PELO PESCOÇO. O SOM DAS FERRADURAS NO CHÃO ECOAVA PELO MATO. AÍ EU PENSEI: “SE O BOITATÁ E A MULA SEM CABEÇA TÃO JUNTOS, É PORQUE TEM ALGUMA COISA MAIS ESTRANHA POR AÍ”.
TODOS NA RODA DE PROSA ESTAVAM VIDRADOS NA HISTÓRIA DO ZÉ, ATÉ QUE DE REPENTE, OUVIRAM UM SOM ESTRANHO VINDO DO MATO. ERA UM SOM DE PASSOS PESADOS E LENTOS, ACOMPANHADOS DE UMA LUZ FRACA QUE SE APROXIMAVA. TODOS FICARAM EM SILÊNCIO.
CHICO, COM SEU JEITO BRINCALHÃO, DECIDIU INVESTIGAR. ELE PEGOU UMA LANTERNA E FOI EM DIREÇÃO AO BARULHO, SEGUIDO PELOS AMIGOS. CHEGANDO PERTO DO SOM, AVISTARAM UMA FIGURA ALTA, SEM CABEÇA, SEGURANDO UM LAMPIÃO.
— É O CAIPIRA SEM CABEÇA! — GRITOU ZÉ, ASSUSTADO.
MAS CHICO, COM SEU ESPÍRITO CURIOSO, APROXIMOU-SE DEVAGAR. QUANDO CHEGOU MAIS PERTO, RECONHECEU A FIGURA. ERA TONHO, O LAVRADOR MAIS VELHO DA REGIÃO, QUE USAVA UM CHAPÉU TÃO GRANDE QUE PARECIA SEM CABEÇA NO ESCURO.
— TONHO, É OCÊ? — PERGUNTOU CHICO, SEGURANDO O RISO.
TONHO LEVANTOU O CHAPÉU, REVELANDO SUA CABEÇA SORRIDENTE E RESPONDEU:
— SOU EU, SIM! CÊS TÃO TUDO ASSOMBRADO POR NADA! O LAMPIÃO É PRA ENXERGAR O CAMINHO NA ESCURIDÃO.
A TURMA CAIU NA GARGALHADA, ALIVIADOS E DIVERTIDOS. ZÉ, MEIO ENVERGONHADO, ADMITIU QUE TALVEZ SUA IMAGINAÇÃO TIVESSE AUMENTADO UM POUCO A HISTÓRIA.
— AH, ZÉ, OCÊ E SUAS HISTÓRIAS! — DISSE CHICO, AINDA RINDO. — MAS FOI BOM PRA DAR UMA ANIMADA NA PROSA!
E ASSIM, NAQUELA NOITE, A CIDADEZINHA GANHOU MAIS UM CAUSO PRA CONTAR, DESSA VEZ SOBRE O CAIPIRA SEM CABEÇA, QUE NADA MAIS ERA QUE O VELHO TONHO, COM SEU CHAPÉU DESAJEITADO E SEU LAMPIÃO.
E ELES CONTINUARAM A RIR E PROSEAR ATÉ O GALO CANTAR, PORQUE NO INTERIOR, AS HISTÓRIAS DE ASSOMBRAÇÃO SÃO AS QUE MAIS TRAZEM ALEGRIA E UNIÃO NA RODA DE AMIGOS.