ERA UMA VEZ JOÃO CARIJÓ E ZÉ DO MATO, DOIS AMIGOS QUE SE CONHECIAM DESDE OS TEMPOS DA INFÂNCIA.
ELES ERAM HOMENS SIMPLES, MATUTOS, DOIS CAIPIRAS, QUE FORAM NASCIDOS E CRIADOS NA ROÇA.
E COMO TODOS OS CAIPIRAS QUE VIVIAM NO CAMPO. ELES APRECIAVAM UMA BOM PROSA, GOSTAVAM DE CONTAR CAUSOS, CONTAR PIADAS ENGRAÇADAS E INVENTAR UMAS BOAS HISTÓRIAS PRA BOI DORMIR.
JOÃO CARIJÓ SE CASOU COM A MARIQUINHA E TIVERAM UMA FILHA, A MARINALVA. JÁ O ZÉ DO MATO SE CASOU COM A JOAQUINA E TIVERAM, UM FILHO, O FELISBERTO.
OS DOIS ERAM TÃO AMIGOS QUE RESOLVERAM COMPRAR SUAS FAZENDAS, UMA DO LADO DA OUTRA, OU SEJA, ERAM VIZINHOS E FICAVAM SEPARADOS APENAS POR UMA CERCA DE MADEIRA E ARAME FARPADO.
CERTA MANHÃ, JOÃO CARIJÓ QUE GANHOU ESSE APELIDO, PORQUE TINHA UMA CRIAÇÃO DE GALOS E GALINHAS CARIJÓS, SE DEBRUÇOU NA CERCA E FICOU LÁ HORAS E HORAS PENSANDO NA MORTE DA BEZERRA SÓ SENDO TRAZIDO DE VOLTA A REALIDADE QUANDO O SEU AMIGO ZÉ DO MATO LÁ DO OUTRO LADO DA CERTA, GRITOU SAUDADANDO JOÃO CARIJÓ COM UM ENTUSIASMADO BOM DIA!
- DIA, CUMPADE JOÃO!
- DIA, CUMPADE ZÉ!
- VOSMECÊ TÁ SABENDO QUE TEM UM BOI DA CARA PRETA AQUI POR ESSAS BANDAS PROXIMAS DAS NOSSAS FAZENDAS?
-TÔ, NÃO! SÓ ME FARTAVA ISSO AGORA, SÔ! E O PIOR É QUE TÃO DIZENDO QUE DESINFELIZ TÁ ACABANDO COM TODAS AS ROÇAS DE TODOS OS FAZENDEIROS DESSAS BANDAS.
O CUMPADE JOÃO CARIJÓ ARREGALOU OS OLHOS E FEZ AQUELA CARA DE ESPANTO E DEPOIS DE ALGUM TEMPO DISSE:
- I TEM ARGUMA COISA QUE NÓIS PODEMO FAZÊ PRA PEGAR ESSE BOI PELO CHIFRE, CUMPADE ZÉ?
- EU TAVA AQUI PENSANDO COM MEUS BOTÃO QUE NÓIS PODIA SAIR PRA CAÇÁ ESSE BENDITO BOI BARBO DA CARA PRETA ANTES QUE ELE ACABE COM TODA AS ROÇAS DAQUI DA VIZINHANÇA, CUMPADE JOÃO.
- VOSMECÊ TÁ CERTO, MEU CUMPADE! DISPOIS DO ARMOÇO NÓIS VAMO PEGÁ ESSE BOI NO LAÇO.
- I FALANDO EM ARMOÇO, O CUMPADE NÃO QUE ENTRÁ I PROVÁ DA CUMIDA DA MINHA MUIÊ?
-OU MUITO AGRADECIDO, NHÔ JOÃO! AGORA NUM DÁ PORQUE EU VÔ I BUSCÁ A MEU FIO NA ESCOLA.
- INTÃO, TÁ BÃO NHÔ ZÉ, FICA PRUMA PRÓXIMA VEIZ.
ASSIM, JOÃO CARIJÓ ENTROU E FOI CONVERSAR COM NHÁ MARIQUINHA.
- MARIQUINHA, QUERO TER UM DEDIN DE PROSA COM VOSMECÊ!
- POIS, FALE, HOMI!
- O CUMPADE ZÉ DO MATO VEIO COM UM CAUSO MUITO DO ESTRANHO DIZENDO QUE PARECEU UM BOI DE CARA PRETA POR ESSAS BANDAS E QUE TÁ ESTRAGANDO TUDO O QUE ELE VÊ PELA FRENTE.
- HOME, ÓIA QUE ESSE BOI BARBO É PERIGOSO POR DEMAIS DA CONTA.
ORA, MUIÊ! PARE COM ESSA MANIA DE FALAR BESTAGEM. E VAMO ARMOÇAR QUE SACO VAZIO NÃO PARA EM PÉ. CADE NOSSA FIA?
- ELA AINDA NÃO VORTÔ DA ESCOLA.
- É MEZZZZ, UAI SÔ! EU NUM ME ALEMBREI QUE ELA TÁ ESTUDANDO.
ARA, HOMI! JAJÁ ELA TÁ DE VORTA! SE ACARME JOÃO!
- MUIÊ, É QUE EU COMBINEI DE SAÍ COM O CUMPADE ZÉ PRA CAÇÁ O BOI DA CARA PRETA DISPOIS DO ARMOÇO.
