ERA UMA VEZ, NA GRÉCIA ANTIGA, UM SIMPÁTICO SENHOR CHAMADO ZENON. ELE TINHA UMA LONGA BARBA BRANCA E UM SORRISO CALOROSO, E ERA CONHECIDO POR SER O MELHOR CONTADOR DE HISTÓRIAS DO VILAREJO. NO ENTANTO, ZENON GUARDAVA UM SEGREDO CURIOSO: ELE ERA O AVÔ DA MEDUSA.
ZENON VIVIA EM UMA PEQUENA CASA NO ALTO DE UMA COLINA, RODEADA POR VINHEDOS E FLORES. AS CRIANÇAS DO VILAREJO ADORAVAM VISITÁ-LO PARA OUVIR SUAS HISTÓRIAS FANTÁSTICAS, MAS, NAQUELA TARDE, ELAS NÃO FAZIAM IDEIA DO QUE ESTAVA POR VIR.
— CONTEM-NOS UMA HISTÓRIA ASSUSTADORA, VOVÔ ZENON! — PEDIU O PEQUENO ALEXIOS, COM OS OLHOS BRILHANDO DE EXPECTATIVA.
ZENON SORRIU E ACARICIOU SUA BARBA.
— MUITO BEM, CRIANÇAS, HOJE VOU CONTAR-LHES UMA HISTÓRIA QUE NUNCA CONTEI A NINGUÉM. A HISTÓRIA DE MINHA NETA, MEDUSA.
OS OLHOS DAS CRIANÇAS SE ARREGALARAM. TODOS CONHECIAM A LENDA DA MEDUSA, A GÓRGONA CUJO OLHAR PODIA TRANSFORMAR QUALQUER UM EM PEDRA.
— SUA NETA, VOVÔ ZENON? — PERGUNTOU SOFIA, SURPRESA. — MAS COMO ISSO É POSSÍVEL?
ZENON PISCOU PARA SOFIA.
— BEM, TUDO COMEÇOU HÁ MUITOS ANOS, QUANDO MEDUSA ERA APENAS UMA LINDA JOVEM. ELA TINHA CABELOS DOURADOS E ERA CONHECIDA POR SUA BELEZA. MAS, COMO VOCÊS SABEM, UM DIA A DEUSA ATENA A AMALDIÇOOU, TRANSFORMANDO SEUS CABELOS EM SERPENTES. DESDE ENTÃO, MEDUSA PASSOU A VIVER SOZINHA EM UMA CAVERNA.
AS CRIANÇAS ESTAVAM BOQUIABERTAS.
— MAS, VOVÔ, COMO ELA SE TORNOU SUA NETA? — INSISTIU ALEXIOS.
ZENON RIU BAIXINHO.
— AH, ISSO É UMA LONGA HISTÓRIA. NA VERDADE, EU SOU IMORTAL. GANHEI A IMORTALIDADE DE UM VELHO AMIGO, O TITÃ CRONOS. E, AO LONGO DOS SÉCULOS, TIVE MUITOS DESCENDENTES, INCLUINDO A PRÓPRIA MEDUSA.
SOFIA, INTRIGADA, PERGUNTOU:
— MAS O QUE ACONTECEU COM MEDUSA? COMO ELA LIDOU COM A MALDIÇÃO?
ZENON AJUSTOU SEU CHAPÉU DE PALHA E COMEÇOU A DESCREVER.
— MEDUSA ERA MUITO ESPERTA. ELA PERCEBEU QUE, APESAR DA MALDIÇÃO, AINDA PODIA VIVER UMA VIDA RELATIVAMENTE NORMAL. CRIOU UMA PEQUENA HORTA EM FRENTE À SUA CAVERNA E PLANTAVA TOMATES, PEPINOS E ABÓBORAS. SÓ TINHA QUE TOMAR CUIDADO PARA NÃO OLHAR DIRETAMENTE PARA SEUS VEGETAIS!