EU QUERO DAR UM ABRAÇO NELE ANTES DE SAIR.
E TÃO LOGO, SUA FILHA CHEGOU, JOÃO CARIJÓ SAIU DE SUA FAZENDA CARREGANDO UMA CORDA NAS MÃO E SE ENCONTROU COM O AMIGO ZÉ DO MATO NA ENTRADA DA FAZENDA.
- INTÃO, VAMO LÁ PEGÁ ESSE BOI DA CARA PRETA É NO LAÇO!
E LÁ FORAM OS DOIS CAIPIRAS E SE EMBRENHARAM NO MATA NA ESPERANÇA DE CAPTURAR O BOI DESORDEIRO QUE ESTAVA CAUSANDO MUITOS PREJUÍ ZOS AOS FAZENDEIROS DAQUELAS BANDAS.
ELES PASSARAM O DIA /INTEIRO DENTRO DA MATA E NADA DO BOI DA CARA PRETA APARECER.
JOÃO CARIJÓ OLHOU PARA O CUMPADE ZÉ DO MATO E ASSUSTADO COM O CAIR DA NOITE, DISSE:
-É CUMPADE, EU ACHO QUE NÓIS ENTRAMO NUM MATO SEM CACHORRO. VOSMECÊ TEM CERTEZA QUE OUVIU FALÁ DESSE TAR BOI?
- SIM, CARIJÓ!
INTÃO, VAMO ESPERÁ INTÉ O AMANHECÊ, PRA MODI DE VÊ SE ELE APARECE.
ORA SÔ É PERIGOSO FICÁ AQUI A NOITE INTEIRA HOMI!
- É MEIÓ NÓIS VORTÁ PRA CASA E ISPERÁ EM BADACAMA.
- QUE, QUE ESSE, HOMI?
- VOSMECÊ É UM HOMI OU UM RATO?
TÁ BÃO, VAMO FICÁ E PRENDÊ ESSE BOI BRAVO!
ANSIM, É QUE SE FALA, HOMI! NUM VAMO ARREDÁ OS PÉ DAQUI ATÉ O BICHO APARECÊ.
A CERTA ALTURA DA MADRUGADA, OS DOIS CAIPIRAS PEGARAM PESADO NO SONO E QUANDO O GALO CANTOU ANUNCIANDO O AMANHECER, OS DOIS ACORDARAM E DERAM DE CARA COM O FAMOSO BOI DA CARA PRETA.
ZÉ E JOÃO LEVARAM UM BAITA SUSTO, POIS O BOI PARTIU FURIOSO PARA CIMA DELES E UM OLHOU PARA A CARA DO OUTRO E GRITARAM.
- VAMO DESEMBESTIÁ DAQUI AGORA, ANTE QUE SEJA TARDE.
-É MEZZZZ! ANTES QUE O CARA PRETA NOS DEIXE COM A ESPINHELA CAÍDA.
- VAMO CUMPADE, QUE EU JÁ TÔ COM COSCA DA CABEÇA AO CARCANHAR. ETA, LASQUERA!
É MEIÓ A GENTE DÁ O FORA DAQUI SENÃO NÓIS PODE INTÉ EMPACOTÁ ANTES DE CHEGAR EM CASA.
VAMO QUE EU JÁ TÔ DESENXAVIDO, ZÉ!
BORA, INTÃO!
E QUANTO MAIS OS DOIS CORRIAM, O BOI IA ATRÁS DELES COM SANGUE NOS OLHOS.
-CARIJÓ, MALEMÁ VAI DÁ PRA GENTE SE SAFAR, POIS, ELE TÁ JÁ CHEGANDO NA NOSSA ORÉIA.
- QUE EU JÁ TÔ INTÉ OUVINDO O BOI CANTANDO AQUELA MUSIQUINHA DE NINAR NA MINHA ORÉIA.
BOI, BOI, BOI
BOI DA CARA PRETA
PEGA ESSE CAIPIRA
QUE TEM MEDO DE CARETA
- ARA, SÔ! EU JÁ DISSE PRA VOSMECÊ PARÁ DE FALÁ TANTA BESTAGEM MEU CUMPADE.
ENQUANTO ISSO, O BOI DA CARA PRETA JÁ ESTAVA CUSPINDO FOGO PELO NARIZ, PRONTINHO PARA DAR UMA BAITA CHIFRADA NO BUMBUM DOS CUMPADES.
- JOÃO CARIJO DÁ UM SONORO GRITO QUE ECOA POR TODOS OS CANTOS DA FAZENDA.
E DONA MARIQUINHA DIZ:
- QUE, QUE ESSE, HOMI? SE ACARME, VOSMECÊ SÓ TEVE UM BAITA PESADELO.
- UAI SÔ! EU TÔ É DESCADERADO E COM A ESPINHELA CAÍDA DE TANTO CORRER DA FÚRIA DO BOI BRABO DA CARA PRETA E SÓ AGORA MUIÉ QUE VOSMECÊ ME ALEMBRA QUE FOI SÓ UM PESADELO.
- E NHÁ MARIQUINHA RESPONDE:
- POR ESSA LUZ QUE ME A LOMEA, ESSE TREM COM QUE ME CASEI JÁ FOI BÃO! AGORA, O TADINHO, TÁ DOIDIMAIS!