— E COMO ELA COLHIA OS VEGETAIS? — PERGUNTOU ALEXIOS, CURIOSO.
ZENON RIU NOVAMENTE.
— AH, MEDUSA TINHA UM TRUQUE. ELA USAVA UM ESPELHO PARA VER O REFLEXO DOS VEGETAIS E, ASSIM, COLHÊ-LOS SEM TRANSFORMAR NADA EM PEDRA. UM DIA, ELA ATÉ FEZ AMIZADE COM UMA TARTARUGA QUE VIVIA PERTO DA CAVERNA. A TARTARUGA, QUE SE CHAMAVA ESMERALDA, NÃO TINHA MEDO DE MEDUSA E ADORAVA OUVIR SUAS HISTÓRIAS.
NESSE MOMENTO, AS CRIANÇAS COMEÇARAM A RIR, IMAGINANDO MEDUSA COLHENDO VEGETAIS COM A AJUDA DE UM ESPELHO E CONVERSANDO COM UMA TARTARUGA.
— E ENTÃO, UM DIA, APARECEU UM JOVEM GUERREIRO CHAMADO PERSEU — CONTINUOU ZENON. — ELE TINHA SIDO ENVIADO PARA DERROTAR MEDUSA. MAS, QUANDO CHEGOU À CAVERNA, ENCONTROU-A CONVERSANDO ALEGREMENTE COM ESMERALDA E CUIDANDO DE SUA HORTA.
— PERSEU DEVE TER FICADO SURPRESO! — EXCLAMOU SOFIA.
— MUITO SURPRESO! — ZENON CONFIRMOU. — ELE ESPERAVA ENCONTRAR UM MONSTRO HORRÍVEL, MAS ENCONTROU UMA SENHORA SIMPÁTICA QUE LHE OFERECEU UM CHÁ DE HORTELÃ.
AS CRIANÇAS RIRAM AINDA MAIS ALTO.
— PERSEU EXPLICOU SUA MISSÃO E MEDUSA, COMPREENDENDO A SITUAÇÃO, DECIDIU AJUDÁ-LO. ELES ELABORARAM UM PLANO. PERSEU USARIA SEU ESCUDO ESPELHADO PARA REFLETIR O OLHAR DE MEDUSA E, ASSIM, SIMULAR SUA MORTE. DESSA FORMA, ELE PODERIA VOLTAR COMO HERÓI, E MEDUSA PODERIA VIVER EM PAZ COM SUA AMIGA ESMERALDA.
— E FUNCIONOU? — PERGUNTOU ALEXIOS, ANSIOSO.
— FUNCIONOU PERFEITAMENTE! — DISSE ZENON, COM UM SORRISO SATISFEITO. — PERSEU VOLTOU COMO HERÓI, E MEDUSA CONTINUOU SUA VIDA TRANQUILA NA CAVERNA. E TODA VEZ QUE EU A VISITAVA, LEVAVA BISCOITOS PARA ELA E ESMERALDA. E ESSA É A VERDADEIRA HISTÓRIA DA MEDUSA, MINHA NETA QUERIDA.
AS CRIANÇAS APLAUDIRAM E RIRAM, ENCANTADAS COM A HISTÓRIA INESPERADA.
— VOVÔ ZENON, SUAS HISTÓRIAS SÃO AS MELHORES! — DISSE SOFIA, DANDO-LHE UM ABRAÇO.
ZENON RETRIBUIU O ABRAÇO E SORRIU PARA TODAS AS CRIANÇAS.
— BEM, CRIANÇAS, AGORA SABEM QUE ATÉ MESMO AS HISTÓRIAS MAIS ASSUSTADORAS PODEM TER UM LADO ENGRAÇADO E TERNO. E LEMBREM-SE, SEMPRE HÁ MAIS DE UM LADO PARA CADA HISTÓRIA.